O HOMEM COM DOIS CÉREBROS
ou O MÉDICO ERÓTICO
⭐⭐⭐⭐
Diário de filmes 2024: 17
Onde ver (em 08/02/2024) – Mídia física: Não disponível no Brasil. Streaming: Não disponível no Brasil. Aluguel ou compra digitais: Amazon.

Homenagem biruta aos filmes Z

A fase da parceria entre Carl Reiner e Steve Martin – quatro filmes entre 1979 e 1984 –deixou diversas pérolas da comédia maluca. Eles vinham do amalucado O Panaca (1979) e da antológica brincadeira com o filme noir Cliente Morto Não Paga (1982) quando resolveram mirar os filmes Z dos anos 1950 e 1960 em O Homem com Dois Cérebros. Ou, como se chamou na época do lançamento nos cinemas por aqui e como está lá no Prime Video, O Médico Erótico. Outra avalanche de maluquices que exige o máximo de Steve Martin.

Começa pelo nome do protagonista, o mundialmente famoso cirurgião cerebral Michael Hfuhruhurr. Ele se casa com a gatíssima Dolores Benedict, que ele conhece quando a atropela e em seguida a salva numa cirurgia. ele não sabe, porém, que ela tinha acabado de provocar a morte do marido anterior e que é o Diabo em pessoa, só de olho na grana do médico – que nem sexo com ela consegue ter, apesar do jogo de sedução do avião.

Ela é interpretada por ninguém menos do que Kathleen Turner, muito à vontade autoparodiando sua imagem de voraz símbolo sexual e femme fatale, adquirida dois anos antes em Corpos Ardentes, sua retumbante estreia no cinema (já aos 27 anos).

É bem provável que seja por ela que o filme ganhou, no lançamento brasileiro nos cinemas, o terrível título O Médico Erótico, que parecia vir de alguma pornochanchada de cinco anos antes.

Apesar da insinuante Kathleen Turner, e da falta do sexo atormentar o personagem de Steve Martin, não há nada de erótico no filme. Há, sim, muita loucura, um humor sem freios e que não tem medo do absurdo e da patetice.

Hfuhruhurr acaba conhecendo um cientista que apresenta a ele seu projeto: quer transferir a personalidade de informações de um cérebro moribundo para um corpo, um Dr. Frankenstein moderno. Para isso, tem alguns cérebros “vivos” em estoque. Com um deles, Hfuhruhurr descobre uma misteriosa ligação telepática e daí nasce um romance.

O personagem de Martin fica, então, entre uma mulher detestável com um corpo incrível e outra adorável, mas sem corpo.

Daí temos cenas que extrapolam o limite do nonsense, como Martin conseguindo se grudar à parede com saliva nas mãos, tendo que realizar os mais loucos testes a um guarda para provar que não está bêbado ao volante, e todas as lânguidas declarações de amor de Steve Martin para um cérebro (que tem voz de Sissy Spacek) dentro de um vidro).

Daqui, Carl Reiner voltaria a dirigir Steve Martin em Um Espírito Baixou em Mim, outra comédia antológica. É uma dupla diretor-ator que deveria ser mais lembrada quando se apontam as grandes parcerias do cinema.

The Man with Two Brains. Estados Unidos, 1983. Direção: Carl Reiner. Elenco: Steve Martin, Kathleen Turner, Sissy Spacek (voz), David Warner, Paul Benedict, James Cromwell, Merv Griffin.

20 – COUP DE CHANCE (Coup de Chance)
Onde ver (13/04/2024) – Mídia física: não disponível no Brasil. Streaming: não disponível no Brasil.

Woody Allen dirigiu em Paris um filme francês, mas que traz seus temas e estilos preferidos. Adultério, mistério, crime e castigo, o acaso regendo a vida. É, de certa forma, uma variação de seu Match Point, charmoso, talvez um pouco menos sombrio.
Estados Unidos/ França/ Reino Unido. Direção e roteiro: Woody Allen. Elenco: Lou de Laâge, Niels Schneider, Melvin Poupaud, Valérie Lemercier.

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19 – MISSÃO: IMPOSSÍVEL – ACERTO DE CONTAS – PARTE UM (Mission: Impossible – Dead Reckoning – Part One)
Onde ver (13/04/2024) – Mídia física: não disponível no Brasil. Streaming: Paramount Plus, Claro TV Plus. Aluguel ou compra digitais: Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, Amazon/ Prime Video, Microsoft Store.

O sétimo filme da série mantém a qualidade narrativa e o vigor que vêm desde o quarto filme, Protocolo Fantasma. Grande ritmo, ótimos atores (incluindo a adição de uma hipnotizante Hayley Atwell ), direção elegante e as piruetas sem dublê de Tom Cruise colocam a série acima das demais do gênero. Aqui, o inimigo é uma inteligência artificial – o filme está antenado com os temores do seu tempo.
Estados Unidos Direção: Christopher McQuarrie. Roteiro: Christopher McQuarrie e Erik Jendresen, baseado na série de TV criada por Bruce Geller. Elenco: Tom Cruise, Hayley Atwell, Ving Rhames, Simon Pegg, Rebecca Ferguson, Vanessa Kirby, Esai Morales, Pom Klementieff, Henry Czerny, Cary Elwes.

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18 – RETRATOS FANTASMAS
Onde ver (13/04/2024) – Mídia física: não disponível no Brasil. Streaming: Netflix. Aluguel ou compra digitais: Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, Amazon/ Prime Video, Claro TV Plus, Vivo Play.

O diretor volta à sua infância e juventude no apartamento de sua família em Recife e combina isso de forma artística com as memórias dos cinemas de rua do centro da capital pernambucana. E o que ele diz reverbera na história de muitas cidades brasileiras.
Brasil Direção e roteiro: Kléber Mendonça Filho. 

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17 – DIAS PERFEITOS (Perfect Days)
Onde ver (13/04/2024) – Em cartaz nos cinemas do Brasil. Mídia física: não disponível no Brasil. Streaming: Mubi.

No Japão, Wim Wenders tenta se aproximar do cinema de Yasujiro Ozu ao narrar a rotina de um limpador de banheiros que tem sensibilidade para captar o dia a dia, nem que seja as folhas das árvores em fotografias preto-e-branco.
Japão/ Alemanha Direção: Wim Wenders. Roteiro: Wim Wenders e Takuma TakasakiElenco: Koji Yakusho, Arisa Nakano, Tokio Emoto.

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16 – FICÇÃO AMERICANA (American Fiction)
Onde ver (13/04/2024) – Mídia física: não disponível no Brasil. Streaming: Prime Video.

Comédia que discute com inteligência o racismo disfarçado de apoio na história de um escritor, negro, que tem dificuldade de publicar seu romance profundo, mas faz um sucesso retumbante e indesejado ao publicar um texto encaixado no estereótipo do que seria “a realidade negra em um livro”.
Estados Unidos Direção: Cord Jefferson. Roteiro: Cord Jefferson, baseado no romance de Percival EverettElenco: Jeffrey Wright, Sterling K. Brown, Erika Alexander, Tracee Ellis Ross, Leslie Uggams.

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15 – HOMEM-ARANHA ATRAVÉS DO ARANHAVERSO (Spider-Man: Across the Spider-Verse)
Onde ver (13/04/2024) – Mídia física: não disponível no Brasil. Streaming: Max, Oi Play, Claro TV Plus. Aluguel ou compra digitais: Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, Amazon/ Prime Video, Microsoft Store, Claro TV Plus, Vivo Play.

O segundo filme da série rebusca ainda mais o visual e inunda a tela de versões do Homem-Aranha. Mas o foco central continua em Miles Morales e suas questões pessoais a respeito de seus poderes e responsabilidades.
Estados Unidos Direção: Joaquim dos Santos, Kemp Powers e Justin K. Thompson. Roteiro: Phil Lord, Christopher Miller e Dave Callaham. Vozes na dublagem original: Shameik Moore, Hailee Steinfeld, Brian Tyree Henry, Jake Johnson, Oscar Isaac, Jason Schwartzman, Mahershala Ali, J.K. Simmons, Donald Glover, Elizabeth Perkins, Kathryn Hahn. Vozes na dublagem brasileira: Cadu Paschoal, Luiza César, Philippe Maia.

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14 – MEU AMIGO ROBÔ (Robot Dreams)
Onde ver (13/04/2024) – Mídia física: não disponível no Brasil. Streaming, aluguel ou compra digitais: Não disponível no Brasil.

A animação simples e colorida vai na contramão do rebuscamento das produções modernas. A história é a de um cachorro solitário que compra um robô para ser seu amigo. Mas uma reviravolta acaba separando os dois, que sofrem pela separação. O filme é sensível e a ausência de diálogos não faz falta nenhuma.
Espanha/ França Direção: Pablo Verger. Roteiro: Pablo Verger, baseado na graphic novel de Sara Varon.

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13 – ELIS E TOM – SÓ TINHA DE SER COM VOCÊ
Onde ver (13/04/2024) – Mídia física: não disponível no Brasil. Streaming: Globoplay. Aluguel ou compra digitais: Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes.

Imagens restauradas de quase 50 anos antes trazem de volta duas lendas musicais brasileiras: Elis Regina e Tom Jobim. O contexto é a complicada gestação de um dos maiores discos brasileiros: Elis & Tom. O resgate histórico é inestimável e a história é contada de maneira fascinante.

Crítica de Elis e Tom Só Tinha de Ser com Você:
A intimidade dos gênios, 50 anos depois

Brasil Direção: Roberto de Oliveira. Co-direção: Job Tom Azulay. Roteiro: Nelson Motta e Roberto de Oliveira.

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12 – A SOCIEDADE DA NEVE (La Sociedad de la Nieve)
Onde ver (13/04/2024) – Mídia física: não disponível no Brasil. Streaming: Netflix.

Uma história impressionante, dos sobreviventes uruguaios de um desastre aéreo nos Andes que passaram semanas isolados no meio da neve, chegando a comer a carne dos mortos, até conseguirem ser resgatados. O filme combina o rigor histórico com direção e interpretação eficientes, além de detalhes tocantes, como o nome dos mortos serem registrados na tela.
Espanha/ Chile/ Uruguai/ Estados Unidos Direção: J.A. Bayona. Roteiro: J.A. Bayona, Bernat Vilaplana, Jaime Marques e Nicolás Casariego, baseado no livro de Pablo MierciElenco: Enzo Turcatti, Agustín Pardella, Matías Recalt, Esteban Bigliardi.

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11 – ASTEROID CITY (Asteroid City)
Onde ver (13/04/2024) – Mídia física: não disponível no Brasil. Streaming: Prime Video, Max, Globoplay/ Telecine Play, Claro TV Plus. Aluguel ou compra digitais: Claro Vídeo, Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, Amazon/ Prime Video, Claro TV Plus, Vivo Play.

Além de uma série de curtas baseados em contos de Roald Dahl, Wes Anderson também lançou um belo longa que mantém as qualidades de sua narrativa muito pessoal. Visual de livro infantil pop up, diálogos rápidos ditos por atores de rosto impassível. Aqui, o cenário é uma cidade no meio do deserto onde, no passado, caiu um asteroide e que reúne uma fauna de personagens com suas questões pessoais que, após um acontecimento inesperado, não podem sair do local por ordem do governo.

