Brincando de anos 1950
Disposto a ser pouco mais do que uma divertida homenagem aos filmes B de ficção científica e horror dos anos 1950, Monstros vs. Alienígenas (Monsters vs. Aliens, Estados Unidos, 2009) vai realmente bem pouco além disso e, no fim, é tão descartável quanto a maior parte das obras em que se baseia. É também o primeiro filme em 3D digital da Dreamworks, pensado para este modelo desde a concepção, e o estúdio fez questão de alardear o fato.
Coincidência ou não, nos anos 1950 era o gênero horror que mais usava os efeitos 3D de então, em uma das tentativas do cinema da época de oferecer algo que sua arquinimiga da época, a televisão, não poderia. Agora, o 3D digital tem sido apontado como “o futuro do cinema” – leia-se a salvação da indústria frente a seu novo nêmesis, a pirataria. A boa notícia é que, na maior parte do tempo, Monstros vs. Alienígenas resiste à tentação de se apoiar apenas nesses efeitos. Os momentos em que o filme procura tirar proveito da tecnologia mais diretamente (você sabe: coisas atiradas para a tela, pessoas apontando para o espectador, etc) estão bem inseridos na narrativa de modo que quase não são percebidos por quem está assistindo em salas normais (aqui na Paraíba, por exemplo). E um bom filme não pode depender da exibição em salas digitais: sua qualidade deve resistir à exibição em uma sala normal.
No entanto, a sensação de que falta alguma coisa é constante em Monstros vs. Alienígenas. Talvez estejamos mal acostumados pelas obras-primas consecutivas da Pixar. O caso é que o longa de animação da Dreamworks é uma diversão honesta, dirigido por Rob Letterman, um dos três diretores do muito inferior O Espanta-Tubarões (2004), e Conrad Vernon, um dos três diretores do bem superior Shrek 2 (2004). A dupla não ambiciona mais do que contar algumas piadas, cheio de referências ao universo do cinema (como é de praxe na Dreamworks), e criar grandes seqüências de ação.
Alguns monstros clássicos ganharam versões para a animação e quando uma ameaça alienígena surge no horizonte, são reunidos pelo governo americano em um time para defender o planeta. Eles já moravam na secreta área 51 e a eles se junta Susan, uma garota que foi atingida por um meteoro no dia do casamento e ficou gigante.
Um dos maiores problemas – e percebe-se que foi aí que o 3D determinou o andamento de Monstros vs. Alienígenas – está na pancadaria excessiva que toma conta do filme do meio para o fim. Uma evidente maneira de fazer o espetáculo crescer e a experiência do espectador no cinema também. Mas, em termos narrativos, porém, faltou história.
Ao menos, há o divertido presidente americano, que rouba todas as cenas em que aparece. São dele as melhores piadas, numa sátira política que lembra até Doutor Fantástico (1964), de Kubrick. Não por acaso, é ele que encerra o filme.
Monstros vs. Alienígenas. (Monsters vs. Aliens). Estados Unidos, 2009. De Rob Letterman, Conrad Vernon. Vozes na dublagem original: Reese Whiterspoon, Seth Rogen, Hugh Laurie, Will Arnett, Kiefer Sutherland,Stephen Colbert, Renée Zellweger Atualmente em cartaz em JP, apenas na versão dublada em português.
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