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LIGA DA JUSTIÇA DE ZACK SNYDER
⭐½
Diário de Filmes 2021: 36
Egotrip sem freios
Na primeiríssima cena do corte de Liga da Justiça que esteve nos cinemas em 2017, o Super-Homem é visto pela lente de um celular, filmado por algumas crianças que fazem algumas perguntas ao herói após um salvamento. Meio constrangido, ele reserva um tempinho para responder as perguntas. Além da boca esquisita de Henry Cavill (que tentou eliminar em CGI o bigode que o ator ostentava na ocasião), saltava aos olhos o reencontro da plateia com um personagem que fazia tempo não era visto no cinema: o Super-Homem.
Aquele Super-Homem, pelo menos, e não a versão carrancuda que Zack Snyder imprimiu em O Homem de Aço e Batman vs. Superman. Aquele personagem da abertura de Liga era uma novidade neste universo compartilhado da DC no cinema, e foi fruto direto da troca de comando na direção do filme (a trilha de Danny Elfman até resgatou de leve o tema clássico de John Williams).
Como quase todo mundo sabe, Snyder teve que sair do projeto antes de conclui-lo para lidar com uma tragédia pessoal. A Warner chamou Joss Whedon para terminar o filme, na expectativa de, no fim, ter algo mais próximo ao clima dos dois Vingadores que Whedon dirigiu.
Ele fez o que deu pra fazer com o material que tinha. Não foi muito.
O resultado foi meio uma criatura de Frankenstein, um remendo que terminou não sendo nem um filme padrão de Snyder (que mesmo assim continuou tendo a assinatura solo como diretor), nem um filme de Whedon (que é creditado apenas como co-roteirista). Era um filme meio esquizofrênico, que brigava consigo mesmo o tempo todo.
Mas Zack Snyder tem um grupo de fãs ruidosos, que logo fez campanha para ver o “corte original” do diretor (que não existia, visto que ele não havia editado nada). Snyder abraçou a campanha, fez seu lobby e conseguiu o aval da Warner para fazer sua montagem mais pessoal, com o estúdio de olho em dar um gás em seu serviço próprio de streaming.
Então, a primeira coisa a considerar é: Liga da Justiça de Zack Snyder é a versão original do diretor? A resposta é “não”.
É a visão dele combinando o que pretendia no começo mais suas ideias após ver a versão finalizada por Whedon (o que achou que deu certo, o que achou que deu errado, inclusive sobre o que ele mesmo tinha feito). E ainda o que mais resolveu fazer sabendo que, sendo uma produção para o streaming e não para o cinema, poderia entregar um filme com mais tempo de duração.
Daí, chegamos às 4 horas e dois minutos de duração. O Poderoso Chefão – Parte II (1974) tem 3h22. Ben-Hur (1959) tem 3h32. Lawrence da Arábia (1962) tem 3h48. …E o Vento Levou (1939) tem 3h58. É evidente que no caso de Liga não é para tanto: essas 4h02 são de um diretor sem freio algum para sintetizar o próprio filme. Uma viagem sem volta a uma egotrip.
Faltou limite e o filme se confia no fato de que, já que é para o streaming mesmo, o público pode assisti-lo como minissérie, se quiser. O novo Liga é até dividido em capítulos, para facilitar essa opção.
É claro que há ganhos nessa metragem maior que a da outra versão. Notadamente para o personagem Ciborgue, que ganhou uma história mais detalhada e com peso dramático maior. Também o Flash recebeu alguns momentos melhores.
E, considerando o remendo que é a outra versão, esta é, sem dúvida, mais coerente. É decorrência direta e lógica de O Homem de Aço e Batman vs. Superman. Agora, se isso faz dela um filme melhor, são outros quinhentos. Porque ser uma decorrência lógica, nesse caso, implica em também mergulhar em tudo o que os dois filmes anteriores têm de problemáticos. Snyder é fiel a seu – digamos assim – estilo: tons cinzas e marrons, caras emburradas e infinitas câmeras lentas, que são o que o diretor realmente acredita que dão intensidade dramática a um filme.
Então tem coisas melhores que a versão finalizada por Whedon? Sim. Tem coisas piores? Tem, também.
Visto de uma vez, é um filme interminável. Isso é quase literal: conclui, por assim dizer, com um epílogo inacreditável de longo, que empilha cenas sem parar depois de a história ter acabado. Não só aí, mas pelo meio do filme também brotam cenas e personagens inúteis, enxertados apenas para a alegria dos leitores que vão reconhecê-los dos quadrinhos.
