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O HOMEM COM DOIS CÉREBROS
ou O MÉDICO ERÓTICO
Diário de filmes 2024: 17
Onde ver (em 08/02/2024) – Mídia física: Não disponível no Brasil. Streaming: Não disponível no Brasil. Aluguel ou compra digitais: Amazon.
Homenagem biruta aos filmes Z
A fase da parceria entre Carl Reiner e Steve Martin – quatro filmes entre 1979 e 1984 –deixou diversas pérolas da comédia maluca. Eles vinham do amalucado O Panaca (1979) e da antológica brincadeira com o filme noir Cliente Morto Não Paga (1982) quando resolveram mirar os filmes Z dos anos 1950 e 1960 em O Homem com Dois Cérebros. Ou, como se chamou na época do lançamento nos cinemas por aqui e como está lá no Prime Video, O Médico Erótico. Outra avalanche de maluquices que exige o máximo de Steve Martin.
Começa pelo nome do protagonista, o mundialmente famoso cirurgião cerebral Michael Hfuhruhurr. Ele se casa com a gatíssima Dolores Benedict, que ele conhece quando a atropela e em seguida a salva numa cirurgia. ele não sabe, porém, que ela tinha acabado de provocar a morte do marido anterior e que é o Diabo em pessoa, só de olho na grana do médico – que nem sexo com ela consegue ter, apesar do jogo de sedução do avião.
Ela é interpretada por ninguém menos do que Kathleen Turner, muito à vontade autoparodiando sua imagem de voraz símbolo sexual e femme fatale, adquirida dois anos antes em Corpos Ardentes, sua retumbante estreia no cinema (já aos 27 anos).
É bem provável que seja por ela que o filme ganhou, no lançamento brasileiro nos cinemas, o terrível título O Médico Erótico, que parecia vir de alguma pornochanchada de cinco anos antes.
Apesar da insinuante Kathleen Turner, e da falta do sexo atormentar o personagem de Steve Martin, não há nada de erótico no filme. Há, sim, muita loucura, um humor sem freios e que não tem medo do absurdo e da patetice.
Hfuhruhurr acaba conhecendo um cientista que apresenta a ele seu projeto: quer transferir a personalidade de informações de um cérebro moribundo para um corpo, um Dr. Frankenstein moderno. Para isso, tem alguns cérebros “vivos” em estoque. Com um deles, Hfuhruhurr descobre uma misteriosa ligação telepática e daí nasce um romance.
O personagem de Martin fica, então, entre uma mulher detestável com um corpo incrível e outra adorável, mas sem corpo.
Daí temos cenas que extrapolam o limite do nonsense, como Martin conseguindo se grudar à parede com saliva nas mãos, tendo que realizar os mais loucos testes a um guarda para provar que não está bêbado ao volante, e todas as lânguidas declarações de amor de Steve Martin para um cérebro (que tem voz de Sissy Spacek) dentro de um vidro).
Daqui, Carl Reiner voltaria a dirigir Steve Martin em Um Espírito Baixou em Mim, outra comédia antológica. É uma dupla diretor-ator que deveria ser mais lembrada quando se apontam as grandes parcerias do cinema.
The Man with Two Brains. Estados Unidos, 1983. Direção: Carl Reiner. Elenco: Steve Martin, Kathleen Turner, Sissy Spacek (voz), David Warner, Paul Benedict, James Cromwell, Merv Griffin.
BARBIE
½
Diário de filmes 2024: 27
Onde ver (em 15/03/2024) – Mídia física: não disponível no Brasil. Streaming: Max. Aluguel ou compra digitais: Google Play/ YouTube Filmes, Amazon/ Prime Video, Apple TV/iTunes, Microsoft Store.
Desde o começo a produção de um filme sobre a boneca Barbie com Greta Gerwig no comando e Margot Robbie no papel principal (duas feministas) suscitou muita curiosidade. Sendo a boneca um símbolo do capitalismo e sempre acusada de mostrar proporções femininas irreais, o que sairia daí?
Não poderia ser apenas um filme autocelebratório, mesmo que chancelado pela fabricante Mattel e, por isso, com risco zero de arranhar a imagem do produto. Ao contrário, a ideia, como sempre, seria promovê-lo.
