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HOMEM-ARANHA NO ARANHAVERSO
½
Diário de filmes 2023: 76
Mídia física: DVD e blu-ray (da Sony). Streaming: Disney Plus, Now, Paramount Plus, Lionsgate Plus, Claro Vídeo. Aluguel ou compra digitais: Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, Amazon, Microsoft Store.
A infinidade de filmes com o Homem-Aranha lançados desde 2002 permitiu variações como esta: uma animação em que o personagem principal não é o tradicional Peter Parker, mas um herói alternativo de um universo paralelo. No caso, Miles Morales, jovem negro e latino que surgiu nos quadrinhos em 2011, no chamado “universo ultimate” da Marvel. Popular entre os leitores e símbolo importante de diversidade nas HQs, ele acabou ganhando seu próprio filme. E que filme! Animação com visual extraordinário, cheio de citações à narrativa dos quadrinhos (de recordatórios com pensamentos à imagem reticulada evocando às impressões das HQs antigas), cenas empolgantes e uma bela trama de amadurecimento. Os outros homens-aranhas que aparecem são todos interessantes e com bom espaço, mas sem roubar o protagonismo do principal. Já ganhou uma continuação à altura.
Spider-Man – Into the Spider-Verse. Canadá/ Estados Unidos, 2018. Direção: Bob Persichetti, Peter Ramsey, Rodney Rothman. Vozes na dublagem original: Shameik Moore, Jake Johnson, Hailee Steinfeld, Mahershala Ali, Brian Tyree Henry, Lily Tomlin, Luna Lauren Velez, Zoë Kravitz, John Mulaney, Nicolas Cage, Kathryn Hahn, Liev Schreiber, Chris Pine, Oscar Isaac, Stan Lee. Vozes na dublagem brasileira: Cadu Paschoal, Fernando Lopes, Luiza Cesar, Ronaldo Júlio.
THE FLASH
Diário de filmes 2023: 91
Mídia física: Não disponível no Brasil. Streaming: Now. Aluguel ou compra digitais: Google Play/ YouTube Filmes, AppleTV/ iTunes, Amazon, Microsoft Store.
O filme do velocista escarlate é uma grande bagunça. Joga referências a esmo, as consequências da viagem no tempo do herói são completamente sem sentido, os efeitos são bizarros (e o diretor depois disse que é de propósito, como se isso fosse melhorar o negócio). Mas há também um ponto positivo no tom escapista, considerando que o universo DC no cinema, na fase pós O Homem de Aço geralmente se comporta de maneira sisuda e pretensiosa. Aqui, Flash volta no tempo para impedir a morte da própria mãe (a sempre belíssima espanhola Maribel Verdú) e que seu pai seja preso injustamente pelo crime. Isso provoca mudaças no futuro, desculpa para colocar Michael Keaton de novo na roupa do Batman, entre outras brincadeiras.
Crítica de The Flash:
Bagunçado e sem sentido, mas acerta no escapismo
The Flash. Estados Unidos/ Canadá/ Austrália/ Nova Zelândia, 2023. Direção: Andy Muschietti. Elenco: Ezra Miller, Michael Keaton, Sasha Calle, Maribel Verdú, Ray Livingston, Michael Shannon, Ben Affleck, Jeremy Irons, Gal Gadot, George Clooney, Jason Momoa.
BATMAN
Diário de filmes 2023: 60
Mídia física: DVD, blu-ray. Streaming: HBO Max. Aluguel ou compra digitais: Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, Amazon, Microsoft Store.
Assistindo com meu filho de 8 anos, me chamou a atenção três observações dele durante a sessão em casa. “O Batman parece um vilão”, “Esse filme parece que é do Coringa” e “Esse não é o tipo de humano que pensei que o Batman seria” (aqui, ele se referiu à aparência do Bruce Wayne interpretado por Michael Keaton). Quem viveu a época, sabe: são três questões muito debatidas no lançamento do filme, em 1989. Era a primeira grande produção do Homem-Morcego nos cinemas, cercada de imensa expectativa. Sua versão nas telas ainda era a da série cômica dos anos 1960, embora o personagem já tivesse sido repaginado nos quadrinhos desde o final daquela década, assumindo uma imagem mais séria e sombria. Isso pode ter surpreendido quem não tinha maior intimidade com o Batman nas HQs, mas não tanto quanto a escalação de Keaton, então um astro de filmes de comédia cínica. Não escapou de críticas, mas aqui estamos, quase 35 anos depois, com seu retorno celebrado ao uniforme no próximo filme do Flash. E o Coringa, bem, tem uma interpretação antológica de Jack Nicholson, exagerando com vontade, colocando o filme no bolso (ou na carteira, já que ele teve participação nos lucros).