Crítica de Asteroid City:
O inusitado, a patetice e os semblantes sem sorrisos

Alemanha/ Estados Unidos Direção: Wes Anderson. Roteiro: Wes Anderson, a partir de argumebto de Anderson e Roman Coppola. Elenco: Jason Schwartzman, Jake Ryan, Scarlett Johansson, Grace Edwards, Bryan Cranston, Edward Norton, Tom Hanks, Maya Hawke, Rupert Friend, Steve Carrell, Tilda Swinton, Jeffrey Wright, Hope Davis, Steve Park, Adrien Brody, Liev Schreiber, Matt Dillon, Margot Robbie, Willem Dafoe, Jeff Goldblum, Seu Jorge, Bob Balaban, Rita Wilson.

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10 – O MENINO E A GARÇA (Kimitachi Wa Dô Ikiru Ka)
Onde ver (13/04/2024) – Em cartaz nos cinemas do Brasil. Mídia física: não disponível no Brasil. Streaming, aluguel ou compra digitais: Não disponível no Brasil.

Dez anos após o que foi anunciado como seu último filme, Vidas ao Vento, o mestre Hayao Miyazaki reaparece com um novo e fascinante longa sobre o menino que sofre após perder a mãe num incêndio, o que reverbera em uma fantástica viagem por um mundo alternativo. Miyazaki mais uma vez enche a tela com imagens criativas e dramaticamente poderosas.
Japão. Direção e roteiro: Hayao Miyazaki. Vozes na dublagem original: Soma Santoki, Masaki Suda, Ko Shibasaki. Vozes na dublagem brasileira: Arthur Salerno, Sérgio Moreno, Ana Helena de Freitas.

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9 – OS REJEITADOS (The Holdovers)
Onde ver (13/04/2024) – Em cartaz nos cinemas do Brasil. Mídia física: não disponível no Brasil. Streaming: Claro TV Plus. Aluguel ou compra digitais: Amazon/ Prime Video, Apple TV/ iTunes.

Alexander Payne é um grande cronista de personagens. A época, desta vez, é os anos 1960 e o cenário é um internato fechado para o fim de ano, onde ficam um aluno que a família “dispensa”, um professor turrão que deve cuidar dos rejeitados e a cozinheira da escola, que lida com a perda do filho no Vietnã. Humor e drama bem combinados, e material de sobra para os atores, com grande interpretação de Paul Giamatti e Da’Vine Joy Randolph, que ganhou o Oscar de atriz coadjuvante.
Estados Unidos Direção: Alexander Payne. Roteiro: David HemingsonElenco: Paul Giamatti, Dominic Sessa, Da’Vine Joy Randolph, Carrie Preston, Brady Hepner.

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8 – MONSTER (Kaibutsu)
Onde ver (13/04/2024) – Mídia física: não disponível no Brasil. Streaming: Globoplay/ Telecine, Claro TV Plus.

O que parece ser nem sempre é. Parece ser esta a tônica do filme japonês, que passa por bullying, abuso, preconceito, amizade, mistério, segredos e começa mostrando o ponto de vista de uma personagem, depois mostra tudo de novo por outra versão e depois por outra, abrindo camadas e expondo pré-julgamentos.
Japão. Direção: Hirokazu Kore-eda. Roteiro: Yuji SakamotoElenco: Soya Kurokawa, Ando Sakura, Eita Nagayama, Hinata Hiiragi.

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7 – FOLHAS DE OUTONO (Kuolleet Lehdet)
Onde ver (13/04/2024) – Mídia física: não disponível no Brasil. Streaming: Mubi. Aluguel ou compra digitais: Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes.

Dois personagens que não são exatamente sociáveis se aproximam e ensaiam, aos trancos e barrancos, um relacionamento. Uma comédia romântica retraída, com diversas referências cinematográficas, que conquista pela simplicidade e sensibilidade, despertando fácil a simpatia do espectador.
Finlândia/ Alemanha. Direção e roteiro: Aki Kaurismäki. Elenco: Alma Pöysti, Jussi Vatanen, Janne Hyytiäinen, Martti Suosalo.

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6 – OPPENHEIMER (Oppenheimer)
Onde ver (13/04/2024) – Mídia física: não disponível no Brasil. Streaming: Prime Video, Max, Claro TV Plus. Aluguel ou compra digitais: Claro Vídeo, Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, Amazon/ Prime Video.

Um blockbuster sobre política e ciência, a história do físico considerado pai da bomba atômica, que teve que lidar com seu legado mortal e com a perseguição do governo que o acusava de comunista, teve o tratamento rebuscado de que o diretor Nolan tanto gosta. O filme vai e volta no tempo, tem tópicos difíceis, muitos personagens e ganhou sete Oscars, incluindo melhor filme, direção e ator.
Estados Unidos/ Reino Unido. Direção: Christopher Nolan. Roteiro: Christopher Nolan, baseado no livro de Kai Bird e Martin Sherwin. Elenco: Cillian Murphy, Robert Downey Jr., Emily Blunt, Florence Pugh, Matt Damon, Jason Clarke, Josh Hartnett, Kenneth Branagh, Tom Conti, Matthew Modine, Dane DeHaan, Rami Malek, Casey Affleck, Gary Oldman.

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5 – ZONA DE INTERESSE (The Zone of Interest)
Onde ver (13/04/2024) – Em cartaz nos cinemas do Brasil. Mídia física: não disponível no Brasil. Streaming: Prime Video, Claro TV Plus. Aluguel ou compra digitais: Amazon/ Prime Video, Apple TV/ iTunes.

Esse não é um filme de um objetivo final a ser alcançado, é um filme de situação. Uma casa bem cuidada, uma família feliz. Do outro lado do muro está o campo de concentração de Auschwitz. O dono da casa é exatamente o diretor do campo. Mesmo com o horror acontecendo ao lado (que nunca vemos), a família vive um cotidiano normal, apenas ouvindo tiros e gritos ao longe ou tendo que correr para tirar as roupas do varal quando chovem cinzas. Grazer espalhou câmeras pela casa para captar com mais naturalidade a banalidade do mal. Oscar de filme de língua não inglesa.
Estados Unidos/ Reino Unido/ Polônia. Direção: Jonathan Glazer. Roteiro: Jonathan Glazer, baseado no romance de Martin Amis. Elenco: Christian Friedel, Sandra Hüller, Medusa Knopf, Max Beck.

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4 – ANATOMIA DE UMA QUEDA (Anatomie d’une Chute)
Onde ver (13/04/2024) – Em cartaz nos cinemas do Brasil. Mídia física: não disponível no Brasil. Streaming: Prime Video, Claro TV Plus. Aluguel ou compra digitais: Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, Amazon/ Prime Video, Microsoft Store, Claro TV Plus, Vivo Play.

O filme parte de um mistério: em uma casa isolada, um escritor frustrado é encontrado morto do lado de fora. Ele terá caído acidentalmente da janela do andar superior? Se jogou? Ou terá sido empurrado de lá? As suspeitas recaem sobre a esposa, também escritora, mas bem sucedida. Ela vai a julgamento e, no tribunal, o filme vai revelando aquele relacionamento enquanto o destino da mulher fica em suspenso e também sua relação com o filho deficiente visual. Justine Trier é hábil em só entregar o que quer ao espectador e deixar no ar um monte de questões sobre verdade, justiça e a mulher na sociedade.

Crítica de Anatomia de uma Queda:
A verdade em questão

França. Direção: Justine Triet. Roteiro: Justine Triet e Arthur Harari. Elenco: Sandra Hüller, Milo Machado Graner, Swann Aralud, Samuel Theis, Antoine Reinartz.

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3 – POBRES CRIATURAS (Poor Things)
Onde ver (13/04/2024) – Em cartaz nos cinemas do Brasil. Mídia física: não disponível no Brasil. Streaming: Star Plus.

Um cérebro infantil em desenvolvimento no corpo de uma mulher adulta. Com essa premissa inspirada em Frankenstein, o filme toma rumos surpreendentes, imaginando uma mulher absolutamente livre das convenções, preconceitos, inibições e opressões, ganhando o mundo em busca de conhecimento. Isso embalado em um visual ousado e criativo e com uma Emma Stone absolutamente entregue ao papel, com um trabalho corporal impressionante. Sem surpresa ganhou o Oscar de melhor atriz.

Crítica de Pobres Criaturas:
Imaginando a liberdade total

Irlanda/ Reino Unido/ Estados Unidos/ Hungria. Direção: Yorgos Lanthimos. Roteiro: Yorgos Lanthimos, baseado em romance de Alasdair Gray. Elenco: Emma Stone, Mark Ruffalo, Willem Dafoe, Rami Youssef, Vicki Pepperdine, Hanna Schygulla.

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2 – VIDAS PASSADAS (Past Lives)
Onde ver (13/04/2024) – Em cartaz nos cinemas do Brasil. Mídia física: não disponível no Brasil. Streaming: Claro TV Plus. Aluguel ou compra digitais: Claro Vídeo Plus, Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, Amazon/ Prime Video, Microsoft Store, Vivo Play.

A simplicidade cativante do filme de Celine Song acompanha o reencontro em Nova York de um casal coreano que foi apaixonado, mas a vida os empurrou para rumos diferentes. O filme dá saltos no tempo até se dedicar a acompanhar a conversa carinhosa, difícil, provocativa, dura entre os dois personagens. A vida é complicada e o filme capta isso muito bem.

Crítica de Vidas Passadas:
O sentimento de “o que poderia ter sido”

Estados Unidos/ Coreia do Sul. Direção e roteiro: Celine Song. Elenco: Greta Lee, Teo Yoo, John Magaro, Moon Seung-ah, Leem Seung-min.

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1 – ASSASSINOS DA LUA DAS FLORES (Killers of the Flower Moon)
Onde ver (13/04/2024) – Mídia física: não disponível no Brasil. Streaming: Apple TV Plus. Aluguel ou compra digitais: Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, Amazon/ Prime Video, Microsoft Store, Claro TV Plus, Vivo Play.

O livro original conta a história do nascimento do FBI. O filme subverte essa narrativa ao dar o protagonismo ao povo Osage e à conspiração para colocar as mãos na riqueza desse grupo nativo dos EUA. Scorsese começa com o cinema mudo e termina com um programa de rádio que evoca os podcasts de true crime de hoje em dia. No meio, um épico de amor, traição e dor, guiado por atores extraordinários como DiCaprio, De Niro e a revelação Lily Gladstone.
Estados Unidos Direção: Martin Scorsese. Roteiro: Eric Roth e Martin Scorsese, baseado no livro de David Grann. Elenco: Leonardo DiCaprio, Lily Gladstone, Robert De Niro, Jesse Plemons, Cara Jade Myers, John Lithgow, Brendan Fraser, Janae Collins, Martin Scorsese.

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OUTRAS LISTAS DE MELHORES:

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NOTA: A percepção sobre os filmes mudam com o tempo. Esta é a minha percepção agora, limitada ao que vi, naturalmente — esta lista pode mudar à medida em que for revisitando alguns filmes ou assistir a outros que ainda não conheço deste ano específico.

BARBIE
⭐⭐½
Diário de filmes 2024: 27
Onde ver (em 15/03/2024) – Mídia física: não disponível no Brasil. Streaming: Max. Aluguel ou compra digitais: Google Play/ YouTube Filmes, Amazon/ Prime Video, Apple TV/iTunes, Microsoft Store.