O maior exemplo disso é o Caçador de Marte. Um personagem bem menos conhecido (se não for quase desconhecido) por quem não é leitor da DC, ausente da versão de Joss Whedon e que aparece em duas cenas que não dizem nada. Pelo contrário, o espectador fica se perguntando por que, afinal, ele não toma parte da ação, já que estava por ali.
O que ficou de fora foi tudo o que Whedon filmou a mais para dar uma levantada no astral da outra versão. Por exemplo, o momento em que o Super-Homem deixa momentaneamente de lutar com o vilão para – vejam só – salvar diretamente pessoas em perigo.
Para Zack Snyder, tendo em vista os filmes anteriores e esta versão, salvar pessoas é um inconveniente. O pouco interesse do Super-Homem em salvar pessoas no meio da destruição do quebra-pau em Metrópolis, em O Homem de Aço, virou piada, mas o diretor não aprendeu com isso.
Agora, a solução de Snyder para evitar novos memes é convenientemente localizar a ação do clímax e do combate com o vilão em uma área desabitada. Na versão de Whedon, há moradores ali, inocentes que precisam ser protegidos e ajudados. Agora – que confortável – não é preciso salvar ninguém e os heróis podem se concentrar naquilo que interessa de verdade ao diretor: a troca supostamente épica de sopapos com o vilão da vez.
Uma coisa importante a levar em conta é que o pior da Liga de Whedon (com exceção da boca esquisita de Henry Cavill) já estava no que Zack Snyder tinha feito até sair do projeto. E está de volta.
O Batman, por exemplo, recruta o Aquaman e o Flash no começo do filme. Mas faz isso como Bruce Wayne (!), revelando de primeira sua identidade secreta a desconhecidos. A ideia já é ridícula por si só, mas a construção das cenas torna tudo ainda pior: parece que só importou o momento de efeito (Barry Allen pegando o batarangue que Bruce Wayne atira e descobrindo, assim, que Wayne é o Batman), mas a construção da cena para chegar lá é feita de qualquer jeito.
Darkseid, vilão icônico da DC, criação de Jack Kirby que fez história até nos Superamigos, foi vendido como uma grande novidade dessa nova versão, mas não rende 10% do anunciado. Só age em flashback e sonhos. Na hora H, ainda temos que nos contentar mesmo é com o Lobo da Estepe.
Ou seja: o grande vilão de Liga da Justiça de Zack Snyder continua sendo um capanga, um personagem da quarta divisão da DC Comics, com carisma zero e sem uma motivação minimamente interessante. Aliás, tanto Darkseid quanto seu ajudante, e também os cenários sem qualquer verdade, parecem ter saído direto de um videogame.
E, por fim, ainda tem esse formato 4:3, quase quadrado, como os das TVs antigas, um troço injustificável. Foi justificado como uma “opção artística” do diretor porque se aproxima da tela imax. Mas, francamente… no streaming? Parece só mais um entre tantos caprichos gratuitos do diretor com essa versão.
Onde ver: Google Play, Looke, AppleTV, YouTube.
Zack Snyder’s Justice League, 2021.
Direção: Zack Snyder. Elenco: Ben Affleck, Gal Gadot, Ezra Miller, Jason Momoa, Ray Fisher, Henry Cavill, Amy Adams, J.K. Simmons, Jeremy Irons, Willem Dafoe, Jesse Eisenberg, Robin Wright, Connie Nielsen, Amber Heard, Diane Lane, Billy Crudup.
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LEIA MAIS:
- Crítica de O Homem de Aço
- Crítica de Batman vs. Superman – A Origem da Justiça
- Crítica de Mulher-Maravilha
- Crítica de Liga da Justiça
Meu comentário para a CBN sobre Liga da Justiça de Zack Snyder. Tem coisas melhores que a versão finalizada por Whedon? Tem. Tem coisas piores? Tem também.
Para ouvir, clique aqui.
MULHER-MARAVILHA 1984½
Diário de Filmes 2021: 4
Não há nada de errado em um filme que pretenda ser leve, alegre, descompromissado, engraçado. Não é esse o problema do segundo filme solo da Mulher-Maravilha. Os problemas são o mau roteiro e a má direção. A nova aventura da princesa amazona estabelece contradições com que não consegue lidar, desdenha da inteligência do espectador e disfarça como humor vergonhas inaceitáveis da trama (como um poder de tornar as coisas invisíveis que, sem trocadilho, aparece do nada). Um esforçozinho em fazer as coisas um pouco mais inteligentes já melhoraria muito o filme. Do jeito que está, parece que apenas desejaram que fosse bom e pronto. Não funcionou.