Batman. Estados Unidos, 1989. Direção: Tim Burton. Elenco: Michael Jackson, Jack Nicholson, Kim Basinger, Robert Wuhl, Pat Hingle, Billy Dee Williams, Michael Gough, Jerry Hall.
SHAZAM! – FÚRIA DOS DEUSES
½
Diário de filmes 2023: 40
Em cartaz nos cinemas.
É um problema comum em filmes com crianças ou adolescentes que de repente viram adultos: a versão crescida geralmente aparece bem mais infantil que a versão mirim. Quando isso acontece em um ótimo filme como “Quero Ser Grande” (1988), ok, há muito para compensar. Mas não é o caso deste segundo “Shazam!”, não há muito o que compensar aqui. Pior: esse curioso fenômeno é mais grave no protagonista do que nos seus irmãos super-heróis: Shazam (o antigo Capitão Marvel, infelizmente rebatizado há alguns anos) parece muito mais boboca que a sua turma. Este segundo filme ainda sofre com a superpopulação de personagens, o que dá pouco tempo para qualquer um deles se desenvolver minimamente – Freddie (Jack Dylan Grazer) ganha as melhores oportunidades. O trio de vilãs formado por Helen Mirren, Lucy Liu e Rachel Zegler já é, pelo menos, um avanço comparado ao péssimo Dr. Silvana do primeiro filme, reduzido a um vilão superpoderoso genérico.
Shazam! Fury of Gods. Estados Unidos, 2023. Direção: David F. Sandberg. Elenco: Zachary Levi, Asher Angel, Jack Dylan Grazer, Helen Mirren, Rachel Zegler, Lucy Liu, Grace Caroline Currey, Djimon Hounsou.
SUPERMAN – O FILME
Diário de filmes 2023: 39
Mídia física: DVD, blu-ray. Streaming: HBO Max. Aluguel ou compra digitais: Google Play/ YouTube Filmes, AppleTV/ iTunes, Amazon, Claro TV, Vivo Play, Oi Play.
Antes dele, os super-heróis estrelavam filmes e séries de baixo orçamento. Depois dele, levaria mais de 20 anos até se consolidar um subgênero com aventuras dos superpoderosos dos quadrinhos. E nenhum conseguiu combinar com tanta perfeição a mistura de inocência e malícia, o se levar a sério com o não se levar tão a sério. Superman – O Filme é um filme único, até diante de outros filmes com o Super-Homem. Da destruição de Krypton à fordiana Smallville, da Fortaleza da Solidão à Nova York interpretando Metropolis, de Marlon Brando como o pai kryptoniano a Gene Hackman como um Lex Luthor vilão-de-James Bond, da primeira noite do herói em ação à entrevista sacaninha a Lois Lane, tudo é icônico, tudo foi referenciado inúmeras vezes ao longo dos anos. Alguns efeitos especiais ficaram datados com o tempo, mas outros continuam plenamente fazendo o espectador acreditar que um homem pode voar. E Christopher Reeve é insubstituível. Todos os outros que interpretarem Clark Kent/ Super-Homem, por melhores que sejam, sempre estarão à sua sombra.
Crítica de Superman – O Filme:
Um filme que voa alto
Superman. Estados Unidos, 1978. Direção: Richard Donner. Elenco: Christopher Reeve, Gene Hackman, Margot Kidder, Marlon Brando, Ned Beatty, Jackie Cooper, Glenn Ford, Valerie Perrine, Susannah York, Trevor Howard, Terence Stamp, Maria Schell, Sarah Douglas.
BATMAN
⭐⭐⭐½
Diário de Filmes 2022: 23
Onde ver: HBO Max, Apple TV, Google Play.