Desde o começo a produção de um filme sobre a boneca Barbie com Greta Gerwig no comando e Margot Robbie no papel principal (duas feministas) suscitou muita curiosidade. Sendo a boneca um símbolo do capitalismo e sempre acusada de mostrar proporções femininas irreais, o que sairia daí?

Não poderia ser apenas um filme autocelebratório, mesmo que chancelado pela fabricante Mattel e, por isso, com risco zero de arranhar a imagem do produto. Ao contrário, a ideia, como sempre, seria promovê-lo.

O filme tenta mesmo combinar essas duas propostas: fazer uma “autocrítica” e uma “autopromoção” ligada a valores feministas. Assim, o filme exalta que a boneca promova nas meninas o pensamento de que elas podem ser o que quiserem (e não apenas mães, como as bonecas de bebês, que eram o padrão antes da Barbie, faziam pensar).

Constrói esse mundo da Barbielândia como um paraíso dominado pelas mulheres, em oposição ao nosso mundo, ainda sob o poder do patriarcado, uma realidade dura que a Barbie vai conhecer ao vir ao mundo real.

É um bom ponto de partida, o problema é que para chegar lá a ideias são paupérrimas e preguiçosas. Desde coisas simples como justificar a tal viagem, a maneira como ela acontece, o que precisa ser resolvido e como.

Os discursos podem falar bastante às mulheres, porque realmente tratam de problemas e situações existentes, mas é tudo primário e óbvio. Alguém pode dar a desculpa de que o filme precisa ser assim, para ser claro para crianças, mas há inúmeros filmes infantis menos tatibitati nessas questões (o Valente da Pixar, só para citar um). É tudo mais frágil do que o plástico com que a Barbie é produzida.

Salvam-se alguns risos aqui e ali. Mais na participação de Kate McKinnon, como a “Barbie estranha”, meio destruída por alguma criança, do que na de Will Farrell como presidente da Mattel, uma piada que procura ser iconoclasta, mas é só outra autopropaganda mal disfarçada.

Se Pobres Criaturas (outro filme de 2023 sobre uma mulher com nenhum conhecimento do mundo descobrindo o patriarcado e buscando sua verdade e sua liberdade) é um bolo suculento com uma cobertura incrível, Barbie é só o chantilly com confeitos coloridos do cupcake, mas sem o bolo. Fez um sucessão de público, mas, enfim, não é o primeiro nem o último filme mais ou menos que faz grande bilheteria. É uma pena porque de Greta Gerwig se espera sempre mais.

Barbie. Estados Unidos, 2023. Direção: Greta Gerwig. Elenco: Margot Robbie, Ryan Gosling, America Ferrera, Ariana Greenblatt, Michael Cera, Kate McKinnon, Simu Liu, Rhea Perlman, Emerald Fennell, Dua Lipa, John Cena, Helen Mirren (narração).

POBRES CRIATURAS
⭐⭐⭐⭐⭐
Diário de filmes 2024: 22
Onde ver (em 26/02/2024) – Em cartaz nos cinemas

Imaginando a liberdade total

O que seria uma mulher totalmente livre? Sem as amarras e opressões comportamentais impostas a ela através dos séculos? Dando vazão sem freios a seus prazeres e pensamentos? Parece ser esta a premissa da qual parte Pobres Criaturas, 11 indicações ao Oscar, incluindo melhor filme, direção e atriz.

Para isso, o diretor Yorgos Lanthimos e o roteirista Tony McNarama (a partir do livro de Alastair Gray) resolvem partir do zero: uma mulher com mente de criança, aprendendo tudo e sem qualquer noção sobre o que é “adequado”.

Muito já se falou e escreveu sobre as relações dessa história com o Frankenstein, de Mary Shelley (bem resumidamente, a protagonista Bella Baxter também é uma morta trazida de volta à vida, sem memórias do passado). E sobre essa postura feminista do filme, no qual Bella não só vai atrás do que deseja como desenvolve seu intelecto através de questões intelectuais e filosóficas.

E o filme ainda faz isso com um visual arrebatador, com cenários e direção de arte fantásticos, lentes para distorcer o que se vê, e sem ser tatibitati (Barbie deu muito azar em ter este filme lançado no mesmo ano…). Lanthimos, um diretor que não tem medo do bizarro, fez um filme esquisito e saboroso, muito engraçado mesmo.

Emma Stone tem possivelmente a performance física do ano, sobretudo pela movimentação desengonçada de sua personagem (e, sim, também pela entrega nas cenas de nudez e sexo – ela tem reclamado que só perguntam sobre isso, e, se é isso mesmo, ela tem toda a razão). Como parceiro de cena, Mark Ruffalo está perfeito, em outra grande atuação: engraçadíssimo na sua desfaçatez e, depois, patetice.

E em seu roteiro o filme vai a lugares inesperados, acompanhando Bella em suas descobertas e autodescobertas pelo mundo. Lisboa e Paris aparecem como ilustrações muito mais do que como cidades reais. Ainda assim, os lugares inesperados são muito mais os caminhos da história, que parecem navegar sempre em frente, do que um local físico. Pobres Criaturas consegue essa proeza: a de ser surpreendente sem parecer pedante e poderia seguir um rumo trágico (Bella poderia ser tragada pela sociedade, destruída), mas tem a disposição de fazer rir.

É bom não esquecer isso, porque isso costuma ser subestimado e não tem se falado isso tanto quanto o parentesco com Frankenstein, o enfoque da liberdade da mulher ou a nudez e o sexo: Pobres Criaturas é uma comédia, e das boas.

Poor Things. Irlanda/ Reino Unido/ Estados Unidos/ Hungria, 2023. Direção: Yorgos Lanthimos. Elenco: Emma Stone, Mark Ruffalo, Willem Dafoe, Rami Youssef, Vicki Pepperdine, Hanna Schygulla.

VIDAS PASSADAS
⭐⭐⭐⭐⭐
Diário de filmes 2024: 21
Onde ver (em 19/02/2024) – Em cartaz nos cinemas.

O sentimento de “o que poderia ter sido”

O primeiro plano é de três pessoas sentadas no balcão de um bar. Um homem de aparência oriental, outro de aparência ocidental, uma mulher de aparência oriental entre eles. Quem serão? Alguém fora de quadro pergunta a outra pessoa e vão conjecturando (em inglês). Um casal (os dois orientais) e o guia americano? Dois irmãos e o namorado dela?

“Vidas Passadas”, o excelente primeiro longa da coreana Celine Song e indicado ao Oscar de melhor filme, vai responder essa pergunta, só que mais para a frente. Dessa cena de abertura, que parece querer colocar o espectador como alguém que se perguntaria a mesma coisa se visse aquela cena, o filme volta no tempo e vai até a Coreia do Sul para mostrar um menino e uma menina muito ligados. Namoradinhos que planejam passar o resto da vida juntos, até que a vida os separa: a menina e seus pais vão morar no Canadá.

Os anos passam até que haja um reencontro via redes sociais. Ainda há a possibilidade de alguma chama, estando os dois separados por tanto tempo e por um mundo de distância? A trama evolui para o que é realmente o coração do filme: o reencontro em pessoa dos dois namorados de infância, mas em uma situação em que ela está comprometida.

Song narra com extrema sensibilidade e elegância esse reencontro não só entre pessoas, mas entre sentimentos e expectativas de vida. É um filme de conversa e muita gente deve lembrar da trilogia “Amanhecer/ Pôr do Sol/ Meia-Noite”, de Richard Linklater, sobretudo do segundo filme.

Conduzido por dois ótimos atores, é um grande filme sobre o sentimento de “o que poderia ter sido” com aquela ponta de “será que ainda pode ser”. Uma atmosfera agridoce que lembra os finais de “La La Land” e de “Café Society”, mas aqui trabalhada por mais tempo.

Sutil e comovente, tem potencial para figurar em listas de grandes primeiros filmes.

Past Lives. Estados Unidos/ Coreia do Sul, 2023. Direção: Celine Song. Elenco: Greta Lee, Teo Yoo, John Magaro, Moon Seung-ah, Leem Seung-min.

20 – VIDAS SEM RUMO (The Outsiders)
Onde ver (16/02/2024) – Mídia física: DVD (da Magnus Opus), blu-ray (da Universal). Streaming: Prime Video.

Quase uma geração inteira de atores foi revelada neste filme de Coppola, uma história de adolescentes com sua gangue sempre em guerra com um grupo rival e lidando com suas questões existenciais. Baseado em um livro escrito também por uma adolescente, é intenso e emocional.
Estados Unidos/ França. Direção: Francis Ford Coppola. Roteiro: Kathleen Rowell, baseado no romance de S.E. Hinton. Elenco: C. Thomas Howell, Matt Dillon, Ralph Macchio, Patrick Swayze, Rob Lowe, Emilio Estevez, Tom Cruise, Diane Lane, Tom Waits, Sofia Coppola.

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19 – O HOMEM COM DOIS CÉREBROS ou O MÉDICO ERÓTICO (The Man with Two Brains)
Onde ver (16/02/2024) – Mídia física: Não disponível no Brasil. Streaming: Não disponível no Brasil. Aluguel ou compra digitais: Amazon.

A parceria entre Carl Reiner e Steve Martin agora mira os filmes B dos anos 1950 e 1960, as ficções científicas baratíssimas daquela época. Martin é um cirurgião cerebral que se casa com uma mulher linda, mas cruel. Ele acaba tendo outra paixão: um cérebro mantido vivo em uma garrafa à espera de um corpo. Comédia maluca com muito nonsense.
Estados Unidos. Direção: Carl Reiner. Roteiro: George Gipe, Steve Martin e Carl Reiner. Elenco: Steve Martin, Kathleen Turner, Sissy Spacek (voz), David Warner, Paul Benedict, James Cromwell, Merv Griffin.

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18 – O REI DA COMÉDIA (The King of Comedy)
Onde ver (16/02/2024) – Mídia física: DVD (da Fox), blu-ray (da Versátil, na caixa Mestres do Cinema –Martin Scorsese). Streaming: Star Plus, Mubi. YouTube: legendado, dublado.

Scorsese recrutou Jerry Lewis para essa história do aspirante a comediante obcecado por um apresentador de talk show, em busca de uma chance. Lewis é o apresentador famoso e De Niro, o incoveniente iniciante. Se você acha parecido com a trama de Coringa, não está errado: a inspiração (inclusive na tragicomédia) é direta.
Estados Unidos. Direção: Martin Scorsese. Roteiro: Paul D. Zimmerman. Elenco: Robert De Niro, Jerry Lewis, Diahnne Abbott, Sandra Bernhard, Ed Herlihy.

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17 – FOME DE VIVER (The Hunger)
Onde ver (16/02/2024) – Mídia física: DVD (da Classicline, no digipack Tony Scott – The Red Collection). Streaming: Não disponível no Brasil. Aluguel ou compra digitais: Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, Amazon.

Algumas das imagens mais oitentistas são as dos vampiros góticos numa boate no começo deste filme. Catherine Deneuve vê seu amante envelhecer repentinamente e Susan Sarandon pode ser a substituta na cama. Sensual e visualmente expressionista como o diretor nunca mais foi.
Reino Unido. Direção: Tony Scott. Roteiro: James Costigan e Michael Thomas, baseado no romance de Whitley Strieber. Elenco: Catherine Deneuve, David Bowie, Susan Sarandon, Cliff De Young, Beth Ehlers, Dan Hedaya, Bessie Love, John Pankow, Willem Dafoe, Sophie Ward.