O filme tenta mesmo combinar essas duas propostas: fazer uma “autocrítica” e uma “autopromoção” ligada a valores feministas. Assim, o filme exalta que a boneca promova nas meninas o pensamento de que elas podem ser o que quiserem (e não apenas mães, como as bonecas de bebês, que eram o padrão antes da Barbie, faziam pensar).
Constrói esse mundo da Barbielândia como um paraíso dominado pelas mulheres, em oposição ao nosso mundo, ainda sob o poder do patriarcado, uma realidade dura que a Barbie vai conhecer ao vir ao mundo real.
É um bom ponto de partida, o problema é que para chegar lá a ideias são paupérrimas e preguiçosas. Desde coisas simples como justificar a tal viagem, a maneira como ela acontece, o que precisa ser resolvido e como.
Os discursos podem falar bastante às mulheres, porque realmente tratam de problemas e situações existentes, mas é tudo primário e óbvio. Alguém pode dar a desculpa de que o filme precisa ser assim, para ser claro para crianças, mas há inúmeros filmes infantis menos tatibitati nessas questões (o Valente da Pixar, só para citar um). É tudo mais frágil do que o plástico com que a Barbie é produzida.
Salvam-se alguns risos aqui e ali. Mais na participação de Kate McKinnon, como a “Barbie estranha”, meio destruída por alguma criança, do que na de Will Farrell como presidente da Mattel, uma piada que procura ser iconoclasta, mas é só outra autopropaganda mal disfarçada.
Se Pobres Criaturas (outro filme de 2023 sobre uma mulher com nenhum conhecimento do mundo descobrindo o patriarcado e buscando sua verdade e sua liberdade) é um bolo suculento com uma cobertura incrível, Barbie é só o chantilly com confeitos coloridos do cupcake, mas sem o bolo. Fez um sucessão de público, mas, enfim, não é o primeiro nem o último filme mais ou menos que faz grande bilheteria. É uma pena porque de Greta Gerwig se espera sempre mais.
Barbie. Estados Unidos, 2023. Direção: Greta Gerwig. Elenco: Margot Robbie, Ryan Gosling, America Ferrera, Ariana Greenblatt, Michael Cera, Kate McKinnon, Simu Liu, Rhea Perlman, Emerald Fennell, Dua Lipa, John Cena, Helen Mirren (narração).
POBRES CRIATURAS
Diário de filmes 2024: 22
Onde ver (em 26/02/2024) – Em cartaz nos cinemas.
Imaginando a liberdade total
O que seria uma mulher totalmente livre? Sem as amarras e opressões comportamentais impostas a ela através dos séculos? Dando vazão sem freios a seus prazeres e pensamentos? Parece ser esta a premissa da qual parte Pobres Criaturas, 11 indicações ao Oscar, incluindo melhor filme, direção e atriz.
Para isso, o diretor Yorgos Lanthimos e o roteirista Tony McNarama (a partir do livro de Alastair Gray) resolvem partir do zero: uma mulher com mente de criança, aprendendo tudo e sem qualquer noção sobre o que é “adequado”.
Muito já se falou e escreveu sobre as relações dessa história com o Frankenstein, de Mary Shelley (bem resumidamente, a protagonista Bella Baxter também é uma morta trazida de volta à vida, sem memórias do passado). E sobre essa postura feminista do filme, no qual Bella não só vai atrás do que deseja como desenvolve seu intelecto através de questões intelectuais e filosóficas.
E o filme ainda faz isso com um visual arrebatador, com cenários e direção de arte fantásticos, lentes para distorcer o que se vê, e sem ser tatibitati (Barbie deu muito azar em ter este filme lançado no mesmo ano…). Lanthimos, um diretor que não tem medo do bizarro, fez um filme esquisito e saboroso, muito engraçado mesmo.
Emma Stone tem possivelmente a performance física do ano, sobretudo pela movimentação desengonçada de sua personagem (e, sim, também pela entrega nas cenas de nudez e sexo – ela tem reclamado que só perguntam sobre isso, e, se é isso mesmo, ela tem toda a razão). Como parceiro de cena, Mark Ruffalo está perfeito, em outra grande atuação: engraçadíssimo na sua desfaçatez e, depois, patetice.
