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20 – TRAMAS DO ENTARDECER (Meshes of the Afternoon)
Onde ver (em 13/09/2023) Mídia física: Não disponível no Brasil. Streaming: Não disponível no Brasil. YouTube: som original.

Este curta experimental mudo e em preto-e-branco alcançou o 16º lugar na lista de 2022 da Sight and Sound. O caráter surrealista e o fato de ser dirigido por uma mulher nos EUA dos anos 1940 e o próprio enfoque sobre uma mulher numa situação labiríntica e repetitiva o tornaram influente ao longo dos anos.
Estados Unidos. Direção: Maya Deren e Alexander Hammid. Roteiro: Maya Deren (não creditada). Elenco: Maya Deren, Alexander Hammid.

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19 – RAZÃO E EMOÇÃO (Reason and Emotion)
Onde ver (em 13/09/2023) Mídia física: Não disponível no Brasil. Streaming: Não disponível no Brasil. YouTube: som original, com legendas em inglês.

Entre as produções da Disney voltadas para a II Guerra, está este curta animado de espírito didático que fala sobre o embate da razão e da emoção no comportamento de cada um e como se deixar levar pela emoção pode levar a medos infundados, sobretudo em tempos de guerra. Representados por pessoinhas dirigindo a cabeça das pessoas, a influência no futuro longa Divertida Mente parece evidente.
Estados Unidos. Direção: Bill Roberts (não creditado). Roteiro: Joe Grant e Dick Huemer (não creditados). Vozes na dublagem original: Frank Graham, James MacDonald, Helen Seibert, Dessie Flynn.

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18 – JORNADA DO PAVOR (Journey into Fear)
Onde ver (em 13/09/2023) Mídia física: DVD (da Colecione Clássicos). Streaming: Não disponível no Brasil.

Norman Foster está creditado como diretor, mas muito se discute o quanto o próprio Orson Welles dirigiu. Welles faz o papel do chefe de polícia secreta turca, mas o protagonista é Cotten, um americano expert em balística que se vê na mira de assassinos nazistas. O andamento é meio kafkiano, com o personagem meio perdido na trama, sendo levado para lá e para cá por aliados e inimigos. Junto com Welles ou não, Foster segue perto o estilo expressionista de Orson (embora menos ambicioso), com muito jogo de luz e sombra, culminando no clímax sob uma chuva torrencial no parapeito de um hotel.
Estados Unidos. Direção: Norman Foster e Orson Welles (não creditado). Roteiro: Orson Welles e Joseph Cotten, Richard Collins (não creditado) e Ben Hecht (não creditado). Elenco: Joseph Cotten, Dolores Del Rio, Orson Welles, Ruth Warrick, Agnes Moorehead, Everett Sloane.

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17 – O RATO PATRIOTA ou O RATO VAI PARA A GUERRA (The Yankee Doodle Mouse)
Onde ver (em 13/09/2023) Mídia física: Não disponível no Brasil. Streaming: Não disponível no Brasil. Dailymotion: som original.

A série Tom & Jerry ganhou aqui o primeiro de seus sete Oscars de melhor curta de animação, com o gato e o rato fazendo um combate militar de ovos, garrafas de champanhe, fogos de artifício e outros objetos de um porão. Alusão, claro, à II Guerra com uma gag atrás da outra, no tradicional excelente trabalho dos animadores da série.
Estados Unidos. Direção: William Hanna e Joseph Barbera. Roteiro: William Hanna, Joseph Barbera, a partir do argumento de Cal Howard (não creditado). Vozes na dublagem original: William Hanna, Jack Sabel.

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16 – ENTRE A LOURA E A MORENA (The Gang’s All Here)
Onde ver (em 13/09/2023) Mídia física: DVD (da Fox). Streaming: Não disponível no Brasil. YouTube: som original sem legendas, dublado.

A loura é Alice Faye e a morena é nossa Carmen Miranda nessa comédia musical e, ao contrário do que diz o título brasileiro, ninguém fica entre as duas. Alice Faye é uma cantora que se apaixona por um soldado que esconde que já tem uma namorada. Carmen é também uma cantora e dançarina. A coisa converge para um show em uma casa onde todos se encontrarão. Busby Berkeley delira em torno de Carmen, com bananas gigantes. Acostumado a criar caleidoscópios humanos, ele finaliza um filme com um caleidosópio ótico, mesmo.
Estados Unidos. Direção: Busby Berkeley. Roteiro: Walter Bullock, a partir de argumento de Nancy Wintner, George Root Jr. e Tom Bridges. Elenco: Alice Faye, Carmen Miranda, Phil Baker, Benny Goodman, Eugene Pallette, Charlotte Greenwood, Edward Everett Horton, Sheila Ryan.

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15 – VIDA DE NAZISTA ou A FACE DO FÜHRER (Der Füehrer’s Face)
Onde ver (em 13/09/2023) Mídia física: Não disponível no Brasil. Streaming: Não disponível no Brasil. YouTube: som original, com legendas em inglês. Facebook: legendado.

A Disney do esforço de guerra coloca o Pato Donald passando maus bocados como soldado nazista. Lendo Mein Kampf, repetindo palavras de ordem e fabricando armas sempre sob a ponta de outra. É o carisma de Donald contra o de Hitler, ridicularizado diretamente. Oscar de curta de animação ainda em 1943, o único Oscar vencido pelo pato.
Estados Unidos. Direção: Jack Kinney e Ben Sharpsteen (não creditados). Roteiro: Joe Grant e Dick Huemer (não creditados). Vozes na dublagem original: Clarence Nash, Pinto Colvig.

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14 – DIAS DE IRA (Vredens Dag)
Onde ver (em 13/09/2023) Mídia física: DVD (da Magnus Opus, da Versátil e na Coleção Folha Grandes Diretores). Streaming: Não disponível no Brasil. YouTube: legendado.

Onze anos depois do seu filme anterior, Dreyer volta ao tempos das mulheres acusadas de bruxaria para mostrar a jovem esposa de um pastor que se apaixona pelo enteado. Isso enquanto uma idosa passa por um brutal interrogatório com tortura para confessar sua suposta magia negra. Com seu estilo despido de qualquer glamour, o diretor dinamarquês mais uma vez denuncia a opressão que as mulheres sofrem em mãos masculinas.
Dinamarca. Direção: Carl Theodor Dreyer. Roteiro: Carl Theodor Dreyer, Poul Knudsen, Paul La Cour, Mogens Skot-Hansen, baseado em peça de Hans Wiers-Jenssen. Elenco: Lisbeth Movin, Albert Hoeberg, Preben Lerdorff Rye, Anna Svierkier.

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13 – CINCO COVAS NO EGITO (Five Graves to Cairo)
Onde ver (em 13/09/2023) Mídia física: DVD (da Versátil). Streaming: Belas Artes a la Carte.

Billy Wilder fantasia uma história em que um espião inglês se disfarça de garçom em um hotel no norte da África onde está hospedada a companhia militar nazista liderada pelo mítico general Rommel. A campanha da África era um assunto que estava acontecendo naquele momento e o filme usa até imagens reais de combate.
Estados Unidos. Direção: Billy Wilder. Roteiro: Billy Wilder e Charles Brackett, baseado em peça de Lajos Biró. Elenco: Franchot Tone, Anne Baxter, Akim Tamiroff, Erich von Stroheim, Peter van Eyck.

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12 – A MORTA-VIVA (I Walked with a Zombie)
Onde ver (em 13/09/2023) Mídia física: DVD (da Colecione Clássicos). Streaming: Não disponível no Brasil.

Zumbi, nesse caso, é uma mulher em uma espécie de coma, mas que anda como uma sonâmbula. Uma enfermeira vai a essa ilha do Caribe tratar da esposa do dono do lugar em sua condição misteriosa. Entram elementos sobrenaturais do vodu, tudo embalado em uma atmosfera muito bem composta pelo diretor de Sangue de Pantera (1942).
Estados Unidos. Direção: Jacques Tourneur. Roteiro: Curt Siodmak e Ardel Wray, a partir de argumento de Inez Wallace, baseado em romance de Charlotte Brontë. Elenco: Frances Dee, James Ellison, Tom Conway, Edith Barrett, James Bell.

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11 – A MORTE DIRIGE O ESPETÁCULO ou A SENHORA DA FARSA (Lady of Burlesque)
Onde ver (em 13/09/2023) Mídia física: Não disponível no Brasil. Streaming: Não disponível no Brasil. YouTube: som original.

Comédia, música e mistério nos bastidores de um espetáculo de teatro de revista quando uma das integrantes do grupo é assassinada e os demais precisam trabalhar juntos para descobrir o criminoso, antes que ele ataque de novo. O espetáculo burlesco, com seu humor sacana e popular e seus bastidores agitados, é homenageado com carinho. Barbara Stanwyck, em grande fase, canta e dança. A “g-string” do título original do livro da dançarina de strip-tease Gipsy Rose Lee (The G-String Murders) é um tipo de calcinha fio dental usada pelas dançarinas – e a arma do crime.
Estados Unidos. Direção: William A. Wellman. Roteiro: James Gunn, baseado em romance de Gipsy Rose Lee. Elenco: Barbara Stanwyck, Michael O’Shea, J. Edward Bromberg, Iris Adrian, Gloria Dixon.

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10 – UMA CABANA NO CÉU (Cabin in the Sky)
Onde ver (em 13/09/2023) Mídia física: DVD (na caixa Cinema Musical, da Versátil). Streaming: Não disponível no Brasil. Aluguel ou compra digitais: Amazon.

A segregação racial nos Estados Unidos fazia os estúdios evitarem colocar atores negros em papéis relevantes em seus filmes de destaque, para que essas produções não fossem boicotadas nos estados onde o racismo era não apenas forte, mas legalizado. Por isso, grandes artistas só conseguiam bons papéis em produções como esta: um elenco 100% negro, em um filme endereçado a plateias também negras. É a versão de cinema de um musical de sucesso da Broadway, uma fantasia onde um anjo e o filho do demônio disputam a alma de um malandro casado com uma mulher tão boa que tem uma linha direta com Deus. Aqui se pode conferir as espetaculares Ethel Waters e Lena Horne e até Louis Armstrong em um pequeno papel. Minnelli teve aqui sua primeira direção creditada, com Busby Berkeley dirigindo (sem crédito) o número “Shine”.
Estados Unidos. Direção: Vincente Minnelli e Busby Berkeley (não creditado). Roteiro: Joseph Schrank, Marc Connelly (contribuição não creditada), baseado em peça musical de Lynn Root. Elenco: Ethel Waters, Eddie Rochester Anderson, Lena Horne, Louis Armstrong, Rex Ingram, John W. Bubbles, Kenneth Spencer.

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9 – A CANÇÃO DE BERNADETTE (The Song of Bernadette)
Onde ver (em 13/09/2023) Mídia física: DVD (da Fox e da New Line). Streaming: Oldflix, Pluto TV. YouTube: legendado, dublado.

A história de Bernadette, uma jovem simples que teria tido visões da Virgem Maria na França, em 1858. Com uma solenidade típica da época para esse tipo de material, mas muito bem produzido e com uma atuação cativante de Jennifer Jones, ganhando o Oscar de melhor atriz. Mas também foi indicado a filme, direção, ator coadjuvante (Charles Bickford) e atriz coadjuvante (Anne Revere e Gladys Cooper).
Estados Unidos. Direção: Henry King. Roteiro: George Seaton, baseado em romance de Franz Werfel. Elenco: Jennifer Jones, Anne Revere, Gladys Cooper, Roman Bohnen, Vincent Price, Lee J. Cobb, Charles Bickford.

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8 – POR QUEM OS SINOS DOBRAM (For Whom the Bell Tolls)
Onde ver (em 13/09/2023) Mídia física: DVD (da Universal e da Classicline), blu-ray (da Universal). Streaming: Looke, NetMovies. YouTube: som original, com legendas em inglês.

Um americano encontra perigo e romance ao lutar ao lado dos republicanos durante a Guerra Civil Espanhola integrando-se à missão de explodir uma ponte estrategicamente importante. Adaptado do livro de Hemingway em que ele conta uma história meio autobiográfica (ele lutou mesmo nesse conflito). O filme evita entrar em detalhes políticos e reforça o romance fotografado em belo Technicolor (por Ray Rennahan). Ingrid Bergman, de cabelos curtos, teve aqui sua primeira indicação ao Oscar. Katina Paxinou ganhou o Oscar de atriz coadjuvante.
Estados Unidos. Direção: Sam Wood. Roteiro: Dudley Nichols, Louis Bromfield (não creditado) e Jeanie Macpherson (não creditado), baseado em romance de Ernest Hemingway. Elenco: Gary Cooper, Ingrid Bergman, Akim Tamiroff, Arturo de Córdova, Katina Paxinou.

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7 – A ARDENTE CHAPEUZINHO VERMELHO ou A FOGOSA CHAPEUZINHO VERMELHO (Red Hot Riding Hood)
Onde ver (em 13/09/2023) Mídia física: Não disponível no Brasil. Streaming: Não disponível no Brasil. Facebook: dublado.

As cenas do lobo babando e uivando alucinado por uma gostosíssima Chapeuzinho Vermelho que canta num nightclub e tentando desesperadamente se livrar da vovó, que o persegue apaixonadamente, ficaram icônicas. Quantos desenhos animados usaram depois essas referências, como Uma Cilada para Roger Rabbit (1988) e O Máskara (1994)? Ninguém mergulhava tão brilhantemente na histeria animada como Tex Avery. Esse curta e suas continuações chegaram a ser proibidos na TV: acharam provocativo demais. Mas em uma pesquisa com animadores, em 1994, este cartoon foi eleito o sétimo melhor de todos os tempos.
Estados Unidos. Direção: Tex Avery. Roteiro: Rich Hogan (não creditado). Vozes na dublagem original: Pinto Colvig, Sara Berner, Connie Russell, Elvia Allman.

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6 – TEMPESTADE DE RITMO (Stormy Weather)
Onde ver (em 13/09/2023) Mídia física: DVD (da Silver Screen). Streaming: Não disponível no Brasil. YouTube: som original com legendas em inglês.

As idas e vindas no relacionamento de um aspirante a dançarino e uma cantora em ascensão é o pretexto para uma celebração do talento negro no teatro e na música. Bill “Bojangles” Robinson em seu último filme, uma deslumbrante Lena Horne cantando “Stormy weather” para a eternidade, uma rara aprição de Fats Waller no cinema, a dança de Katherine Dunham e ainda aquele número musical histórico com Cab Calloway e os Nicholas Brothers em que os irmãos desafiam a física fazem esse filme reluzir. Foi um dos dois grandes filmes do ano com elenco todo negro, feitos para uma audiência também negra.
Estados Unidos. Direção: Andrew L. Stone. Roteiro: Frederick J. Jackson e Ted Koehler, adaptação de H.S. Kraft, a partir de argumento de Jerry Horwin e Seymour Robinson. Elenco: Lena Horne, Bill Robinson, Dooley Wilson, Cab Calloway, Fats Waller, Ada Brown, Mae E. Johnson, Emmett “Babe” Wallace, Ernest Whitman, Katherine Dunham, The Nicholas Brothers (Fayard Nicholas, Harold Nicholas).

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5 – OBSESSÃO (Osessione)
Onde ver (em 13/09/2023) Mídia física: DVD (da Versátil e da Cinemax) e blu-ray (na caixa Visconti Essencial, da Versátil). Streaming: Não disponível no Brasil. YouTube: som original.

Versão não creditada de O Destino Bate à Sua Porta, que geraria outros grandes filmes. Aqui, é a estreia de Visconti na direção, em um visual árido e sem glamour que identificaria o neo-realismo italiano que estava nascendo. A história de crime e castigo envolvendo adultério e homicídio parece ter sido forte demais para a moral italiana da época: o governo de Mussolini destruiu os negativos do filme, mas, felizmente, o diretor conseguiu salvar uma cópia.
Itália. Direção: Luchino Visconti. Roteiro: Luchino Visconti, Mario Alicata, Giuseppe De Santis e Gianni Puccini, Alberto Moravia (não creditado) e Antonio Pietrangeli (não creditado), baseado em romance de James M. Cain. Elenco: Clara Calamai, Massimo Girotti, Juan de Landa, Dhia Cristiani, Elio Marcuzzo.

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4 – CORONEL BLIMP – VIDA E MORTE (The Life and Death of Colonel Blimp)
Onde ver (em 13/09/2023) Mídia física: DVD (da Silver Screen e na caixa O Cinema de Powell & Pressburger, da Versátil) . Streaming: Não disponível no Brasil. YouTube: som original com legendas em inglês.

Filme teoricamente do esforço de guerra inglês, mas Churchill tentou até proibir porque, na prática, a obra de Powell & Pressburger satiriza um pouco a pomposidade dos oficiais britânicos e traça uma amizade entre um inglês e um alemão através do anos. O protagonista não se chama “Blimp”, trata-se de uma referência que vem dos quadrinhos que já sacaneavam os militares. Deborah Kerr faz três personagens, sósias que encantam o protagonista.
Reino Unido. Direção e roteiro: Michael Powell e Emeric Pressburger. Elenco: Roger Livesey, Deborah Kerr, Anton Walbrook, James McKechnie.

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3 – CONSCIÊNCIAS MORTAS (The Ox-Bow Incident)
Onde ver (em 13/09/2023) Mídia física: DVD (só e na coleção Cinema Faroeste Vol. 8, da Versátil). Streaming: não disponível no Brasil. YouTube: legendadodublado.

Henry Fonda tinha orgulho deste filme, um faroeste psicológico que denunciava os linchamentos. Seu personagem acompanha um grupo que caça três suspeitos de terem matado um fazendeiro local: a intenção não é entregá-los às autoridades, mas enforcá-los. Fonda é o contraponto, é quem vai tentar impedir a barbárie.
Estados Unidos. Direção: William A. Wellman. Roteiro: Lamar Trotti, baseado em romance de Walter Van Tilburg Clark. Elenco: Henry Fonda, Dana Andrews, Anthony Quinn, Jane Darwell, Mary Beth Hughes.

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2 – A SOMBRA DE UMA DÚVIDA (Shadow of a Doubt)
Onde ver (em 13/09/2023) Mídia física: DVD (da Universal e da Classicline), blu-ray (da Universal). Streaming: Looke, NetMovies.

O velho Hitch dizia que este era seu preferido entre seus próprios filmes. O mestre coloca o perigo no seio de uma família absolutamente comum, na pele do simpático Tio Charlie que pode ser um assassino de mulheres. A única que desconfia é a adolescente Charlie, tão próxima do tio que tem o mesmo nome. Como ela vai lidar com essa desconfiança é o grande lance do filme. Com atores carismáticos, uma ótima construção da presença do mal por baixo de uma cidadezinha normal e cenas dirigidas com a maestria do melhor Hitchcock, é um grande clássico.
Estados Unidos. Direção: Alfred Hitchcock. Roteiro: Thornton Wilder, Sally Benson e Alma Reville, a partir de argumento de Gordon McDonell. Elenco: Teresa Wright, Joseph Cotten, Macdonald Carey, Henry Travers, Patricia Collinge, Hume Cronyn.

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1 – CASABLANCA (Casablanca)
Onde ver (em 13/09/2023) Mídia física: DVD, blu-ray (da Warner). Streaming: HBO Max, Now, Oldflix, Oi Play. Aluguel ou compra digitais: Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, Amazon, Microsoft Store.

Um roteiro baseado em uma peça que ninguém montou, reescrito enquanto o filme ia sendo rodado, com protagonistas que não eram os pretendidos originalmente, dirigido por um operário da indústria e não por um “autor”. Tinha tudo para dar errado, mas o resultado é um dos maiores filmes de todos os tempos. Com a II Guerra como pano de fundo, Casablanca coloca frases inesquecíveis de romance e humor na boca tanto de seus personagens principais quanto dos coadjuvantes, orquestra a história de um amor maculado que renasce, mas que “é apenas um monte de feijões” em uma realidade com o destino do mundo em jogo, e tem Bogart e Ingrid Bergman absolutamente icônicos.
Estados Unidos. Direção: Michael Curtiz. Roteiro: Julius J. Epstein, Philip G. Epstein e Howard Koch, Casey Robinson (não creditado), baseado em peça de Murray Burnett e Joan Alison. Elenco: Humphrey Bogart, Ingrid Bergman, Paul Henreid, Claude Rains, Conrad Veidt, Dooley Wilson, Sydney Greenstreet, Peter Lorre, S.Z. Sakall, Madeleine Lebeau.

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EDIÇÃO (em 5/10/2023): Coronel Blimp – Vida e Morte sobe de 10º para 4º. Uma Cabana no Céu passa de 8º para 10º.

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OUTRAS LISTAS DE MELHORES:

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NOTA: A percepção sobre os filmes mudam com o tempo. Esta é a minha percepção agora, limitada ao que vi, naturalmente — esta lista pode mudar à medida em que for revisitando alguns filmes ou assistir a outros que ainda não conheço deste ano específico.