Onde ver: cinemas, Now, Looke, Google Play, Apple TV, UOL Play, Vivo Play
WW84, 2019
Direção: Patty Jenkins. Elenco: Gal Gadot, Chris Pine, Kristen Wiig, Pedro Pascal.
DOUTOR ESTRANHO (Scott Derrickson, 2016)
⭐⭐⭐½
Diário de Filmes 2019: 39
Com um herói então pouco conhecido fora do círculo de leitores de quadrinhos, Doutor Estranho introduziu elementos místicos no universo cinematográfico da Marvel. Visualmente, o filme é bem interessante, mesmo que o andamento da trama não fuja muito do padrão. Mas a solução final é engenhosa. Depois de conferir Vingadores — Guerra Infinita e Vingadores — Ultimato, é interessante revisitar este filme e ver sementes plantadas: a joia do tempo e o conceito de multiverso.
CAPITÃO AMÉRICA — GUERRA CIVIL (Anthony Russo e Joe Russo, 2015)
⭐⭐⭐⭐1/2
Diário de Filmes 2019: 30
Guerra Civil é um dos pontos altos do universo cinematografico da Marvel. Estabelece um conflito entre os super-heróis partindo de uma diferença ideológica: se os heróis devem ou não ser controlados pelos governos. As questões pessoais agravam as tensões, envolvendo, pelo lado do Capitão, a fidelidade ao velho amigo Bucky, acusado de matar um estadista, e, pelo lado do Homem de Ferro, as dores do assassinato do pai no passado. Aqui, antes do conflito há muita discussão e impasse, e peso dramático no conflito. Ninguém quer brigar, mas ninguém vai parar de brigar porque a mãe tem o mesmo nome da mãe do outro.
VINGADORES — ULTIMATO (Anthony Russo e Joe Russo, 2019)
⭐⭐⭐⭐
Diário de Filmes 2019: 28
O filme responde bem a tanto mistério e expectativa. É também um dos raros casos em que quanto menos informação o espectador tiver sobre a trama, melhor (então, se preferir, pare agora, antes desta pequena análise). O que se desenhava como um grande contra-ataque contra o vilão Thanos é subvertido logo no início. O filme faz os personagens viverem o luto e joga apressadamente um plot de viagem no tempo que força um pouco a barra, mas o que acontece nela é tão divertido e engenhoso na auto-homenagem, e há surpresas tão boas como a importância da Nebulosa na trama, que não é tão difícil deixar pra lá soluções narrativas fáceis demais, contradições e o sumiço forçado de uma personagem problemática como a Capitã Marvel. Há desfechos comoventes e, sobretudo, muito respeito aos dois personagens centrais dessa saga: o Homem de Ferro e o Capitão América.
VINGADORES — GUERRA INFINITA (Anthony Russo e Joe Russo, 2018)
⭐⭐⭐⭐
Diário de Filmes 2019: 27
O épico que reúne quase todos os heróis do universo cinematográfico da Marvel tem muita coisa e muita gente para dar conta, por isso é uma grande correria, na qual não há muito tempo para considerações psicológicas ou contextualizações detalhadas. A exceção fica basicamente para o vilãozão Thanos, que quer erradicar metade dos seres vivos do universo num estalar de dedos, quando possuir todas as joias do infinito em sua manopla poderosa. Ramificado em quatro linhas narrativas simultâneas, é frenético, intenso e consegue manter a personalidade dos personagens egressos de seus próprios filmes.
CAPITÃ MARVEL (Anna Boden e Ryan Fleck, 2019)
⭐⭐½
Diário de Filmes 2019: 22
O primeiro filme do Universo Cinematografico Marvel liderado por uma super-heroína infelizmente não é um dos pontos altos da série. A narrativa até começa bem, com a personagem tendo flashes de memória que vão construindo seu passado. Mas o desenrolar é frouxo, tem uma insistência irritante em certas tolices pra justificar piadas lá na frente, uma protagonista que o filme parece não ter coragem de tornar casca-grossa de verdade e que é uma personagem problemática pelo nível desproporcional de poder. Na questão do empoderamento feminino é bem correto, mas só isso não faz um filme.
AQUAMAN (James Wan, 2018)
⭐⭐⭐
Diário de Filmes 2019: 15
Finalmente parece que alguém estava se divertindo num filme do Universo DC. Aquaman não sai muito do mediano, perdendo tempo como um sub-Indiana Jones em certo momento, abusando das bobagens no roteiro e se afundando numa exagerada megabatalha final. Mas tem um protagonista que tira onda, abraça sua estética muito kitsch e isso rende algumas risadas.