E em seu roteiro o filme vai a lugares inesperados, acompanhando Bella em suas descobertas e autodescobertas pelo mundo. Lisboa e Paris aparecem como ilustrações muito mais do que como cidades reais. Ainda assim, os lugares inesperados são muito mais os caminhos da história, que parecem navegar sempre em frente, do que um local físico. Pobres Criaturas consegue essa proeza: a de ser surpreendente sem parecer pedante e poderia seguir um rumo trágico (Bella poderia ser tragada pela sociedade, destruída), mas tem a disposição de fazer rir.
É bom não esquecer isso, porque isso costuma ser subestimado e não tem se falado isso tanto quanto o parentesco com Frankenstein, o enfoque da liberdade da mulher ou a nudez e o sexo: Pobres Criaturas é uma comédia, e das boas.
Poor Things. Irlanda/ Reino Unido/ Estados Unidos/ Hungria, 2023. Direção: Yorgos Lanthimos. Elenco: Emma Stone, Mark Ruffalo, Willem Dafoe, Rami Youssef, Vicki Pepperdine, Hanna Schygulla.
VIDAS PASSADAS
⭐⭐⭐⭐⭐
Diário de filmes 2024: 21
Onde ver (em 19/02/2024) – Em cartaz nos cinemas.
O sentimento de “o que poderia ter sido”
O primeiro plano é de três pessoas sentadas no balcão de um bar. Um homem de aparência oriental, outro de aparência ocidental, uma mulher de aparência oriental entre eles. Quem serão? Alguém fora de quadro pergunta a outra pessoa e vão conjecturando (em inglês). Um casal (os dois orientais) e o guia americano? Dois irmãos e o namorado dela?
“Vidas Passadas”, o excelente primeiro longa da coreana Celine Song e indicado ao Oscar de melhor filme, vai responder essa pergunta, só que mais para a frente. Dessa cena de abertura, que parece querer colocar o espectador como alguém que se perguntaria a mesma coisa se visse aquela cena, o filme volta no tempo e vai até a Coreia do Sul para mostrar um menino e uma menina muito ligados. Namoradinhos que planejam passar o resto da vida juntos, até que a vida os separa: a menina e seus pais vão morar no Canadá.
Os anos passam até que haja um reencontro via redes sociais. Ainda há a possibilidade de alguma chama, estando os dois separados por tanto tempo e por um mundo de distância? A trama evolui para o que é realmente o coração do filme: o reencontro em pessoa dos dois namorados de infância, mas em uma situação em que ela está comprometida.
Song narra com extrema sensibilidade e elegância esse reencontro não só entre pessoas, mas entre sentimentos e expectativas de vida. É um filme de conversa e muita gente deve lembrar da trilogia “Amanhecer/ Pôr do Sol/ Meia-Noite”, de Richard Linklater, sobretudo do segundo filme.
Conduzido por dois ótimos atores, é um grande filme sobre o sentimento de “o que poderia ter sido” com aquela ponta de “será que ainda pode ser”. Uma atmosfera agridoce que lembra os finais de “La La Land” e de “Café Society”, mas aqui trabalhada por mais tempo.
Sutil e comovente, tem potencial para figurar em listas de grandes primeiros filmes.
Past Lives. Estados Unidos/ Coreia do Sul, 2023. Direção: Celine Song. Elenco: Greta Lee, Teo Yoo, John Magaro, Moon Seung-ah, Leem Seung-min.
ANATOMIA DE UMA QUEDA
Diário de filmes 2024: 13
Onde ver (em 02/02/2024) – Em cartaz nos cinemas.
A verdade em questão
Alguns comentários elogiosos sobre “Anatomia de uma Queda” parecem meio embaraçados, procurando encontrar algo para dizer que este é “mais que um filme de tribunal”. Como se ser um excelente exemplar desse subgênero não fosse o suficiente para que uma obra seja um grande filme. Mas é.
