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Hoje este blog (se contarmos desde o primeiro Minha Vida de Cinéfilo) completa cinco anos. Lá naquele comecinho havia uma apresentação do que eu gostava e do que odiava. Aqui vai uma reprodução de uma das coisas que gostei, pra lembrar o aniversário:
Mulheres. É lógico que são maravilhosas. Foi a última criação de Deus – ele já havia treinado bastante, estava com prática. E, além do mais, o homem já estava ali, para dar seus palpites.
– Afina a cintura um pouquinho. Isso. Agora, aumenta mais um pouco mais essas duas coisas redondas aqui em cima.
– “Seios”, Adão.
– Pára, pára aí! É isso! Não mexe mais em nada…
Quando Deus concluiu seu projeto, sentiu-se realizado: havia chegado à perfeição. Ao sublime. Sem equívocos, como a tromba do elefante ou as pernas em excesso da centopéia. Ali, chegou ao equilíbrio ideal. Porém, depois de um tempo, Adão não parecia muito satisfeito.
– Qual é o problema, Adão?
– Não sei… Sabe quando algo é perfeito demais? Em excesso? Ela é linda, é inteligente, é divertida… A verdade é que está meio sem graça.
– Sem graça?
– É. Meio sem emoção. Eu já sei tudo o que vai acontecer. Aí, está meio chato.
– Bom, eu posso fazer com que ela tenha algumas atitudes imprevisíveis de vez em quando.
– Parece interessante… O que o Senhor pretende?
– Bem, talvez fazê-la ter umas reações desproporcionais ou sem sentido. Ou, às vezes, as duas coisas juntas. Ah, peraí, pensei numa coisa que vai desconcertar você.
– O que é?
– Olha só: ela vai ficar emburrada e você não vai saber o que é. Aí, quando você quiser resolver o problema e perguntar, ela vai responder: “Nada”. Garanto que isso vai tirar você do sério.
– Beleza! Pode instalar.
E, assim, o ser que é perfeito foi aperfeiçoado com a inclusão de alguns defeitos charmosos. Adão nunca soube se agradecia ou se arrependia. Mesmo assim nunca teve dúvidas de que Eva era o ponto alto da veia artística divina. Dá-lhe, Senhor!
Desfile de Páscoa (Easter Parade, 1948). Direção de Charles Walters. Roteiro de Sidney Sheldon, Frances Goodrich e Albert Hackett, baseado em história de Frances Goodrich e Albert Hackett. Canção “Easter parade”, de Irving Berlin.
Inconformado por ter sido abandonado por sua parceira (às vésperas da Páscoa de 1911), o dançarino Don Hewes (Fred Astaire) decide treinar uma iniciante. Esta é Hannah Brown (Judy Garland), que cantava em um restaurante. Depois de muitas tentativas e erros, durante um ano, eles conseguem achar o tom certo e se tornam um sucesso. Mas a aparição da antiga parceira faz Hannah, já apaixonada por ele, acreditar que ele ainda ama a ex-partner e romper a parceria. Só depois de convencida por um amigo em comum de que Don também a ama é que ela decide voltar. Don está em seu apartamento, com o mordomo Sam (Peter Chong), na manhã da Páscoa, quando toca a campainha: é um entregador. Don está no cômodo ao lado quando entra e vê as flores.
DON – Sam, onde você botou meu…? O que é isso?
SAM – Isso acaba de chegar.
DON – Pra quem são?
SAM – Para o senhor (e desce com elas para a sala).
DON – Pra mim? Bem, não pode ser. Sam, não ponha isso aí, não, Alcance o rapaz e…
SAM – Sem cartão.
Batem à porta e Sam vai atender de novo enquanto Don fica olhando as flores.
DON – Deve haver algum engano. Descubra a quem pertencem, sim, Sam? São muito bonitas…
Sam volta com duas caixas.
SAM – Pro senhor.
DON – Pra mim? Bem, quem trouxe?
SAM – Um mensageiro.
DON – Coloque ali, sim?
Então, Sam as coloca sobre uma mesa.
DON – (desconfiado) Sam, você sabe alguma coisa sobre isto?