20 – ROMANCE NA ITÁLIA ou VIAGEM À ITÁLIA (Viaggio in Italia)
Mídia física: DVD, em edições da Versátil, Cinemax e Silver Screen. Streaming: Filmbox Plus. YouTube: legendado.

Terceiro longa da parceria cinematográfico-romântica entre Ingrid Bergman e o diretor Roberto Rossellini (descontado o segmento em Nós, as Mulheres), é o filme que tem aparecido do cineasta na lista dos 100 melhores da Sight and Sound. Aqui ele deixa um pouco de lado o neorrealismo, centrando o foco no casal britânico na Itália, com passeios por museus e ruínas que representam a desagregação desse casamento. O final pouco inspirado não chega a arranhar seriamente o filme.
Itália/ França. Direção: Roberto Rossellini. Roteiro: Vitaliano Brancati e Roberto Rossellini, com colaboração de Antonio Pietrangeli, baseado em romance de Collette. Elenco: Ingrid Bergman, George Sanders, Maria Mauban, Anna Proclemer.

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19 – GUERRA DOS MUNDOS (The War of the Worlds)
Mídia física: DVD, em edições da Obras-Primas e da Paramount. Streaming: Não disponível no Brasil. Aluguel ou compra digitais: Apple TV/ iTunes, Amazon, Microsoft Store.

Muitos foram os filmes sobre invasões alienígenas nos anos 1950, muitos ecoando a paranoia anticomunista da guerra fria. Essa adaptação do livro clássico de H.G. Wells vai menos nisso e conta a chegada dos extraterrestres como um terror mais global, com a ambientação atualizada e efeitos especiais que ganharam o Oscar. É um marco do gênero.
Estados Unidos. Direção: Byron Haskin. Roteiro: Barré Lyndon, baseado em romance de H.G. Wells. Elenco: Gene Barry, Ann Robinson, Les Tremayne, Robert Cornthwaite, Cedric Hardwicke (narração).

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18 – PETER PAN ou AS AVENTURAS DE PETER PAN (Peter Pan)
Mídia física: DVD, blu-ray, da Disney. Streaming: Disney Plus.

Ainda a versão mais conhecida do garoto que não queria crescer e que enfrenta o Capitão Gancho na Terra do Nunca. Animação no estilo mais clássico da Disney, ótimas canções, personagens cativantes e o sublime momento da viagem mágica das crianças à Terra do Nunca. No centro de tudo, a questão do crescer, representada em Wendy, a mocinha que quer resistir ao tempo, mas que tem se comportar como mãe dos Garotos Perdidos.
Estados Unidos. Direção: Clyde Geronimi, Wilfred Jackson e Hamlton Luske, e, não creditado, Jack Kinney. Roteiro: Ted Sears, Erdman Penner, Bill Peet, Winston Hibler, Joe Rinaldi, Milt Banta, Ralph Wright, William Cottrell   e, não creditado, Don Christensen, baseado em peça de J.M. Barrie. Vozes na dublagem original: Bobby Driscoll, Kathryn Beaumont, Hans Conried, Bill Thompson. Vozes na dublagem brasileira: Lauro Fabiano, Therezinha, Aloysio de Oliveira, Orlando Drummond.

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17 – O PREÇO DE UM HOMEM (The Naked Spur)
Mídia física: DVD (na coleção Cinema Faroeste – Vol. 11, da Versátil). Streaming: Não disponível no Brasil.

Terceiro faroeste da colaboração entre James Stewart e o diretor Anthony Mann. Jimmy é um personagem amargurado e obsessivo, tentando levar um assassino à Justiça para receber a recompensa. Mas as contingências o fazem ter que aceitar dois parceiros, aumentando a tensão dessa viagem. São apenas cinco atores, numa trama simples e direta, narrada com a perícia costumeira de Mann.
Estados Unidos. Direção: Anthony Mann. Roteiro: Sam Rolfe e Harold Jack Bloom. Elenco: James Stewart, Janet Leigh, Robert Ryan, Ralph Meeker, Millard Mitchell.

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16 – DUCK DODGERS NO SÉCULO 24½ (Duck Dodgers in the 24½th Century)
Mídia física: DVD (em Coleção Looney Tunes – Aventuras com Patolino e Gaguinho, da Warner). Streaming: HBO Max. Dailymotion: dublado.

Com um visual futurista antológico, este curta da Warner levou o Patolino ao futuro para “interpretar” um herói espacial vagamente inspirado por Buck Rogers. Em parceria com o Gaguinho, ele ruma para o Planeta X para tomar posse antes que, Marvin, o Marciano, o faça. O filme é um ponto alto na série com o pato em outros cenários e parodiando outros personagens famosos, como Sherlock Holmes ou Robin Hood.
Estados Unidos. Direção: Chuck Jones. Roteiro: Michael Maltese. Voz na dublagem original: Mel Blanc.

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15 – INFERNO Nº17 (Stalag 17)
Mídia física: DVD, da Paramount. Streaming: Não disponível no Brasil. YouTube: legendado.

Num campo de prisioneiros, a morte de dois americanos que tentavam fugir acende a desconfiança entre os cativos: quem é o traidor entre eles, passando o serviço para os alemães? William Holden ganhou o Oscar de melhor ator com um personagem antipático, o diretor Otto Preminger comparece como ator e Billy Wilder conseguiu um grande sucesso do público unindo comédia, drama e suspense.
Estados Unidos. Direção: Billy Wilder. Roteiro: Billy Wilder e Edwin Blum, baseado na peça de Donald Bevan e Edmund Trzcinski. Elenco: William Holden, Don Taylor, Otto Preminger, Robert Strauss, Peter Graves.

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14 – ANJO DO MAL (Pickup on South Street)
Mídia física: DVD (na coleção Filme Noir – Vol. 1, da Versátil). Streaming: Não disponível no Brasil. YouTube: legendado.

Um noir já no espírito da guerra fria, o filme escrito e dirigido por Samuel Fuller coloca um batedor de carteiras no meio de uma trama de espionagem quando toma posse de um microfilme importante. Começa aí um jogo de pressão e negociação. Fuller é o durão de sempre, menos no que diz respeito à personagem da monumental Thelma Ritter, merecedora da compaixão do diretor.
Estados Unidos. Direção: Samuel Fuller. Roteiro: Samuel Fuller, a partir do argumento de Dwight Taylor. Elenco: Richard Widmark, Jean Peters, Thelma Ritter, Murvyn Vye.

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13 – O CANGACEIRO
Mídia física: DVD, da Versátil. Streaming: Não disponível no Brasil. YouTube: som original.

Primeiro sucesso internacional do cinema brasileiro, foi o cartão de visitas da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, a partir da vistosa abertura ao som de “Mulher rendeira”. Bebendo na fonte do faroeste americano, ganhou o prêmio de filme de aventura em Cannes (naquele ano, filmes foram premiados também por gênero). É super melodramática a história do cangaceiro que entra em conflito com o chefe para proteger uma professorinha, mas um dos grandes filmes míticos nacionais.
Brasil. Direção: Lima Barreto. Roteiro: Lima Barreto, com diálogos de Rachel de Queiroz. Elenco: Alberto Ruschel, Marisa Prado, Milton Ribeiro, Vanja Orico, Adoniran Barbosa, Zé do Norte.

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12 – MÔNICA E O DESEJO ou MONIKA E O DESEJO (Sommaren med Monika)
Mídia física: DVD, da Versátil. Streaming: Belas Artes a la Carte. YouTube: legendado.

Antes das narrativas mais densas, psicológicas ou místicas de O Sétimo Selo (1957), Morangos Silvestres (1957), O Silêncio (1962) ou Persona (1966), Ingmar Bergman fazia abordagens mais diretas como este “Mônica e o Desejo”, que completa 70 anos este ano. A trama é de um jovem casal de namorados que foge da vida sacrificada para um idílio de verão em uma ilha. Os dois resolvem simplesmente viver juntos longe de tudo, mas a realidade depois se impõe e uma série de dificuldades vão testar o relacionamento. O filme fez muito barulho no lançamento nos Estados Unidos por causa de uma cena de nudez (de costas) de Harriet Andersson, além de outros momentos insinuantes. O atrito entre a busca por liberdade (inclusive sexual) e a opressão da sociedade e suas regras é tratado em uma narrativa fácil de acompanhar.
Suécia. Direção: Ingmar Bergman. Roteiro: Per Anders Fogelström e, não creditado, Ingmar Bergman, baseado no romance de Fogelström. Elenco: Harriet Andersson, Lars Ekborg, Dagmar Ebbesen, Ake Fridell.

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11 – OS HOMENS PREFEREM AS LOIRAS (Gentlemen Prefer Blondes)
Mídia física: DVD, blu-ray, da Fox. Streaming: Star Plus.

“Diamonds are a girl’s best friend” é uma das grandes imagens do cinema, e Marilyn Monroe ainda era o segundo nome nos créditos, mas sairia deste filmes como estrela absoluta. Howard Hawks dirige uma comédia musical com duas mulheres se virando em um mundo masculino, em busca de um marido rico ou de sexo (mas se tiver um pouco de romance, melhor). Jane Russell faz um tipo mais cínico, enquanto Marilyn consagrava seu tipo que misturava inocência e sex appeal.
Estados Unidos. Direção: Howard Hawks. Roteiro: Charles Lederer, baseado no musical de Joseph Fields e Anita Loos. Elenco: Jane Russell, Marilyn Monroe, Charles Coburn, Elliott Reid, Tommy Noonan.

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10 – A UM PASSO DA ETERNIDADE (From Here to Eternity)
Mídia física: DVD, blu-ray, da Sony. Streaming: Não disponível no Brasil. Aluguel ou compra digitais: Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, Amazon.

Os dramas numa base militar americana, a partir do soldado que é pressionado a lutar boxe por seu pelotão, levando a conflitos cada vez mais violentos. Por outro lado, o filme ficou marcado pela cena intensa e então controversa de beijo entre Burt Lancaster e Deborah Kerr, os dois rolando na areia da praia. Mas essa base é Pearl Harbor, às vésperas do ataque japonês na II Guerra Mundial. Vencedor de 8 Oscars, incluindo melhor filme, direção e um prêmio de ator coadjuvante para Frank Sinatra que reergueu a carreira do ator-cantor.
Estados Unidos. Direção: Fred Zinnemann. Roteiro: Daniel Taradash, baseado no romance de James Jones. Elenco: Burt Lancaster, Montgomery Clift, Deborah Kerr, Donna Reed, Frank Sinatra, Philip Ober, Ernest Borgnine, Jack Warden, George Reeves.

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9 – PATO FURIOSO (Duck Amuck)
Mídia física: DVD (na Coleção Looney Tunes – Aventuras com Patolino e Gaguinho, da Warner). Streaming: HBO Max. Vimeo: som original, dublado.

Patolino enfrenta uma batalha contra seu animador, que o apaga e o redesenha como quer. Obra-prima que ignora completamente a quarta parede e é um tour de force do personagem, que atua praticamente sozinho o tempo todo, sendo levado ao limite do desespero. E a maneira como brinca com a imagem e o som é bárbara. Não por acaso frequenta listas de melhores cartoons de todos os tempos.
Estados Unidos. Direção: Chuck Jones. Roteiro: Michael Maltese, com diálogos de Ben Wansham (não creditado). Voz na dublagem original: Mel Blanc.

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8 – OS CORRUPTOS (The Big Heat)
Mídia física: DVD (solo, da Columbia, e na coleção Filme Noir – Vol. 2, da Versátil). Streaming: Belas Artes a la Carte, Looke, NetMovies.

O emblemático filme noir de Fritz Lang traz elementos narrativos que depois se tornaram clichês no gênero policial: Glenn Ford encara sozinho barões do crime de sua cidade, contrasta a brutalidade do trabalho com uma vida familiar tranquila, mistura justiça com vingança, tem que entregar distintivo e arma aos superiores quando insiste em investigar as coisas do seu jeito. Em um de seus primeiros papéis de destaque, Lee Marvin mostra a que veio e se põe à altura de Glenn Ford e da insinuante Gloria Grahame.
Estados Unidos. Direção: Fritz Lang. Roteiro: Sidney Boehm, baseado em história seriada de William P. McGivern. Elenco: Glenn Ford, Gloria Grahame, Jocelyn Brando, Alexander Scourby, Lee Marvin, Jeanette Nolan, Carolyn Jones.

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7 – AS FÉRIAS DO SR. HULOT (Les Vacances de Monsieur Hulot)
Mídia física: DVD (solo, em edições da Obras-Primas e da Cult Classic, e na caixa A Obra Completa de Jacques Tati, da Obras-Primas). Streaming: Não disponível no Brasil. YouTube: legendado.

A estreia do personagem Sr. Hulot, um sujeito simpático e desengonçado que tem dificuldades para lidar com as praticidades do mundo. O cenário aqui é um balneário para onde muita gente vai em dias de verão, em um desfile de esquetes e situações, sem uma grande história central e praticamente sem diálogos. Eles só atrapalhariam o humor puramente visual de Jacques Tati.

Crítica de As Férias do Sr. Hulot:
Dispensando as palavras

França. Direção: Jacques Tati. Roteiro: Jacques Tati e Henri Marquet, com colaboração de Pierre Aubert e Jacques Lagrange. Elenco: Jacques Tati, Nathalie Pascaud, Micheline Rolla, Valentine Camax.

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6 – CONTOS DA LUA VAGA (Ugetsu Monogatari)
Mídia física: DVD (edição solo, da Lume, ou no digistack O Cinema de Mizoguchi, da Versátil). Streaming: Belas Artes a la Carte, Oldflix, Filmebox Plus. YouTube: som original, com legendas em inglês.

Dos anos em que o Ocidente estava descobrindo o cinema japonês, Contos da Lua Vaga, que completa 70 anos este ano, foi um dos seis vencedores do Leão de Prata no Festival de Veneza (não teve Leão de Ouro naquele ano) transportando o espectador para o Japão do século XVI para testemunhar uma trama de drama e amor em meio a uma guerra civil. Dois irmãos são obcecados por suas ambições e , por causa disso, põem em risco suas famílias. Um deixa a esposa para trás para tentar virar um samurai. Outro também relega a esposa enquanto quer vender mais de suas cerâmicas, se arriscando a ser capturado por um grupo inimigo ou por uma mulher misteriosa. Sedução, mistério e tragédia, além de um toque sobrenatural, estão entrelaçadas na narrativa de Mizoguchi, em um de seus últimos filmes – o cineasta morreu três anos depois.
Japão. Direção: Kenji Mizoguchi. Roteiro: Matsutarô Kawaguchi e Yoshikata Yoda, com diálogos de Isamu Yoshii, baseado em ideia de Hisakazu Tsuji e em contos de Akinari Ueda. Elenco: Masayuki Mori, Kinuyo Tanaka, Mitsuko Mito, Eitaro Ozawa, Machilko Kyo.

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5 – O SALÁRIO DO MEDO (Le Salaire de la Peur)
Mídia física: DVD, da New Line. Streaming: Não disponível no Brasil.

Um dos grandes clássicos do suspense mostra dois caminhões carregados de nitroglicerina atravessando uma estrada na América Latina, onde cada buraco na pista pode causar uma grande explosão que fará veículo e motoristas em pedaços. Depois de uma longa introdução em um vilarejo miserável, onde são apresentados os personagens, tão desesperados que aceitam a missão suicida em troca de uma bolada, vem a viagem, com tensão do início ao fim.
França/ Itália. Direção: Henri-Georges Clouzot. Roteiro: Henri-Georges Clouzot e Jérôme Géronimi, baseado no romance de Georges Arnaud. Elenco: Yves Montand, Charles Vanel, Folco Lulli, Peter van Eyck, Véra Clouzot.

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4 – A PRINCESA E O PLEBEU (Roman Holiday)
Mídia física: DVD, da Paramount. Streaming: Belas Artes a la Carte. Aluguel ou compra digitais: Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, Amazon, Microsoft Store.

Gregory Peck insistiu para que o nome da iniciante Audrey Hepburn ocupasse um lugar ao lado do seu em destaque nos cartazes. Disse que não queria fazer papel de bobo com seu nome sozinho em destaque quando ela é que seria a verdadeira estrela do filme. O astro não se enganou: a história da princesa que, em visita oficial a Roma, foge dos chatos afazeres diplomáticos para viver um dia de garota comum na cidade deu o Oscar de melhor atriz a Audrey e fez dela estrela de primeira grandeza. A belíssima comédia romântica tira proveito das locações (na época ainda era raro Hollywood filmar em outros países) e William Wyler equilibra humor, romance, graça, um ar jovial, aproveita improvisos e um dramático e belo final.
Estados Unidos. Direção: William Wyler. Roteiro: Dalton Trumbo, Ian McLellan Hunter e John Dighton, a partir de argumento de Trumbo e Hunter. Elenco: Audrey Hepburn, Gregory Peck, Eddie Albert, Hartley Power.

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3 – A RODA DA FORTUNA (The Band Wagon)
Mídia física: DVD (edições da Warner e da Classicline). Streaming: Looke, NetMovies. Aluguel ou compra digitais: Apple TV/ iTunes.

O que Cantando na Chuva é para o cinema, A Roda da Fortuna é para o teatro. Os mesmos roteiristas criam a história do astro veterano dos musicais que é convidado para um espetáculo na Broadway. Mas um celebrado diretor pega esse espetáculo despretensioso para transformá-lo numa versão de Fausto. Cyd Charisse é a bailarina clássica também chamada para o show. Fazer essa colcha de retalhos funcionar, driblando as vaidades de todo mundo, é o desafio do grupo. Muito engraçado, com a direção brilhante de Minnelli, grandes canções e números espetaculares coreografados por Michael Kidd, como “Dancing in the dark”, dueto romântico no Central Park, e o clímax que parodia os romances policiais. Um grande catálogo dos talentos de todos os envolvidos, liderados por um Fred Astaire genial e até experimentando coisas novas na coreografia.
Estados Unidos. Direção: Vincente Minnelli. Roteiro: Betty Comden e Adolph Green, com colaboração Norman Corwin e Alan Jay Lerner. Elenco: Fred Astaire, Cyd Charisse, Oscar Levant, Nanette Fabray, Jack Buchanan, Ava Gardner.

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2 – OS BRUTOS TAMBÉM AMAM (Shane)
Mídia física: DVD, blu-ray (da Paramount). Streaming: Globoplay/ Telecine, Oi Play.

Western seminal em que um homem chega do nada e ajuda uma família de lavradores contra poderosos pecuaristas que tentam expulsá-los. Shane tem um passado que tenta esquecer, se apaixona pela família, desperta a admiração de um garoto. Mas é empurrado de volta para a violência. Tiros são mostrados com som aumentado para realçar a força e também como ponto de vista do menino. Do personagem principal, pode-se apenas imaginar sobre o que viveu, o que talvez sinta pela esposa do amigo e a brutalidade fez a ele, tudo levando àquele final comovente.
Estados Unidos. Direção: George Stevens. Roteiro: A.B. Guthrie Jr., com diálogos adicionais de Jack Sher, baseado no romance de Jack Schaefer. Elenco: Alan Ladd, Van Heflin, Jack Warden, Brandon De Wilde, Jack Palance, Ben Johnson, Elisha Cook Jr.

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1 – ERA UMA VEZ EM TÓQUIO ou VIAGEM A TÓQUIO (Tokyo Monogatari)
Mídia física: DVD (no digistack O Cinema de Ozu – Vol. 1, da Versátil). Streaming: Belas Artes a la Carte, FilmBox Plus. YouTube: legendado.

O rigor narrativo e estético do japonês Ozu está mais uma vez a serviço de um drama familiar. Acompanhamos um casal idoso, que viaja a Tóquio para rever os filhos. Mas os filhos acabam não dando tanta atenção aos pais, que recebem um pouco mais de carinho da nora viúva. A câmera baixa, quase sem movimentos, os planos e contraplanos com personagens falando diretamente para a câmera, os planos de corredor e de paisagem, o tom sereno da consciência de que a vida inexoravelmente segue em frente. São emoções profundas contadas de uma maneira minimalista, em um filme sempre citado entre os melhores de todos os tempos.
Japão. Direção: Yasujiro Ozu. Roteiro: Kogo Noda e Yasujiro Ozu. Elenco: Chishu Ryu, Chieko Higashiyama, Setsuko Hara, Haruko Sugimura, So Yamamura, Kuniko Miyake, Kyoko Kagawa.

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OUTRAS LISTAS DE MELHORES:

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NOTA: A percepção sobre os filmes mudam com o tempo. Esta é a minha percepção agora, limitada ao que vi, naturalmente — esta lista pode mudar à medida em que for revisitando alguns filmes ou assistir a outros que ainda não conheço deste ano específico.