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16 – SOU OU NÃO SOU (To Be or Not to Be)
Onde ver (16/02/2024) – Mídia física: DVD (da Fox e da Paragon). Streaming: Não disponível no Brasil.

Mel Brooks estrela essa versão do clássico da comédia de 1942. Não é, como aquele, uma sátira “em tempo real” da II Guerra, mas mantém a qualidade das piadas, tanto pelo texto quanto pelo elenco ótimo.
Estados Unidos. Direção: Alan Johnson. Roteiro: Thomas Meehan e Ronny Graham, baseado no roteiro do filme de 1942, de Edwin Justus Mayer, a partir do argumento de Melchior Lengyel e Ernst Lubitsch. Elenco: Mel Brooks, Anne Bancroft, Charles Durning, Tim Matheson, George Gaynes, James “Gipsy” Haake, Christopher Lloyd, José Ferrer.

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15 – SCARFACE (Scarface)
Onde ver (16/02/2024) – Mídia física: DVD, blu-ray (da Universal). Streaming: Star Plus, Claro Vídeo. Aluguel ou compra digitais: Apple TV/ iTunes, Amazon.

A refilmagem do filme de gangsters de 1932 caprichou nos palavrões e na violência. Trouxe a trama para uma história de um imigrante cubano em Miami, atrevido e explosivo, com sua espetacular ascensão e queda no mundo do crime. É exagerado como os anos 1980 e quase operístico na interpretação frenética de Al Pacino e na direção maneirista de De Palma.
Estados Unidos. Direção: Brian De Palma. Roteiro: Oliver Stone, baseado no roteiro do filme de 1932, por Howard Hawks e Ben Hecht, baseado no romance de Armitage Trail. Elenco: Al Pacino, Steven Bauer, Michelle Pfeiffer, Mary Elizabeth Mastrantonio, Robert Loggia, F. Murray Abraham.

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14 – JOGOS DE GUERRA (WarGames)
Onde ver (16/02/2024) – Mídia física: DVD (da Metro e da Obras Primas). Streaming: MGM. Aluguel ou compra digitais: Apple TV/ iTunes, Amazon.

Na aurora dos computadores pessoais, este filme jovem antecipou as máquinas que aprendem sozinhas e o perigo da inteligência artificial. Embalado numa aventura carismática e inteligente: dois adolescentes invadem sem saber um supercomputador militar que pode deflagrar a terceira guerra mundial.
Estados Unidos. Direção: John Badham. Roteiro: Lawrence Lasker e Walter F. Parkes, e Walon Green (não creditado). Elenco: Matthew Broderick, Ally Sheedy, Dabney Coleman, John Wood, Barry Corbin.

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13 – O SENTIDO DA VIDA (The Meaning of Life)
Onde ver (16/02/2024) – Mídia física: DVD, blu-ray (da Universal). Streaming: Now. Aluguel ou compra digitais: Claro Vídeo, Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, Amazon.

O Monty Python volta a se reunir para o que acabou sendo seu último filme como grupo. O formato é, como nos velhos tempos, uma coleção de esquetes vagamente ligados pelo tema do título. Mas vale mais a irreverência e iconoclasta do sexteto, que chega a colocar crianças em cena cantando que “todo esperma é sagrado”.
Reino Unido. Direção: Terry Jones. Roteiro: Graham Chapman, John Cleese, Terry Gilliam, Eric Idle, Terry Jones e Michael Palin. Elenco: Graham Chapman, John Cleese, Terry Gilliam, Eric Idle, Terry Jones, Michael Palin, Carol Cleveland.

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12 – UMA HISTÓRIA DE NATAL (A Christmas Story)
Onde ver (16/02/2024) – Mídia física: Não disponível no Brasil. Streaming: Não disponível no Brasil. Aluguel ou compra digitais: Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, Amazon.

Ambientado nos anos 1940, esse filme natalino conquista ao ver a época com algum sarcasmo. A história é a de um garoto que quer ganhar de Natal uma arma mais do que tudo. O que faz para tentar concretizar seu desejo e a família e amigos à sua volta fazem dessa comédia um clássico do gênero.
Estados Unidos/ Canadá. Direção: Bob Clark. Roteiro: Jean Shepherd, Leigh Brown e Bob Clark, baseado no romance de Shepherd. Elenco: Peter Billingsley, Melinda Dillon, Scott Schwartz, Jeff Gillen, Jean Shepherd (voz).

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11 – PRA FRENTE, BRASIL
Onde ver (16/02/2024) – Mídia física: não disponível no Brasil. Streaming: não disponível no Brasil. YouTube: som original.

Com a ditadura militar brasileira em seus momentos finais, foi possível um filme que voltasse aos piores dias do regime, que torturava brasileiros em seus porões, enquanto a seleção de futebol disputava a Copa do Mundo de 1970 no México. Um filme-denúncia fundamental quando foi lançado, e um drama de grande força.
Brasil. Direção: Roberto Farias. Roteiro: Roberto Farias, a partir de argumento de Reginaldo Faria e Paulo Mendonça. Elenco: Reginaldo Faria, Antônio Fagundes, Natália do Vale, Elizabeth Savalla, Carlos Zara, Cláudio Marzo, Flávio Migliaccio, Luiz Armando Queiroz, Milton Moraes, Ivan Cândido, Neuza Amaral, Paulo Porto.

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10 – A BALADA DE NARAYAMA (Narayama Bushiko)
Onde ver (16/02/2024) – Mídia física: DVD (da Cinemagia). Streaming: Não disponível no Brasil.

Vencedora do Festival de Cannes, essa refilmagem de um filme de 1958 mostra o cotidiano de uma aldeia pobre que tem a tradição de idosos serem mandados para uma montanha distante para esperar a morte. Enquanto a matriarca de uma família aguarda o dia de sua jornada, os habitantes do lugar são guiados por desejo e violência.
Japão. Direção: Shohei Imamura. Roteiro: Shohei Imamura, baseado em romance de Shichiro Fukazawa. Elenco: Ken Ogata, Sumiko Sakamoto, Tonpei Hidari, Aki Takejo, Shoichi Ozawa.

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9 – TROCANDO AS BOLAS (Trading Places)
Onde ver (16/02/2024) – Mídia física: DVD (da Paramount), blu-ray (da Star Video). Streaming: Não disponível no Brasil. Aluguel ou compra digitais: Microsoft Store.

O encontro cômico entre Dan Aykroyd e Eddie Murphy (em seu segundo filme) deu muito certo. Um executivo e um golpista de rua trocam de lugar por causa de uma aposta (de US$ 1) entre dois irmãos milionários. Jamie Lee Curtis, após vários filmes de suspense, mostrou ser boa também na comédia. E Landis, na direção, mostrou de novo o ótimo timing para o gênero.
Estados Unidos. Direção: John Landis. Roteiro: Timothy Harris e Herschel Weingrod. Elenco: Dan Aykroyd, Eddie Murphy, Jamie Lee Curtis, Ralph Bellamy, Don Ameche, Denholm Elliott, Frank Oz.

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8 – O REENCONTRO (The Big Chill)
Onde ver (16/02/2024) – Mídia física: DVD (da Lume). Streaming: Não disponível no Brasil. Aluguel ou compra digitais: Apple TV/ iTunes.

Um dos principais exemplares do subgênero “velhos amigos se reúnem, passam a limpo seu passado e avaliam seu presente”. Aqui o motivo para o reencontro é a morte de um deles. Ao som de clássicos dos anos 1960, Lawrence Kasdan estabeleceu uma história-situação que foi muitas vezes usada no cinema depois.
Estados Unidos. Direção: Lawrence Kasdan. Roteiro: Lawrence Kasdan e Barbara Benedek. Elenco: William Hurt, Glenn Close, Tom Berenger, Jeff Goldblum, Meg Tilly, Mary Kay Place, Kevin Kline, JoBeth Williams, Kevin Costner.

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7 – BAR ESPERANÇA O ÚLTIMO QUE FECHA
Onde ver (16/02/2024) – Mídia física: Não disponível no Brasil. Streaming: Looke, NetMovies, Pluto TV. YouTube: som original.

O Bar Esperança é um refúgio noturno e efervescente de intelectuais, artistas, bebuns e boêmios de toda sorte, principalmente do casal formado por uma atriz de TV e um dramaturgo idealista. A crise entre o casal é orbitada por projetos artísticos delirantes, a mulher que está sempre atrás do marido que vive no bar (e que acaba fazendo um striptease como vingança) e a decisão da proprietária de vender o local para um grupo que quer construir um shopping no quarteirão. Um registro carinhoso e engraçado do fim da ditadura, com Marília Pêra e Hugo Carvana ótimos e uma Sílvia Bandeira belíssima.
Brasil. Direção: Hugo Carvana. Roteiro: Martha Alencar, Denise Bandeira, Hugo Carvana, Armando Costa e Euclydes Marinho. Elenco: Hugo Carvana, Marília Pêra, Paulo César Pereio, Sílvia Bandeira, Daniel Filho, Anselmo Vasconcelos, Nelson Dantas, Louise Cardoso, Luiz Fernando Guimarães, Antonio Pedro, Thelma Reston, Wilson Grey, Maria Gladys, Jonas Torres, Jorge Laffond, Oswaldo Loureiro, Denise Dumont, Betty Faria, Cissa Guimarães, Cláudio Marzo.

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6 - Debra Winger ("Laços de Ternura")

6 – LAÇOS DE TERNURA (Terms of Endearment)
Onde ver (16/02/2024) – Mídia física: DVD, blu-ray (da Paramount). Streaming: Não disponível no Brasil. Aluguel ou compra digitais: Claro Vídeo, Apple TV/ iTunes, Amazon.

Shirley MacLaine e Debra Winger viveram às turras durante as filmagens e construíram em cena um memorável relacionamento de mãe e filha, que levou as duas a serem indicadas ao Oscar melhor atriz (Shirley venceu). Um drama familiar, mas com bastante espaço para a comédia, sobre essa relação e os amores e problemas familiares de cada uma. Personagens cativantes e super bem contado por um diretor estreante: ganhou os Oscars de melhor filme e direção.
Estados Unidos. Direção: James L. Brooks. Roteiro: James L. Brooks, baseado em romance de Larry McMurtry. Elenco: Shirley MacLaine, Debra Winger, Jack Nicholson, Danny DeVito, Jeff Daniels, John Lithgow, Lisa Hart Carroll.

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5 – E LA NAVE VA (E la Nave Va)
Onde ver (16/02/2024) – Mídia física: DVD (da Spectra Nova), blu-ray (da Versátil, na caixa Fellini Essencial). Streaming: Looke, NetMovies.