ERA UMA VEZ UM DEADPOOL (David Leitch, 2018)
⭐⭐⭐½
Diário de Filmes 2019: 2
A recauchutagem de Deadpool 2 pra pegar uma censura mais leve se apoia na boa ideia envolvendo Fred Savage e uma paródia de A Princesa Prometida. A maior parte do filme, no entanto, é o segundo Deadpool maneirando nos palavrões e no sangue. E ainda é bastante engraçado.
No cinema (Cinépolis Manaíra).
Ezra Miller (Flash), Ben Affleck (Batman) e
Gal Gadot (Mulher-Maravilha): mudança de rota
LIGA DA JUSTIÇA
Sofrendo com o ‘Efeito Martha’
por Renato Félix
A primeiríssima cena de Liga da Justiça (2017) é muito importante para entender os rumos que o filme toma, em relação ao que vinha sendo feito com esse universo DC compartilhado no cinema. Ela mostra o Super-Homem (Henry Cavill) respondendo, após um salvamento, perguntas de algumas crianças para uma filmagem em celular. Embora meio constrangido, ele atende às crianças com atenção e paciência antes de sair voando.
Trata-se de um novo personagem na franquia, alguém que não foi apareceu em O Homem de Aço (2013) e nem em Batman vs. Superman – A Origem da Justiça (2016) – mesmo que nesses filmes houvesse um que tenha tido o mesmo nome e tenha sido interpretado pelo mesmo ator deste. É uma caracterização completamente diferente.
Para quem defendia a versão dos primeiros filmes dizendo que era uma “atualização” do personagem, que era um “Super-Homem para os novos tempos”, que aquele Super-Homem “não tinha mais lugar nos tempos de hoje”, talvez tenha sido uma grande surpresa essa virada.
Terá sido a influência de Joss Whedon, que assumiu o filme na reta final? Ou Zack Snyder aprendeu com as críticas e abandonou o argumento do “Super-Homem nunca visto antes” que usava em O Homem de Aço, voltando finalmente ao personagem nos velhos moldes?
O fato é que Liga da Justiça parece uma continuação que não assistiu aos filmes anteriores da franquia. E isso, que normalmente seria um ponto negativo, não é: é positivo. A única saída para se safar do que foi plantado em O Homem de Aço só poderia ser essa: esquecer o tanto quanto possível os filmes anteriores assinados pelo próprio Snyder (Whedon, que escreveu e dirigiu os dois Vingadores, não assina aqui como diretor, apenas como co-roteirista).
Já era conhecida a orientação de se levar aos cinemas um filme mais relaxado e divertido, e isso fica evidente desde a primeira cena. Mas não são raras as vezes em que fica evidente demais, como no fato de qualquer diálogo do Flash (Ezra Miller) ter a obrigação de tentar fazer graça. Muitas piadas simplesmente não dão certo, mas algumas, vale ressaltar, até que funcionam bem – como a que envolve o Aquaman (Jason Momoa) e o laço mágico da Mulher-Maravilha e o Flash partindo para cima do Super-Homem.
Já é um avanço. Mas, no geral, o filme simplesmente carece de brilho. Quando é observado à luz do universo compartilhado da DC no cinema, ele reflete a arquitetura apressada e desajeitada dessa construção. Mulher-Maravilha (2017), por exemplo, é o filme imediatamente anterior, lançado também este ano, mas se passa 100 anos antes deste – e, ainda assim, Diana (Gal Gadot) fala sem parar no amor perdido na I Guerra. Mesmo que uma amazona imortal tenha uma percepção de tempo diferente da nossa, não convence.
E por que o Batman (Ben Affleck) iria convocar alguém vestido não como o Homem-Morcego, mas como Bruce Wayne, sem qualquer zelo por sua identidade secreta? A explicação só pode ser essa: acharam ótima a ideia de Affleck jogar um batarangue e Barry Allen, o Flash em sua identidade secreta, pegá-lo no ar com sua supervelocidade e deduzir: “Você é o Batman!”. Mas, para chegar a esse momento, a construção de cenas e diálogos é péssima.
Infelizmente, Liga da Justiça é cheia de momentos assim. Momentos que podemos chamar de Efeito Martha (quem assistiu Batman vs. Superman vai entender): pensar em uma cena de efeito e simplesmente não construir minimamente bem o alicerce dramático para chegar lá.
O vilão é outro ponto fragilíssimo do filme. A reunião dos principais super-heróis do mundo merecia alguém com mais peso e carisma que um inimigo da terceira divisão da DC Comics, sem qualquer carisma e cujas motivações são tão rasas. Se tivesse pelo menos dois elementos do tripe importância-carisma-motivação, escaparia. Mas o Lobo da Estepe passou longe de qualquer um deles.