Sam responde que não com a cabeça enquanto Don tira o laço da primeira caixa.
DON – Acha que devemos abrir?
É um bolo, com uma mensagem confeitada com glacê em cima.
DON – “Feliz Páscoa, querido”… Deve haver algum engano. Ele obviamente errou de apartamento.
SAM – Devo abrir a outra?
DON – (ainda desconfiado) Não, não, não. Eu abro.
Ele leva a caixa até o sofá e levanta a borda da tampa, desconfiado. Assim que vê o conteúdo, a fecha, assustado. É Sam quem abre a caixa.
SAM – Ah! Mas que coelhinho bonitinho!
Ele tira o coelho da caixa e os dois se derretem.
DON – Oi, amiguinho! Olá!
SAM – Não é uma gracinha?
Don percebe que o coelho veio dentro de uma cartola.
SAM – Está com fome? De onde você veio? O coelho quer um biscoito?
Batem na porta mais uma vez, enquanto Don está experimentando a cartola.
DON – Eu atendo.
Hannah adentra o apartamento intempestiva, para surpresa de Don, que é ignorado por ela. Com muita naturalidade, ela cumprimenta primeiro o mordomo, com o coelho no colo.
HANNAH – Oi, Sam!
SAM – Oh, oi, senhorita Brown. Apresento-lhe o coelhinho.
HANNAH – (acariciando o coelho) Ah, somos velhos amigos. Feliz Páscoa!
SAM – Feliz Páscoa!
HANNAH – Obrigada.
Sam leva o coelho para o outro cômodo, deixando os dois sozinhos.
DON – Foi você que…?
HANNAH – Você ainda não está pronto? Como todo homem…
DON – (apontando a cartola na cabeça) E também o…?
HANNAH -Sam, você pega o paletó dele?
SAM – Pego.
HANNAH – (para Don) Você vai chegar tarde, sabia?
DON – Tarde?
HANNAH – Para o desfile de Páscoa. Nós tínhamos um encontro, lembra?
DON – (abrindo os braços) Ah…
O mordomo aproveita para vestir o paletó nele. Os dois dão risada e ela marotamente dá uma boa olhada em Don, dos pés a cabeça.
HANNAH – Aqui, deixe-me ver… Ah, muito bom.
No fim, dá uma piscadela que o deixa encabulado e o faz se virar. Mas ela corre para a frente dele e começa a cantar.
HANNAH – “Nunca vi sua aparência tão bonita antes.
Nunca vi você vestido com tanta elegância – e mais”.
Ela continua circulando-o.
HANNAH – “Mal podia esperar para chegar nosso encontro
Nessa adorável manhã de Páscoa”
Ela limpa os ombros dele. Ele, de novo encabulado, tenta sair dali, mas Hannah o segura pelo braço e o abraça por trás. Ele, agora, já sorri.
HANNAH – “E meu coração bate rápido enquanto eu atravesso a porta
Para…”
Ela o vira para apontar para sua cartola.
HANNAH – “Com seu chapéu de Páscoa, com todos os enfeites nele,
(ela segura a mão dele, o leva até o sofá e o senta) Você será o maior cara do desfile de Páscoa.
(ela se senta no encosto do sofá) Eu estarei com sorte
(ela desce para o sofã e coloca a cartola nele) e quando eles todos nos olharem…”
Don levanta e anda pela sala, limpando a cartola e a vestindo, e ela o segue.
HANNAH – “Nós seremos o casal mais orgulhoso no desfile de Páscoa”
Ela o abraça e começam a dançar.
HANNAH – “Na avenida, Quinta Avenida,
Os fotógrafos vão nos registrar…”
Ela se ajoelha e ele senta no colo dela, mas logo percebe e se levanta.
HANNAH – “… e você logo vai perceber que está numa rotogravura”.
De braços dados, eles vão pela sala e ela pega seu chapéu na mesa.
HANNAH – “Oh, eu poderia escrever um soneto sobre o seu chapéu de Páscoa
(eles sobem os degraus da sala dançando, ela abre a porta para ele e eles saem) E sobre o rapaz que estou levando ao desfile de Páscoa”.