Não é nenhuma novidade que a comédia costuma ser menosprezada pela crítica profissional. Fazer rir muitas vezes é considerado “pouco importante”, a habilidade narrativa da comédia é pouco analisada e, paralelamente, os prêmios também não dão atenção a filmes ou atores nesse gênero. A nova lista da revista Sight and Sound, divulgada na quinta, mostra isso de maneira chocante: dos 100 melhores filmes apontados como os melhores do mundo na votação com 1.639 críticos de todo o planeta, míseros oito são comédias.

São eles: Cantando na Chuva (1952, em 10° na lista), Playtime – Tempo de Diversão (1967, 23º), Luzes da Cidade (1931, 36°), Quanto Mais Quente Melhor (1959, 38°, foto acima), Se Meu Apartamento Falasse (1960, 54°), Bancando o Águia (1924, 54°), Tempos Modernos (1936, 78°), A General (1928, 95°). Dois de Chaplin, dois de Buster Keaton, dois de Billy Wilder, um de Jacques Tati e o musical de Gene Kelly e Stanley Donen. Metade vindo lá do cinema mudo.

Não é uma novidade. É praticamente o mesmo número da lista anterior, de 2012, com apenas um a mais: mesmos filmes, apenas com o acréscimo de Se Meu Apartamento Falasse.

Mestres como Woody Allen, os irmãos Marx, Ernst Lubitsch, Preston Sturges, Howard Hawks, o grupo Monty Python, entre outros, foram todos sumariamente escanteados pelos críticos.

Na lista paralela dos melhores segundo os diretores (480 votaram), a coisa é ainda pior. Só seis comédias conseguiram lugar entre os 100, nenhuma entre os 40 primeiros: Playtime – Tempo de Diversão (41º), Luzes da Cidade (46º), Doutor Fantástico (1964, 46º), Cantando na Chuva (53º), Quanto Mais Quente Melhor (62º), Tempos Modernos (72º).

Em 2012, foram: Tempos Modernos (22º), Luzes da Cidade (30º), Quanto Mais Quente Melhor (37º), Playtime – Tempo de Diversão (37º), Se Meu Apartamento Falasse (44º), Cantando na Chuva (67º), A General (75º), Em Busca do Ouro (1925, 91º). Oito filmes. O número, que já era mínimo, ainda diminuiu em 2022.

Filmes como O Diabo a Quatro (1933), Levada da Breca (1938), Ninotchka (1939), A Roda da Fortuna (1953), Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977), Monty Python em Busca do Cálice Sagrado (1975), Um Convidado Bem Trapalhão (1968), Meu Tio (1958) ou Apertem os Cintos! O Piloto Sumiu… (1980) podem até ser encarados com simpatia pela crítica e pelos cineastas, mas na hora de serem realmente valorizados, são sempre preteridos por dramas. Pra ser bom de verdade, nada de “brincadeira”, o filme tem que ser “sério”, ser sério supostamente é ser “profundo”. Estamos em 2022, é incrível que essa seja uma máxima ainda em voga, mas a lista não deixa dúvida quanto a isso.

Não admira que Jeanne Dielman, um filme de quase 3h30 de duração sobre o tédio, seja o filme que alcançou o primeiro lugar este ano.

EDIÇÃO (05/12/2022): A versão anterior deste texto continha um erro: dizia que eram sete as comédias na lista de 2002, faltando incluir Playtime. A informação foi corrigida.

20 – NOSSO BARCO, NOSSA ALMA (In Which We Serve)
Mídia física: DVD (da LW Editora e na caixa O Cinema de David Lean, da Versátil). Streaming: não disponível no Brasil. YouTube: som original.

O dramaturgo Noël Coward entrou no esforço de guerra britânico escrevendo, atuando e co-dirigindo “a história de um barco”. Coward chamou David Lean para ajudá-lo, no que foi o primeiro crédito como diretor do até então montador. O drama engajado se afasta das comédias soficisticadas de Coward.
Reino Unido. Direção: Noël Coward e David Lean. Roteiro: Noël Coward. Elenco: Noël Coward, John Mills, Bernard Miles, Celia Johnson, Kay Walsh, Richard Attenborough, Leslie Howard (narração).

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19 – VENDAVAL DE PAIXÕES (Reap the Wild Wind)
Mídia física: DVD. Streaming: não disponível no Brasil. YouTube: legendado.

Ambientado no século XIX, junta a aventura da navegação por uma rota comercial marítima na costa dos Estados Unidos com um triângulo amoroso entre Paulette Goddard, Ray Milland e John Wayne (ainda a caminho do astro que viria a ser. Paulette faz a mocinha entre as tradições e a aventura e o clímax é uma luta submarina contra um polvo gigante.
Estados Unidos. Direção: Cecil B. DeMille. Roteiro: Alan Le May, Charles Bennett e Jesse Lasky Jr., com contribuição de Jeanie Macpherson, baseado em uma história de Thelma Strabel. Elenco: Ray Milland, John Wayne, Paulette Goddard, Raymond Massey, Robert Preston, Susan Hayward, Hedda Hopper.

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18 – VIDA CACHORRA (Dog Trouble)
Mídia física e streaming: não disponível no Brasil. Dailymotion: som original, sem legendas.

Quando sua perseguição eterna arruma problemas com um cachorrão. Tom & Jerry deixam suas diferenças de lado e se unem para se livrar dele. É a primeira vez que os adversários se unem, em uma animação carismática e movimentada.
Estados Unidos. Direção: Joseph Barbera e Wiliam Hanna, com Rudolph Ising (não creditado) e Michael Lah (não creditado). Roteiro: Cal Howard (não creditado). Voz na dublagem original: Lillian Randolph.

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17 – IDÍLIO EM DÓ-RÉ-MI (For Me and My Gal)
Mídia física: DVD. Streaming: não disponível no Brasil.

Judy Garland pela primeira vez em um papel adulto e Gene Kelly estreando no cinema já garantiriam o interesse. Os dois mostram uma forte química juntos desde o começo, num filme que celebra a memória do vaudeville e fala da I Guerra Mundial para referenciar a II.
Estados Unidos. Direção: Busby Berkeley. Roteiro: Richard Sherman, Fred F. Finklehoffe e Sid Silvers, de argumento de Howard Emmett Rogers. Elenco: Judy Garland, Gene Kelly, George Murphy, Martha Eggerth, Ben Blue.

Crítica de Idílio em Dó-Ré-Mi:
No palco da guerra

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16 – COMO JOGAR BEISEBOL (How to Play Baseball)
Mídia física e streaming: não disponível no Brasil. Dailymotion: som original, sem legendas.

Uma ideia genial dos animadores da Disney: a série de curtas “educativos” estrelados não só pelo Pateta, mas por vários patetas. O personagem sustenta sozinho episódios como este, em que satiriza diversos aspectos do beisebol, com a excelência da animação Disney.
Estados Unidos. Direção: Jack Kinney. Roteiro: Dick Kinney e Sylvia Moberly-Holland. Narração na dublagem original: Fred Shields.

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15 – A CANÇÃO DA VITÓRIA (Yankee Doodle Dandy)
Midia física: DVD. Streaming: não disponível no Brasil. Aluguel ou compra digitais: Amazon.

James Cagney ganhou o Oscar de melhor ator com seu retrato do dramaturgo, ator, cantor, dançarino e compositor George M. Cohan, de extremo sucesso na Broadway no começo do século XX com produções espalhafatosamente patrióticas. O musical da Warner se esforça para reproduzir os números musicais e embala tudo no espírito do esforço de guerra.
Estados Unidos. Direção: Michael Curtiz. Roteiro: Robert Buckner e Edmund Joseph, com contribuição não creditada de Julius J. Epstein e Philip G. Epstein. Elenco: James Cagney, Joan Leslie, Walter Houston, Rosemary DeCamp, S.Z. Sakall.

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14 – HORA DA SINFONIA (Symphony Hour)
Mídia física: DVD (em Disney Treasures Mickey Mouse em Cores Vivas: Volume 2). Streaming: não disponível no Brasil. Dailymotion: som original, sem legendas.

Maestro, Mickey comanda seus amigos em uma orquestra, mas todos têm seus instrumentos em cacos por causa de uma trapalhada do Pateta. O resultado é uma sinfonia de sons dissonantes, mas com notas altas no sofrimento do regente, na fúria do patrocinador Bafo e no Pato Donald, engraçadíssimo ao procurar emprego enquanto a desastrosa apresentação ainda está acontecendo. Comédia da melhor qualidade.
Estados Unidos. Direção: Riley Thomson (não creditado). Roteiro: Davm. Elenco: Walt Disney, Billy Bletcher, Pinto Colvig, Clarence Nash.

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13 – MULHER DE VERDADE (The Palm Beach Story)
Mídia física: DVD. Streaming: não disponível no Brasil. YouTube: legendado.

Comédia maluca que não nega o nome. Um casal que se ama está à beira do divórcio por causa da falta de dinheiro. Assim, a esposa pretende se separar, casar com algum ricaço e aí financiar o projeto do então marido inventor. Nada faz muito sentido, mas é muito engraçado.
Estados Unidos. Direção e roteiro: Preston Sturges. Elenco: Claudette Colbert, Joel McCrea, Rudy Vallee, Mary Astor.

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12 – ALÔ, AMIGOS (Saludos, Amigos)
Mídia física: DVD. Streaming: Disney Plus.

Na política da boa vizinhança dos EUA com a América Latina, a Disney buscou fazer um afago nos vizinhos do sul, com uma mistura de documentário com animação. Entre as cenas que mostram a viagem dos animadores do estúdio aos países da América do Sul, curtas que teriam sido inspirados nessa visita. O principal deles, que fecha o média-metragem é o exuberante “Aquarela do Brasil”, com a estreia nas telas do Zé Carioca sendo o anfitrião do Pato Donald no país, mostrando as belezas naturais, o samba, os cassinos e até uma cachacinha.
Estados Unidos. Direção: Norman Ferguson (supervisor, não creditado), Wilfred Jackson, Jack Kinney, Hamilton Luske, Bill Roberts. Roteiro: Homer Brightman, Ralph Wright, Roy Williams, Harry Reeves, Dick Huemer e Joe Grant. Vozes na dublagem original: Clarence Nash, José Oliveira, Pinto Calvig, Fred Shields (narração).

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11 – SOBERBA (The Magnificent Ambersons)
Mídia física: DVD. Streaming: Belas Artes a la Carte, Looke, NetMovies.

Depois de Cidadão Kane, o segundo filme de Orson Welles foi uma produção empolada, sobre os fantasmas vivos de uma família decadente. Uma obra sombria, em tom bem distante da vivacidade de Kane. Com Welles filmando no Brasil, a RKO sequestrou o filme, cortou mais de 40 minutos, destruiu o que retirou da metragem original e filmou um novo final, mais otimista. Os cinéfilos ainda esperam um dia que alguém encontre uma cópia original que tenha sobrevivido. Por enquanto o filme mantém boa parte do espírito original: a narração radiofônica e literária, mas os planos-sequência, a atmosfera expressionista.
Estados Unidos. Direção: Orson Welles. Roteiro: Orson Welles, baseado no romance de Booth Tarkington. Elenco: Joseph Cotten, Dolores Costello, Tim Holt, Anne Baxter, Agnes Moorehead, Orson Welles (narração).

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10 – A INCRÍVEL SUZANA (The Major and the Minor)
Mídia física: DVD. Streaming: não disponível no Brasil.

A estreia de Billy Wilder como diretor tem Ginger Rogers se passando por criança para conseguir uma passagem mais barata de trem, mas isso gera uma crescente confusão. Ginger sempre mostrou ser boa de comédia, e aqui ainda tinha as falas rápidas de Wilder e Brackett.
Estados Unidos. Direção: Billy Wilder. Roteiro: Charles Brackett e Billy Wilder, com argumento de Fanny Gilmore, sugerido pela peça de Edward Childs Carpenter. Elenco: Ginger Rogers, Ray Milland, Rita Johnson, Robert Benchley.

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9 – BAMBI (Bambi)
Mídia física: DVD, blu-ray. Streaming: Disney Plus. YouTube: dublado.

O visualmente deslumbrante ciclo de crescimento do pequeno cervo foi a última grande produção da Disney até 1950 – o estúdio passou a lançar longas formados por conjuntos de curtas durante a II Guerra. O filme vai do encantamento da descoberta do mundo até a morte da mãe, um dos grandes momentos trágicos do cinema. O Homem foi eleito um dos maiores vilões do cinema americano pelo American Film Institute.
Estados Unidos. Direção: James Algar, Samuel Armstrong, David Hand, Graham Held, Bill Roberts, Paul Satterfield, Norman Wright, Arthur Davis, Clyde Geronimi. Roteiro: Perce Pearce (direção de história), Larry Morey (adaptação) e, no desenvolvimento de história, Vernon Stallings, Mel Shaw, Carl Fallberg, Chuck Couch, Ralph Wright, baseado em conto de Felix Salten. Vozes na dublagem original: Donnie Dunagan, Albright, John Sutherland, Paula Winslowe, Peter Behn. Vozes na dublagem brasileira de 1942: Pery Ribeiro, Oscar Nobre, Almirante. Vozes na dublagem brasileira de 1993: Peterson Adriano, José Leonardo, Juraciára Diácovo, Nizo Neto.

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8 – SABOTADOR (Saboteur)
Mídia física: DVD, blu-ray. Streaming: não disponível no Brasil.

Aquele tema caro a Hitch: sujeito é acusado injustamente (aqui, de ser um sabotador) e foge pelo país tentando provar sua inocência. O mestre do suspense num modo mais aventura, culminando pela grande sequência no alto da Estátua da Liberdade.
Estados Unidos. Direção: Alfred Hitchcock. Roteiro: Peter Viertel, Joan Harrison e Dorothy Parker, a partir de argumento de Alfred Hitchcock (não creditado). Elenco: Robert Cummings, Priscilla Lane, Otto Kruger, Norman Lloyd.

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7 – BONITA COMO NUNCA (You Were Never Lovelier)
Mídia fisica: DVD, Streaming: HBO Max.

“The Shorty George”, tão maravilhoso quanto simples número, hoje é editado pelo YouTube com várias outras músicas. Sobretudo mostra a química extraordinária entre Fred Astaire e Rita Hayworth neste segundo, último e melhor filme que fizeram juntos. “I’m old fashioned” é outro momento mágico do filme, que se passa em Buenos Aires.
Estados Unidos. Direção: William A. Seiter. Roteiro: Michael Fessier, Ernest Pagano e Delmer Daves, a partir de argumento de Carlos A. Olivari e Sixto Pondal Ríos. Elenco: Fred Astaire, Rita Hayworth, Adolphe Menjou, Isobel Elsom, Xavier Cugat.

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6 – A ESTRANHA PASSAGEIRA (Now, Voyager)
Onde ver: DVD. Streaming: não disponível no Brasil.

Bette Davis chegou à sua quinta indicação ao Oscar de melhor atriz em cinco anos (sétima no total, dois prêmios). Com um diretor mais amigável, ela estava livre para dar suas opiniões sobre sua atuação e sua caracterização – como sua versão feia e desarrumada do começo da história. Bette é uma solteirona retraída dominada pela mãe opressiva à beira de um colapso nervoso que passa por um tratamento cujo passo decisivo é uma viagem de navio para socializar. Numa escala no Rio, surge a paixão por um homem casado e o desabrochar de uma mulher forte e segura.
Estados Unidos. Direção: Irving Rapper. Roteiro: Casey Robinson, baseado em romance de Olive Higgins Proudy. Elenco: Bette Davis, Paul Henreid, Claude Rains, Gladys Cooper, Bonita Granville.

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5 – ROSA DE ESPERANÇA (Mrs. Miniver)
Mídia física: DVD. Streaming: Looke, NetMovies. Aluguel ou compra digitais: AppleTV/ iTunes, Google Play/ YouTube Filmes, Amazon.

Os bombardeios nazistas à Inglaterra foram o pano de fundo deste drama que ganhou o Oscar de melhor filme. Uma família inglesa de classe média alta vive seu cotidiano leve e de frivolidades, como as tensões envolvendo um concurso da rosa cultivada mais bonita da região. Mas pouco a pouco a guerra se aproxima e muda para sempre a vida dessas pessoas. Wyler, um mestre do drama, se alistou para dirigir documentários sobre a guerra após terminar este filme, que ganhou também os Oscars de direção, atriz e atriz coadjuvante.
Estados Unidos. Direção: William Wyler. Roteiro: Arthur Wimperis, George Froeschel, James Hilton e Claudine West, com contribuição não creditada de Paul Osborn e R.C. Sheriff, baseado no romance de Jan Struther. Elenco: Greer Garson, Walter Pidgeon, Teresa Wright, May Whitty, Henry Travers.

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4 – A MULHER DO DIA (The Woman of the Year)
Mídia física: DVD. Streaming: não disponível no Brasil.

Ele é um experiente colunista esportivo, ela é uma renomada jornalista de política internacional. Trocam farpas em seus textos, mas, na primeira em que se veem (ele abre uma porta, ela está de perna estendida, ajeitando a meia), se apaixonam. Mas ainda existem as diferenças entre eles, sobretudo a agenda atribulada dela, na qual o amor talvez não tenha espaço. Tracy e Hepburn, um dos grandes casais da tela, dentro e fora dela, em seu primeiro filme juntos, afiadíssimos na comédia.
Estados Unidos. Direção: George Stevens. Roteiro: Ring Lardner Jr. e Michael Kanin, com contribuição não creditada de John Lee Mahin. Elenco: Spencer Tracy, Katharine Hepburn, Fay Bainter, Reginald Owen.

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3 – BOLA DE FOGO (Ball of Fire)
Mídia física: DVD, blu-ray, Streaming: Oldflix, Looke, NetMovies.

Uma versão safadinha de Branca de Neve e os Sete Anões na história dos cérebros enclausurados na redação de uma enciclopédia e a gostosa cantora, namorada de um gangster, que, para se esconder da polícia, aparece na casa de onde eles não saem para nada. Enquanto os velhinhos babam por ela, Gary Cooper tem interesse na moça apenas para estudar suas gírias e apesar de seu “corpo perturbador”. O encontro de Billy Wilder no roteiro e Hawks na direção só podia dar numa comédia antológica.
Estados Unidos. Direção: Howard Hawks. Roteiro: Charles Brackett e Billy Wilder, a partir de argumento de Wilder e Thomas Monroe. Elenco: Gary Cooper, Barbara Stanwyck, Oskar Homolka, Henry Travers, S.Z. Sakall, Richard Haydn, Dana Andrews, Dan Duryea, Gene Krupa.

Crítica de Bola de Fogo:
Branca de Neve num ‘corpo perturbador’

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2 – SANGUE DE PANTERA (Cat People)
Mídia física: DVD. Streaming: HBO Max.

“Mostre um homem vestido como um gato e o que ele vai parecer?”. “Um homem vestido como um gato”. Esse diálogo entre diretor e produtor de um filme de horror dentro do drama Assim Estava Escrito (1952) remete diretamente a Sangue de Pantera, onde uma mulher teme se transformar em uma pantera assassina caso fique mais íntima de seu noivo, por causa de uma maldição de sua Sérvia natal. O filme, produzido por Val Lewton, opta por manter a ameaça nas sombras, usando a imaginação do espectador e driblando o baixo orçamento. Uma técnica que se mostraria eficiente através dos tempos, mesmo com todos os efeitos especiais disponíveis.
Estados Unidos. Direção: Jacques Torneur. Roteiro: DeWitt Bodeen. Elenco: Simone Simon, Kent Smith, Tom Conway, Jane Randolph, Elizabeth Russell.

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1 – SER OU NÃO SER (To Be or Not to Be)
Mídia física: DVD. Streaming: Belas Artes a la Carte.

De todos os filmes que focaram de uma maneira ou de outra a II Guerra em 1942, nenhum é mais demolidor que Ser ou Não Ser, a comédia que mete uma trupe teatral de Varsóvia em uma trama de espionagem para salvar os membros da resistência polonesa aos nazistas. Os atores levam seus talentos para fora do palco, fingindo e se disfarçando para enrolar os alemães, enquanto o casal que chefia a companhia duela por protagonismo e por ciúmes. O humor contra o horror, num filme engraçadíssimo, com uma Carole Lombard luminosa em seu último filme (ela morreu num acidente de avião antes do filme estrear).
Estados Unidos. Direção: Ernst Lubitsch. Roteiro: Edwin Justus Mayer, a partir de argumento de Ernst Lubitsch e Melchior Lengyel. Elenco: Carole Lombard, Jack Benny, Robert Stack, Felix Bressart, Lionel Atwill, Stanley Ridges, Sig Ruman, Tom Dugan.

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OUTRAS LISTAS DE MELHORES:

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NOTA: A percepção sobre os filmes mudam com o tempo. Esta é a minha percepção agora, limitada ao que vi, naturalmente — esta lista pode mudar à medida em que for revisitando alguns filmes ou assistir a outros que ainda não conheço deste ano específico

20 – INFÂMIA (The Children’s Hour)
Onde ver: DVD.