O CGI também não ajuda nada, competindo com o não bigode de Henry Cavill (a ausência mais presente do filme) pelo título de visual incômodo do filme.
Os heróis chegam a funcionar a contento juntos e – quem diria? – o filme melhora quando o Super-Homem entra em cena (mesmo que a justificativa para sua volta seja mais um dos elementos forçados do roteiro). Como se simbolicamente renegasse o estabelecido nos filmes anteriores de Snyder, Danny Elfman (autor das trilhas dos Batman de Tim Burton e dos Homem-Aranha de Sam Raimi) entra no lugar de Hans Zimmer e traz momentos… da trilha clássica de John Williams para Superman – O Filme (1978)!
Liga da Justiça. Justice League. EUA, 2017. Direção: Zack Snyder. Elenco: Ben Affleck, Gal Gadot, Ezra Miller, Jason Momoa, Ray Fisher, Henry Cavill, Amy Adams, J.K. Simmons, Jeremy Irons, Jesse Eisenberg, Robin Wright, Connie Nielsen, Amber Heard, Diane Lane, Billy Crudup. Em cartaz.
Atenção para as estreias do cinema no circuito paraibano nesta quinta, 26 de outubro. É uma semana movimentada, com nove estreias e uma reestreia.
O blockbuster da semana é o elogiado Thor – Ragnarok, o terceiro solo do deus do trovão. Cris Hemsworth tem a companhia de Mark Ruffalo como Hulk, Tom Hiddleston como Loki e de Cate Blanchett, a grande vilã. Estreia quinta em JP (Cinépolis Manaíra, Centerplex MAG, Cinesercla Tambiá, Cinépolis Mangabeira), CG (Cinesercla Partage) e Patos (Cine Guedes).
Premiado em Berlim, Uma Mulher Fantástica lidera as estreias do Cine Banguê, em João Pessoa, sábado. Também chegam por lá o elogiado As Duas Irenes, a partir de segunda, e o documentário Gaga – O Amor pela Dança, a partir de domingo. E, a partir de domingo, a reestreia de Como Nossos Pais, da Laís Bodanzky, que já esteve em cartaz, mas por pouco tempo.
Em tempo: neste sábado, a partir das 15h, o Banguê exibe uma mostra comemorando o Dia da Animação. Em tempo 2: a reestreia do antológico Cidade dos Sonhos no Banguê já tem data: é no dia 2.
O Centerplex MAG exibe sozinho três estreias: Manifesto, tour de force experimental em que Cate Blanchett interpreta 13 personagens (e ela, lembrando, ainda está também em Thor – Ragnarok); O Formidável, sobre Jean-Luc Godard e do diretor de O Artista, Michel Hazanavicius (que passa apenas sábado e domingo); e A Menina Indigo, do diretor de Nosso Lar.
O criticado Pelé – O Nascimento de uma Lenda, produção americana sobre a juventude do rei do futebol, entra só no Cinépolis Manaíra. E ainda tem a animação europeia Missão Cegonha, em JP (Cinépolis Manaíra, Cinesercla Tambiá e Cinépolis Mangabeira).
TRAILERS:
- Thor – Ragnarok:
- Uma Mulher Fantástica:
- As Duas Irenes:
- Manifesto:
- O Formidável:
- Gaga – O Amor pela Dança:
- A Menina Indigo:
- Pelé – O Nascimento de uma Lenda:
- Missão Cegonha:
- Como Nossos Pais:
A seguir, os meus melhores filmes de 2016, apenas entre os que estiveram em cartaz nos cinemas de João Pessoa. Antes, como em todo ano, a numeralha em torno do circuitão pessoense.
– O número de filmes em cartaz em João Pessoa explodiu em 2016: foram 258 estreias contra as 163 de 2015 e 164 de 2014. O recorde anterior, desde 2006, ano em que o Boulevard começou a fazer esse acompanhamento, havia sido 165 em 2007. Os motivos determinantes para esse aumento são a inauguração do novo Cine Banguê, que vem servindo filmes que não passam nos demais cinemas, e alguma diversidade no Cinépolis e no Cinespaço.