O filme de tribunal de Justine Triet, vencedor da Palma de Ouro em Cannes e indicado a cinco Oscars (incluindo melhor filme e direção) é um grande trabalho basicamente por ser um primor de narrativa: parte de uma morte misteriosa, detalha-se na investigação e nos meandros do julgamento, mostra a influência dessa crise na família da pessoa morta, coloca a inocência ou a culpa de alguém na balança.
Como nos melhores filmes de tribunal, inclusive, a questão da verdade e da dificuldade em estabelecê-la (e, portanto, de estabelecer a justiça) é preponderante. As desconfianças pairam sobre Sandra Voyter (Sandra Hüller, indicada ao Oscar). Terá ela empurrado o marido da janela do sótão e sua casa isolada? Ou foi um acidente? Ou suicídio? O que pensa sobre isso o filho cego do casal?
A câmera que acompanha o cachorro da família no meio da agitação que se segue ao encontro do corpo também indica ao mais atentos e o animal também terá sua importância na trama.
Vamos acompanhando o desenrolar de acusações e defesas, e de provas que vão sendo encontradas, ouvidas, argumentadas. A frieza da protagonista é espelhada um pouco pelo filme, que não muito espaço ao melodrama.
Esse distanciamento também surge em soluções de direção que escolhem o que é ou não mostrado ao espectador, para nunca dar a certeza do que realmente aconteceu. São detalhes como o garoto contando uma conversa com o pai no carro. Entra o flashback, mas, embora nós, espectadores, vejamos o pai falar, é a voz do garoto dizendo as falas.
Isso quer dizer que o menino está inventando? Que é a interpretação subjetiva dele sobre aquele passado? Ou só um recurso de estilo para ilustrar que é o garoto narrando a cena?
Como em outras questões do filme, esta também fica para o espectador refletir sobre.
Anatomie d’une chute. França, 2023. Direção: Justine Triet. Elenco: Sandra Hüller, Milo Machado Graner, Swann Aralud, Samuel Theis, Antoine Reinartz.
A NOITE QUE MUDOU O POP
⭐⭐⭐⭐
Diário de filmes 2024: 16
Onde ver (em 02/02/2024) – Mídia física: Não disponível no Brasil. Streaming: Netflix.
Os fascinantes bastidores de ‘We are the world’
“O título brasileiro talvez exagere, na medida em que se pode discutir em que exatamente “We are the world” mudou o pop. Mas o título original ‘The Greatest Night in Pop’ (‘a maior noite do pop’) não está longe da verdade. O tamanho do empreendimento artístico é impactante e o documentário mostra a complexidade dessa logística e o esforço para dar vida à canção através de depoimentos retrospectivos de quem estava nos microfones e nos bastidores e de preciosas imagens da gravação que registraram os ajustes, os erros, o cansaço, as inseguranças, as repetições, o método, e a concentração do talento de cada um nos poucos segundos em que teriam algum protagonismo na canção”.
Leia o texto completo no Cinema Escrito (https://www.cinemaescrito.com/…/a-noite-que-mudou-o-pop/).
“The Greatest Night in Pop”. Estados Unidos, 2024. Direção: Bao Nguyen.
TURMA DA MÔNICA JOVEM – REFLEXOS DO MEDO
⭐⭐⭐
Diário de filmes 2024: 14
Onde ver (em 31/01/2024) – Em cartaz nos cinemas.
Versão adolescente sofre em comparação com a turma clássica
“Um ‘efeito colateral’ do sucesso das HQs da turma jovem é que elas rapidamente também conquistaram as crianças menores, de modo que as histórias precisaram ‘baixar o tom’. Isso se reflete no filme, fazendo com que o terror seja mais uma inspiração narrativa que um mergulho de fato no gênero. Ensaiando uma ou outra cena de tensão, o filme nunca chega a ser contraindicado para crianças”.
Leia o texto completo no Cinema Escrito (https://www.cinemaescrito.com/2024/01/turma-da-monica-jovem-reflexos-do-medo/).