A peça de Lillian Hellman sobre duas professoras que têm suas vidas transformadas num inferno quando uma aluna as acusa de lesbianismo foi levada ao cinema pela primeira vez em 1936, pelo próprio William Wyler, mas com o tema da fofoca mudado. Foi restabelecido nessa nova versão, embora ainda atenuando o tema por causa do Código Hays. Mas tem um grande diretor e duas grandes atrizes.
Estados Unidos. Direção: William Wyler. Roteiro: John Michael Hayes, baseado na peça de Lillian Hellman. Elenco: Audrey Hepburn, Shirley MacLaine, James Garner, Karen Balkin, Miriam Hopkins, Fay Bainter, Veronica Cartwright.

Crítica de Infâmia:
Fofoca corrosiva

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19 – UMA MULHER É UMA MULHER (Une Femme Est une Femme)
Onde ver: DVD, Telecine Play.

Jean-Luc Godard fazendo comédia. É estranho, como todos imaginaríamos ser. A trama mostra uma mulher querendo ser mãe e em conflito com o marido, que acaba sugerindo um amigo como alternativa. Anna Karina, uma das musas de Godard, está em seu primeiro filme; Godard em seu segundo, fazendo piscadelas metalinguísticas e brincando com absurdos, como Brialy andando de bicicleta dentro de casa. 
França/ Itália. Direção: Jean-Luc Godard. Roteiro: Jean-Luc Godard, com argumento de Geneviève Cluny. Elenco: Anna Karina, Jean-Claude Brialy, Jean-Pierre Belmondo, Jeanne Moreau.

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18 – EL CID (El Cid)
Onde ver: DVD, blu-ray, YouTube (legendado; dublado).

Um epicão contando a história de um herói espanhol do século XI, entre vinganças familiares e as batalhas contra um invasor mouro. Milhares de extras e personagens maiores que a vida, filmados pelo grande artesão Anthony Mann. Não se fazem mais filmes assim. 
Itália/ Estados Unidos. Direção: Anthony Mann. Roteiro: Phillip Yordan, Fredric M. Frank e Ben Barzman (não creditado), com argumento de Frank. Elenco: Charlton Heston, Sophia Loren, Raf Vallone, Geneviève Page, John Fraser.

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17 – OS CANHÕES DE NAVARONE (The Guns of Navarone)
Onde ver: DVD, blu-ray, Claro Vídeo, Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, Microsoft Store, YouTube (dublado).

Aventura clássica de guerra, com uma tropa de elite que deve sabotar grandes canhões nazistas em uma ilha grega, permitindo o resgate de aliados. O elenco carismático sustenta bem a história, dirigida com a competência de sempre por Thompson. 
Reino Unido/ Estados Unidos. Direção: J. Lee Thompson. Roteiro: Carl Foreman, baseado no romance de Alistair MacLean. Elenco: Gregory Peck, David Niven, Anthony Quinn, Irene Papas, Stanley Baker, Gia Scala.

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16 – O TERROR DAS MULHERES (The Ladies Man)
Onde ver: DVD, Apple TV/ iTunes, Microsoft Store.

Jerry Lewis de novo cria uma situação para desfilar uma série de esquetes. Aqui, é um jovem traumatizado com o sexo oposto que acaba indo trabalhar numa pensão com uma multidão de mulheres. Ali, ele lida com as necessidades de cada uma, uma equipe de TV que vem filmar um documentário, um bichinho de estimação perigoso, arrumar o chapéu de um irritado Buddy Lester e o quarto surrealista da Srta. Cartilagem. Como diretor, Lewis usou uma pequena câmera de vídeo ao seu lado para conferir o enquadramento (a invenção do video assist) e comandou um gigantesco cenário vazado de três andares, onde a câmera passava de um quarto a outro. 
Estados Unidos. Direção: Jerry Lewis. Roteiro: Jerry Lewis e Bill Richmond, e Mel Brooks (não creditado). Elenco: Jerry Lewis, Helen Traubel, Pat Stanley, Kathleen Freeman, George Raft, Buddy Lester, Harry James.

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15 – DESAFIO À CORRUPÇÃO (The Hustler)
Onde ver: DVD, Star Plus.

Um drama sobre sinuca? Robert Rossen dirige esse filme sobre um jovem e ambicioso talento (Paul Newman), obcecado em derrubar um veterano imbatível (Jackie Gleason), e que entra em crise existencial quando não consegue, dando início a um drama sobre personagens autodestrutivos. Newman (que voltou ao personagem em A Cor do Dinheiro, de 1986) e Gleason (que era bom mesmo) fizeram eles mesmo quase todas as cenas de jogo. O título brasileiro não tem muito a ver.
Estados Unidos. Direção: Robert Rossen. Roteiro: Sidney Carroll e Robert Rossen, baseado no romance de Walter Tevis. Elenco: Paul Newman, Jackie Gleason, Piper Laurie, George C. Scott, Jake LaMotta.

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14 – CLAMOR DO SEXO (Splendor in the Grass)
Onde ver: DVD, Apple TV/ iTunes.

No fim dos anos 1920, Natalie Wood e Warren Beatty são jovens apaixonados e pegando fogo – mas a decisão de transar ou não poderia marcar uma moça para sempre, enquanto ele é pressionado pelo pai rico a não engravidar a garota pobre e complicar seu futuro. A pressão leva a jovem ao colapso, enquanto a quebra da Bolsa de Nova York se avizinha, sorrateira. Um grande drama de Kazan, mais uma vez numa luta contra o conservadorismo paranoico do Código Hays, e com uma direção muito rica. As cenas de Natalie Wood atraindo Beatty para o carro e perdendo a razão na cachoeira são memoráveis, assim como a sequência final.
Estados Unidos. Direção: Elia Kazan. Roteiro: William Inge. Elenco: Natalie Wood, Warren Beatty, Pat Hingle, Audrey Christie, Barbara Loden, Zohra Lampert.

Crítica de Clamor do Sexo:
A repressão e a depressão

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13 – VIRIDIANA (Viridiana)
Onde ver: DVD.

Buñuel voltou à Espanha após mais de duas décadas e já arrumou problemas: seu retrato da noviça que é objeto de desejo do tio, e que acolhe miseráveis na casa que herda dele, com esses mendigos encenando o quadro “A última ceia”, ganhou a Palma de Ouro em Cannes. Mas causou tanto escândalo que foi acusado de blasfêmia pelo jornal do Vaticano e foi proibido na Espanha – a censura ao filme só caiu após a morte de Franco, em 1977. Não há tudo isso de escandaloso, ainda mais aos olhos de hoje. O diretor satiriza as instituições, sobretudo religiosas, na pele deslumbrante da pobre Viridiana (a mexicana Silvia Pinal). 
Espanha/ México. Direção: Luís Buñuel. Roteiro: Julio Alejandro e Luís Buñuel, baseado no romance de Benito Pérez Galdós. Elenco: Silvia Pinal, Francisco Rabal, Fernando Rey, Margarita Lozano.

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12 – A NOITE (La Notte)
Onde ver: DVD, Telecine Play, YouTube.

Segundo filme da (informal) Trilogia da Incomunicabilidade de Antonioni. É mais digerível que A Aventura (1960), com a história de um casal em certa crise que começa o dia visitando um amigo moribundo no hospital e encerra numa festa na casa de ricaços, Da abertura linda que observa Milão enquanto a câmera desce a fachada de edifícios ao final, o filme emoldura a cidade, até o final no gramado, se o urbano por perto – entre eles, encontros episódicos com, por exemplo, uma ninfomaníaca no hospital ou uma jovem rica também em crise.
Itália/ França. Direção: Michelangelo Antonioni. Roteiro: Michelangelo Antonioni, Ennio Flaiano e Tonino Guerra. Elenco: Marcello Mastroianni, Jeanne Moreau, Monica Vitti, Bernhard Wicki.

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11 – OS DESAJUSTADOS (The Misfits)
Onde ver: DVD, blu-ray, Looke, NetMovies, Apple TV/ iTunes.

Marilyn era casada com Arthur Miller e foi para ela que ele escreveu esse roteiro, onde uma mulher arrebatadoramente sexy, mas angelical, se envolve com caçadores de cavalos selvagens, uma atividade brutal demais para sua sensibilidade. Foi o último filme tanto de Gable quanto de Marilyn, e prova de quão bons atores ambos podiam ser. 
Estados Unidos. Direção: John Huston. Roteiro: Arthur Miller. Elenco: Clark Gable, Marilyn Monroe, Montgomery Clift, Thelma Ritter, Eli Wallach.

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10 – O ANO PASSADO EM MARIENBAD (L’Année Dernière à Marienbad)
Onde ver: DVD, Looke, NetMovies.

O enigmático filme de Alain Resnais parte de um grupo isolado em uma casa de campo, na qual um homem tenta convencer uma mulher de que eles se conheceram e se apaixonaram no ano anterior. Terá sido mesmo? Em volta disso, a atmosfera fantasmagórica e hipnótica nas imagens que passam pelos tetos e paredes, no jardim com estátuas e estranhas plantas em forma de cone. O significado de tudo e cada coisa é um convite a discussões pós-filme – mas não se deve esperar conclusões.
França/ Itália. Direção: Alain Resnais. Roteiro: Alain Robbe-Grillet. Elenco: Delphine Seyrig, Giorgio Albertazzi, Sacha Pitoëff.

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9 – O MOCINHO ENCRENQUEIRO (The Errand Boy)
Onde ver: DVD.

Jerry Lewis leva suas trapalhadas para dentro de um estúdio de cinema. Sua força caótica vem da estrutura episódica, em que várias cenas funcionam isoladamente – como Jerry dando um show de mímica imitando o chefão em uma reunião, ao som de Count Basie, ou a sequência hilariante com o elevador lotado.
Estados Unidos. Direção: Jerry Lewis. Roteiro: Jerry Lewis e Bill Richmond. Elenco: Jerry Lewis, Brian Donlevy, Howard McNear.

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8 – OS INOCENTES (The Innocents)
Onde ver: DVD, blu-ray, YouTube (legendado; dublado).

Clássico do terror da época em que o gênero investia mais no clima sombrio do que nos sustos fáceis, mostrando uma governanta que desconfia (ou imagina) que fantasmas rondam a casa isolada, onde cuida de duas crianças estranhas. O visual elegante é resultado de uma direção muito marcante, que já começa o filme com uma canção sinistra em fundo totalmente preto antes até do logo da 20th Century-Fox. 
Reino Unido. Direção: Jack Clayton. Roteiro: William Archibald e Truman Capote, com cenas e dialogos adicionais por John Mortimer, baseado em romance de Henry James. Elenco: Deborah Kerr, Megs Jenkins, Martin Stephens, Pamela Franklin, Peter Wyngarde, Michael Redgrave.

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7 – UM GOSTO DE MEL (A Taste of Honey)
Onde ver: DVD (só e na coleção Nouvelle Vague Britânica).

Uma Inglaterra jovem, sem perspectiva e muito longe da corte. O free cinema britânico tem um de seus maiores representantes, com a história da adolescente que tem uma mãe picareta. Quando ela engravida, acaba encontrando apoio em outro proscrito: um amigo gay. Com a vibração e o realismo que marcou o movimento, tem no papel principal uma grande estreia: a de Rita Tushingham.
Reino Unido. Direção: Tony Richardson. Roteiro: Shelagh Delaney e Tony Richardson, baseado em peça de Delaney. Elenco: Rita Tushingham, Dora Bryan, Murray Melvin, Paul Danquah.

Crítica de Um Gosto de Mel:
A Inglaterra jovem muito longe da corte

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6 – 101 DÁLMATAS ou A GUERRA DOS DÁLMATAS (One Hundred and One Dalmatians)
Onde ver: DVD, blu-ray, Disney Plus, YouTube (dublado).

101 Dálmatas marcou o começo de uma nova era na Disney. Um design mais simples, menos delicado e a tecnologia da xerox usada na produção. Também é uma história contemporânea e longe dos contos de fadas: filhotes de dálmata são sequestrados e seus pais vão ao resgate. A vilã inesquecível é Cruella DeVille, que quer os bichinhos para fazer um casaco com a pele deles! Charme e grande destreza na narrativa de aventura pelo trio de diretores, veteranos nos estúdios Disney.
Estados Unidos. Direção: Clyde Geronimi, Hamilton Luske, Wolfgang Reitherman. Roteiro: Bill Peet, baseado no livro de Dodie Smith. Vozes na dublagem original: Rod Taylor, Betty Lou Gerson, Ben Wright. Vozes na dublagem brasileira: Domingos Martins, Margarida Rey, Hélio Colonna.

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5 – CUPIDO NÃO TEM BANDEIRA (One, Two, Three)
Onde ver: DVD.

A comédia maluca de Billy Wilder é testemunha de seu tempo. É sobre um executivo da Coca-Cola em Berlim Ocidental que recebe a filha do chefão da companhia e ela se apaixona por um comunista padrão do lado oriental. Na época, o trânsito era possível entre os dois lados e o Muro de Berlim foi erguido enquanto o filme estava sendo rodado. A ambientação pode ter ficado velha rápido, mas o filme tem James Cagney metralhando diálogos e muito sarcasmo tanto sobre o capitalismo quanto sobre o comunismo.
Estados Unidos. Direção: Billy Wilder. Roteiro: Billy Wilder e I.A.L. Diamond, baseado na peça de Ferenc Molnár. Elenco: James Cagney, Horst Buchholz, Pamela Tiffin, Arlene Francis.

Crítica de Cupido Não Tem Bandeira:
Vai e vem antes do Muro de Berlim

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4 – ATRAVÉS DE UM ESPELHO (Såsom i en Spegel)
Onde ver: DVD, YouTube.

Primeiro exemplar da chamada Trilogia do Silêncio, de Bergman, só tem quatro atores, interpretando pai, filha e seu marido, e o irmão dela, isolados em casa numa ilha. Ela, se recuperando de problemas mentais, que voltam quando ela começa a ouvir vozes. Os problemas da filha expõem a desagregação da família. O silêncio da trilogia, no caso, é o silêncio de Deus. Bergman extrai tudo de seus atores e seus rostos, a partir de uma extraordinária Harriet Andersson.
Suécia. Direção e roteiro: Ingmar Bergman. Elenco: Harriet Andersson, Gunnar Björnstrand, Max von Sydow, Lars Parsgård.

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3 – BONEQUINHA DE LUXO (Breakfast at Tiffany’s)
Onde ver: DVD, blu-ray, Telecine Play, Oldflix, Claro Vídeo, Apple TV/ iTunes, Microsoft Store, YouTube (dublado).

Truman Capote não teria escolhido Audrey Hepburn para interpretar Holly Golightly, a acompanhante que vai tirando dinheiro dos homens enquanto almeja um futuro melhor, simbolizado pela joalheria Tiffany’s. Enquanto isso, se envolve com um escritor tão pé-rapado quanto ela, sustentado por uma amante rica. Capote estava errado: Audrey é ponto crucial para este filme ter se tornado um clássico imortal, charmoso toda vida, com a direção classuda e irreverente de Blake Edwards, o figurino de Givenchy para a atriz, a música antológica de Henry Mancini (incluindo “Moon river”, que Audrey imortalizou).  
Estados Unidos. Direção: Blake Edwards. Roteiro: George Axelrod, baseado em romance de Truman Capote. Elenco: Audrey Hepburn, George Peppard, Patricia Neal, Buddy Ebsen, Martin Balsam, Mickey Rooney, José Luis de Villalonga.

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2 – AMOR, SUBLIME AMOR (West Side Story)
Onde ver: DVD, blu-ray, Telecine Play, Oi Play, Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes.

Esta releitura de Romeu e Julieta coloca jovens americanos e porto-riquenhos como versões dos Montéquio e dos Capuleto, com o ex-líder de uma gangue e a irmã do líder da outra se apaixonando. Adaptação do musical da Broadway, faturou 10 Oscars e revolucionou o gênero, com uma dança moderna e entranhada na narrativa a ponto de desafiar o público. Muitos números marcantes (o duelo de dança no baile, “Tonight” como a cena do balcão, “America” contestando o sonho americano, a molecagem de “Gee, Officer Krupke”…) e os coadjuvantes Rita Moreno e George Chakiris arrasando. 
Estados Unidos. Direção: Robert Wise e Jerome Robbins. Roteiro: Ernest Lehman, baseado no libreto de Arthur Laurents para a peça concebida por Robbins, por sua vez inspirada em Romeu e Julieta, de William Shakespeare. Elenco: Natalie Wood, Richard Beymer, Russ Tamblyn, Rita Moreno, George Chakiris.

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1 – YOJIMBO – O GUARDA-COSTAS (Yojimbo)
Onde ver: DVD, Belas Artes a la Carte.

No começo de Yojimbo, o samurai vivido por Toshiro Mifune vaga por uma estrada até chegar a uma bifurcação. Joga um galho para cima, para decidir na sorte por qual dos dois caminhos seguir. O escolhido o leva a uma cidade onde é recebido por um cachorro com uma mão decepada na boca. Lá, ele se depara com uma comunidade oprimida pela guerra entre duas facções. E resolve destruir as duas. Um espetáculo de aventura de Kurosawa, depois refilmado como faroeste (o samurai sem destino na entrada e na saída inspirou o homem sem nome de Clint Eastwood, nos filmes de Sergio Leone) e filme de gangsters, entre outras versões.
Japão. Direção: Akira Kurosawa. Roteiro: Akira Kurosawa e Ryuzo Kikushima. Elenco: Toshiro Mifune, Tatsuya Nakadai, Yoko Tsukasa, Isuzu Yamada.

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OUTRAS LISTAS DE MELHORES:

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NOTA: A percepção sobre os filmes mudam com o tempo. Esta é a minha percepção agora, limitada ao que vi, naturalmente — esta lista pode mudar à medida em que for revisitando alguns filmes ou assistir a outros que ainda não conheço deste ano específico.

20 – O BARCO DAS ILUSÕES (Show Boat)
Onde ver: DVD, Looke, NetMovies.

40 anos dos dramas dos atores e pessoa de apoio de um barco que cruza o Rio Mississipi apresentando um espetáculo para as cidades às margens do rio. O melodrama envolvendo Kathryn Grayson, Howard Keel e Ava Gardner é contado em tom operístico, até xaroposo, mas tem momentos bonitos com Joe E. Brown e animação com o casal (também na vida real) Marge e Gower Champion.
Estados Unidos. Direção: George Sidney. Roteiro: John Lee Mahin, baseado na peça musical de Oscar Hammerstein II e Richard Rogers, por sua vez baseado no romance de Edna Ferber. Elenco: Kathryn Grayson, Ava Gardner, Howard Keel, Joe E. Brown, Marge Champion, Agnes Moorehead.

Crítica de O Barco das Ilusões:
Ópera fluvial

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19 – NA ESTRADA DO CÉU (No Highway in the Sky)
Onde ver: DVD, YouTube.

James Stewart é um engenheiro aeronáutico na Inglaterra, que prevê que um novo modelo de avião vai falhar quando atingir uma determinada quantidade de horas de voo. A bordo, ele tenta convencer tripulação e passageiros do perigo iminente. Um bom suspense que dá muita importância à ciência frente ao ceticismo. 
Reino Unido/ Estados Unidos. Direção: Henry Koster. Roteiro: R.C. Sherriff, Oscar Millard e alec Coppel, baseado em romance de Nevil Shutte. Elenco: James Stewart, Glynis Johns, Marlene Dietrich, Jack Hawkins, Janette Scott, Dora Bryan, Wilfrid Hyde-White, Bessie Love.

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18 – QUO VADIS? (Quo Vadis?)
Onde ver: DVD, blu-ray, Oldflix, Looke, Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, YouTube (dublado).

Épico romano/ religioso na tradição de Hollywood, com perseguição aos cristãos e Nero tocando fogo em Roma. A carpintaria da Metro em filmagens na Itália. 
Estados Unidos. Direção: Mervyn LeRoy, Anthony Mann (não creditado). Roteiro: John Lee Mahin, S.N. Berhman e Sonya Levien, com contribuição de Hugh Gray, baseado no romance de Henryk Sienkiewicz. Elenco: Robert Taylor, Deborah Kerr, Leo Genn, Peter Ustinov, Patricia Laffan, Elizabeth Taylor, Bud Spencer.

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17 – FILHOTE CHEIROSO (Slicked-up Pup)
Onde ver: Dailymotion (som original).

A fase de Tom & Jerry nos 1940 e 1950 é divina. Aqui, um plot clássico, mas extremamente bem executado: Tom é ameaçado pelo cachorrão para manter o filhotinho limpo, mas Jerry o sabota de todas as maneiras. Basicamente, é uma releitura do primeiro curta da dupla (o gato pressionado, o camundongo atrapalhando), mas com piadas no timing exato e grandes expressões dos personagens. 
Estados Unidos. Direção: Joseph Barbera, William Hanna. Roteiro: não creditado. Vozes na dublagem original: Daws Butler, William Hanna.

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16 – CHAGA DE FOGO (Detective Story)
Onde ver: DVD.