Fellini faz aqui seu último grande clássico: uma viagem de navio para que sejam jogadas as cinzas de uma cantora de ópera e um jornalista que cobre a jornada dos excêntricos passageiros a bordo (incluindo um rinoceronte). Isso às vésperas da I Guerra, em 1914, com refugiados sérvios sendo recolhidos e os rivais austríacos também comparecendo. O filme joga com a linguagem cinematográfica evocando o cinema mudo e não escondendo que é feito em estúdio, sendo o navio um cenário erguido por macacos hidráulicos e o mar de plástico.
Itália/ França. Direção: Federico Fellini. Roteiro: Federico Fellini e Tonino Guerra. Elenco: Freddie Jones, Barbara Jefford, Victor Poletti, Peter Cellier, Elisa Mainardi, Pina Bausch.

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4 – O RETORNO DE JEDI ou STAR WARS – EPISÓDIO VI: O RETORNO DE JEDI (Return of the Jedi/ Star Wars – Episode VI: Return of the Jedi)
Onde ver (16/02/2024) – Mídia física: DVD, blu-ray (da Fox). Streaming: Disney Plus. Aluguel ou compra digitais: Google Play/ YouTube Filmes.

O capítulo final da trilogia original de Guerra nas Estrelas combina a ação vertiginosa com um drama familiar envolvendo o filho (Luke Skywalker) tentando resgatar o pai (Darth Vader), que é o vilão da história. Com um tom menos dramático que o anterior e mais leve, como o primeiro filme, foi mais uma vez um grande sucesso que sedimentou a eternidade da saga pelos anos seguintes.
Estados Unidos. Direção: Richard Marquand. Roteiro: Lawrence Kasdan e George Lucas, a partir de argumento de Lucas. Elenco: Mark Hamill, Harrison Ford, Carrie Fisher, James Earl Jones (voz), David Prowse, Sebastian Shaw, Billy Dee Williams, Ian McDiarmid, Anthony Daniels, Peter Mayhew, Kenny Baker, Fran Oz (voz), Alec Guinness, Warwick Davis.

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3 – O BAILE (Le Bal)
Onde ver (16/02/2024) – Mídia física: DVD (da Spectra Nova, da Cinemax e na caixa A Arte de Ettore Scola, da Versátil). Streaming: Não disponível no Brasil. YouTube: som original.

Um filme muito particular, que conta 50 anos da história da França através de um salão de baile. Sem diálogos, sem atores famosos, se comunicando pela música e a dança de cada época, o filme é um primor de narrativa, absolutamente encantador.
França/ Itália/ Argélia. Direção: Ettore Scola. Roteiro: Jean-Claude Penchenat, Ruggero Maccari, Furio Scarpelli e Ettore Scola, baseado em ideia de Penchenat. Elenco: Étienne Guichard, Régis Bouquet, Francesco De Rosa, Arnault LeCarpentier, Liliane Delval, Martine Chauvin, Danielle Rochard.

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2 – ZELIG (Zelig)
Onde ver (16/02/2024) – Mídia física: DVD (da Metro). Streaming: Não disponível no Brasil.

Nenhum falso documentário levou a piada tão longe quanto Zelig. Woody Allen é rigorosíssimo na linguagem do gênero: narração, imagens de arquivo, entrevistas atuais, cenas gravadas unicamente do ponto de vista que um registro documental poderia ter acontecido. Isso para contar a história do homem-camaleão, que tem um distúrbio psicológico que o faz se adaptar para parecer fisica e mentalmente com a pessoa com quem ele conversa. Não é menos do que genial.
Estados Unidos. Direção e roteiro: Woody Allen. Elenco: Woody Allen, Mia Farrow, Patrick Horgan (narração), John Buckwaiter, Susan Sontag, Irving Howe.

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1 – OS ELEITOS (The Right Stuff)
Onde ver (16/02/2024) – Mídia física: DVD, blu-ray (da Warner). Streaming: Não disponível no Brasil. Aluguel ou compra digitais: Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, Amazon.

Um extraordinário épico sobre a aurora do programa espacial americano, com foco nos pilotos que arriscavam o pescoço nas naves. Começando pela quebra da barreira do som, a escolha dos sete pilotos, os testes, ansiedades, a briga por maior autonomia dentro da cápsula espacial. Um momento importante da história tem o olhar grandioso, envolvente, elegante e humano de Philip Kaufman, com base em um livro-reportagem de Tom Wolfe, e um elenco extraordinário.
Estados Unidos. Direção: Philip Kaufman. Roteiro: Philip Kaufman, baseado no livro-reportagem de Tom Wolfe. Elenco: Sam Shepard, Ed Harris, Scott Glenn, Dennis Quaid, Fred Ward, Barbara Hershey, Kim Stanley, Veronica Cartwright, Pamela Reed, Lance Henriksen, Kathy Baker, Jeff Goldblum, Chuck Yeager.

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OUTRAS LISTAS DE MELHORES:

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NOTA: A percepção sobre os filmes mudam com o tempo. Esta é a minha percepção agora, limitada ao que vi, naturalmente — esta lista pode mudar à medida em que for revisitando alguns filmes ou assistir a outros que ainda não conheço deste ano específico.

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O RETORNO DE JEDI
ou STAR WARS – EPISÓDIO VI: O RETORNO DE JEDI
⭐⭐⭐⭐⭐
Diário de filmes 2024: 15
Onde ver (em 09/02/2024) – Mídia física: DVD e blu-ray (da Fox). Streaming: Disney Plus. Aluguel ou compra digitais: Google Play/ YouTube Filmes.

Drama familiar no espaço

O terceiro capítulo da trilogia original de Guerra nas Estrelas (ou, vá lá, Star Wars) costuma ter narizes torcidos até pelos fãs da série. Existe uma turma que nunca engoliu os ewoks, uma certa repetição envolvendo uma nova Estrela da Morte a ser destruída e até já li comparações com clichês de novelas no que diz respeito às revelações de laços familiares até então mantidos em segredo.

Mau humor das pessoas à parte, O Retorno de Jedi completou 40 anos como uma aventura sólida e divertida, sem se levar tão a sério, o que sempre foi bom para o universo de Star Wars.

É cheio de grandes sequências, como o resgate de Han Solo das garras de Jabba, the Hutt, logo no começo. Há a perseguição nas motos voadoras na lua de Endor. Ou o vertiginoso ataque à nova Estrela da Morte, com Lando Calrissian comandando a Millenium Falcon. E o confronto moral entre o pai vilão e o filho herói que deseja, mais do que derrotá-lo, salvá-lo.

De certa forma, O Retorno de Jedi parece pretender voltar a uma nota mais para cima e despretensiosa após o episódio anterior terminar com derrotas para os heróis. Os ewoks entram nisso, mas também é possível fazer deles um paralelo com os vietnamitas lutando contra o império invasor, coisa vivida ainda poucos anos antes.

O filme é tão bom, que nem o próprio George Lucas conseguiu atrapalhar. As mudanças que ele foi fazendo nos anos seguintes causa um sério problema aqui: a inserção da imagem de Hayden Christensen como o fantasma de Anakin Skywalker na cena final, em vez da de Sebastian Shaw, que é o Darth Vader que aparece quando se retira a máscara.

Além da falta de respeito com Shaw, isso não faz o menor sentido para quem começa Star Wars pela trilogia clássica (que é como deve ser) e se depara com uma figura que não apareceu em O Retorno de Jedi e nem nos dois filmes anteriores.

Para quem tem a edição dupla em DVD da Fox, pelo menos, sempre se pode assistir à versão original, sem as mudanças digitais.

Return of the Jedi ou Star Wars – Episode VI: Return of the Jedi. Estados Unidos, 1983. Direção: Richard Marquand. Elenco: Mark Hamill, Harrison Ford, Carrie Fisher, James Earl Jones (voz), David Prowse, Sebastian Shaw, Billy Dee Williams, Ian McDiarmid, Anthony Daniels, Peter Mayhew, Kenny Baker, Fran Oz (voz), Alec Guinness, Warwick Davis.

ANATOMIA DE UMA QUEDA
⭐⭐⭐⭐⭐
Diário de filmes 2024: 13
Onde ver (em 02/02/2024) – Em cartaz nos cinemas.

A verdade em questão

Alguns comentários elogiosos sobre “Anatomia de uma Queda” parecem meio embaraçados, procurando encontrar algo para dizer que este é “mais que um filme de tribunal”. Como se ser um excelente exemplar desse subgênero não fosse o suficiente para que uma obra seja um grande filme. Mas é.

O filme de tribunal de Justine Triet, vencedor da Palma de Ouro em Cannes e indicado a cinco Oscars (incluindo melhor filme e direção) é um grande trabalho basicamente por ser um primor de narrativa: parte de uma morte misteriosa, detalha-se na investigação e nos meandros do julgamento, mostra a influência dessa crise na família da pessoa morta, coloca a inocência ou a culpa de alguém na balança.

Como nos melhores filmes de tribunal, inclusive, a questão da verdade e da dificuldade em estabelecê-la (e, portanto, de estabelecer a justiça) é preponderante. As desconfianças pairam sobre Sandra Voyter (Sandra Hüller, indicada ao Oscar). Terá ela empurrado o marido da janela do sótão e sua casa isolada? Ou foi um acidente? Ou suicídio? O que pensa sobre isso o filho cego do casal?

A câmera que acompanha o cachorro da família no meio da agitação que se segue ao encontro do corpo também indica ao mais atentos e o animal também terá sua importância na trama.

Vamos acompanhando o desenrolar de acusações e defesas, e de provas que vão sendo encontradas, ouvidas, argumentadas. A frieza da protagonista é espelhada um pouco pelo filme, que não muito espaço ao melodrama.

Esse distanciamento também surge em soluções de direção que escolhem o que é ou não mostrado ao espectador, para nunca dar a certeza do que realmente aconteceu. São detalhes como o garoto contando uma conversa com o pai no carro. Entra o flashback, mas, embora nós, espectadores, vejamos o pai falar, é a voz do garoto dizendo as falas.

Isso quer dizer que o menino está inventando? Que é a interpretação subjetiva dele sobre aquele passado? Ou só um recurso de estilo para ilustrar que é o garoto narrando a cena?

Como em outras questões do filme, esta também fica para o espectador refletir sobre.

Anatomie d’une chute. França, 2023. Direção: Justine Triet. Elenco: Sandra Hüller, Milo Machado Graner, Swann Aralud, Samuel Theis, Antoine Reinartz.

Eu adorei o A Noite que Mudou o Pop, documentário sobre a produção de “We are the world” na Netlix. As muitas imagens de bastidores e do processo de gravação são fascinantes, detalhadas e reveladoras. É um deleite e minha crítica está aqui. Mas fiquei com uma questão misteriosa na cabeça.

Simplesmente nem mencionam os improvisos solos de Stevie Wonder e Ray Charles na parte final da música, um dos momentos que acho mais legais da canção. Por quê?

Detalham a gravação do solo do Bruce Springsteen e depois é como se o trabalho todo tivesse acabado. “Pronto, já temos os solos que precisamos”. Mas a canção ainda tem simplesmente o Stevie Wonder e o Ray Charles (o Stevie, inclusive, em dueto com o solo que Springsteen aparece gravando).

Eles gravaram em outro dia, então? Se foi isso, por que o filme não diz? Se não, por que não há registro ou menção dessa parte do trabalho no filme?

Se os solos de Stevie e Ray foram pensados e gravados depois, quem pensou neles? Acharam que falta alguma coisa? Os dois que se ofereceram para gravar?

Se foram gravados depois, por que o filme não conta essa parte? Porque imagens existem (veja no final). O filme quis manter uma mística de que tudo foi gravado naquela madrugada, com todo mundo junto, e, na verdade, como esses dois pedaços não foram feitos assim, omitiram isso?