Já no desfile, eles desfilam na avenida, de braços dados.
DON – “Na avenida, Quinta Avenida,
(ele tira um anel do bolso do casaco, ela oferece a mão direita e ele a abaixa mostrando que deve ser a esquerda) Os fotógrafos vão nos registrar
(ele coloca o anel nela) E você vai descobrir que está numa rotogravura”.
Um fotógrafo tira uma foto e logo outro os pára e Hannah faz uma pose engraçada. Os dois riem enquanto o côro canta o final da canção e os casais passeiam na Quinta Avenida.
CÔRO – “Oh, eu poderia escrever um soneto
Sobre o seu chapéu de Páscoa
E sobre a garota que estou levando ao desfile de Páscoa”.
A letra original:
Never saw you look quite so pretty before
Never saw you dress quite so handsome – what’s more
I could hardly wait to keep our date
This lovely Easter morning
And my heart beat fast as I came through the door
For…
In your Easter bonnet, with all the frills upon it
You’ll be the grandest fella in the Easter parade.
I’ll be all in clover, and when they look us over
We’ll be the proudest couple in the Easter parade.
On the avenue, Fifth Avenue,
The photographers will snap us
And you’ll find that you’re in the rotogravure.
Oh, I could write a sonnet, about your Easter bonnet
And of the guy I’m taking to the Easter Parade.
On the avenue, Fifth Avenue,
The photographers will snap us
And you’ll find that you’re in the rotogravure.
Oh, I could write a sonnet
About your Easter bonnet
And of the girl I’m taking to the Easter Parade.
Declaração anterior: Muito Barulho por Nada
Homem-Aranha (Spider-Man, 2002). Direção de Sam Raimi; roteiro de David Koepp, baseado nos quadrinhos de Stan Lee e Steve Ditko.
Peter Parker (Tobey Maguire), que combate o crime como o Homem-Aranha, vai ao hospital visitar sua tia May (Rosemary Harris) e lá encontra Mary Jane Watson (Kirsten Dunst), a garota de quem ele secretamente gosta desde criança – e que agora vinha namorando seu melhor amigo. Mas ela conta que o casal não anda muito bem.
MARY JANE – O fato é que eu amo outra pessoa.
PETER – Ama?
MARY JANE – Acho que amo. Bem, não é hora de falar nisso.
PETER – Não, não, continua. Eu deveria saber o nome dele, desse cara?
MARY JANE – Vai achar que é amor bobo de criança…
PETER – (animado) Confie em mim.
MARY JANE – É engraçado… Ele salvou minha vida duas vezes e eu nunca vi o rosto dele.
PETER – (menos animado, mas ainda sorrindo) Ah, ele…
MARY JANE – (rindo) Você está rindo de mim…
PETER – (sentando) Não, não, eu entendo. Ele é muito legal.
MARY JANE – (senta-se em frente a ele) Mas você acha que é verdade todas as coisas horríveis que falam dele?
PETER – Não, não. Não o Homem-Aranha. Sem chance. Eu o conheço um pouco. Sou um tipo de fotógrafo não-oficial dele.
MARY JANE – (animada) Ele já falou de mim?
PETER – Já.
MARY JANE – E o que ele disse?
PETER – Bem, eu disse… Ele, ele perguntou o que eu achava de você.
MARY JANE – E o que você disse?
PETER – Eu disse: “Homem-Aranha”, eu disse, “a melhor coisa sobre a MJ é quando você olha nos olhos dela e ela olha de volta nos seus… tudo parece fora do normal porque você se sente… mais forte… e mais fraco ao mesmo tempo. Você fica eufórico e ao mesmo… apavorado. A verdade é que você não sabe como se sente, só sabe o tipo de homem que quer ser. É como se atingisse o inatingível… sem estar preparado pra isso”.
MARY JANE – (emocionada) Você disse isso?
PETER – (se dando conta do que acabou de fazer) Bom, mais ou menos isso.
Declaração anterior: Um Dia em Nova York
Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany’s, 1961). Direção de Blake Edwards. Roteiro de George Axelrod, baseado no conto de Truman Capote.