William Wyler comanda a adaptação dessa peça, com a trama se passando toda numa delegacia, e explorando os preconceitos e drama pessoal de um policial, vivido pelo sempre intenso Kirk Douglas. 
Estados Unidos. Direção: William Wyler. Roteiro: Philip Yordan e Robert Wyler, baseado na peça de Sidney Kingsley. Elenco: Kirk Douglas, Eleanor Parker, William Bendix, Cathy O’Donnell, Lee Grant.

Crítica de Chaga de Fogo:
Dia infernal na delegacia

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15 – AVISO AOS NAVEGANTES
Onde ver: DVD, YouTube.

A chanchada acompanha uma trupe teatral que volta de Buenos Aires para o Rio de navio. A bordo, Oscarito é um clandestino encontrado pelo cozinheiro Grande Otelo, com ambos se envolvendo com um espião internacional. A Atlântida cristalizando seu estilo típico: misturar comédia, música, uma leve trama policial, trocas de identidade, Oscarito e Grande Otelo como a dupla cômica, Eliana como a mocinha e José Lewgoy como o vilão. 
Brasil. Direção: Watson Macedo. Roteiro: Alinor Azevedo, Watson Macedo e Paulo Machado. Elenco: Oscarito, Grande Otelo, Eliana Macedo, Anselmo Duarte, Adelaide Chiozzo, José Lewgoy, Ivon Cury, Zezé Macedo, Bené Nunes, Glauce Rocha, Emilinha Borba, Francisco Carlos.

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14 – ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS (Alice in Wonderland)
Onde ver: DVD, blu-ray, Disney Plus, YouTube (dublado).

Esta versão Disney da obra de Lewis Carroll não é tão celebrada em comparação a outros longas do estúdio, mas é uma das que melhor levou às telas o nonsense do escritor britânico. O visual é uma delícia e é bem engraçado.
Estados Unidos. Direção: Clyde Geronimi, Wildred Jackson, Hamilton Luske, Jack Kinney (não creditado). Roteiro: Winston Hibler, Ted Sears, Bill Peet, Erdman Penner, Joe Rinaldi, Milt Banta, William Cottrell, Dick Kelsey, Joe Grant, Dick Huemer, Del Connell, Tom Oreb, John WalbridgeVozes na dublagem original: Kathryn Beaumont, Ed Wynn, Richard Haydn, Sterling Holloway, Verna Felton. Vozes na dublagem brasileira de 1951: Therezinha Marçal, Octávio França, Jorge Goulart, Sarah Nobre, Orlando Drummond.

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13 – PATOLINO BICO LONGO (Drip-Along Daffy)
Onde ver: DVD (Coleção Looney Tunes – Aventuras com Patolino e Gaguinho), Dailymotion (som original).

Chuck Jones e Michael Maltese foram o diretor e o roteirista que melhor exploraram o Patolino. O colocou contracenando com o Pernalonga e também nos mais diversos cenários: o pato foi Sherlock Holmes, Buck Rogers, policial de seriado, Robin Hood… Aqui, é um herói de faroeste, disparando uma piada antológica ou expressão engraçadíssima atrás da outra. 
Estados Unidos. Direção: Chuck Jones. Roteiro: Michael Maltese. Vozes na dublagem original: Mel Blanc.

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12 – O MONSTRO DO ÁRTICO (The Thing from Another World)
Onde ver: DVD (Clássicos Sci-Fi – Vol. 2).

Howard Hawks produziu de maneira independente (e dizem que dirigiu de fato) esse hoje clássico da ficção científica que mostra militares e cientistas em um local isolado às voltas com uma ameaça alienígena. Uma trama repetida incontáveis vezes pelo cinema depois. O filme dribla o baixo orçamento com inteligência e a construção eficiente do clima de suspense.
Estados Unidos. Direção: Christian Nyby. Roteiro: Charles Lederer, com contribuições não creditadas de Howard Hawks e Ben Hecht, baseado no conto de John W. Campbell Jr. Elenco: Kenneth Tobey, Margaret Sheridan, Robert Cornthwaite, Douglas Spencer.

Crítica de O Monstro do Ártico:
O medo que vem de fora

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11 – NÚPCIAS REAIS (Royal Wedding)
Onde ver: DVD, Looke, NetMovies, Claro Vídeo, YouTube (legendado; dublado).

Fred Astaire e Jane Powell são irmãos que se apresentam juntos, evocando o início da carreira de Astaire ao lado de sua irmã Adele. Tem cenas inspiradas (Fred e Jane tentando dançar num navio que balança muito é bem divertido) e dois momentos imortais: Astaire dançando com um guarda-chapéus; e nas paredes e teto de um quarto, um imenso prodígio técnico e artístico.
Estados Unidos. Direção: Stanley Donen. Roteiro: Alan Jay Lerner. Elenco: Fred Astaire, Jane Powell, Peter Lawford, Sarah Churchill.

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10 – O MISTÉRIO DA TORRE (The Lavender Hill Mob)
Onde ver: não disponível em home video ou streaming.

O filme de roubo coloca um metódico funcionário bancário ao lado de um fabricante de miniaturas da Torre Eiffel num plano para contrabandear uma grande quantia em ouro. Alec Guinness e Stanley Holloway são brilhantes, o diretor Crichton é uma mestre da comédia, cria muitas cenas inspiradas (como a descida alucinada da Torre Eiffel, na perseguição a meninas que estão levando as estatuetas “premiadas”) e ainda há a ponta de Audrey Hepburn antes da fama. 
Reino Unido. Direção: Charles Crichton. Roteiro: T.E.B. Clarke. Elenco: Alec Guinness, Stanley Holloway, Sidney James, Alfie Bass, Marjorie Fielding, Audrey Hepburn.

Crítica de O Mistério da Torre:
Ninguém prevê os imprevistos

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9 – UMA AVENTURA NA ÁFRICA (The African Queen)
Onde ver: DVD, Telecine Play, Oi Play.

O título brasileiro poderia ser do making of, já que a trupe liderada pelo diretor-roteirista John Huston filmou na África essa história quase totalmente centrada em dois personagens: o beberrão capitão canadense de um barco fluvial e a missionária inglesa que, na I Guerra, fogem de soldados alemães e depois decidem enfrentá-los. 
Estados Unidos. Direção: John Huston. Roteiro: James Agee e John Huston, John Collier (não creditado) e Peter Viertel (não creditado), baseado no romance de C.S. Forester. Elenco: Humphrey Bogart, Katharine Hepburn, Robert Morley, Peter Bull.

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8 – TAMBÉM FOMOS FELIZES (Bakushu)
Onde ver: DVD (O Cinema de Ozu), YouTube (legendado).

O olhar de Ozu para as vidas comuns e urbanas do Japão no pós-guerra se consagrou como um dos mais sensíveis do cinema. A trama central aqui é a da jovem que não está interessada em se casar, apesar da pressão que sofre da família. O conflito entre tradição e modernidade mais uma vez em cena na obra do diretor japonês. 
Japão. Direção: Yasujiro Ozu. Roteiro: Kogo Noda e Yasujiro Ozu. Elenco: Setsuko Hara, Chishu Ryu, Chikage Awashima, Kuniko Miyake.

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7 – TEMPORADA DE CAÇA (Rabbit Fire)
Onde ver: DVD (Coleção Looney Tunes – Aventuras com Pernalonga).

É incrível, mas Pernalonga e Patolino nunca haviam dividido um curta inteiro antes. Colocar os dois juntos foi uma ideia genial de Michael Maltese e Chuck Jones neste desenho. “Temporada de pato!”. “Temporada de coelho!”. É uma aula de timing cômico. Não por acaso, abriu uma trilogia. 
Estados Unidos. Direção: Chuck Jones. Roteiro: Michael Maltese. Vozes na dublagem original: Mel Blanc, Arthur Q. Bryan.

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6 – A MONTANHA DOS SETE ABUTRES (Ace in the Hole ou The Big Carnival)
Onde ver: DVD.

Billy Wilder dá um safanão na imprensa sensacionalista com Kirk Douglas interpretando um arrogante como só ele conseguia fazer. É o jornalista que já foi grande em Nova York, foi parar em Albuquerque, consegue emprego em um jornaleco local (“Eu posso cuidar de grandes notícias ou pequenas notícias. E se não houver notícias, eu saio e mordo um cachorro”) e fareja uma volta por cima ao sabotar o resgate de um homem soterrado numa montanha para esticar o drama e controlar o acesso do resto da imprensa (quando os colegas imploram, dizendo “estamos no mesmo barco”, ele dispara: “Eu estou no barco. Vocês estão na água”).
Estados Unidos. Direção: Billy Wilder. Roteiro: Billy Wilder, Lesser Samuels e Walter Newman, de argumento de Victor Desny (não creditado). Elenco: Kirk Douglas, Jan Sterling, Robert Arthur, Porter Hall, Frank Cady, Richard Benedict.

Crítica de A Montanha dos Sete Abutres:
A serpente na gaveta

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5 – PACTO SINISTRO (Strangers on a Train)
Onde ver: DVD, blu-ray, HBO Max, Looke, Apple TV/ iTunes.

“E se?”. Essa pergunta, aliada à completa amoralidade de um personagem, já rendia um grande filme a Alfred Hitchcock. E se dois caras que não se conhecem pudessem se safar de seus assassinatos “trocando” os crimes? Um matando o desafeto do outro? Esse é o ponto de partida de um dos maiores clássicos de Hitch, que coloca um jogador de tênis pressionado a cumprir sua parte por um psicopata que levou a ideia a sério. Tem um monte de grandes cenas: o assassinato no parque visto pela lente do óculos, a partida de tênis com o olhar fixo de Robert Walker, o isqueiro que cai pelo bueiro, o clímax no carrossel desgovernado. 
Estados Unidos. Direção: Alfred Hitchcock. Roteiro: Raymond Chandler e Czenzi Ormonde, com Ben Hecht (não creditado), adaptação de Whitfield Cook, baseado no romance de Patricia Highsmith. Elenco: Farley Granger, Robert Walker, Ruth Roman, Leo G. Carroll, Patricia Hitchcock.

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4 – UMA RUA CHAMADA PECADO (A Streetcar Named Desire)
Onde ver: DVD, blu-ray, Looke, Google Play/ YouTube Filmes, Microsoft Store.

Elia Kazan levou para a tela Brando, Kim Hunter e Karl Malden de sua montagem teatral da obra de Tennessee Williams. Vivien Leigh, a superestrela do elenco, foi Blanche na montagem londrina. Um elenco em seu máximo, com a frágil Vivien e o brutamontes Brando duelando de maneira inesquecível, através de um filme intenso nas emoções e na sensualidade e que brigou ponto a ponto com a censura (ganhou uns e perdeu outros).
Estados Unidos. Direção: Elia Kazan. Roteiro: Tennessee Williams e Oscar Saul, baseado em peça de Williams. Elenco: Vivien Leigh, Marlon Brando, Kim Hunter, Karl Malden.

Crítica de Uma Rua Chamada Pecado:
Transpirando sexo

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3 – O DIA EM QUE A TERRA PAROU (The Day the Earth Stood Still)
Onde ver: DVD.

No contexto da ficção científica dos anos 1950, com a paranoia anticomunista gerando vários filmes sobre ameaças extraterrestres, o filme de Robert Wise era diferente: tinha a visita de um alienígena, mas que vinha alertar sobre os perigos da escalada do conflito entre nós mesmos. O filme acerta em tudo: no contato com pessoas comuns, através principalmente de uma secretária viúva e seu filho; na atmosfera de suspense do robô Gort; na cena icônica da frase “Klaatu barada nikto”.
Estados Unidos. Direção: Robert Wise. Roteiro: Edmund H. North, baseado em conto de Harry Bates. Elenco: Michael Reenie, Patricia Neal, Hugh Marlowe, Sam Jaffe.

Crítica de O Dia em que a Terra Parou:
Contatos imediatos

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2 – SINFONIA DE PARIS (An American in Paris)
Onde ver: DVD, blu-ray, HBO Max, Now, Looke, Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, Microsoft Store.

A fantasia de Paris para um americano, elevada à máxima potência. O sujeito que ficou por lá após o fim da II Guerra e tenta ganhar a vida pintando se apaixona por uma bailarina e, quando a coisa dá errada, se vê dentro de pinturas de artistas franceses famosos. O filme todo é uma delícia, a perícia de Minnelli na direção e Gene Kelly nas coreografias e dançando estão perfeitamente combinadas. Mas a longa sequência em que pinturas ganham vida é um prodígio artístico e técnico espetacular. 
Estados Unidos. Direção: Vincente Minnelli. Roteiro: Alan Jay Lerner. Elenco: Gene Kelly, Leslie Caron, Oscar Levant, Nina Foch, Georges Guétary.

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1 – UM LUGAR AO SOL (A Place in the Sun)
Onde ver: DVD, Microsoft Store.

Tudo poderia ser um conto-de-fadas: o gato borralheiro e uma princesa rica se apaixonam e vivem felizes para sempre. No caso, ele é o trabalhador pobre, empregado da fábrica do tio rico. Frequentando a mansão do parente, se encanta por aquela vida, representada uma garota rica e belíssima por quem se apaixona e ela por ele. Mas há um porém: ele já se relacionava com uma colega da fábrica, que está grávida. O destino trágico nos leva à cena do bote, cujo desfecho nós vemos sem que o filme nos diga claramente o que aconteceu: acidente ou assassinato? Stevens, um grande mestre, filma tão de longe o lago quanto filma de perto os olhares, danças e beijos entre Liz Taylor e Montgomery Clift.
Estados Unidos. Direção: George Stevens. Roteiro: Michael Wilson e Harry Brown, baseado na peça de Patrick Kearney, por sua vez baseada no romance de Theodore Dreiser. Elenco: Montgomery Clift, Elizabeth Taylor, Shelley Winters, Anne Revere, Raymond Burr.

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OUTRAS LISTAS DE MELHORES:

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NOTA: A percepção sobre os filmes mudam com o tempo. Esta é a minha percepção agora, limitada ao que vi, naturalmente — esta lista pode mudar à medida em que for revisitando alguns filmes ou assistir a outros que ainda não conheço deste ano específico

BOLA DE FOGO
⭐⭐⭐⭐
Diário de Filmes 2021: 31

Branca de Neve de ‘corpo perturbador’

A trama de um homem cerebral e comedido que tem vida posta de pernas para o ar por causa de uma mulher que aparece de repente em sua vida não era exatamente nova em Hollywood. Nem mesmo na carreira de Howard Hawks: o diretor havia lançado o maluco Levada da Breca três anos antes.

Mas, agora, não é só um homem: são oito. E a mulher é, mais do que nunca, uma tentação: Barbara Stanwyck é a liberada cantora de boate que, envolvida com um gangster e procurada pela polícia, vai encontrar abrigo em uma casa onde estão oito professores que se dedicam há anos à elaboração de uma enciclopédia.

Com roteiro de Billy Wilder e Charles Brackett (Wilder começaria a dirigir seus próprios filmes naquele mesmo ano), o filme tira um sarro da situação central de Branca de Neve e os Sete Anões (1937). Uma paródia safadinha que concentra suas piadas nessa colisão de dois mundos, com Cooper tentando manter como pode a dignidade diante do “corpo perturbador” de Barbara (palavras do personagem).

Com uma situação divertida bem explorada em ótimos diálogos (o professor vivido por Cooper está interessado nas gírias da cantora para sua pesquisa), o filme é uma demonstração da perícia do versátil Hawks na comédia. É grande diversão com excelente elenco (Barbara foi indicada ao Oscar).

Onde ver: DVD, Oldflix

Ball of Fire, 1942.
Direção: Howard Hawks. Elenco: Gary Cooper, Barbara Stanwyck, Henry Travers, Dana Andrews, S.Z. Sakall, Richard Haydn, Dan Duryea

20 – O GAROTO SELVAGEM (L’Enfant Sauvage)
Onde ver: DVD.

Truffaut partiu de uma história real do seculo XVIII: um garoto há anos sem contato com a civilização, sem falar ou ler, que é praticamente adotado por um médico que se esforça em civilizá-lo. O filme parece seguir mais o ponto de vista da curiosidade científica que da emoção, mas é bem contado.
França. Direção: François Truffaut. Roteiro: François Truffaut e Jean Gruault, baseado nas memórias de Jean Itard. Elenco: François Truffaut, Jean-Pierre Cargol, Françoise Seigner.

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19 – LOVE STORYUMA HISTÓRIA DE AMOR (Love Story)
Onde ver: DVD, blu-ray, Telecine Play, Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes.

“Amar é nunca ter que pedir perdão”. Virou ícone cultural esse melodrama jovem que, ainda por cima, envolve classes sociais e doença grave.
Estados Unidos. Direção: Arthur Hiller. Roteiro: Erich Segal. Elenco: Ryan O’Neal, Ali MacGraw, Ray Milland, Tommy Lee Jones.

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18 – A VIDA ÍNTIMA DE SHERLOCK HOLMES (The Private Life of Sherlock Holmes)
Onde ver: DVD, Apple TV/ iTunes.

Billy Wilder desenvolveu um filme de mais de três horas e episódico que foi severamente cortado pela United Artists. Ainda assim é um curioso olhar que ele queria muito fazer sobre Sherlock Holmes, levando-o até o monstro de Loch Ness.
Reino Unido/ Estados Unidos. Direção: Billy Wilder. Roteiro: Billy Wilder e I.A.L. Diamond. Elenco: Robert Stephens, Colin Blakely, Geneviève Page, Christopher Lee.

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17 – GIMME SHELTER (Gimme Shelter)
Onde ver: DVD, blu-ray, Looke, NetMovies, YouTube.

Seria mais um documentário sobre rock, mas o show dos Rolling Stones em uma rodovia terminou em tragédia. O filme começa já fazendo os Stones encararem as filmagens da confusão na plateia, após a ideia infeliz de colocar os Hell’s Angels como seguranças.
Estados Unidos. Direção: Albert Maysles, David Maysles e Charlotte Zwerin.

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16 — MATOU A FAMÍLIA E FOI AO CINEMA
Onde ver: YouTube.

Exemplar do cinema marginal brasileiro, terceiro longa de Bressane. Parte da premissa literal do título, um rapaz que mata os pais e vai ao cinema, para outros contos curtos de violência, como o das meninas que se apaixonam e matam a mãe de uma delas. Teve uma refilmagem muito ruim em 1991, com Cláudia Raia.
Brasil. Direção e roteiro: Júlio Bressane. Elenco: Márcia Rodrigues, Renata Sorrah, Vanda Lacerda, Antero de Oliveira.

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15 – CADA UM VIVE COMO QUER (Five Easy Pieces)
Onde ver: DVD, Looke, Claro Vídeo, Apple TV/ iTunes, YouTube Filmes, YouTube (dublado).

Jack Nicholson é o operário que gosta de tocar piano e tem um relacionamento que não o anima muito, e que volta às raízes: a família rica e musicista. Esse contraste de modos de vida leva a tensões. Nicholson na sua aurora como grande ator, que se consolidaria nos anos 1970.
Estados Unidos. Direção: Bob Rafelson. Roteiro: Carole Eastman, baseado em argumento de Eastman e Bob Rafelson. Elenco: Jack Nicholson, Karen Black, Susan Anspach.

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14 – A MULHER DE TODOS
Onde ver: YouTube.

Helena Ignez é a mulher imparável nessa comédia do cinema marginal (o que parece funcionar melhor), libertária, cafajeste, chegada à linguagem dos quadrinhos e com um Jô Soares inspirado.
Brasil. Direção: Rogério Sganzerla. Roteiro: Rogério Sganzerla, baseado em argumento de Egídio Eccio. Elenco: Helena Ignez, Jô Soares, Stênio Garcia, Paulo Villaça, Antônio Pitanga. Narração: Renato Machado.

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13 – DEIXA ESTAR ou LET IT BE (Let it Be)
Onde ver: não disponível em home vídeo ou streaming.

É tido como um registro dos Beatles a caminho do fim, com os turbulentos ensaios e gravações do que viria a ser o álbum Let it Be. Tem lá a célebre discussão entre Paul e George (“Eu toco do jeito que você quiser. Se não quiser, também não toco”), mas não há depoimentos ou narração. Não há George abandonando o grupo por alguns dias. A mudança do Twickenham Studios para o prédio da Apple aparece, mas sem qualquer explicação. Boa parte da crise fica mesmo nas entrelinhas pra quem conhece a história da banda. Mas são os Beatles, experimentando e cantando e culminando no show do telhado, que é uma imagem (e som) eterna.
Reino Unido. Direção: Michael Lindsay-Hogg.

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12 – A FILHA DE RYAN (Ryan’s Daughter)
Onde ver: DVD.