Bom, são várias questões, na verdade. Ficam aí no ar porque possivelmente isso está documentado em algum canto, alguma matéria antiga, sei lá, mas eu não sei.

A parte que eu menciono começa em 4min20seg no clipe oficial, depois do improviso solo do Bob Dylan. Em seguida, os bastidores da parte de Ray Charles e de Stevie Wonder.

Os bastidores do solo de Stevie Wonder (depois combinado com o de Bruce Springsteen, como um dueto):

E os bastidores do solo do Ray Charles:

A NOITE QUE MUDOU O POP
⭐⭐⭐⭐
Diário de filmes 2024: 16
Onde ver (em 02/02/2024) – Mídia física: Não disponível no Brasil. Streaming: Netflix.

Os fascinantes bastidores de ‘We are the world’

“O título brasileiro talvez exagere, na medida em que se pode discutir em que exatamente “We are the world” mudou o pop. Mas o título original ‘The Greatest Night in Pop’ (‘a maior noite do pop’) não está longe da verdade. O tamanho do empreendimento artístico é impactante e o documentário mostra a complexidade dessa logística e o esforço para dar vida à canção através de depoimentos retrospectivos de quem estava nos microfones e nos bastidores e de preciosas imagens da gravação que registraram os ajustes, os erros, o cansaço, as inseguranças, as repetições, o método, e a concentração do talento de cada um nos poucos segundos em que teriam algum protagonismo na canção”.

Leia o texto completo no Cinema Escrito (https://www.cinemaescrito.com/…/a-noite-que-mudou-o-pop/).

“The Greatest Night in Pop”. Estados Unidos, 2024. Direção: Bao Nguyen.

TURMA DA MÔNICA JOVEM – REFLEXOS DO MEDO
⭐⭐⭐
Diário de filmes 2024: 14
Onde ver (em 31/01/2024) – Em cartaz nos cinemas.

Versão adolescente sofre em comparação com a turma clássica

“Um ‘efeito colateral’ do sucesso das HQs da turma jovem é que elas rapidamente também conquistaram as crianças menores, de modo que as histórias precisaram ‘baixar o tom’. Isso se reflete no filme, fazendo com que o terror seja mais uma inspiração narrativa que um mergulho de fato no gênero. Ensaiando uma ou outra cena de tensão, o filme nunca chega a ser contraindicado para crianças”.

Leia o texto completo no Cinema Escrito (https://www.cinemaescrito.com/2024/01/turma-da-monica-jovem-reflexos-do-medo/).

“Turma da Mônica Jovem – Reflexos do Medo”. Brasil, 2024. Direção: Maurício Eça. Elenco: Sophia Valverde, Xande Valois, Theo Salomão, Bianca Paiva, Carol Roberto, Mateus Solano, Giovanna Chaves, Carol Amaral, Yuma Ono, Eliana Fonseca, Maria Bopp.

BIZARROS PEIXES DAS FOSSAS ABISSAIS
⭐⭐⭐⭐
Diário de filmes 2024: 12
Onde ver (em 29/01/2024) – Em cartaz nos cinemas.

Espírito livre e muito nonsense

“Os curtas animados dirigidos por Marão seguem uma estética livre em que personagens independem de cenários, vestígios de rascunhos se misturam a ilustrações elaboradas, o coloquial anda de braço dado com o caricatural e a narrativa de super-heróis encontra o drama familiar mais humano. Isso tudo também está em seu primeiro longa, ‘Bizarros Peixes das Fossas Abissais’, tão curioso quanto seu dramático título.

A história segue uma mulher e seu amigo nuvem buscando reunir cacos de um vaso, antes que rinocerontes alienígenas reúnam os pedaços primeiro. A dupla acaba virando um trio quando eles encontram uma tartaruga com TOC. Dublados por Natália Lage, Guilherme Briggs e Rodrigo Santoro, esses personagens seguem uma jornada por vários lugares e enfrentando várias aventuras. O insólito é quem dá as cartas, como colocar o astro Santoro na voz da minúscula tartaruga que luta com obstinação contra sua extrema limitação de velocidade para organizar como pode o caos do mundo”.

Leia o texto completo no Cinema Escrito.

Bizarros Peixes das Fossas Abissais. Brasil, 2024. Direção: Marão.

A MÃO POR TRÁS DO RATO – A HISTÓRIA DE UB IWERKS
⭐⭐⭐½
Diário de filmes 2024: 11
Onde ver (em 25/01/2024) – Mídia física: DVD (extra em As Aventuras de Oswald, o Coelho Sortudo, da Disney). Streaming: Não disponível no Brasil.

Dirigido pela neta do desenhista e animador Ub Iwerks, o documentário conta a história do muito menos conhecido co-criador de um dos personagens mais conhecidos da história: o Mickey Mouse. Iwerks era o grande parceiro de Walt Disney e principal animador de seu então nascente estúdio e foi a ele que Walt recorreu quando seu personagem de maior sucesso, Oswald, o Coelho Sortudo, foi tirado sorrateiramente de suas mãos, em 1928.

Precisando urgentemente de um novo personagem e que ele desse certo, Walt e Iwerks chegaram à ideia de que poderia ser um camundongo. E foi Iwerks quem, então, desenhou o Mickey. Não só isso, como desenhou e animou sozinho e em tempo recorde o primeiro curta do ratinho: Plane Crazy.

O doc conta a história de Ub Iwerks, sua amizade e parceria com Disney, tem animadores comentando a perícia do artista nos curtas de Oswald e nos primeiros do Mickey, conta o período hoje meio esquecido de quando deixou a Disney para tocar um estúdio próprio e de seu retorno ao trabalho com Walt, agora no desenvolvimento de técnicas de animação e efeitos visuais.

Um filme bastante eficiente em desvendar um personagem importante para a história do cinema. O filme não está disponível em streaming e nem no YouTube, só podendo ser encontrado oficialmente no Brasil como extra no DVD duplo da série Walt Disney Treasures dedicado aos curtas de Oswald, o Coelho Sortudo, lançado pela Disney em 2009. Como o doc é produção da Disney, bem que o Disney + podia colocar no catálogo.

The Hand Behind the Mouse – The Ub Iwerks Story. Estados Unidos, 1999. Direção: Leslie Iwerks.

ASTEROID CITY
⭐⭐⭐⭐
Diário de filmes 2024: 10
Onde ver (em 22/01/2024) – Mídia física: Não disponível no Brasil. Streaming: Claro TV Mais. Aluguel ou compra digitais: Apple TV/ iTunes, Google Play/ YouTube Filmes, Amazon, Claro Vídeo, Vivo Play.

O inusitado, a patetice e os semblantes sem sorridos

Wes Anderson constrói mais um exemplar típico do seu cinema: um visual de livro infantil pop-up (aqueles em que, a cada página, se ergue uma imagem 3D), um grande elenco em interpretações inspiradas em Buster Keaton (expressões impassíveis, sem sorrisos), rigor simétrico na composição da imagem. E isso em prol da comédia dramática, onde a aparente seriedade dos semblantes contrasta com cenas de situações inusitadas, que fogem do controle ou de patetices.

Se toda essa construção visual e cênica fosse dedicada a algum pretenso drama “profundo”, provavelmente muitos narizes torcidos para om diretor voltariam ao prumo, mas seus filmes sempre buscam a leveza, um elemento sempre subestimado.

Asteroid City rebusca ainda mais sua narrativa, começando como um programa de TV sobre uma peça de teatro e que, aos nossos olhos de espectador, se torna o próprio filme no cenário desolado da cidade perdida no nada, onde um grande grupo vai se encontrar nos dias de um evento dedicado ao aniversário da queda de um asteroide no local.

Um acontecimento inusitado acontece e todos ficam presos na cidade por vários dias, aprofundando os relacionamentos entre eles e suas questões pessoais de luto, inseguranças, descoberta do amor. Isso enquanto lidam com a presença opressora do governo.

Os diálogos são rápidos, algumas vezes até difíceis de acompanhar, e a narrativa vai e volta para a atmosfera dos bastidores da peça ou do programa de TV (do qual Bryan Cranston é o narrador muito formal). O formato de tela muda, passamos do colorido árido de Asteroid City para o preto-e-branco e voltamos.

E, embora haja momentos sérios, sempre há aquela queda bem-vinda para o humor, às vezes com tudo misturado, como a discussão sobre entrar ou não as cinzas de uma mãe em um beco qualquer. Wes Anderson partiu da simplicidade romântica de Moonrise Kingdom para elaborações mais ambiciosas em O Grande Hotel Budapeste, A Crônica Francesa e, agora, Asteroid City. Grandes paineis voltados não para grandes questões, mas para a comédia.

Asteroid City. Estados Unidos, 2023. Direção: Wes Anderson. Elenco: Jason Schwartzman, Jake Ryan, Scarlett Johansson, Grace Edwards, Bryan Cranston, Edward Norton, Tom Hanks, Maya Hawke, Rupert Friend, Steve Carrell, Tilda Swinton, Jeffrey Wright, Hope Davis, Steve Park, Adrien Brody, Liev Schreiber, Matt Dillon, Margot Robbie, Willem Dafoe, Jeff Goldblum, Seu Jorge, Bob Balaban, Rita Wilson.

15 – BELEZAS EM REVISTA (Footlight Parade)
Onde ver (em 18/01/2024)  Mídia física: DVD (da Cinemax e na caixa Cinema Musical, da Versátil). Streaming: Não disponível no Brasil.

O ano de 1933 foi especial para o gênero musical na Warner Bros. com três lançamentos lendários que tiveram Busby Berkeley aloprando na direção de dança com seus caleidoscópios humanos. É daqui o antológico número “By a waterfall”, com dezenas de bailarinas combinadas em diversas formas geométricas numa piscina, filmadas de todos os ângulos, inclusive de 90º vistas de cinema e de baixo. É também aqui que James Cagney, astro dos filmes de gangster da Warner, dança no cinema pela primeira vez, mostrando o talento que desenvolveu no teatro vaudeville.
Estados Unidos. Direção: Lloyd Bacon. Roteiro: Manuel Self e James Seymour, a partir de argumento de Robert Lord e Peter Milne. Elenco: James Cagney, Joan Blondell, Ruby Keeler, Dick Powell, Frank McHugh.

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14 – BRANCA DE NEVE (Snow-White)
Onde ver (em 18/01/2024)  Mídia física: Não disponível no Brasil. Streaming: Não disponível no Brasil. YouTube: legendado.

Quatro anos antes da Disney, o Fleischer Studios colocou Betty Boop no papel de Branca de Neve neste curta. No cortejo fúnebre, o palhaço Koko canta St. James infirmary blues” na voz de Cab Calloway e dançando igual, graças à rotoscopia.
Estados Unidos. Direção: Dave Fleischer e Roland Crandall (não creditado). Roteiro: não creditado, baseado em conto de Jacob Grimm e Wilhelm Grimm. Vozes na dublagem original: Mae Questel, Cab Calloway, Billy Murray.

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13 – SANTA NÃO SOU (I’m No Angel)
Onde ver (em 18/01/2024)  Mídia física: DVD (no digipack Cinema Pre-Code, da Obras-Primas). Streaming: Não disponível no Brasil.