1 – O REGRESSO, de Alejandro González Iñarritu
Iñarritu é um diretor que arrisca muito em suas narrativas, nem sempre com sucesso. Mas quando acerta, entrega coisas belas como este O Regresso, a jornada selvagem e espiritual de um homem em busca de outro que o deixou para morrer, aós ter sido atacado por um urso. A interpretação visceral de Leonardo DiCaprio foi, com toda a justiça, premiada com o Oscar, o Globo de Ouro, o SAG e o Bafta. Crítica no Boulevard
2 – ELLE, de Paul Verhoeven
Isabelle Huppert matadora, para variar, em um filme desconcertante e doentio – Paul Verhoeven sendo Paul Verhoeven. Isabelle é uma mulher fria e cerebral que é estuprada dentro de casa por um mascarado e lida ao seu modo com a possibilidade de um novo ataque.
3 – AQUARIUS, de Kléber Mendonça Filho
Sônia Braga é a única moradora que restou em um antigo prédio que uma construtora quer demolir. Mas ela luta pelo direito de preservar suas memórias afetivas. Uma bela defesa de que coisas – como discos ou um apartamento – podem não ser apenas “coisas”.
4 – ZOOTOPIA – ESSA CIDADE É O BICHO, de Byron Howard e Rich Moore
No que parecia apenas mais uma sátira de bichinhos se comportando como seres humanos, desenrola-se uma imaginação bem cuidada de como seria essa cidade levando-se em consideração as características dos animais antropomorfizados, uma história policial instigante e uma crítica surpreendente e dura aos preconceitos de quem se acha o mocinho.
5 – SPOTLIGHT – SEGREDOS REVELADOS, de Tom McCarthy
Com uma história que tinha tudo para mergulhar no melodrama, essa trama que conta a investigação jornalística que expôs o escândalo de pedofilia da Igreja de Boston é contida e precisa em sua narrativa. Crítica no Boulevard
6 – CAPITÃO AMÉRICA – GUERRA CIVIL, de Anthony Russo e Joe Russo
Um filme de super-heróis que reflete sobre si mesmo, sobre o gênero e seus personagens. E coloca os dois personagens principais do universo cinematográfico da Marvel com o peso dramático acumulado em todos estes anos e filmes.
7 – A BRUXA, de Robert Eggers
Famílias isoladas à mercê do sobrenatural não são exatamente uma novidade, mas este filme consegue imprimir um clima opressor e tanto. Crítica no Boulevard
8 – CINCO GRAÇAS, de Deniz Gamze Ergüven
Cinco irmãs jovens e cheias de vida vítimas de um tio que as prende em casa e as obriga a casamentos arranjados. O filme nos leva a procurar tanto quanto elas uma saída.
9 – FILHO DE SAUL, de Lázló Nemes
Filmado quase todo em close, é uma experiência que nos faz acompanhar de perto o drama pesado e doloroso de um homem que tenta impedir que o filho morto seja incinerado pelo nazistas. Ao menos isso.
10 – A CHEGADA, de Denis Villeneuve
Uma ficção científica que recusa a pirotecnia e celebra o poder da comunicação. Denis Villeneuve evoca o Spielberg de Contatos Imediatos do Terceiro Grau.
+ 10: A Grande Aposta, de Adam McKay; Deadpool, de Tim Miller; Mia Madre, de Nanni Moretti; Café Society, de Woody Allen; Sully, o Herói do Rio Hudson, de Clint Eastwood; Rogue One – Uma História Star Wars, de Gareth Edwards; Star Trek – Sem Fronteiras, de Justin Lin; Carol, de Todd Haynes; Jogo do Dinheiro, de Jodie Foster; Animais Fantásticos e Onde Habitam, de David Yates.
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<< Meus melhores filmes de 2015
MAIS RETROSPECTIVA 2016:

Choque de realidade: Gal Gadot em “Mulher-Maravilha”
‘MULHER-MARAVILHA’
O universo da DC Comics é muito caro pra mim. São os super-heróis da minha infância, são os cânones dos quais todos os outros são derivados (por aproximação ou oposição). São os modelos primordiais. Por isso tem doído bastante vê-los tão maltratados nos quadrinhos e no cinema. Desisti dos quadrinhos quando a editora tentou enfiar goela abaixo aquela coisa triste chamada “Novos 52”. E no cinema, um festival de tranqueiras tentando montar aos trancos e barrancos um universo compartilhado, como o que a Marvel construiu (com bem mais paciência e inteligência).
Isto posto, a alegria de constatar que conseguiram fazer de Mulher-Maravilha um filme. E não um amontoado de ideias ruins ou mal executadas, como os três exemplares anteriores desse universo compartilhado.