Depois de ser presa pelo envolvimento com um gangster, Holly Goolightly (Audrey Hepburn) sai da cadeia. Quem a pega é seu amigo, o escritor Paul Varjak (George Peppard), que passou antes no apartamento da moça para pegar as coisas dela – incluindo o gato, que ela chama apenas de Gato. A caminho do aeroporto de Idlewild, Holly ainda espera pegar um avião e casar com um rico herdeiro do Brasil, mas Paul lê para ela uma carta em que, por causa do escândalo, o milionário a dispensa.
PAUL – Lá se foi a América do Sul. Bom, você não foi feita para ser a rainha dos pampas, mesmo. (Para o taxista) Hotel Clayton.
HOLLY – Idlewild.
PAUL – O quê?
HOLLY – O avião sai às 12 e pretendo estar a bordo.
PAUL – Holly, você não pode.
HOLLY – Et pouquoi pas? Não vou atrás do José, se é isso o que está pensando. Na minha opinião, ele é o futuro presidente de lugar nenhum. Porque deveria desperdiçar a passagem? Além do mais, nunca fui ao Brasil.
Ele a observa, incrédulo e em silêncio.
HOLLY – Por favor, querido, não me olhe assim. Eu vou de qualquer jeito. Tudo o que querem de mim é que eu deponha contra Sally. Ninguém tem a mínima intenção de me processar. Eles nem têm a mínima chance. Esta cidade acabou para mim, pelo menos por enquanto. Às vezes, a fama pode arruinar a pele de uma mulher. Devem ter montado forcas para mim em toda a cidade. Sabe o que pode fazer por mim? Telefone para o New York Times. Quero que me envie uma lista dos 50 homens mais ricos do Brasil. Os 50 mais ricos!
PAUL – Holly, não vou permitir isso.
HOLLY – Não vai permitir?
PAUL – Holly, estou apaixonado por você.
HOLLY – E daí?
PAUL – “E daí”? Isso chega. Eu a amo. Você me pertence.
HOLLY – Não. As pessoas não se pertencem.
PAUL – Claro que sim.
HOLLY – Ninguém vai me pôr numa jaula.
PAUL – Não quero colocar você numa jaula. Quero amar você.
HOLLY – É a mesma coisa.
PAUL – Não é, não, Holly.
HOLLY – Não sou Holly! Não sou nem Lula Mae! Não sei quem sou! Sou como o Gato, somos dois coitados sem nome! Não temos dono, nós nem pertencemos um ao outro! (para o taxista) Pare o táxi!
O carro pára na entrada de um beco, enquanto cai uma chuva torrencial. Ela abre a porta.
HOLLY – (Para o Gato) O que acha? Parece ser o lugar certo para um cara durão como você! Latas de lixo, ratos por toda a parte… Suma! Disse para ir embora! Se manda! (Bota o Gato para fora e fecha a porta) Vamos!
Paul não acredita no que aconteceu. Tita uma nota do bolso.
PAUL – Motorista, pare aqui.
O carro pára e ele sai, mas antes de fechar a porta e ir embora, se vira para Holly.
PAUL – Sabe qual é o seu problema, “senhorita Seja-lá-quem-for”? Você é covarde. Você não tem coragem. Tem medo de encarar a realidade e dizer: “Ok, a vida é um fato. As pessoas se apaixonam”. As pessoas pertencem umas às outras porque é a única chance que têm de serem realmente felizes. Você acha que tem um espírito livre e selvagem e morre de medo de ser enjaulada. Bem, querida, você está na jaula que você mesma construiu. E não só em Tulip, Texas, ou na Somália: estará sempre nela. Não importa para onde corra, estará sempre trombando consigo mesma! (Tira do bolso uma caixinha) Pegue. Tenho carregado isso comigo há meses. Não quero mais.
Ele joga a caixinha no colo dela e vai embora. Ela abre a caixa e chora quando vê o conteúdo: um anel, simples brinde de uma caixa de biscoitos, no qual ele tinha mandado gravar as iniciais de ambos na joalheria Tiffany’s.
Declaração anterior: Casablanca