A vingança nunca é plena
“’Eu sou a vingança’, se apresenta o herói ao sair das sombras para espancar uns bandidos no começo de Batman (The Batman, EUA, 2022), mais uma versão do personagem, desta vez a cargo de Matt Reeves. Essa sentença fundamenta a longa trama que combina o enfrentamento ao vilão Charada com uma espécie de autoanálise do herói sobre qual é realmente seu objetivo ao se vestir de Homem-Morcego e sair por Gotham City à noite.
Dos anos 1980 para cá, roteiristas, desenhistas e diretores de cinema têm tentado combinar seriedade com os aspectos ridículos dos super-heróis. A expressão “aspectos ridículos” não é uma crítica negativa – eles são divertidos e são parte fundamental do apelo que fez esse tipo de história atravessar mais de 80 anos nos quadrinhos e se tornar o grande filão dos blockbusters no cinema atual”.
O novo filme do Homem-Morcego acabou de entrar no HBO Max. Confira meu texto completo sobre ele no CinemaEscrito.
The Batman. EUA, 2022. Direção: Matt Reeves. Roteiro: Matt Reeves e Peter Craig, baseado no personagem criado por Bob Kane e Bill Finger. Elenco: Robert Pattinson, Paul Dano, Zoe Kravitz, Jeffrey Wright, Colin Farrell, John Turturro, Andy Serkis, Peter Sarsgaard.
HOMEM-ARANHA – LONGE DE CASA
½
Diário de Filmes 2022: 8
Onde ver: DVD, blu-ray, Amazon Prime Video, Now, Looke, Claro Vídeo, Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, Microsoft Store.
Perdido na Europa
O segundo filme da (até agora) trilogia do Homem-Aranha no universo cinematográfico da Marvel é quase unanimamente apontado como o mais fraco. A ideia até que era boa: tirar o herói de seu habitat natural e jogar em aventuras na Europa. Mas o andamento sempre parece que faltou um polimento.
O roteiro arma uma viagem da escola para que Peter Parker esteja cercado da maioria de seus coadjuvantes habituais. No Velho Mundo, ele se depara com uma novo herói que conta ter vindo de outro universo.
O problema é que qualquer leitor dos quadrinhos do herói sabe muito bem que é o Mysterio. E a pegada John Hughes do primeiro filme se perde um pouco em piadas bobas além da conta. E a aventura alterna entre bons momentos com o Aranha enfrentando ilusões traiçoeiras e um típico clímax que exagera no barulho.
Spider-Man – Far from Home, 2021.
Direção: Jon Watts. Roteiro: Chris McKenna e Erik Sommers, baseado em personagens criados por Stan Lee e Steve Ditko. Elenco: Tom Holland, Jake Gyllenhall, Samuel L. Jackson, Zendaya, Jon Faveau, Marisa Tomei, Jacob Batalon, J.K. Simmons.
O Disney Plus lançou esta semana o documentário em três partes de Peter Jackson resgatando as gravações do Let it Be e a nova minissérie da Marvel, Gavião Arqueiro. Nos cinemas, a nova animação da Disney, Encanto, e a nova safra do cinema francês no Festival Varilux. Saiba mais sobre cada um na minha coluna na CBN João Pessoa.
VIÚVA NEGRA
½
Diário de Filmes 2021: 107
Marvel paga o filme que devia à heroína
Nastasha Romanoff, a Viúva Negra, já merecia ser próprio filme há muito tempo. Começando em Homem de Ferro 2 (2010), esta é a nona aparição da personagem no universo Marvel nos cinemas, tendo se tornado gradualmente um membro cada vez mais central dos Vingadores e a principal figura feminina no grupo de super-heróis.
As super-heroínas demoraram a ganhar o protagonismo merecido no cinema, a encabeçar seus próprios filmes. Mulher-Maravilha, na DC, e Capitã Marvel, na Marvel, conseguiram isso antes da personagem vivida por Scarlett Johansson, que só teve direito ao seu após Vingadores – Ultimato (2019).