A ambientação na I Guerra Mundial provou-se um grande acerto. Nascida e criada na idílica Themiscyra (antes conhecida como Ilha Paraíso), povoada só por amazonas e isolada do mundo, Diana (Gal Gadot) socorre o aviador Steve Trevor (Chris Pine) que cai ali. E toma conhecimento da guerra que está consumindo o mundo. E decide deixar a ilha para ajudar acabar com a guerra no “mundo dos homens”.
A partir daí, o filme combina um humor leve ancorado na estranheza com que a princesa amazona vê os costumes do mundo de 1918 – especificamente em Londres. As roupas, o papel da mulher na sociedade, ver um bebê (o último em sua ilha havia sido ela mesma).
Ao entrarmos na guerra, Diana vai tomando contato com as complexidades da humanidade. Mesmo que o filme trate várias delas de leve, é quando ele cresce: o sofrimento de pessoas humildes, o racismo, não poder salvar a todos, as mortes gratuitas. Em certa medida, um índio diz que seu povo “foi morto pelo povo dele”, referindo-se ao branco Trevor, aliado de ambos. Como compreender coisas assim? O filme lida muito bem com o impacto disso na personagem.
O mundo é meio o inimigo, e isso compensa um pouco as fragilidades dos vilões do filme. Danny Huston faz o que pode, mas seu personagem é pobre e não ajuda. E, quando o deus Ares se revela, nunca convence, nem seu estratagema. Pior, a sequência final direciona desnecessariamente o filme para o simplismo quando ele navegava bem em mares mais complexos. Também parece um clímax de combate grandioso posto ali meio que por obrigação.
A espanhola Elena Anaya, como a Doutora Veneno, se sai melhor fazendo um tipo propositalmente caricato, mas o filme não a aproveita bem. Sua participação é bem menor do que poderia.
Mas, enfim, o filme também se vale bem do carisma de Gal Gadot e Chris Pine e da boa química entre eles. Há um clima de romance bem conduzido, equilibrando bem com o humor e as cenas de ação.
Cenas de ação, aliás, que exageram nas câmeras lentas: nenhuma amazona pode dar um pulo sequer que para no ar. Esses momentos são incontáveis, de bonitos tornam-se logo banais e repetitivos e, curiosamente, só dão um descanso justamente no combate final.
Felizmente, a construção da personagem é que é o motor do filme: quando ela destrói uma torre para parar um atirador alemão que ataca seu grupo e surge depois lá em cima, é difícil não ver que ali está a Mulher-Maravilha. Em termos de DC no cinema, ultimamente, isso já é muita coisa.
Mulher-Maravilha. Wonder Woman. Estados Unidos, 2017. Direção: Patty Jenkins. Roteiro: Allan Heinberg, baseado em história de Heinberg, Zack Snyder e Jason Fuchs. Elenco: Gal Gadot, Chris Pine, Connie Nielsen, Robin Wright, Danny Huston, Elena Anaya, David Thewlis, Saïd Taghmaoui, Ewen Bremner, Eugene Brave Rock, Lucy Davis, Lilly Aspell.
Coluna Cinemascope (#9). Correio da Paraíba, 16/11/2016.

“Mestres do Universo” (1987)
Há (quase) 30 anos
por Renato Félix
Todo mundo tem duas primeiras vezes no cinema: a primeira vez em que foi levado pelos pais (ou um tio, ou algum outro adulto) e a primeira vez em que foi por si mesmo (sozinho ou com amigos) e com seu próprio dinheiro (da mesada, economizado do lanche da escola, ou mesmo dado pelos pais). Esta minha “segunda primeira vez” no cinema vai completar 30 anos em 2017.
Foi no antigo Cine Municipal, na época o maior em atividade na cidade, com seus mais de 900 lugares. O filme, no entanto, não é nada para se orgulhar muito: Mestres do Universo, aquela versão em carne-e-osso do He-Man, com Dolph Lundgren, produzida pela Cannon. Não exija muito, eu tinha 13 anos.
O IMDb me diz que o filme estreou no Brasil em 30 de junho, então é provável que julho tenha sido o mês em que peguei meu dinheirinho (economizado do lanche), fui de ônibus à tarde ao Municipal, no Centro de João Pessoa, assisti o filme e voltei pra casa. No ano seguinte, fui ver mais uns três ou quatro filmes e em 1989 a sala escura me pegou de vez.
Mas 1988 também foi um ano que definiu o cinema para mim. Foi o ano em que vi pela primeira vez um Indiana Jones (o primeiro), um Jornada nas Estrelas (o segundo), um James Bond (Os Diamantes São Eternos, com Sean Connery). Todos na TV, na Tela Quente, que foi lançada em março de 1988 (o filme de estreia foi O Retorno de Jedi, que também vi pela primeira vez aí).