David Lean ficou quase 15 anos sem dirigir um filme depois que esse não foi bem recebido. Realmente parece agigantado sem muita razão de ser. É uma história de amor e adultério simples, embora com paisagens embasbacantes e um fundo histórico – como havia sido, cinco anos antes, Doutor Jivago, na Rússia dos tempos da Revolução. Esse ultimo quesito, porém (revoltas na Irlanda contra a Inglaterra em 1916), é bem menos presente na trama. Mas é bonito, Lean não precisava ter passado esse tempo todo longe.
Reino Unido. Direção: David Lean. Roteiro: Robert Bolt. Elenco: Sarah Miles, Robert Mitchum, Christopher Jones, Trevor Howard, John Mills, Leo McKern.

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11 – INVESTIGAÇÃO SOBRE UM CIDADÃO ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA (Indagine su un Cittadino al di Sopra di Ogni Sospetto)
Onde ver: DVD, YouTube.

Chefe da divisão de homicídios da polícia mata a amante e vai deixando pistas pelo caminho, parecendo querer ver se a polícia consegue passar por cima dos pré-julgamentos e pegá-lo. Um clássico dos filmes políticos, uma bofetada na hipocrisia das instituições, retratando uma ambiente de opressão italiana a tudo que não era reacionário.
Itália. Direção: Elio Petri. Roteiro: Elio Petri e Ugo Pirro. Elenco: Gian Maria Volontè, Florinda Bolkan, Gianni Santuccio.

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10 – TRISTANA, UMA PAIXÃO MÓRBIDA (Tristana)
Onde ver: DVD, Telecine Play, Oi Play.

Buñuel deixa o surrealismo um pouco de lado e vai para um registro meio seco para mostrar um caso de obsessão amorosa de um homem rico por uma bela e pobre jovem. Uma tragédia muda, no entanto, o jogo de forças. Deneuve linda, mesmo quando não é para ser.
Espanha/ Itália/ França. Direção: Luís Buñuel. Roteiro: Luís Buñuel e Julio Alessandro, do romance de Benito Pérez Galdós. Elenco: Catherine Deneuve, Fernando Rey, Franco Nero.

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9 – BANZÉ NA RÚSSIA (The Twelve Chairs)
Onde ver: DVD (em A Arte de Mel Brooks).

O humor maluco de Mel Brooks servindo-se de uma história clássica já adaptada até pela Atlântida no Brasil. É antes de se concentrar nas sátiras ao próprio cinema, que viria logo a seguir. Aqui, os alvos são a ganância inerente aos homens e as contradições da União Soviética pós-Revolução Russa. Como na placa da Rua Marx, Engels, Lenin & Trotsky, em que o nome de Trostky aparece riscado.
Estados Unidos. Direção e roteiro: Mel Brooks, baseado no romance de Ilya Ilf e Yevgeni Petrov. Elenco: Ron Moody, Frank Langella, Dom DeLuise, Mel Brooks.

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8 – DOMICÍLIO CONJUGAL (Domicile Conjugal)
Onde ver: DVd, Mubi, Oldflix.

Interessante como Truffaut estreou o personagem Antoine Doinel como seu alter-ego em um drama tão tocante como Os Incompreendidos (1959) e depois retornou a ele em comédias românticas leves como esta. Este é o quarto filme com Doinel, que arruma problemas para seu casamento ao se envolver com outra mulher.
França. Direção: François Truffaut. Roteiro: François Truffaut, Claude de Givray e Bernard Revon. Elenco: Jean-Pierre Léaud, Claude Jade, Hiroko Berghauer.

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7 – A ESTRATÉGIA DA ARANHA (Strategia del Ragno)
Onde ver: YouTube (legendas em espanhol).

O filho volta à sua cidadezinha natal para se envolver na história misteriosa do pai, herói local, líder da resistência contra os fascistas, morto há muitos anos. Grande fotografia de Vittorio Storaro e Franco Di Giacomo, cujo ponto alto é aquele plano sequência soberbo no começo, em que o filho está parado na praça e, quando anda, vemos que ele encobria o busto do pai. E, enquanto caminha, acaba sendo coberto por ele.
Itália. Direção: Bernardo Bertolucci. Roteiro: Bernardo Bertolucci, Marilù Parolini e Eduardo de Gregorio, baseado em conto de Jorge Luis Borges. Elenco: Giulio Brogi, Alida Valli, Pippo Campanini.

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6 – WOODSTOCK – 3 DIAS DE PAZ, AMOR E MÚSICA (Woodstock)
Onde ver: DVD, blu-ray, Apple TV/ iTunes.

Mais do que registrar os três dias de um festival de rock que se tornou mítico, o documentário teve a sagacidade de traduzir o estado de espírito de quem estava no palco, nos bastidores, na plateia e nos arredores. O uso da câmera dividida só reforça a sensação de que estava acontecendo muito mais do que todo mundo estava percebendo.
Estados Unidos. Direção: Michael Wadleigh.

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5 – PEQUENO GRANDE HOMEM (Little Big Man)
Onde ver: DVD, Oldflix, Looke, NetMovies.

Em uma época de revisionismo do western e de reavaliação da figura do nativo norte-americano na tela, o herói é uma figura nada heroica que aprende a ser um índio, se torna um pistoleiro de araque e acaba integrando a tropa do General Custer rumo à batalha de Little Big Horn. O filme tem humor e senso de grandeza.
Estados Unidos. Direção: Arthur Penn. Roteiro: Calder Willingham, baseado no romance de Thomas Berger. Elenco: Dustin Hoffman, Faye Dunaway, Chief Dan George, Martin Balsam.

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4 – PATTON – REBELDE OU HERÓI? (Patton)
Onde ver: DVD, Star Plus.

É praticamente um Lawrence da Arábia americano, no sentido de ser a grandiosa cinebiografia de um militar que ama o que faz. Politicamente incorreto, irascível, visceral e um gênio do teatro de guerra, Patton é um grande personagem. A abertura, com o general discursando para as tropas na frente de uma imensa bandeira americana, é icônica. Tanto quanto a cena em que ele esbofeteia um soldado traumatizado porque não admite tal fraqueza (depois é obrigado a se desculpar).
Estados Unidos. Direção: Franklin J. Schaffner. Roteiro: Francis Ford Coppola e Edmund H. North, baseado nos livros de Ladislas Farago e Omar N. Bradley. Elenco: George C. Scott, Karl Malden, Stephen Young.

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3 – M.A.S.H. (M.A.S.H.)
Onde ver: DVD, blu-ray, Star Plus.

Um trio de cirurgiões em um hospital de campanha se defende da violência da guerra com atitudes irreverentes e iconoclastas. A guerra é a da Coreia, nos anos 1950, mas Robert Altman quase não menciona: ele queria que o público associasse ao Vietnã. Também incentivou o elenco a improvisar bastante. O espírito do filme é tão irreverente quanto seus personagens.
Estados Unidos. Direção: Robert Altman. Roteiro: Ring Lardner Jr., baseado em romance de Richard Hooker. Elenco: Donald Sutherland, Elliot Gould, Tom Skerritt, Sally Kellerman, Robert Duvall.

Crítica de M.A.S.H.:
Ser maluco para não enlouquecer

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2 – O CONFORMISTA (Il Conformista)
Onde ver: DVD, Oldflix, YouTube (legendas em espanhol).

O filme acompanha um fascista italiano que precisa cumprir a missão de assassinato de um antigo professor, na França. Apesar de sua dedicação ao fascismo, memórias de infância e as relações tanto com sua recém-esposa quanto com a mulher do professor, ambas extremamente atraentes e que se tornam ligadas uma à outra, complicam tudo. Um belíssimo filme político de Bertolucci, embalado numa fotografia descomunal de Vittorio Storaro.
Itália/ França/ Alemanha Ocidental. Direção e roteiro: Bernardo Bertolucci, baseado em romance de Alberto Moravia. Elenco: Jean-Louis Trintignant, Stefania Sandrelli, Dominique Sanda.

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1 – O JARDIM DOS FINZI CONTINI (Il Giardino dei Finzi Contini)
Onde ver: DVD, YouTube (legendas em inglês).

De Sica mostra o fascínio de um jovem por uma família rica judia, enquanto o fascismo avança na Itália. É o registro de um idílio que vai se desfazendo, de uma ilha de beleza no meio de um mar de horror que a vai engolindo. O fascínio não é só pela família, mas pela bela mulher que, encastelada, não parece ver o que está acontecendo até ser tarde demais. Como a sociedade, aliás.
Itália/ Alemanha Ocidental. Direção: Vittorio de Sica. Roteiro: Ugo Pirro e Vittorio Bonicelli, além de, não creditados, Vittorio de Sica, Cesare Zavattini, Franco Brusati, Alain Katz, Tullio Pinelli e Valerio Zurlini, baseado no livro de Giorgio Bassani. Elenco: Lino Capolichio, Dominique Sanda, Fabio Teste, Helmut Berger.

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OUTRAS LISTAS DE MELHORES:

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NOTA: A percepção sobre os filmes mudam com o tempo. Esta é a minha percepção agora, limitada ao que vi, naturalmente — esta lista pode mudar à medida em que for revisitando alguns filmes ou assistir a outros que ainda não conheço deste ano específico

20 – A VERDADE (La Verité)
Onde ver: DVD, YouTube.

Brigitte Bardot, esplendorosa, é a jovem de vida livre que está sendo julgada pelo assassinato do amante. A moralidade entra na balança, enquanto a história trágica de amor (ou não) é contada em flashback, com doses generosas do corpo de Bardot.
França/ Itália. Direção: Henri-Georges Clouzot. Roteiro: Henri-Georges Clouzot, Simone Drieu, Michèle Perrein, Jérôme Géronimi, Christiane Rochefort e Véra Clouzot. Elenco: Brigitte Bardot, Sami Frey, Marie-Jose Nat.

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19 – O PASSADO NÃO PERDOA (The Unforgiven)
Onde ver: DVD.

Audrey Hepburn, índia? John Huston a escalou como a filha de uma família do velho oeste que pode ter sido roubada de uma tribo. Um ajuste de contas se avizinha. É um faroeste acidentado, mas de charme estranho.
Estados Unidos. Direção: John Huston. Roteiro: Ben Maddow, baseado em livro de Alan le May. Elenco: Burt Lancaster, Audrey Hepburn, Audie Murphy, Lillian Gish.

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18 – VIDA DE ARTISTA ou O ANFITRIÃO (The Entertainer)
Onde ver: DVD (na coleção Nouvelle Vague Britânica), YouTube (legendas em espanhol).

Laurence Olivier é o veterano artista de music hall que faz de tudo para se manter nos palcos, sem perceber que seu tempo está chegando ao fim. Sua decadência é testemunhada pela filha (Joan Plowright, em seu segundo filme). Há metáforas aí com o poder da Inglaterra no mundo e com o próprio Olivier, que fez a peça original na estratégia de não ficar ultrapassado (ele pediu ao dramaturgo rebelde John Osborne que escrevesse esta peça especialmente para ele).
Reino Unido. Direção: Tony Richardson. Roteiro: Nigel Kneale e John Osborne, baseado em peça de Osborne. Elenco: Laurence Olivier, Joan Plowright, Brenda de Banzie, Roger Livesey, Alan Bates, Shirley Anne Field.

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17 – ZAZIE NO METRÔ (Zazie dans le Metro)
Onde ver: DVD.

Uma garotinha solta em Paris quando passa dois dias com o tio (para que a mãe possa passar algum tempo com um namorado). Malle não economiza nonsense e recursos de desenho animado para criar uma fábula louca e encantada, experimentando a linguagem do cinema.
França. Direção: Louis Malle. Roteiro: Louis Malle e Jean-Paul Rappeneau, baseado em Raymond Queneau. Elenco: Catherine Demongeot, Philippe Noiret, Hubert Deschamps, Carla Marlier.

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16 – DUAS MULHERES (La Ciociara)
Onde ver: DVD, Looke, Oldflix, Claro Vídeo.

Sophia Loren foi a primeira pessoa a ganhar um Oscar de atuação num papel que não era falado em inglês. Aos 25 anos, ela interpreta a mãe de uma adolescente tentando livrá-la dos horrores da II Guerra: naquela região, aconteciam estupros em massa. De Sica e Zavattini foram mestres do neo-realismo italiano, cerca de dez anos antes, e voltam um pouco àqueles tempos.
Itália, França. Direção: Vittorio De Sica. Roteiro: Cesare Zavattini e Vittorio De Sica, baseado em romance de Alberto Moravia. Elenco: Sophia Loren, Eleonora Brown, Jean-Paul Belmondo.

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15 – A TORTURA DO MEDO (Peeping Tom)
Onde ver: DVD, Belas Artes a la Carte.

Michael Powell, com filmes que marcaram pela beleza visual nos anos 1940, surpreendeu todo mundo com esse conto macabro de um serial killer que filma suas vítimas mulheres no momento do assassinato, para registrar suas expressões de terror. O sexo (o filme foi o primeiro britânico a mostrar nudez) e a violência não foram perdoados: o filme foi cortado e censurado, e a carreira de Powell ficou em apuros. Mas hoje é cult: sobressai-se o modo perturbador de ver a câmera como uma arma.
Reino Unido. Direção: Michael Powell. Roteiro: Leo Marks. Elenco: Karlheinz Böhm, Anna Massey, Moira Shearer.

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14 – A MÁQUINA DO TEMPO (The Time Machine)
Onde ver: DVD.

A viagem para o futuro de um homem visionário revela uma sociedade muito mais sombria do que ele esperava. Charmosa adaptação do romance de H.G. Wells, um clássico da ficção científica, nas mãos de um grande artista dos efeitos especiais.
Estados Unidos. Direção: George Pal. Roteiro: David Duncan, baseado no romance de H.G. Wells. Elenco: Rod Taylor, Alan Young, Yvette Mimieux.

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13 – ARUANDA
Onde ver: YouTube.

O curta de Linduarte Noronha ganhou lugar de honra na história do cinema brasileiro quando Glauber Rocha o apontou como precursor do cinema novo. O documentário apresenta o cotidiano de um quilombo isolado usando também recursos de encenação. A autoria do roteiro, creditado na tela unicamente ao diretor, é alvo de debate: Vladimir Carvalho e João Ramiro Mello, creditados como assistentes de direção, também seriam co-autores.
Brasil. Direção e roteiro: Linduarte Noronha.

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12 – O VENTO SERÁ TUA HERANÇA (Inherit the Wind)
Onde ver: DVD.

Atualíssimo, embora se passe nos anos 1920: professor é processado por ensinar a Teoria da Evolução das Espécies e não a fantasia do criacionismo. O julgamento na cidadezinha atrai atenção nacional para o duelo visceral entre o promotor fundamentalista e o advogado de  defesa. O “julgamento do macaco” aconteceu mesmo e o filme, além se socialmente contundente, tem grandes atuações e a curiosidade de ver Gene Kelly num papel não musical.
Estados Unidos. Direção: Stanley Kramer. Roteiro: Nedrick Young e Harold Jacob Smith, baseado na peça de Jerome Lawrence e Robert E. Lee. Elenco: Spencer Tracy, Fredric March, Gene Kelly, Dick York.

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11 – SETE HOMENS E UM DESTINO (The Magnificent Seven)
Onde ver: DVD, blu-ray, Telecine Play, Apple TV.

Adaptação (muito mais curta) do épico japonês Os Sete Samurais. Muito justo, já que Akira Kurosawa se inspirou nos faroestes para seu clássico. Às vezes simplifica demais, mas tem muito charme, um elencaço e uma trilha sensacional (de Elmer Bernstein).
Estados Unidos. Direção: John Sturges. Roteiro: William Roberts, com Walter Bernstein (não creditado) e Walter Newman (não creditado), baseado no filme Os Sete Samurais, escrito por Akira Kurosawa, Shinobu Hashimoto e Hideo Oguni. Elenco: Yul Brynner, Eli Wallach, Steve McQueen, Horst Buchholz, Charles Bronson, Robert Vaughn, James Coburn.

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10 – TUDO COMEÇOU NUM SÁBADO (Saturday Night and Sunday Morning)
Onde ver: DVD (na coleção Nouvelle Vague Britânica).

O free cinema inglês mostrando uma Londres muito longe dos castelos e nobres. Albert Finney já começa fazendo uma manifesto de sua visão revoltada de mundo: tudo o que não for diversão “é propaganda”. Nisso, se apaixona por uma garota certinha, mas engravida a amante casada. A vida é dura num filme que é algo bruto e cheio de vitalidade, como seu protagonista.
Reino Unido. Direção: Karel Reisz. Roteiro: Alan Sillitoe, baseado em seu romance. Elenco: Albert Finney, Shirley Anne Field, Rachel Roberts.

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9 – A FONTE DA DONZELA (Jungfrükällan)
Onde ver: DVD, Looke, NetMovies, YouTube.

Bergman visita uma lenda medieval escandinava, de uma virgem que é atacada por bandidos. É um filme trágico, mas menos pesado que outros carregados de inquietações psicológicas que Bergman dirigiu. Aqui, há relações com a mitologia nórdica e inspiração declarada do diretor sueco no japonês Kurosawa.
Suécia. Direção: Ingmar Bergman. Roteiro: Ulla Isaksson. Elenco: Max von Sydow, Birgitta Valberg, Gunnel Lindblom.

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8 – A AVENTURA (L’Avventura)
Onde ver: DVD, YouTube (legendas em italiano).

No Mediterrâneo, uma mulher desaparece. Seu amante e sua melhor amiga a procuram e acabam ficando atraídos um pelo outro. A partir de certo momento, o desaparecimento dela deixa de importar? O filme é o primeiro da Trilogia da Incomunicabilidade de Antonioni, seguido por A Noite (1961) e O Eclipse (1962) e foi atacado por moralistas bobocas.
Itália/ França. Direção: Michelangelo Antonioni. Roteiro: Michelangelo Antonioni, Elio Bartolini e Tonino Guerra, de argumento de Antonioni. Elenco: Monica Vitti, Gabriele Ferzetti, Lea Massari.

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7 – SPARTACUS (Spartacus)
Onde ver: DVD, blu-ray, Telecine Play, Looke, NetMovies, Oi Play, Claro Vídeo, Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes.

Kirk Douglas produziu, Anthony Mann começou a dirigir e acabou parando nas mãos de Stanley Kubrick. Em muita coisa, a cara ainda é de um filme de Mann, mas Kubrick se defendeu bem num épico de modelo clássico. E Kirk ainda bateu na cara do macartismo ao não só empregar Dalton Trumbo no roteiro como colocar os créditos na tela.
Estados Unidos. Direção: Stanley Kubrick. Roteiro: Dalton Trumbo, com contribuições não creditadas de Peter Ustinov e Calder Willingham, baseado no romance de Howard Fast e registros de Plutarco. Elenco: Kirk Douglas, Laurence Olivier, Jean Simmons, Tony Curtis, Charles Laughton, Peter Ustinov, John Gavin, Nina Foch, Herbert Lom, Woody Strode.

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6 – O MENSAGEIRO TRAPALHÃO (The Bellboy)
Onde ver: DVD.

Em seu primeiro filme como diretor, Jerry Lewis mostrou que não queria apenas sentar no trono de astro da comedia. O prólogo satiricamente pomposo já avisa que trata-se de um filme “sem história”. De fato, não há uma trama central: apenas uma coleção de gags sobre o cotidiano de um mensageiro de um hotel de luxo em Miami. Lewis ainda faz um personagem que não diz uma palavra (bem quase), uma homenagem aos cômicos do cinema mudo. Ele arranca o motor de um Fusca achando que é a bagagem do hóspede. Em outra cena: rege uma orquestra inexistente, um de seus grandes momentos de pantomima.
Estados Unidos. Direção e roteiro: Jerry Lewis. Elenco: Jerry Lewis, Alex Gerry, Milton Berle.

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5 – ROCCO E SEUS IRMÃOS (Rocco i Suoi Fratelli)
Onde ver: DVD, Belas Artes a la Carte.

Até onde é bom ser bom? Esta é a questão que acompanha a jornada de Rocco, que vai tendo que escolher entre “o que é certo” e a família, com quem migrou para Milão. O maior dilema: a disputa pela bela prostituta com o irmãos malandro e agressor. Os Parondi vão tentando sobreviver cada um ao seu modo na metrópole sob o olhar duro de Luchino Visconti.
Itália/ França. Direção: Luchino Visconti. Roteiro: Suso Cecchi D’Amico, Pasquale Festa Campanile, Massimo Franciosa, Enrico Medioli e Luchino Visconti, a partir de argumento de Visconti, D’Amico e Vasco Pratolini, baseado em romance de Giovanni Testori. Elenco: Alain Delon, Renato Salvatori, Annie Girardot, Katina Paxinou.

Crítica de Rocco e Seus Irmãos:
Até onde ser bom é bom?

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4 – ACOSSADO (À Bout de Souffle)
Onde ver: DVD, blu-ray, Telecine Play, Apple TV/ iTunes, Microsoft Store, Google Play/ YouTube Filmes.