Até aí, a Viúva Negra não tinha muito passado ou relações fora do meio dos heróis. O filme solo serve para explorar isso. A trama se passa entre Capitão América – Guerra Civil (2016) e Vingadores – Guerra Infinita (2108) e mostra Natasha reencontrando personagens de seu passado na União Soviética: sua “família” falsa de uma missão de espionagem (Florence Pugh, David Harbour e Rachel Weisz).
Esse é a soma de dois pontos positivos do filme: a boa abordagem dramática desse passado que a personagem tentou esquecer e o ótimo elenco de apoio. Florence Pugh é excelente como a irmã e possível sucessora de Natasha, Harbour está muito divertido como um Capitão América soviético, e Rachel Weisz é Rachel Weisz.
O tom do filme está mais para o espírito da aventura de espionagem “sério”, como Capitão América 2 – O Soldado Invernal (2014) do que para comédias mais rasgadas como Guardiões da Galáxia, por exemplo. Claro, em que pese o uso de feromônios por vilões e as discussões tipo sitcom entre os personagens.
A história – que gira em torno da organização que treina garotas para serem superespiãs e que agora está tirando suas vontades próprias em um plano de dominação global –, no fim, é um filme bem decente com que a Disney paga – com atraso – sua dívida com a Viúva Negra.
Onde ver: cinemas, Disney Plus (a partir de 25 de agosto).
Black Widow, 2021.
Direção: Cate Shortland. Elenco: Scarlett Johansson, Florence Pugh, David Harbour, Rachel Weisz, Ray Winstone, William Hurt, Olga Kurylenko.
THOR – RAGNAROK
½
Diário de Filmes 2021: 34
Chanchada em Asgard
Toda vez que revejo sempre gosto muito de Thor – Ragnarok. Há uns exageros, mas tem muita coisa que me diverte muito. Sobretudo a esplendorosa Cate Blanchett, mostrando mais uma vez o que uma grande atriz pode fazer num papel de vilã, e Jeff Goldblum, divertidíssimo.
Agitado, colorido, muito bem-humorado, meio iconoclasta, o filme também mostra que há uma variedade de estilos dentro do amarradinho universo cinematográfico da Marvel. Há filmes mais sérios, mas também chanchadas deliciosas como essa.
Onde ver: DVD, blu-ray, Disney +.
Thor – Ragnarok, 2017.
Direção: Taika Waititi. Elenco: Chris Hemsworth, Tom Hiddleston, Cate Blanchett, Mark Ruffalo, Tessa Thompson, Idris Elba, Jeff Goldblum, Karl Urban, Anthony Hopkins, Benedict Cumberbatch
LIGA DA JUSTIÇA DE ZACK SNYDER
⭐½
Diário de Filmes 2021: 36
Egotrip sem freios
Na primeiríssima cena do corte de Liga da Justiça que esteve nos cinemas em 2017, o Super-Homem é visto pela lente de um celular, filmado por algumas crianças que fazem algumas perguntas ao herói após um salvamento. Meio constrangido, ele reserva um tempinho para responder as perguntas. Além da boca esquisita de Henry Cavill (que tentou eliminar em CGI o bigode que o ator ostentava na ocasião), saltava aos olhos o reencontro da plateia com um personagem que fazia tempo não era visto no cinema: o Super-Homem.
Aquele Super-Homem, pelo menos, e não a versão carrancuda que Zack Snyder imprimiu em O Homem de Aço e Batman vs. Superman. Aquele personagem da abertura de Liga era uma novidade neste universo compartilhado da DC no cinema, e foi fruto direto da troca de comando na direção do filme (a trilha de Danny Elfman até resgatou de leve o tema clássico de John Williams).
Como quase todo mundo sabe, Snyder teve que sair do projeto antes de conclui-lo para lidar com uma tragédia pessoal. A Warner chamou Joss Whedon para terminar o filme, na expectativa de, no fim, ter algo mais próximo ao clima dos dois Vingadores que Whedon dirigiu.
Ele fez o que deu pra fazer com o material que tinha. Não foi muito.
O resultado foi meio uma criatura de Frankenstein, um remendo que terminou não sendo nem um filme padrão de Snyder (que mesmo assim continuou tendo a assinatura solo como diretor), nem um filme de Whedon (que é creditado apenas como co-roteirista). Era um filme meio esquizofrênico, que brigava consigo mesmo o tempo todo.