Mas tem uma data que não consigo precisar: foi no reveillón de 1987 ou de 1988 que Cantando na Chuva foi exibido como primeiro filme do ano na Globo? Sozinho em casa, o filme transformou uma virada de ano super tranquila em um maravilhamento que me abriu as portas do cinema clássico. Até hoje meu filme preferido e um definidor de quem sou hoje.
FOTO: Mestres do Universo (1987)
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>> Antes e depois deles
Coluna Cinemascope (#7). Correio da Paraíba, 2/11/2016.

“Doutor Estranho” (2016)
Super-heróis, lado B
por Renato Félix
Quando eu era ainda um menino e via os filmes do Super-Homem com Christopher Reeve ainda na primeira dublagem brasileira na TV preto-e-branco dos meus pais, nunca imaginei que veria uma época como esta: vários filmes de super-heróis por ano, não raro muito bons e com chance até para personagens que não são aqueles mais populares entre não-leitores.
Naquela época, eu ainda estava começando a ler gibis do gênero (lia o Batman de Neal Adams e Denny O’Neill, basicamente, e logo viria O Cavaleiro das Trevas, Watchmen, que mudariam tudo nas HQs de heróis). De filmes, só havia mesmo os do Super-Homem. Fora isso, os heróis só apareciam de carne-e-osso em séries de TV em geral sofríveis. O Batman de Tim Burton em 1989 apareceu como honrosa exceção nos cinemas.
A coisa mudou mesmo quando X-Men – O Filme se tornou um grande sucesso em 2000 (eu sei, teve Blade pouco antes, mas que não-leitor já ouviu falar de Blade?). Homem-Aranha (2002) consolidou o gênero em ascensão. E Homem de Ferro (2008) deu o ponta-pé nos filmes interligados da Marvel.
E, com eles, a Marvel se tornou uma marca tão conhecida dos não-leitores que passou a ser avalista até de filmes de heróis pouco conhecidos além das páginas dos gibis. O garoto daqueles tempos, os anos 1980, nunca imaginaria assistir a um filme do Homem-Formiga, do Deadpool, dos Guardiões da Galáxia…
Ou Doutor Estranho, que teve pré-estreia com toda a pompa nesta madrugada, e já entra em horários à tarde nesta quarta em JP, Campina e Patos, embora a estreia oficial seja só na quinta. Quem sabe no futuro o público não-leitor acabe íntimo de personagens como o Homem-Elástico (da DC) ou da Ms. Marvel (da Marvel)?
FOTO: Doutor Estranho (2016)
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Coluna Cinemascope (#2). Correio da Paraíba, 28/9/2016.

“Superman II – A Aventura Continua” (1980)
Final aberto: você decide
por Renato Félix
Outro dia revi Superman II e me lembrei da questão interessante envolvendo os três kryptonianos do filme. Questão que ficou adormecida durante mais de 30 anos (até ser despertada pela infame cena de O Homem de Aço, 2013), aparentemente com cada espectador guardando para si o que achava: eles morrem ou não?
Você lembra: depois que o trio de vilões perde seus poderes, é jogado em um fosso na Fortaleza da Solidão, base do herói no Ártico. Somem na névoa (que está bem próxima à beira) ao cair e não voltam ao filme depois disso.
O filme deixa esse final dos personagens em aberto, deixando que o espectador imagine o desfecho. E aí preenchemos muitas vezes com elementos que trazemos conosco. Acostumados a filmes onde James Bond (ou Rambo ou Schwarzenegger) matam bandidos sem culpa, não chega a ser supresa que se faça a associação automática: os vilões sumiram de cena, logo morreram.
No entanto, é preciso colocar esse processo condizente com a narrativa do filme. Teria aquele Super-Homem, de Christopher Reeve, matado a sangue frio três indivíduos sem poderes – e depois agir como se nada tivesse acontecido? Acho que não. Logo, o desfecho dos vilões teria que ser outro, dos muitos possíveis na situação que o filme deixou em aberto.
Há diversos outros exemplos, ainda mais intrigantes: Shane morre ou não no fim de Os Brutos Também Amam (1953), qual o destino que Tom Hanks vai tomar na encruzilhada final de Náufrago (2000)? Quais os problemas dos filhos que Marty vai encontrar no futuro depois do fim de De Volta para o Futuro (1985)? Bom, esse é um final aberto que a parte II explicou.
Em tempo: há uma edição exibida apenas na TV nos EUA que mostra policiais do Ártico prendendo Lex Luthor e os kryptonianos. Logo, não morreram.
FOTO: Superman II – A Aventura Continua (1980)
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