Godard estreia na direção sacudindo o mundo do cinema. Forçado a reduzir a duração de seu filme, resolveu não cortar uma ou outra sequência inteira, mas retirar trechos de dentro de cada cena. Não importou que o filme ficasse todo saltado — o cinema agradeceu essa liberdade na montagem. Jean-Luc mostrou seu amor ao filme de gangster americano, filmou escondido Jean Seberg oferecendo o Herald Tribune no Champs-Elysées, e consagrou de vez a nouvelle vague.
França. Direção: Jean-Luc Godard. Roteiro: Jean-Luc Godard (não creditado), baseado no roteiro original de François Truffaut e Claude Chabrol (não creditado). Elenco: Jean-Paul Belmondo, Jean Seberg, Daniel Boulanger.

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3 – A DOCE VIDA (La Dolce Vita)
Onde ver: DVD, blu-ray, Telecine Play.

Marcello flana por Roma, entre os ricos e famosos. E, entre muitos episódios, vai encontrando muitos vazios – inclusive o dele próprio. Longo e melancólico, com final enigmático e uma sequência que entrou para a história (Anita Ekberg na Fontana di Trevi), com fotografia de Otello Martelli e música de Nino Rota, é um dos mais emblemáticos filmes de Fellini. O que passa longe de ser pouco. Palma de Ouro em Cannes.
Itália/ França. Direção: Federico Fellini. Roteiro: Federico Fellini, Ennio Flaiano, Tullio Pinelli, Brunello Rondi, Pier Paolo Pasolini (não creditado). Elenco: Marcello Mastroianni, Anouk Aimée, Anita Ekberg, Yvonne Funeaux, Magali Noël.

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2 – SE MEU APARTAMENTO FALASSE (The Apartment)
Onde ver: DVD, Telecine Play, Oi Play, Apple TV/ iTunes.

Após o esfuziante Quanto Mais Quente Melhor, Billy Wilder levou o filme seguinte mais para o melancólico: o solitário Baxter é tão solitário que empresta seu apartamento para os chefes se esbaldarem com as amantes (enquanto ele espera na rua fria para usar a própria casa). Em troca, aquela forcinha para subir na firma. Quando o dono da empresa faz uso do serviço, Baxter descobre que a amante é Miss Kubelik, a ascensorista de quem ele gosta. Billy reduz o tom e sobe ao sublime, culminando no final, com o famoso “Cale a boca e dê as cartas”. Oscar de melhor filme.
Estados Unidos. Direção: Billy Wilder. Roteiro: Billy Wilder e I.A.L. Diamond. Elenco: Jack Lemmon, Shirley MacLaine, Fred MacMurray.

Crítica de Se Meu Apartamento Falasse:
Melancólico e sublime

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1 – PSICOSE (Psycho)
Onde ver: DVD, blu-ray, Telecine Play, Oi Play, Claro Vídeo, Apple TV/ iTunes.

Dirigir um filme também é dirigir o espectador. Ninguém foi melhor nisso que Alfred Hitchcock. E ele nunca foi melhor nisso que em Psicose. Arriscado, e com a equipe de seu programa de TV para ter agilidade, Hitch reservou uma semana das quatro de filmagens só para rodar a xena do chuveiro, recomendou que ninguém fosse admitido nos cinemas após o início do filme e que ninguém contasse o final. Faz o público acompanhar uma personagem antes de subverter tudo, usa posições e movimentos de câmera para revelar e esconder o que quer sem que o espectador perceba. Cinema purissimo (e ainda tem a trilha sensacional de Bernard Herrmann).
Estados Unidos. Direção: Alfred Hitchcock. Roteiro: Joseph Stefano, baseado no romance de Robert Bloch. Elenco: Anthony Perkins, Janet Leigh, Vera Miles, John Gavin, Martin Balsam.

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OUTRAS LISTAS DE MELHORES:

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NOTA: A percepção sobre os filmes mudam com o tempo. Esta é a minha percepção agora, limitada ao que vi, naturalmente — esta lista pode mudar à medida em que for revisitando alguns filmes ou assistir a outros que ainda não conheço deste ano específico

SE MEU APARTAMENTO FALASSE
The Apartment, 1960
Direção: Billy Wilder. Elenco: Jack Lemmon, Shirley MacLaine, Fred MacMurray.
Diário de Filmes 2021: 1
⭐⭐⭐⭐⭐

“Agridoce” é o adjetivo ideal. Billy Wilder e I.A.L. Diamond escreveram essa comédia romântica com tintas fortes de drama, e entregaram um dos melhores filmes da dupla (vencedor de cinco Oscars, incluindo Filme, Direção e Roteiro).

Baxter (Jack Lemmon) é um solteiro que empresta seu apartamento para que executivos da empresa tenham encontros com as amantes. Sua expectativa é que isso o ajude a subir na empresa. Um dia, o chefão descobre o esquema e pede a chave. E Baxter descobre que a amante dele é a ascensorista da empresa (Shirley MacLaine), de quem ele gosta.

Mas essas coisas, a decepção e o dilema moral que se seguem e suas consequências são costuradas num roteiro fantástico, que sempre elabora as informações, as revelações, os porquês. Nada é narrado da maneira mais fácil. Até o desfecho, onde Wilder e seus parceiros sempre brilham, evita o óbvio e se tornou um clássico particular: “Cale a boca e dê as cartas”.

Lemmon, quase um Jerry Lewis no filme anterior que fez com Billy (Quanto Mais Quente Melhor), aqui está mais contido. Engraçado, mas melancólico, frequentemente patético tendo que andar na rua sem destino, no frio, enquanto seus superiores se esbaldam no seu apê e deixam a má fama de festeiro e mulherengo pra ele.

Já Shirley MacLaine, como a Srta. Kubelik, passa longe da mocinha ingênua e melodramática. Mesmo suas atitudes mais drásticas tem uma cobertura de razão, como se tivessem sido pensadas com cuidado, mesmo quando, na verdade, não são.

Em preto-e-branco e Cinemascope, Wilder evoca a infinidade de mesas de trabalho do clássico mudo A Turba, de 1928, torna a época natalina lúgubre e a festa de ano novo sombria. Na história de seus dois solitários esmagados pela corporação onde trabalham, Wilder reduziu o tom para alcançar algo maior.

Onde ver: DVD, Telecine Play.

20 – CARNAVAL NO FOGO
Onde ver: YouTube (faltam trechos).

É o filme que estabeleceu o modelo clássico das chanchadas (não sou eu quem digo, é o Sérgio Augusto, no Este Mundo É um Pandeiro), com muita confusão no Copacabana Palace, trocas de identidade, números musicais com artistas do rádio, José Lewgoy de vilãozão, Eliana como a mocinha que dá bordoadas, e, claro, Oscarito e Grande Otelo. Não apenas isso, mas Oscarito e Grande Otelo na antológica cena do balcão de Romeu e Julieta. Otelo estava vivendo uma tragédia indizível: na noite anterior à filmagem da cena, a esposa do ator tinha matado uma filha do casal e se matado. Bebeu sem parar, foi filmar mesmo assim aos bagaços e entregou uma performance antológica.
Brasil. Direção: Watson Macedo. Roteiro: Alinor Azevedo e Watson Macedo, de argumento de Anselmo Duarte. Elenco: Oscarito, Anselmo Duarte, Eliana Macedo, José Lewgoy, Grande Otelo, Adelaide Chiozzo, Wilson Grey, Jece Valadão, Dircinha Batista, Bené Nunes.

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19 – RIO BRAVO ou RIO GRANDE (Rio Grande)
Onde ver: DVD, Telecine Play, Looke, Oldflix, Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes.

A melhor coisa de John Ford não está em seus filmes sobre cavalaria, mas de novo ele se aproveita do cenário para tratar da relação entre os personagens: um coronel que vê o próprio filho (que ele não vê desde que o rapaz era um bebê) ingressar como soldado em suas fileiras para o difícil combate com os índios, e a mãe do rapaz, que vai lá buscá-lo. O conflito interno entre o dever com a família e o dever com o exército é o cerne do personagem de John Wayne. Além do mais, é o filme que viabilizou o posterior (e maravilhoso) Depois do Vendaval e é o primeiro dos cinco filmes de Wayne com Maureen O’Hara – então a gente tem que agradecer. O título brasileiro é curioso. O Rio Grande do original virou Rio Bravo aqui. Acontece que o rio que é fronteira dos EUA com o México é chamado de Grande do lado americano e Bravo do lado mexicano – e a tradução brasileira optou pelo nome do México. Quando anos depois Hollywood lançou um filme chamado Rio Bravo (Onde Começa o Inferno, aqui), deu-se a confusão. Em DVD, o filme de Ford chegou a sair com o título original: Rio Grande.
Estados Unidos. Direção: John Ford. Roteiro: James Kevin McGuiness, baseado em conto de James Warner Bellah. Elenco: John Wayne, Maureen O’Hara, Ben Johnson, Claude Jarman Jr, Victor McLaglen.

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18 – BONITA E VALENTE (Annie Get Your Gun)
Onde ver: DVD.

Annie Oakley, atiradora que foi estrela do show de Buffalo Bill no velho oeste e foi adotada pelo chefe índio Touro Sentado, inspirou um musical no teatro produzido por Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II, com músicas de Irving Berlin, e, depois, este filme da MGM. Judy Garland começou a filmar, mas foi demitida. Busby Berkeley também começou dirigindo e recebeu o bilhete azul. Muita confusão, mas o filme sobrevive com cenas ótimas como “There’s no business like show business” e “Anything you can do, I can do better’.
Estados Unidos. Direção: George Sidney, Busby Berkeley (não creditado). Roteiro: Sidney Sheldon, baseado em peça musical de Herbert Fields e Dorothy Fields. Elenco: Betty Hutton, Howard Keel, Louis Calhern, J. Carrol Naish.

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17 – PÂNICO NAS RUAS (Panic in the Streets)
Onde ver: DVD (na coleção Filme Noir – Vol. 5).

Inesperada atualidade para esse filme: uma caçada policial a um assassino, mas o motivo principal é que ele está infectado com uma doença e pode contaminar a cidade. Kazan estava ainda nos primeiros anos de sua grande carreira como diretor.
Estados Unidos. Direção: Elia Kazan. Roteiro: Richard Murphy, argumento de Edna Anhalt e Edward Anhalt, e adaptação de Daniel Fuchs. Elenco: Richard Widmark, Paul Douglas, Barbara Bel Geddes, Jack Palance, Zero Mostel.

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16 – ESSE PINGUIM É UMA FRIA (8 Ball Bunny)
Onde ver: YouTube.

“Com licença. Tem algum trocado para ajudar um compatriota americano um pouco sem sorte?”. Azar deu o Pernalonga, ao dar de cara com um pinguim e se comprometer a levá-lo para casa – na Antártida. A viagem rende um dos melhores curtas do coelho, o tempo todo esbarrando no Humphrey Bogart maltrapilho do começo de O Tesouro de Sierra Madre.
Estados Unidos. Direção: Chuck Jones. Roteiro: Michael Maltese. Vozes na dublagem original: Mel Blanc, Dave Barry.

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15 – O MATADOR (The Gunfighter)
Onde ver: DVD, YouTube (dublado).

A fama de rápido no gatilho pode parecer bacana, mas cobra um preço. É sobre isso este filme, um exemplar do que ficou sendo chamado de faroeste psicológico: um pistoleiro chega a uma cidadezinha e sua mera presença leva turbulência ao lugar. Alguns querem vingança, outros querem fama. Ele não quer briga, só reencontrar a humanidade que já teve e deixou para trás.
Estados Unidos. Direção: Henry King. Roteiro: William Bowers e William Sellers, argumento de William Bowers e André De Toth. Elenco: Gregory Peck, Helen Westcott, Millard Mitchell, Jean Parker, Karl Malden.

Crítica de O Matador:
O peso da fama

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14 – A ILHA DO TESOURO (Treasure Island/ Robert Louis Stevenson’s Treasure Island)
Onde ver: DVD, Disney Plus.

Primeiro filme da Disney totalmente com atores, é uma aventurona que adapta um dos maiores clássicos literários do gênero. E não decepciona: é uma produção bem cuidada, movimentada e até violenta para os padrões de hoje do cinema infanto-juvenil.
Estados Unidos/ Reino Unido. Direção: Byron Haskin. Roteiro: Lawrence Edward Watkin, baseado em romance de Robert Louis Stevenson. Elenco: Bobby Driscoll, Robert Newton, Basil Sidney, Walter Fitzgerald.

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13 – OS ESQUECIDOS (Los Olvidados)
Onde ver: DVD, YouTube.

Buñuel começou seu exílio no México com este filme, já uma pedrada na sociedade do país adotivo. Com atmosfera neo-realista, o cineasta espanhol conta a história de garotos marginalizados e a violência ao seu redor sem economizar nas tintas. Pessoas no país não gostaram nada de ver suas mazelas expostas de tal maneira.
México. Direção: Luís Buñuel. Roteiro: Luis Alcoriza e Luís Buñuel. Elenco: Alfonso Mejía, Roberto Cobo, Estela Inda, Miguel Inclán.

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12 – O GAROTO FABULOSO (Gerald McBoing-Boing)
Onde ver: YouTube (som original).

Nem Warner, nem Disney, nem MGM: foi a UPA que surpreendeu e ganhou o Oscar de curta de animação com este primor de grafismo. Baseado na obra do Dr. Seuss, o filme conta a história do garoto que não falava, só dizia ‘boing’.
Estados Unidos. Direção: Robert Cannon. Roteiro: Bill Scott e Phil Eastman, baseado em história de Dr. Seuss. Narração na dublagem original: Marvin Miller.

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11 – WINCHESTER 73 (Winchester 73)
Onde ver: DVD, Looke, NetMovies.

Anthony Mann ajudou a reinventar a carreira de Jimmy Stewart. Consagrado como bom moço, tímido e idealista, aqui ele é durão, amargo e vingativo. Sua carreira também não vinha bem das pernas e esta redefinição veio bem a calhar.
Estados Unidos. Direção: Anthony Mann. Roteiro: Robert L. Richards e Borden Chase, de argumento de Stuart N. Lake. Elenco: James Stewart, Shelley Winters, Dan Duryea, Millard Mitchell.

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10 – O SEGREDO DAS JÓIAS (The Asphalt Jungle)
Onde ver: DVD (só e na coleção Filme Noir – Vol. 3).

Um dos grandes filmes de roubo da história. John Huston mostra uma coleção de personagens antes, durante e depois de um muito arquitetado assalto a uma joalheria. De quebra, duas beldades daquelas: Jean Hagen (que dali a dois anos seria a inesquecível Lina Lamont de Cantando na Chuva) e ninguém menos que Marilyn Monroe (em papel pequeno, mas roubando a cena).
Estados Unidos. Direção: John Huston. Roteiro: Ben Maddow e John Huston, baseado em romance de W.R. Burnett. Elenco: Sterling Hayden, Sam Jaffe, Louis Calhern, Jean Hagen, Marilyn Monroe, James Whitmore, Jack Warden, Marc Lawrence.

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9 – NASCIDA ONTEM (Born Yesterday)
Onde ver: DVD, Claro Vídeo.

Judy Holliday ganhou o Oscar com essa interpretação com a qual já tinha arrasado no teatro: a amante de um político brutalhão e corrupto que deve receber uma aula de etiqueta de um jornalista, mas acaba adquirindo cidadania e o poder de pensar. Holliday conseguiu outro feito raro: foi indicada ao Globo de Ouro a melhor atriz de comédia (que ganhou) e de drama pelo mesmo papel.
Estados Unidos. Direção: George Cukor. Roteiro: Albert Mannheimer, baseado em peça de Garson Kanin. Elenco: Judy Holliday, William Holden, Broderick Crawford, Howard St. John, Frank Otto.

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8 – STROMBOLI (Stromboli, Terra di Dio)
Onde ver: DVD.

Ingrid Bergman largou o estrelato em Hollywood para fazer filmes neo-realistas na Itália. Foi parar numa ilhota vulcânica primitiva como a mulher linda e sofisticada entre os aldeões brutalizados — um choque cultural inevitável.
Itália/ Estados Unidos. Direção: Roberto Rossellini. Roteiro: Roberto Rossellini, com colaboração de Sergio Amidei, Gian Paolo Callegari, Art Cohn, Renzo Cesana e Félix Morlión. Elenco: Ingrid Bergman, Mario Vitale, Renzo Cesana.

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7 – PATETA NO TRÂNSITO ou MOTORMANIA (Motor Mania)
Onde ver: YouTube (dublado).

O Sr. Andante e o Sr. Volante são as duas faces de uma mesma pessoa que é o Dr. Jekyll quando pedestre e vira o Mr. Hyde quando entra no carro. Ainda é a melhor tradução dos humores de boa parte do trânsito em qualquer lugar do mundo. O curta é daquela série da Disney em que todos os personagens são versões do Pateta, numa sátira da sociedade. E este é eterno.
Estados Unidos. Direção: Jack Kinney. Roteiro: Dick Kinney e Milt Schaffer. Vozes na dublagem original: Bob Jackman, John McLeish.

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6 – O COELHO DE SEVILHA (Rabbit of Seville)
Onde ver: DVD Aventuras com Pernalonga – Vol. 1.

O final dos anos 1940 e o começo dos anos 1950 foi a época mais incrível do Pernalonga. Seus dois melhores diretores – Chuck Jones e Friz Freleng – estavam no máximo e deram ao seu astro o melhor material em que trabalhar. Aqui, a eterna perseguição do Hortelino ao coelho invade o palco de uma ópera que está para começar e se desenrola freneticamente ao som da abertura de O Barbeiro de Sevilha.
Estados Unidos. Direção: Chuck Jones. Roteiro: Michael Maltese. Vozes na dublagem original: Mel Blanc, Arthur Q. Bryan.

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5 – CINDERELA ou A GATA BORRALHEIRA (Cinderella)
Onde ver: DVD, blu-ray, Disney Plus, Looke, YouTube (dublado).

Em apuros financeiros, a Disney recorreu à fórmula com que fez sucesso em Branca de Neve e os Sete Anões (1937): uma garota oprimida por uma madrasta, bondosa a ponto de conversar com os bichinhos, e que, no fim, vive feliz para sempre com seu príncipe. Com a ajuda de uma fada madrinha, como em Pinóquio (1940). O estilo de conto-de-fadas é cativante, mas o que torna o filme memorável, mesmo, é a animação maravilhosa, em cenas como a de Cinderela esfregando o chão e as bolhas de sabão repetindo sua imagem, ou sua corrida em desespero para a escuridão e saindo ao fundo para o jardim, vista através da grande janela. Para rapidez, o estúdio filmou tudo com uma atriz antes – os desenhistas disseram depois que não gostaram muito disso, e usaram só o que achavam que deviam. No Brasil, o filme foi exibido nos cinemas (na estreia e em reprises até os anos 1990) de A Gata Borralheira.
Estados Unidos. Direção: Wilfred Jackson, Hamilton L. Luske, Clyde Geronimi. Roteiro: Bill Peet, Erdman Penner, Ted Sears, Winston Hibler, Homer Brightman, Harry Reeves, Ken Anderson, Joe Rinaldi, Maurice Rapf (não creditado), Frank Tashlin (não creditado). Vozes originais: Ilene Woods, Eleanor Audley, Verna Felton. Vozes na dublagem brasileira: Simone de Morais, Tina Vita, Olga Nobre, Aloysio de Oliveira.

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4 – MORTALMENTE PERIGOSA (Gun Crazy/ Deadly Is the Female)
Onde ver: DVD (só ou na coleção Filme Noir – Vol. 2).

17 anos antes de Bonnie & Clyde, o filme, e 16 anos após a morte do casal real de assaltantes de banco, houve Mortalmente Perigosa. Clássico exemplar do filme B: com baixo orçamento, mas muita personalidade e grandes ideias narrativas. Aqui, o fio condutor é o amor bandido entre um atirador e sua esposa que parece gostar demais do crime. Além da tensão sexual e psicológica entre os protagonistas, há cenas como a do assalto a banco, mostrado num plano-sequência. Com a câmera sempre dentro do carro, ela mostra desde a chegada do casal à cidade até a fuga.
Estados Unidos. Direção: Joseph H. Lewis. Roteiro: MacKinlay Kantor e Dalton Trumbo (como Millard Kaufman), com argumento de Kantor. Elenco: Peggy Cummins, John Dall, Berry Kroeger, Anabel Shaw, Harry Lewis.

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3 – RASHOMON (Rashomon)
Onde ver: DVD, Belas Artes a la Carte.

Foi no Festival de Veneza que Rashomon mostrou ao ocidente a qualidade do cinema que se fazia no Japão. A história do samurai e sua esposa surpreendidos por um ladrão na floresta (o que terminou com a morte do marido) é contada quatro vezes, de maneira muito diferente dependendo do ponto de vista de quem conta. A verdade é a contada pela mulher, pelo ladrão, pelo fantasma do morto ou por um observador de fora, que estava passando na hora? Kurosawa disse que Rashomon espelhava a vida, e a vida não tinha sentido.
Japão. Direção: Akira Kurosawa. Roteiro: Akira Kurosawa e Shinobu Hashimoto, baseado em história de Ryunosuke Akutagawa. Elenco: Toshiro Mifune, Machiko Kyo, Masayuki Mori, Takashi Shimura.