Mas Zack Snyder tem um grupo de fãs ruidosos, que logo fez campanha para ver o “corte original” do diretor (que não existia, visto que ele não havia editado nada). Snyder abraçou a campanha, fez seu lobby e conseguiu o aval da Warner para fazer sua montagem mais pessoal, com o estúdio de olho em dar um gás em seu serviço próprio de streaming.
Então, a primeira coisa a considerar é: Liga da Justiça de Zack Snyder é a versão original do diretor? A resposta é “não”.
É a visão dele combinando o que pretendia no começo mais suas ideias após ver a versão finalizada por Whedon (o que achou que deu certo, o que achou que deu errado, inclusive sobre o que ele mesmo tinha feito). E ainda o que mais resolveu fazer sabendo que, sendo uma produção para o streaming e não para o cinema, poderia entregar um filme com mais tempo de duração.
Daí, chegamos às 4 horas e dois minutos de duração. O Poderoso Chefão – Parte II (1974) tem 3h22. Ben-Hur (1959) tem 3h32. Lawrence da Arábia (1962) tem 3h48. …E o Vento Levou (1939) tem 3h58. É evidente que no caso de Liga não é para tanto: essas 4h02 são de um diretor sem freio algum para sintetizar o próprio filme. Uma viagem sem volta a uma egotrip.
Faltou limite e o filme se confia no fato de que, já que é para o streaming mesmo, o público pode assisti-lo como minissérie, se quiser. O novo Liga é até dividido em capítulos, para facilitar essa opção.
É claro que há ganhos nessa metragem maior que a da outra versão. Notadamente para o personagem Ciborgue, que ganhou uma história mais detalhada e com peso dramático maior. Também o Flash recebeu alguns momentos melhores.
E, considerando o remendo que é a outra versão, esta é, sem dúvida, mais coerente. É decorrência direta e lógica de O Homem de Aço e Batman vs. Superman. Agora, se isso faz dela um filme melhor, são outros quinhentos. Porque ser uma decorrência lógica, nesse caso, implica em também mergulhar em tudo o que os dois filmes anteriores têm de problemáticos. Snyder é fiel a seu – digamos assim – estilo: tons cinzas e marrons, caras emburradas e infinitas câmeras lentas, que são o que o diretor realmente acredita que dão intensidade dramática a um filme.
Então tem coisas melhores que a versão finalizada por Whedon? Sim. Tem coisas piores? Tem, também.
Visto de uma vez, é um filme interminável. Isso é quase literal: conclui, por assim dizer, com um epílogo inacreditável de longo, que empilha cenas sem parar depois de a história ter acabado. Não só aí, mas pelo meio do filme também brotam cenas e personagens inúteis, enxertados apenas para a alegria dos leitores que vão reconhecê-los dos quadrinhos.
O maior exemplo disso é o Caçador de Marte. Um personagem bem menos conhecido (se não for quase desconhecido) por quem não é leitor da DC, ausente da versão de Joss Whedon e que aparece em duas cenas que não dizem nada. Pelo contrário, o espectador fica se perguntando por que, afinal, ele não toma parte da ação, já que estava por ali.
O que ficou de fora foi tudo o que Whedon filmou a mais para dar uma levantada no astral da outra versão. Por exemplo, o momento em que o Super-Homem deixa momentaneamente de lutar com o vilão para – vejam só – salvar diretamente pessoas em perigo.
Para Zack Snyder, tendo em vista os filmes anteriores e esta versão, salvar pessoas é um inconveniente. O pouco interesse do Super-Homem em salvar pessoas no meio da destruição do quebra-pau em Metrópolis, em O Homem de Aço, virou piada, mas o diretor não aprendeu com isso.
Agora, a solução de Snyder para evitar novos memes é convenientemente localizar a ação do clímax e do combate com o vilão em uma área desabitada. Na versão de Whedon, há moradores ali, inocentes que precisam ser protegidos e ajudados. Agora – que confortável – não é preciso salvar ninguém e os heróis podem se concentrar naquilo que interessa de verdade ao diretor: a troca supostamente épica de sopapos com o vilão da vez.