Mae West tem que ser colocada em qualquer lista de talentos criativos femininos da história do cinema. Roteirista dos seus próprios filmes, interpretava mulheres liberadas com frases atrevidas que marcaram essa época conhecida como pre-code, os anos imediatamente anteriores ao endurecimento da autocensura dos estúdios americanos (conhecida como Código Hays). Para sua personagem aqui – uma artista de circo que sobe na vida escalando homens ricos, mas possui um passado que volta para assombrá-la – ela escreveu diálogos como “Quando sou boa, sou ótima. Mas quando sou má, sou melhor ainda”.
Estados Unidos. Direção: Wesley Ruggles. Roteiro: Mae West, com sugestões de Lowell Brentano. Elenco: Mae West, Cary Grant, Gregory Ratoff, Edward Arnold.

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12 – VOANDO PARA O RIO (Flying Down to Rio)
Onde ver (em 18/01/2024)  Mídia física: DVD (da Studio Classic). Streaming: Não disponível no Brasil.

Fred Astaire e Ginger Rogers dançaram juntos pela primeira vez aqui. É só um momento, mas de classe e talento suficiente para começar uma parceria de dez filmes. Neste filme, eles são coadjuvantes para a história do triângulo amoroso entre um músico, uma beldade brasileira (vivida pela mexicana Dolores Del Rio) e o noivo rico dela. O clímax é um impossível balé de várias coristas sobre as asas de aviões que sobrevoam o Rio de Janeiro. Um negócio tão absurdo que se torna fascinante.
Estados Unidos. Direção: Thornton Freeland. Roteiro: Cyril Hume, H.W. Hanemann e Erwin Gelsey, com contribuições não creditadas de Adele Comandini, Joseph Fields, Thomas Lennon, Fred Niblo Jr., Gilberto Souto, Harvey F. Thew e H. Reynolds, a partir de argumento de Lou Brock, baseado em peça de Anne Caldwell. Elenco: Dolores Del Rio, Gene Raymond, Raul Roulien, Ginger Rogers, Fred Astaire.

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11 – OS TRÊS PORQUINHOS (Three Little Pigs)
Onde ver (em 18/01/2024)  Mídia física: DVD (na edição Walt Disney Treasures – Silly Symphonies). Streaming: Disney Plus. YouTube: dublado.

A história que todo mundo conhece ganhou a versão definitiva no curta animado da série Silly Symphonies, da Disney. Colorido, cheio de graça e com a antológica canção “Quem tem medo do Lobo Mau?”, Os Três Porquinhos ganhou o Oscar de curta de animação e teve três continuações.
Estados Unidos. Direção: Burt Gillett. Roteiro: Pinto Colvig, Albert Hunter, Boris V. Morkovin, Ted Sears e Webb Smith (não creditados). Elenco: Billy Bletcher, Pinto Colvig, Dorothy Compton e Mary Moder.

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10 – SERPENTE DE LUXO (Baby Face)
Onde ver (em 18/01/2024)  Mídia física: DVD (no digipack Cinema Pre-Code, da Obras Primas). Streaming: Não disponível no Brasil.

Barbara Stanwyck brilha como a mulher que sempre foi explorada sexualmente pelo próprio pai, mas que resolve virar o jogo e se aproveita dos homens para subir na vida em um grande banco. De uma franqueza sexual desconcertante para um filme de 1933, bem usada em um drama forte e sustentado por uma grande atriz (ainda em seus 25 anos), é um grande exemplo da liberdade que havia no cinema pre-code e que deixaria de existir a partir do ano seguinte.
Estados Unidos. Direção: Alfred E. Green. Roteiro: Gene Markey e Kathryn Scola, a partir de argumento de Darryl F. Zanuck. Elenco: Barbara Stanwyck, George Brent, Donald Cook, Alphonse Ethier, John Wayne.

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9 – OS FILHOS DO DESERTO (Sons of the Desert)
Onde ver (em 18/01/2024)  Mídia física: Não disponível no Brasil. Streaming: Não disponível no Brasil. YouTube: som original.

Vindos do cinema mudo, o Gordo e o Magro souberam se adaptar aos diálogos e combiná-los com seu humor físico e pastelão. Aqui, a dupla engana suas esposas para poder comparecer a uma convenção dos “Filhos do Deserto”, travessura que, claro, não vai acabar bem. É daqui a frase clássica de Oliver Hardy, o Gordo, para Stan Laurel, o Magro: “Bem, esta é outra bela confusão em que você me meteu”.
Estados Unidos. Direção: William A. Seiter. Roteiro: argumento de Frank Craven, com contribuições não creditada de Stan Laurel, Oliver Hardy, Jack Barty, Charley Chase, Frank Terry, Hal Roach, William A. Seiter, Glenn Tryon e Eddie Welch. Elenco: Stan Laurel, Oliver Hardy, Charley Chase, Mae Busch, Dorothy Christy.

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8 – GANGA BRUTA
Onde ver (em 18/01/2024)  Mídia física: Não disponível no Brasil. Streaming: Não disponível no Brasil. YouTube: som original.

Um filme “ressuscitado”: depois do fracasso de público na estreia, o filme sumiu por quase 20 anos. Nos anos 1950, negativos foram encontrados, o filme foi remontado e encontrou seu lugar na história do cinema brasileiro. Humberto Mauro mostra um homem procurando redenção em uma cidade do interior, fazendo grandes imagens tanto de uma fábrica em construção quanto dos personagens de seu triângulo amoroso.
Brasil. Direção: Humberto Mauro. Roteiro: Humberto Mauro, a partir de argumento de Octavio Gabus Mendes. Elenco: Durval Bellini, Dea Selva, Lu Marival, Décio Murilo, Andréa Duarte.

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7 – RAINHA CRISTINA (Queen Christina)
Onde ver (em 18/01/2024)  Mídia física: DVD (da Warner e da New Line). Streaming: Não disponível no Brasil. Aluguel ou compra digitais: Amazon.

Garbo em toda sua potência de estrela, dominando a cena nesta produção glamorosa e romântica sobre uma figura histórica da Suécia, país natal da atriz. Sua paixão por um espanhol a coloca à frente de uma decisão: o amor ou o trono. E ainda há o subtexto lésbico.
Estados Unidos. Direção: Rouben Mamoulian. Roteiro: H.M. Harwood e Salka Viertel, além de, não creditados, Harvey Gates, Ben Hecht, Rouben Mamoulian, Ernest Vajda e Claudine West, com diálogos de S.N. Behrman, a partir de argumento de Viertel e Margaret P. Levino. Elenco: Greta Garbo, John Gilbert, Ian Keith, Lewis Stone, Elizabeth Young, C. Aubrey Smith, Akim Tamiroff.

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6 – ZERO EM COMPORTAMENTO ou ZERO DE CONDUTA (Zéro de Conduite – Jeunes Diables au Collège)
Onde ver (em 18/01/2024)  Mídia física: DVD (na edição Jean Vigo Integral, da Versátil). Streaming: Belas Artes a la Carte. YouTube: legendado.

Em 45 minutos, Jean Vigo narra uma revolução de alunos em uma escola repressora. Uma alegre ode à liberdade e à anarquia, que inspirou muita coisa depois (mais diretamente o inglês Se…). Para a época, tamanha rebeldia chocou e foi marcante.
França. Direção e roteiro: Jean Vigo. Elenco: Jean Dasté, Robert le Flon. Du Verron, Delphin.

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5 – RUA 42 (42nd Street)
Onde ver (em 18/01/2024)  Mídia física: DVD (da Warner). Streaming: Não disponível no Brasil. Aluguel ou compra digitais: Apple TV/ iTunes, Amazon.

O primeiro de três filmes musicais da Warner que abordaram as intrigas de bastidores do teatro musical em 1933. talvez esse seja o que melhor cumpre essa missão. Um diretor estressado tenta fazer um último grande sucesso, o financiador tenta emplacar a namorada como estrela, e uma novata ganha uma grande oportunidade. Isso embalando números antológicos com a assinatura de Busby Berkeley, que cria caleidoscópios humanos como o de “Young and healthy” e coreografa no número final tanto a efervescência da Rua 42 quanto uma tragédia humana.
Estados Unidos. Direção: Lloyd Bacon. Roteiro: Rian James e James Seymour, com contribuição não creditada de Whitney Bolton, baseado no romance de Bradford Ropes. Elenco: Warner Baxter, Ruby Keeler, Bebe Daniels, Dick Powell, George Brent, Guy Kibbee, Una Merkel, Ginger Rogers.

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4 – SÓCIOS NO AMOR (Design for Living)
Onde ver (em 18/01/2024)  Mídia física: DVD (no digipack Ernst Lubitsch, da Obras-Primas). Streaming: Não disponível no Brasil.

Ernst Lubitsch usa plenamente o seu “Lubitsch touch” combinando elegância e picardia na história de três artistas: um pintor e um dramaturgo que se apaixonam por uma cartunistas e ela pelos dois. As idas e vindas desses relacionamentos garantem boas risadas e desafiam convenções da época. A partir do ano seguinte, Hollywood encaretaria de tal forma que um filme desse, adulto e liberal sobre amor e sexo, seria impossível por uns 30 anos.
Estados Unidos. Direção: Ernst Lubitsch. Roteiro: Ben Hecht e, não creditado, Samuel Hoffenstein, baseado em peça de Noël Coward. Elenco: Miriam Hopkins, Fredric March, Gary Cooper, Edward Everett Horton, Jane Darwell.

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3 – O DIABO A QUATRO (Duck Soup)
Onde ver (em 18/01/2024)  Mídia física: DVD (da Universal). Streaming: Belas Artes a la Carte.

O ponto alto dos Irmãos Marx na Paramount, no qual Groucho é o ditador da Freedonia e declara guerra ao país vizinho. Chico e Harpo são dois espiões que não estão muito certos de que lado deveriam estar. Zeppo era o galã. A irreverência demolidora dos Marx está à toda, subvertendo o filme inteiro. O filme seguinte já seria na Metro e com o até então quarteto convertido em trio.
Estados Unidos. Direção: Leo McCarey. Roteiro: Bert Kalmar e Harry Ruby, com diálogos adicionais de Arthur Sheekman e Nat Perrin. Elenco: Groucho Marx, Chico Marx, Harpo Marx, Zeppo Marx, Margaret Dumont, Raquel Torres, Louis Calhern.

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2 – CAVADORAS DE OURO ou CAÇADORAS DE OURO (Gold Diggers of 1933)
Onde ver (em 18/01/2024)  Mídia física: DVD (da Cinemax). Streaming: Belas Artes a la Carte.

O terxeiro musical desta lista a tratar da feitura de um musical do teatro, mas este tendo muito presente dentro dela a grande depressão. “We’re in the money” (“estamos montadas na grana”), canta Ginger Rogers logo na abertura, mas ironicamente porque todos ali estão na pindaíba, dependendo do sucesso do espetáculo em montagem. O filme conclui com o antológico “Remember my forgotten man” (“lembre do meu homem esquecido”), sobre os soldados que voltam estropiados da guerra e são escanteados pela sociedade, encerrando (e encerrando o filme) praticamente com uma oração épica.
Estados Unidos. Direção: Mervyn LeRoy. Roteiro: Erwin Gelsey e James Seymour, com diálogos de David Boehm e Ben Markson, baseado na peça de Avery Hopwood. Elenco: Warren William, Joan Blondell, Ruby Keeler, Aline MacMahon, Dick Powell, Guy Kibbee, Ginger Rogers.