“Turma da Mônica Jovem – Reflexos do Medo”. Brasil, 2024. Direção: Maurício Eça. Elenco: Sophia Valverde, Xande Valois, Theo Salomão, Bianca Paiva, Carol Roberto, Mateus Solano, Giovanna Chaves, Carol Amaral, Yuma Ono, Eliana Fonseca, Maria Bopp.
BIZARROS PEIXES DAS FOSSAS ABISSAIS
Diário de filmes 2024: 12
Onde ver (em 29/01/2024) – Em cartaz nos cinemas.
Espírito livre e muito nonsense
“Os curtas animados dirigidos por Marão seguem uma estética livre em que personagens independem de cenários, vestígios de rascunhos se misturam a ilustrações elaboradas, o coloquial anda de braço dado com o caricatural e a narrativa de super-heróis encontra o drama familiar mais humano. Isso tudo também está em seu primeiro longa, ‘Bizarros Peixes das Fossas Abissais’, tão curioso quanto seu dramático título.
A história segue uma mulher e seu amigo nuvem buscando reunir cacos de um vaso, antes que rinocerontes alienígenas reúnam os pedaços primeiro. A dupla acaba virando um trio quando eles encontram uma tartaruga com TOC. Dublados por Natália Lage, Guilherme Briggs e Rodrigo Santoro, esses personagens seguem uma jornada por vários lugares e enfrentando várias aventuras. O insólito é quem dá as cartas, como colocar o astro Santoro na voz da minúscula tartaruga que luta com obstinação contra sua extrema limitação de velocidade para organizar como pode o caos do mundo”.
Leia o texto completo no Cinema Escrito.
Bizarros Peixes das Fossas Abissais. Brasil, 2024. Direção: Marão.
A MÃO POR TRÁS DO RATO – A HISTÓRIA DE UB IWERKS
½
Diário de filmes 2024: 11
Onde ver (em 25/01/2024) – Mídia física: DVD (extra em As Aventuras de Oswald, o Coelho Sortudo, da Disney). Streaming: Não disponível no Brasil.
Dirigido pela neta do desenhista e animador Ub Iwerks, o documentário conta a história do muito menos conhecido co-criador de um dos personagens mais conhecidos da história: o Mickey Mouse. Iwerks era o grande parceiro de Walt Disney e principal animador de seu então nascente estúdio e foi a ele que Walt recorreu quando seu personagem de maior sucesso, Oswald, o Coelho Sortudo, foi tirado sorrateiramente de suas mãos, em 1928.
Precisando urgentemente de um novo personagem e que ele desse certo, Walt e Iwerks chegaram à ideia de que poderia ser um camundongo. E foi Iwerks quem, então, desenhou o Mickey. Não só isso, como desenhou e animou sozinho e em tempo recorde o primeiro curta do ratinho: Plane Crazy.
O doc conta a história de Ub Iwerks, sua amizade e parceria com Disney, tem animadores comentando a perícia do artista nos curtas de Oswald e nos primeiros do Mickey, conta o período hoje meio esquecido de quando deixou a Disney para tocar um estúdio próprio e de seu retorno ao trabalho com Walt, agora no desenvolvimento de técnicas de animação e efeitos visuais.
Um filme bastante eficiente em desvendar um personagem importante para a história do cinema. O filme não está disponível em streaming e nem no YouTube, só podendo ser encontrado oficialmente no Brasil como extra no DVD duplo da série Walt Disney Treasures dedicado aos curtas de Oswald, o Coelho Sortudo, lançado pela Disney em 2009. Como o doc é produção da Disney, bem que o Disney + podia colocar no catálogo.
The Hand Behind the Mouse – The Ub Iwerks Story. Estados Unidos, 1999. Direção: Leslie Iwerks.
GANGA BRUTA
⭐⭐⭐⭐
Diário de filmes 2024: 7
Onde ver (em 18/01/2024) – Mídia física: Não disponível no Brasil. Streaming: Não disponível no Brasil. YouTube: som original.
O interior do Brasil e o interior dos personagens
Ganga Bruta, terceira produção da Cinédia, foi um retumbante fracasso de público em seu lançamento e quase desapareceu. Ficou quase 20 anos fora do radar até que negativos foram encontrados e, a partir deles, o filme foi montado de novo e ressuscitado. E aí, encontrou seu lugar na história do cinema brasileiro como um importante clássico.