Uma coisa importante a levar em conta é que o pior da Liga de Whedon (com exceção da boca esquisita de Henry Cavill) já estava no que Zack Snyder tinha feito até sair do projeto. E está de volta.
O Batman, por exemplo, recruta o Aquaman e o Flash no começo do filme. Mas faz isso como Bruce Wayne (!), revelando de primeira sua identidade secreta a desconhecidos. A ideia já é ridícula por si só, mas a construção das cenas torna tudo ainda pior: parece que só importou o momento de efeito (Barry Allen pegando o batarangue que Bruce Wayne atira e descobrindo, assim, que Wayne é o Batman), mas a construção da cena para chegar lá é feita de qualquer jeito.
Darkseid, vilão icônico da DC, criação de Jack Kirby que fez história até nos Superamigos, foi vendido como uma grande novidade dessa nova versão, mas não rende 10% do anunciado. Só age em flashback e sonhos. Na hora H, ainda temos que nos contentar mesmo é com o Lobo da Estepe.
Ou seja: o grande vilão de Liga da Justiça de Zack Snyder continua sendo um capanga, um personagem da quarta divisão da DC Comics, com carisma zero e sem uma motivação minimamente interessante. Aliás, tanto Darkseid quanto seu ajudante, e também os cenários sem qualquer verdade, parecem ter saído direto de um videogame.
E, por fim, ainda tem esse formato 4:3, quase quadrado, como os das TVs antigas, um troço injustificável. Foi justificado como uma “opção artística” do diretor porque se aproxima da tela imax. Mas, francamente… no streaming? Parece só mais um entre tantos caprichos gratuitos do diretor com essa versão.
Onde ver: Google Play, Looke, AppleTV, YouTube.
Zack Snyder’s Justice League, 2021.
Direção: Zack Snyder. Elenco: Ben Affleck, Gal Gadot, Ezra Miller, Jason Momoa, Ray Fisher, Henry Cavill, Amy Adams, J.K. Simmons, Jeremy Irons, Willem Dafoe, Jesse Eisenberg, Robin Wright, Connie Nielsen, Amber Heard, Diane Lane, Billy Crudup.
***
LEIA MAIS:
- Crítica de O Homem de Aço
- Crítica de Batman vs. Superman – A Origem da Justiça
- Crítica de Mulher-Maravilha
- Crítica de Liga da Justiça
Meu comentário para a CBN sobre Liga da Justiça de Zack Snyder. Tem coisas melhores que a versão finalizada por Whedon? Tem. Tem coisas piores? Tem também.
Para ouvir, clique aqui.
MULHER-MARAVILHA 1984
½
Diário de Filmes 2021: 4
Não há nada de errado em um filme que pretenda ser leve, alegre, descompromissado, engraçado. Não é esse o problema do segundo filme solo da Mulher-Maravilha. Os problemas são o mau roteiro e a má direção. A nova aventura da princesa amazona estabelece contradições com que não consegue lidar, desdenha da inteligência do espectador e disfarça como humor vergonhas inaceitáveis da trama (como um poder de tornar as coisas invisíveis que, sem trocadilho, aparece do nada). Um esforçozinho em fazer as coisas um pouco mais inteligentes já melhoraria muito o filme. Do jeito que está, parece que apenas desejaram que fosse bom e pronto. Não funcionou.
Onde ver: cinemas, Now, Looke, Google Play, Apple TV, UOL Play, Vivo Play
WW84, 2019
Direção: Patty Jenkins. Elenco: Gal Gadot, Chris Pine, Kristen Wiig, Pedro Pascal.
DOUTOR ESTRANHO (Scott Derrickson, 2016)
⭐⭐⭐½
Diário de Filmes 2019: 39
Com um herói então pouco conhecido fora do círculo de leitores de quadrinhos, Doutor Estranho introduziu elementos místicos no universo cinematográfico da Marvel. Visualmente, o filme é bem interessante, mesmo que o andamento da trama não fuja muito do padrão. Mas a solução final é engenhosa. Depois de conferir Vingadores — Guerra Infinita e Vingadores — Ultimato, é interessante revisitar este filme e ver sementes plantadas: a joia do tempo e o conceito de multiverso.