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Deus estava contra

A tripulação da Enterprise se prepara para encontrar Deus - mas este não é o maior de seus problemas

A tripulação da Enterprise se prepara para encontrar Deus - mas este não é o maior de seus problemas

Depois de um filme extremamente bem sucedido que flertou mais com a comédia, a série Jornada nas Estrelas caiu na tentação de repetir a fórmula. Mas essa decisão da Paramount entrou em choque com a idéia de William Shatner para dirigir o quinto filme, uma séria e pretensamente filosófica busca por Deus. O conflito de visões prejudicou seriamente Jornada nas Estrelas V – A Última Fronteira (Star Trek V – The Final Frontier, Estados Unidos, 1989), que tem que conviver até hoje com um estigma: o de ser o pior da série. Embora não seja o desastre que quase todo mundo aponta.

Aliado a um problema já de concepção, estava o orçamento apertado. Shatner teve que driblar a falta de recursos para os efeitos especiais do filme e, por mais micos que tenha pago, escapou por pouco do pior de todos: um homem de pedra criado para a seqüência final onde deveriam ser um bando deles. Os testes com a criatura (o resultado pode ser visto nos extras da edição especial do filme) lembram a cena do teste de figurino dos homens-gato de Assim Estava Escrito (1952).

Ainda bem que o ator-diretor decidiu não usá-lo, mesmo com o dinheiro gasto (a Industrial Light and Magic não foi a responsável pelos efeitos porque estava envolvida em outro projeto), e fez uma gambiarra na resolução do quinto filme da série. A resolução deveria ser bem mais longa, mas teve que ser abreviada, complicando ainda mais um filme já comprometido.

O começo do filme mostra um vulcano diferente do que costumamos conhecer – tão expansivo quanto fanático religioso. É Sybok (Laurence Luckinbill, no papel que originalmente seria de Sean Connery), que está firme na tentativa de chegar ao centro da galáxia e encontrar nada menos que Deus, que ele acredita estar lá. Para isso, seqüestra a Enterprise e graças a algum poder de sugestionar pessoas, acaba conseguindo aliados dentro da nave. Nada porém capaz de abalar a amizade entre Kirk (Shatner), Spock (Leonard Nimoy) e McCoy (DeForest Kelley).

Ao tratar do relacionamento entre os três protagonistas da série é que A Última Fronteira se sai melhor. A combinação de tolice e sinceridade quando reencontramos os três em um acampamento é um belo prelúdio para o momento de provação no qual Spock e McCoy são obrigados a encarar suas maiores dores interiores – ali, sim, uma grande cena e um dos melhores momentos dedicados ao personagem de McCoy em todos os filmes e séries de Jornada nas Estrelas.

O problema maior sem dúvida foi a obrigação de incluir piadas na trama. Em A Volta para Casa havia um elemento que provocava isso naturalmente – a inadequação da tripulação da Enterprise a 1986, para onde tinham voltado no tempo. Agora, não há nada. O que os fãs mais lembram são a dança seminua de uma Uhura de meia idade (Nichelle Nichols) e o engenheiro-chefe Scotty (James Doohan) batendo a cabeça e caindo desacordado logo após dizer que conhecia a Enterprise como a palma da mão (o que deveria ser verdade).

Para cada uma das duas cenas há uma explicação, mas é difícil perdoar. Shatner não deu mesmo sorte. Até pediu dinheiro à Paramount para uma reedição do material para o lançamento em DVD (como Robert Wise recebeu para sua “versão do diretor” do primeiro filme), mas nem isso conseguiu. Em tempo: mancada também da distribuidora brasileira que não percebeu a referência do título ao texto clássico de abertura da série e traduziu o familiar “fronteira final” como “última fronteira”.

Jornada nas Estrelas V – A Última Fronteira (Star Trek V – The Final Frontier). Estados Unidos, 1989. Direção: William Shatner. Elenco: William Shatner, Leonard Nimoy, DeForest Kelley, James Doohan, Walter Koenig, Nichelle Nichols, George Takei, Laurence Luckinbill, David Warner, Charles Cooper. Disponível em DVD no Brasil.

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