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1 – KING KONG (King Kong)
Onde ver (em 18/01/2023)  Mídia física: DVD, blu-ray (da Warner). Streaming: HBO Max. Aluguel ou compra digitais: Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, Amazon.

Foi possivelmente a primeira vez que um efeito especial foi o protagonista de um filme. Kong era um boneco animado em stop motion e que contracenava, por meio de um intrincado jogo de projeção de fundo, com os atores do filme. Esse esforço resultou em uma aventura seminal do cinema, que gerou imagens imortais, como o gorila enfrentando aviões no alto do edifício Empire State (então novíssimo, concluído apenas dois anos antes). Em que pese a técnica evidentemente datada (sobretudo nesses tempos de CGI), o uso dela é espantoso e o que se sobressai é a piedade que o gigante desperta, e que influenciou decisivamente suas duas refilmagens (em 1976 e 2005).
Estados Unidos. Direção: Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack (não creditados). Roteiro: James Ashmore Creelman e Ruth Rose, com contribuição não creditada de Leon Gordon, a partir de argumento não creditado de Merian C. Cooper e Edgar Wallace. Elenco: Fay Wray, Robert Armstrong, Bruce Cabot, Frank Reicher.

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OUTRAS LISTAS DE MELHORES:

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NOTA: A percepção sobre os filmes mudam com o tempo. Esta é a minha percepção agora, limitada ao que vi, naturalmente — esta lista pode mudar à medida em que for revisitando alguns filmes ou assistir a outros que ainda não conheço deste ano específico.

ELIS & TOM – SÓ TINHA DE SER COM VOCÊ
⭐⭐⭐⭐⭐
Diário de filmes 2024: 9
Onde ver (em 22/01/2024) – Mídia física: Não disponível no Brasil. Streaming: Globoplay. Aluguel ou compra digitais: Apple TV/ iTunes, Google Play/ YouTube Filmes.

A intimidade dos gênios, 50 anos depois

É o Get Back brasileiro: do mesmo jeito que a série documental de Peter Jackson nos coloca junto com os Beatles dentro da criação do disco Let it Be através de imagens restauradas e até então nunca vistas, o longa documentário de Roberto de Oliveira faz o mesmo com Elis & Tom, um disco antológico da música brasileira, com o encontro entre dois gigantes. Seu surgimento quase 50 anos depois do lançamento do disco (a data do cinquentenário é este ano) tem cara de milagre.

Elis & Tom, o filme, não tem tantas imagens à disposição como Get Back, que teve a oportunidade de se concentrar apenas no material histórico e daqueles dias, sem entrevistas atuais ou necessidade de mostrar os Beatles antes ou depois dali.

O filme brasileiro, por sua vez, recorre a uma contextualização das carreiras de Elis e de Tom Jobim até o momento e é rico em entrevistas com quem esteve no estúdio em Los Angeles naqueles meses de fevereiro e março de 1974. As imagens da gravação não são, evidentemente, tantas como em Get Back que já foi concebido de saída como um filme.

Mas são muitas e impressionantes, pelo reveladoras que são daqueles bastidores e por estarem restauradas e com som remasterizado com o auxílio de inteligência artificial, suficientes para o mergulho intenso nas tensões iniciais entre Elis e Tom e entre Tom e o pianista e arranjador (e marido da cantora) César Camargo Mariano.

O doc cumpre de maneira exemplar a missão de mostrar como a feitura de um disco tão clássico envolveu tantos desafios e poderia até nunca ter chegado aos nossos ouvidos. Foge de arroubos artísticos demais e se concentra em contar a sua história – por si só, tão fascinante.

Elis & Tom – Só Tinha de Ser com Você. Brasil, 2023. Direção: Roberto de Oliveira. Co-direção: Job Tom Azulay.

AJUSTE DE CONTAS
⭐⭐½
Diário de filmes 2024: 8
Onde ver (em 18/01/2024) – Mídia física: Não disponível no Brasil. Streaming: Não disponível no Brasil. YouTube: som original.

Telefilme com muita cara de telefilme que é um drama de tribunal no qual o advogado precisa defender um acusado de homicídio que não quer ser defendido. O réu matou um homem que havia estuprado e assassinado sua filha e terminou livre por questões técnicas em no julgamento. O réu não quer provar inocência: quer gritar os motivos do seu crime no tribunal.

Em termos de narrativa não há nada demais, mas há um bom elenco (Burgess Meredith, o Pinguim da série “Batman” e o treinador em “Rocky”, é sempre bom de ver) e uma dilema interessante. É a última atuação de Robert Preston e a última produção de Irwin Allen.

Outrage!. Estados Unidos, 1986. Direção: Walter Grauman. Elenco: Beau Bridges, Robert Preston, Burgess Meredith, Linda Purl, Mel Ferrer.


GANGA BRUTA
⭐⭐⭐⭐
Diário de filmes 2024: 7
Onde ver (em 18/01/2024) – Mídia física: Não disponível no Brasil. Streaming: Não disponível no Brasil. YouTube: som original.

O interior do Brasil e o interior dos personagens

Ganga Bruta, terceira produção da Cinédia, foi um retumbante fracasso de público em seu lançamento e quase desapareceu. Ficou quase 20 anos fora do radar até que negativos foram encontrados e, a partir deles, o filme foi montado de novo e ressuscitado. E aí, encontrou seu lugar na história do cinema brasileiro como um importante clássico.

A premissa, claro, seria cancelada hoje: o homem que mata a mulher na noite de núpcias porque descobriu que foi traído, é inocentado no julgamento e vai lidar com a culpa no interior, onde encontra outro amor e briga por ela com outro interessado.

O triângulo amoroso não chega a ser muito inventivo, mas o filme é forte narrativamente e na apresentação dos personagens e a fotografia de Edgar Brasil, A.P. Castro e Paulo Morano se sobressai mesmo em cópias desgastadas. Tanto a grandiosidade da fábrica em construção ou as expressões e formas dos atores são imagens marcantes. Assim, o filme mostra poderosamente o interior do Brasil e o interior dos personagens.

Ganga Bruta. Brasil, 1933. Direção: Humberto Mauro. Elenco: Durval Bellini, Dea Selva, Lu Marival, Décio Murilo, Andréa Duarte.

VOANDO PARA O RIO
⭐⭐⭐½
Diário de filmes 2024: 6
Onde ver (em 16/01/2024) – Mídia física: DVD, da Studio Classic. Streaming: Não disponível no Brasil

A primeira vez de Ginger e Fred

Voando para o Rio tem para sempre um lugar garantido na História por ser o primeiro filme a colocar na mesma pista de dança Ginger Rogers e Fred Astaire. Dali eles partiriam para uma série de 10 filmes juntos, imprimindo na tela muitos dos mais belos e divertidos movimentos corporais que o cinema veria. Mas aqui os dois ainda são coadjuvantes.

A história central é a do triângulo amoroso em que Dolores Del Rio fica entre o noivo rico, papel de Raul Roulien, e o músico vivido por Gene Raymond. Como a mexicana Dolores interpreta a brasileira Belinha De Resende, a trama vem parar no Rio de Janeiro a la Hollywood: às vezes parece meio hispânico, mas alguns personagens ao menos falam português mesmo. Em dado momento aparece um grupo musical usando chapéus de cangaceiro estilizados e, neles, nomes escritos supostamente dos músicos (um deles, Lampeão).

A trama é cheia de idas e vindas com aquelas coincidências que vão ligando os personagens. Como o bandleader Roger ir ao Brasil com sua banda para tentar encontrar Belinha e o grupo estar contratado pelo hotel que pertence justamente ao pai dela. E seu amigo na cidade ser justamente o noivo dela.

Bem mais do que isso, o filme é lembrado mesmo pelo clímax de dançarinas em asas de aviões sobre imagens aéreas de vários pontos do Rio de Janeiro, uma alopração, mas uma atração especialmente para os brasileiros (e cariocas em particular) terem um vislumbre da cidade tantos anos atrás. E por Fred e Ginger, claro.

Ginger já vinha batalhando nas telas: só naquele 1933 ela teve papeis em 10 filmes (incluindo os clássicos Rua 42 e Caçadoras de Ouro)! Fred, veterano dos palcos, estava em seu primeiro ano no cinema e segundo filme. Em Voando para o Rio, eles são líderes da banda e os amigos do protagonista, com alguns diálogos espertos para dizer e cenas engraçadas para interpretar.

Mas o filme se justifica pelo momento em que colocam as testas um no outro e dançam “The carioca”, a primeira de muitas vezes em que encantariam o mundo nos anos seguintes.

Flying Down to Rio. Estados Unidos, 1933. Direção: Thornton Freeland. Elenco: Dolores Del Rio, Gene Raymond, Raul Roulien, Ginger Rogers, Fred Astaire.

RON BUGADO
⭐⭐⭐⭐
Diário de filmes 2024: 5
Onde ver (em 12/01/2024) – Mídia física: Não disponível no Brasil. Streaming: Disney Plus.

Amizade digital ou analógica?

Animação bem antenada com o nosso tempo de mídias sociais e assistentes pessoais de inteligência artificial, Ron Bugado é uma animação muito competente e divertida que parece ter ficado meio escondida diante da enxurrada de filmes do gênero lançadas todo ano. Tendo a Disney a própria Walt Disney Animation Studios e a Pixar, o lançamento da 20th Century Studios (ex-Fox e comprada pelo conglomerado do Mickey) passou meio despercebido.

Mas é ótimo. O cenário é do lançamento de uma “alexa-robô-smartphone” que todos os pré-adolescentes passam a ter. Um R2D2 particular conectado à internet que grava e posta vídeos, dá match em redes sociais, se costumiza automaticamente e acompanha a criança por onde ela for. O “Steve Jobs” que criou os B-Bots pretende que ele ajude os jovens a encontrar facilmente pessoas parecidas e fazer amigos. Mas elas acabam cada vez mais mergulhadas nesse mundo digital.

O impopular e solitário Barney não tem um B-Bot. Quando ganha um, ele vem com defeito. Essas limitações, porém, fazem com que a máquina é que se torne o amigo que Barney precisa. ele não é conectado à rede, por exemplo, e muita da convivência dos dois é puramente analógica.

O filme traz bons comentários sobre corporações digitais (os robôs em rede são usados para captar informações dos usuários), popularidade virtual, falsa originalidade que, na verdade, é comportamento de manada.

A narrativa cai na rotina um pouco quando entra em cena um plano de invasão da corporação, mas, até lá, e também depois disso, é tudo muito bem contado, com bons personagens e um traço muito simpático.

Ron’s Gone Wrong. Estados Unidos/ Reino Unido, 2021. Direção: Sarah Smith e Jean-Philippe Vine. Co-direção: Octavio E. Rodriguez. Vozes na dublagem original: Jack Dylan Grazer, Zach Galifianakis, Ed Helms, Olivia Colman, Justice Smith, Rob Delaney. Vozes na dublagem brasileira: Agyei Augusto, Heitor Assali, Marcelo Serrado, Cecília Lemes, Sérgio Malheiros, Rodrigo Araújo.

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