A premissa, claro, seria cancelada hoje: o homem que mata a mulher na noite de núpcias porque descobriu que foi traído, é inocentado no julgamento e vai lidar com a culpa no interior, onde encontra outro amor e briga por ela com outro interessado.
O triângulo amoroso não chega a ser muito inventivo, mas o filme é forte narrativamente e na apresentação dos personagens e a fotografia de Edgar Brasil, A.P. Castro e Paulo Morano se sobressai mesmo em cópias desgastadas. Tanto a grandiosidade da fábrica em construção ou as expressões e formas dos atores são imagens marcantes. Assim, o filme mostra poderosamente o interior do Brasil e o interior dos personagens.
Ganga Bruta. Brasil, 1933. Direção: Humberto Mauro. Elenco: Durval Bellini, Dea Selva, Lu Marival, Décio Murilo, Andréa Duarte.
O IMPÉRIO CONTRA-ATACA
ou STAR WARS – EPISÓDIO V: O IMPÉRIO CONTRA-ATACA
ou STAR WARS – O IMPÉRIO CONTRA-ATACA
⭐⭐⭐⭐⭐
Diário de filmes 2024: 1
Onde ver (em 05/01/2024) – Mídia física: DVD (da Fox e da Disney), blu-ray (da Disney). Streaming: Disney Plus.
Urgente e sensacional
Há alguns anos, escolho para primeiro filme do ano um que eu ame muito. Desta vez a escolha caiu sobre o capítulo do meio da trilogia original de “Guerra nas Estrelas”, porque combinou de Arthur ter visto o primeiro no fim do ano passado (e, vale sempre a pena frisar, começamos como todo mundo deveria começar: pelo “Guerra nas Estrelas” original).
O filme é o que parece ter menos sofrido com as alterações digitais feitas por George Lucas ao longo dos anos, ao sabor dos sucessivos relançamentos em diversas mídias. Não que não haja, apenas o filme foi mais poupado de más intervenções que “Guerra nas Estrelas” (ou, vá lá, “Uma Nova Esperança”) e “O Retorno de Jedi”.
Assim, o filme flui sem sobressaltos, aproveitando-se de que a ambientação e os personagens principais já estavam apresentados no anterior para dividir a história em duas subtramas que vão se encontrar lá na frente. Enquanto Luke Skywalker vai em busca do antigo mestre jedi Yoda para continuar seu treinamento, seus amigos Han Solo, Leia, Chewbacca e C-3PO são caçados implacavelmente pelo Império espaço afora.
É mais do que nunca o espírito dos velhos seriados de cinema de Flash Gordon. “Nossos heróis escaparão? Veja na próxima semana!”. Isso está no DNA de Star Wars (além das adições que a gente sabe dos faroestes, filmes de samurai de Akira Kurosawa, capa-e-espadas, etc). Porém no primeiro filme ainda não havia a certeza de que haveria sucesso e, a partir dele, continuações. Então, havia ali um fechamento da trama em algum nível: se não houvesse outro filme, aquela história estava encerrada e pronto. Agora, não havia dúvidas de que o terceiro filme viria, então houve o conforto de deixar o final em aberto mesmo, deixando o público em suspenso até o que viria ser O Retorno de Jedi. Mas o “veja na próxima semana” virou “veja daqui a três anos”.
O final reflete o que é O Império Contra-Ataca: tudo é intenso, urgente, veloz e sensacional, começando com a história em andamento, terminando com a história em andamento e culminando naquela que é uma das maiores revelações da história do cinema, arruinada por algum novato que decida se iniciar pela trilogia-prelúdio.
Estados Unidos, 1980. Direção: Irvin Kershner. Elenco: Mark Hamill, Harrison Ford, Carrie Fisher, James Earl Jones (voz), Alec Guinness, Billy Dee Williams, Anthony Daniels, David Prowse, Kenny Baker, Frank Oz (voz e manipulação de boneco), Peter Mayhew, Jeremy Bulloch, Julian Glover, Clyde Revill (voz), Treat Williams.