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2 – A MALVADA (All About Eve)
Onde ver: DVD, blu-ray, Telecine Play.

Uma atriz está para ser laureada nas primeiras cenas de A Malvada. “Saberemos tudo sobre Eve”, diz o narrador. Então vemos sua aparição quase como uma gatinha escondida num beco chuvoso, uma fã ardorosa que cai nas graças de uma amiga da estrela do teatro, de quem Eve é devota. O que acontece entre um ponto e outro é um dos grandes filmes da história, capitaneado por duas atrizes esplêndidas: Bette Davis e Anne Baxter. Entre os coadjuvantes, a competência de sempre de Celeste Holm, uma brilhante Thelma Ritter, um refinadamente odioso George Sanders e uma iniciante Marilyn Monroe. A bordo de um roteiro que entrega um diálogo antológico após outro. Narrado quase todo o tempo por flashbacks de personagens diferentes, é um mergulho fascinante e duro no mundo do teatro. Ganhou o Oscar de melhor filme e outros cinco, partindo de 14 indicações (recorde até hoje).
Estados Unidos. Direção: Joseph L. Mankiewicz. Roteiro: Joseph L. Mankiewicz, baseado em conto de Mary Orr (não creditada). Elenco: Bette Davis, Anne Baxter, George Sanders, Celeste Holm, Gary Merrill, Hugh Marlowe, Thelma Ritter, Marilyn Monroe, Gregory Ratoff, Barbara Bates.

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1 – CREPÚSCULO DOS DEUSES (Sunset Blvd.)
Onde ver: DVD, blu-ray, Telecine Play, Oi Play, Claro Vídeo, Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, Microsoft Store.

“Você é Norma Desmond. Você era grande!”. “Eu SOU grande. Os filmes é que ficaram pequenos”. Billy Wilder deu uma sapatada na cara de Hollywood com essa história tortuosa do roteirista fuleira que se envolve com uma estrela do cinema mudo, aposentada contra a vontade quando os filmes passaram a ser falados. É cheio de piadas internas: Gloria Swanson tinha sido mesmo uma estrela dos filmes mudos, Erich von Stroheim foi um dos grandes diretores dela, Cecil B. De Mille e a colunista Hedda Hopper interpretam a si mesmos, Buster Keaton faz uma ponta. Billy dá um nó tático narrativo desde o começo ao fazer o filme ser narrado por um morto, enche o filme de frases antológicas e o encerra com um dos melhores e terríveis finais já vistos. “Tudo bem, Sr. DeMille, estou pronta para o meu close-up”.
Estados Unidos. Direção: Billy Wilder. Roteiro: Billy Wilder, Charles Brackett e D.M. Marshman Jr. Elenco: William Holden, Gloria Swanson, Erich von Stroheim, Nancy Olson, Fred Clark, Jack Webb, Cecil B. DeMille, Buster Keaton, Hedda Hopper, H.B. Warner.

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OUTRAS LISTAS DE MELHORES:

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NOTA: A percepção sobre os filmes mudam com o tempo. Esta é a minha percepção agora, limitada ao que vi, naturalmente — esta lista pode mudar à medida em que for revisitando alguns filmes ou assistir a outros que ainda não conheço deste ano específico

Todo ano, dias antes do Oscar, é a mesma coisa: o Oscar erra, o Oscar é injusto. É evidente que sim.

Às vezes o lobby fala mais alto, às vezes existe um ranço contra alguém, às vezes a consciência geral sobre a grandeza de um filme acaba vindo muito depois de ele ser lançado e não no momento.

Há casos de escolhas inacreditáveis em todas as categorias. Aqui embaixo vem um top 10 de grandes injustiças só na categoria melhor filme.

Mas o Oscar acerta também. Muitas vezes, e acho que há mais acertos do que erros clamorosos. E aí é preciso entender o seguinte: algumas vezes eu posso achar que o filme eleito não é o melhor, mas também não achar a escolha absurda. Em tempos de polarização radical, essa perspectiva pode parecer incompreensível, mas eu a tenho.

Por exemplo, Moonlight ganhou em 2017, mas não era meu preferido para vencer, que seria La La Land ou Manchester à Beira-Mar. Mas tudo bem, não considero “um erro”. Há um espectro de possibilidades que considero aceitável.

Mas, como eu dizia, o Oscar acertou muitas vezes. Acertos cravando filmes que se tornaram clássicos incontestáveis ou opções certeiras em anos mais divididos.

Vamos às duas listas, então. Elas se referem unicamente à categoria de melhor filme e, para efeito de referência, levando em conta apenas os filmes indicados. Os anos são da cerimônia em que os filmes concorreram:

TOP 10 JUSTIÇAS DO OSCAR:

humphrey bogart & ingrid bergman - casablanca 1943

1 — 1944: CASABLANCA

Poderoso Chefao - 27

2 — 1973: O PODEROSO CHEFÃO

Lawrence da Arabia

3 — 1963: LAWRENCE DA ARÁBIA

 

Se Meu Apartamento Falasse-02

4 — 1961: SE MEU APARTAMENTO FALASSE

Imperdoaveis - 01

5 — 1993: OS IMPERDOÁVEIS

lista-de-schindler-043

6 — 1994: A LISTA DE SCHINDLER

Poderoso Chefao2-04

7 — 1975: O PODEROSO CHEFÃO — PARTE II

Novica Rebelde-02

8 — 1966: A NOVIÇA REBELDE

Aconteceu Naquela Noite-05

9 — 1935: ACONTECEU NAQUELA NOITE

Golpe de Mestre - 11

10 — 1974: GOLPE DE MESTRE

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TOP 10 INJUSTIÇAS DO OSCAR:

Todos os Homens do Presidente-07

“Todos os Homens do Presidente”

1 — 1977: Quem concorria: TODOS OS HOMENS DO PRESIDENTE; TAXI DRIVER; REDE DE INTRIGAS
Quem venceu: ROCKY, UM LUTADOR

Boa Noite e Boa Sorte-08

“Boa Noite e Boa Sorte”

2 — 2006: Quem concorria: BOA NOITE E BOA SORTE; O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN
Quem venceu: CRASH — NO LIMITE

cidadao-kane-19

“Cidadão Kane”

3 — 1942: Quem concorria: CIDADÃO KANE
Quem venceu: COMO ERA VERDE O MEU VALE

Touro Indomavel - 03

“Touro Indomável”

4 — 1981: Quem concorria: TOURO INDOMÁVEL
Quem venceu: GENTE COMO A GENTE

Roma - 01

“Roma”

5 —  2019: Quem concorria: ROMA; INFILTRADO NA KLAN
Quem venceu:-GREEN BOOK —  O GUIA

Tigre e o Dragao-2

“O Tigre e o Dragão”

6 — 2001: Quem concorria: O TIGRE E O DRAGÃO; TRAFFIC
Quem venceu: GLADIADOR

Resgate do Soldado Ryan - 01

“O Resgate do Soldado Ryan”

7 — 1999: Quem concorria: ELIZABETH; A VIDA É BELA; O RESGATE DO SOLDADO RYAN
Quem venceu: SHAKESPEARE APAIXONADO

Bons Companheiros - 01

“Os Bons Companheiros”

8 — 1991: Quem concorria: OS BONS COMPANHEIROS
Quem venceu: DANÇA COM LOBOS

Cacadores da Arca Perdida - 01

“Os Caçadores da Arca Perdida”

9 — 1982: Quem concorria: OS CAÇADORES DA ARCA PERDIDA; REDS
Quem venceu: CARRUAGENS DE FOGO

Fargo - 01

“Fargo”

10 — 1997: Quem concorria: FARGO
Quem venceu: O PACIENTE INGLÊS

Gilda - 01

Rita Hayworth em “Gilda” (1946)

50. ‘I WANNA BE LOVED BY YOU’, de Quanto Mais Quente Melhor (1959)
Com Marilyn Monroe. Direção: Billy Wilder. Coreografia: Jack Cole. Canção de Herbert Stothart, Harry Ruby e Bert Kalmar.

“Boop-boop-a-doop”. A canção de 1928 é a cara da Betty Boop e não por acaso: a interpretação de Helen Kane, com sua voz meio infantil cantando esse “boop-boop-a-doop” inspirou a criação da personagem dos desenhos animados, em 1930. Como Quanto Mais Quente Melhor se passa em 1929, caiu como uma luva para Marilyn desfilar sua sensualidade brejeira na canção. Como Billy Wilder dizia, filmar com Marilyn podia ser um pesadelo, mas o resultado compensava de longe.

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49. ‘SO LONG, FAREWELL’, de A Noviça Rebelde (1965)
Com Charmian Carr, Nicholas Hammond, Heather Menzies-Urich, Duane Chase, Angela Cartwright, Debbie Turner e Kym Karath. Direção: Robert Wise. Coreografia: Marc Breaux e Dee Dee Wood. Canção de Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II.

O capitão Von Trapp não que transformar sua família num grupo musical, mas está difícil. No final de uma festa em casa, seus sete filhos se despedem dos convidados com este encantador número musical. Uma das forças desse filme é o carisma das crianças. “So long, farewell, auf wiedersehen, adieu”, em um número reprisado mais tarde no filme (e rever sempre é muito bem-vindo).

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48. ‘CABARET’, de Cabaret (1972)
Com Liza Minnelli. Direção e coreografia: Bob Fosse. Canção de John Kander e Fred Ebb.

Liza, sozinha em cena: e precisa mais? A canção-título do filme estabelece que esse não é um musical inocente como a maioria do que vieram antes dele. E, três anos após a morte da mãe Judy Garland, Liza chama o trono para si com toda a justiça, ao menos nesse filme. A vida é um cabaré, old chum, apesar dos profetas do pessimismo.

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47. ‘A WHOLE NEW WORLD’, de Aladdin (1992)
Com Brad Kane e Lea Salonga (vozes). Direção: John Musker e Ron Clements. Canção de Alan Menken e Tim Rice.

Aladdin joga baixo para conquistar a princesa Jasmine: a leva em um passeio de tapete mágico pelo mundo. As maravilhas que vai encontrando são embaladas pela maravilha que é essa canção vencedora do Oscar. A animação é um deslumbre.

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46. ‘THE BALLET OF RED SHOES’, de Sapatinhos Vermelhos (1948)
Com Moira Shearer, Alan Carter, Joan Harris. Direção: Michael Powell e Emeric Pressburger. Coreografia: Robert Helpmann. Música de Brian Esdale.

Bailarina de carreira consolidada nos anos 1940, a escocesa Moira Shearer estreou no cinema no papel principal de Sapatinhos Vermelhos. E o ponto alto do filme é o balé que dá nome ao filme, um número espetacular de quase 15 minutos, que soma recursos cinematográficos à atmosfera da dança no palco para ir além da fábula dançada e representar o turbilhão emocional da protagonista: closes, planos de detalhe, câmera lenta, sobreposição de imagens. Este número impressionou tanto Gene Kelly que o inspirou para Sinfonia de Paris (1951).

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45. ‘ALWAYS LOOK ON THE BRIGHT SIDE OF LIFE’, de A Vida de Brian (1979)
Com Eric Idle. Direção: Terry Jones. Canção de Eric Idle.

Essa música adorável e incrivelmente otimista, com assobios e tudo, é um dos momentos mais clássicos do grupo Monty Python. Contribui para isso, é claro, o fato de ela ser cantada por um grupo que está sendo crucificado na Judeia dos tempos de Cristo. O tipo de nonsense que foi a genialidade do grupo inglês.

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44. ‘CAN’T BUY ME LOVE’, de A Hard Day’s Night (1964)
Com The Beatles. Direção: Richard Lester. Canção de Paul McCartney (creditada a John Lennon e Paul McCartney).

A Hard Day’s Night acompanha os Beatles no que seria seu cotidiano típico de correrias para fugir das fãs, compromissos comerciais e entrevistas chatas pra caramba. Em um momento de descuido dos outros, eles escapolem por uma porta, dão numa escada externa e se divertem a valer em campo aberto, filmados de helicóptero em patetices de cinema mudo. Sua descida pelas escadas é uma das mais célebres do grupo.

Para assistir, clique aqui.

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43. ‘PUT THE BLAME ON MAME’, de Gilda (1946)
Com Rita Hayworth (voz de Anita Ellis). Direção: Charles Vidor. Coreografia: Jack Cole. Canção de Allan Roberts e Doris Fischer.

Pê da vida com o marido, (“nunca houve uma mulher como”) Gilda irrompe no palco do nightclub que ele dirige e canta “Put the blame on Mame”. Não só isso, como tira uma das luvas — e é o bastante para que seja um dos mais sexy strip-teases da história. O vestido tomara-que-caia ajuda: nos closes é como se Gilda… bem… não estivesse usando nada.

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42. ‘BELLE’, de A Bela e a Fera (1991)
Com Paige O’Hara, Richard White, Alec Murphy, Mary Kay Bergman, Kath Soucie e coro (vozes). Direção: Gary Trousdale e Kirk Wise. Canção de Alan Menken e Howard Ashman.

Após um breve prólogo, A Bela e a Fera já mostra a que veio: a cena de apresentação da protagonista e seu vilarejo acanhado e o vilão valentão que a deseja é um espetáculo, com todo o jeito de Broadway. Dá para imaginar os cantores e bailarinos pelo palco. Mas aqui é cinema, há planos clássicos e divinos: Bela deslizando pelas prateleiras de livros em direção à câmera, ou a câmera girando em torno dela quando ela diz que quer “mais que essa vida provinciana”.

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41. ‘WOULDN’T BE LOVERLY?’, de My Fair Lady — Minha Bela Dama (1964)
Com Audrey Hepburn (voz de Marni Nixon). Direção: George Cukor. Coreografia: Hermes Pan. Canção de Alan Jay Lerner e Frederick Loewe.

A florista pobre Eliza Doolittle tem sua canção de “eu quero” após ser desmerecida pelo irritante professor de dicção. Ela canta nesse momento adorável, errando todas as palavras que pode (canta “ands” em vez de “hands”, por exemplo). Sonha com um mundo de elegância e amor em meio aos restos e aos desvalidos. Audrey, que sempre apareceu como dama nos filmes, brilha como a pobretona inculta que, no fim, vai embora em sua carruagem: uma carroça de lixo.

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Cupido Nao Tem Bandeira

CUPIDO NÃO TEM BANDEIRA (Billy Wilder, 1961)
Sem borda - 04 estrelas
Diário de Filmes 2019: 20

Eu cresci no fim dos anos 1970 e nos anos 1980. Quando fui abrindo os olhos pro mundo, o Muro de Berlim já estava lá. Vi pela TV e celebrei sua derrubada quando eu tinha 13 anos. Mas houve um período antes, em que Berlim era dividida, mas não havia o muro e era possível transitar de um lado para o outro da cidade. É lá e nesse período que se passa essa comédia maluca de Billy Wilder.

Mais do que isso, o filme explora essa vizinhança geminada entre capitalismo e comunismo para satirizar os dois lados de modo brilhante. James Cagney metralha diálogos como o diretor da fábrica da Coca-Cola na cidade (pode-se representar mais o capitalismo?), que quer comercializar com o lado oriental para ser transferido para um lugar de mais prestigio (“Além do mais, eles já contrabandeiam nossos carregamentos – e nem devolvem os cascos!”). Mas precisa cuidar da filha do chefão e se descuida o suficiente pra ela aparecer casada com um jovem muito comunista (“O capitalismo é como um arenque ao luar: brilha, mas fede”).

Com o pai da moça prestes a aparecer de visita, ele dá um duplo twist carpado após outro para tentar resolver a parada. E não é que, bem quando Billy estava filmando, a Alemanha Oriental começou a construir o muro? Ao que parece, uma coisa não tem a ver com a outra, mas o fato é que parte do filme teve que ser filmado em Munique, num estúdio em que havia a réplica do Portão de Brandenburgo.

Eu acreditaria que o filme tivesse tido um gigantesco product placement da Coca-Cola, não fosse o antológico momento final (aliás, mais um para a impressionante coleção de Billy).

SOME LIKE IT HOT (1959)

Tony Curtis, Jack Lemmon e Marilyn Monroe em “Runnin’ wild”, de “Quanto Mais Quente Melhor” (1959)

100. ‘I GOT RHYTHM’, de Sinfonia de Paris (1951)
Com Gene Kelly e crianças. Direção: Vincente Minnelli. Coreografia: Gene Kelly. Canção de George Gershwin e Ira Gershwin.

Uma máxima dos grandes dançarinos do cinema é que ele fazem o difícil parecer fácil. Exigente como poucos, Gene Kelly parece uma das crianças com quem ele contracena neste número delicioso, em que ele brinca com o fato de, sendo um americano em Paris, ensinar palavras inglesas aos garotos da vizinhança.

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99. ‘FOOTLOOSE’, de Footloose – Ritmo Louco (1984)
Com Kevin Bacon, Lori Singer, Chris Penn. Direção: Herbert Ross. Coreografia: Lynne Taylor-Corbett. Canção de Kenny Loggins e Keith Pitchford.

Quem nunca tentou repetir esses passos quando “Footloose” toca numa festa? O baile de formatura de uma cidade onde a dança era proibida é um momento de libertação para os jovens e a cena retrata isso muito bem. Não é por acaso que, em Guardiões da Galáxia, o herói espacial egresso dos anos 1980 diz que havia na Terra uma lenda chamada “Footloose”.

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98. ‘KEEP IT GAY’, de Os Produtores (2005)
Com Gary Beach, Roger Bart, Nathan Lane, Matthew Broderick, Brent Barrett, Peter Bartlett, Jim Borstelmann e Kathy Fitzgerald. Direção e coreografia: Susan Stroman. Canção de Mel Brooks.

Os dois produtores que estão tentando garantir que sua próxima peça seja um fracasso tentam convencer o pior diretor da Broadway a pegar o projeto. Retratar a Alemanha nazista parece meio deprimente, então a chave é fazer a trama um pouco mais alegre (gay). Entrecortado por diálogos, o aloprado número é conduzido por um Roger De Bris de vestido longo e termina apoteoticamente numa animadíssima conga.

https://vimeo.com/75092275

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97. ‘ALL I DO IS DREAM OF YOU’, de Cantando na Chuva (1952)
Com Debbie Reynolds. Direção: Gene Kelly e Stanley Donen. Coreografia: Gene Kelly. Canção de Nacio Herb Brown e Arthur Freed.

Debbie Reynolds é uma das coristas contratadas pra um showzinho numa festa de um chefe de estúdio de Hollywood. Todas lindas, mas que, por mágica do cinema, não competem com, mas, sim, ressaltam a graça de Debbie. A ambientação é fim dos anos 1920, então o charleston marca presença. Num detalhe, Debbie tira uma serpentina que caiu sobre seu rosto, sem deixar a peteca cair. The cat’s meow!

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96. ‘SIXTEEN GOING ON SEVENTEEN’, de A Noviça Rebelde (1965)
Com Charmian Carr e Daniel Truhitte. Direção: Robert Wise. Coreografia: Marc Breaux e Dee Dee Wood. Canção de Richard Rogers e Oscar Hammerstein II.

Liesl, a filha mais velha do Capitão Von Trapp, dá aquela escapadinha depois do jantar para encontrar o namorado mensageiro no jardim. Eles cantam sobre a inocência dela aos 16 e a autopresumida maturidade dele aos 17. Mas, na verdade, é um momento idílico e esplendidamente fotografado que retrata a inocência daqueles dias, antes da ascensão do nazismo, que chega na segunda metade do filme.

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95. ‘GEE, OFFICER KRUPKE’, de Amor, Sublime Amor (1961)
Com Russ Tamblyn, Tony Mordente, Bert Michaels, David Winters, David Bean. Direção: Robert Wise e Jerome Robbins. Coreografia: Jerome Robbins. Canção de Leonard Bernstein e Stephen Sondheim.

A gangue dos Jets tira onda do policial da vizinhança e da sociedade, interpretando juízes, psicólogos e assistentes sociais, que empurram o problema uns para os outros, satirizando várias justificativas clichê para seu mau comportamento com uma letra genial: “nossas mães são drogadas, nossos pais são bêbados: claro que somos marginais”, “não somos delinquentes, somos incompreendidos”, “não sou anti-social, sou é anti-trabalho” e por aí vai. É um distúrbio psicológico? É uma doença social? É um bando de vagabundos que merecem ir presos? No fim, é tudo muito mais complexo e o número mostra que os rapazes não tem noção (ou não querem ter) do próprio problema.

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94. ‘A COUPLE OF SWELLS’, de Desfile de Páscoa (1948)
Com Judy Garland e Fred Astaire. Direção: Charles Walters. Coreografia: Fred Astaire e Charles Walters. Canção de Irving Berlin.

Fred Astaire sempre foi identificado com a extrema elegância. Aqui, ele e Judy Garland aparecem aos farrapos, mas como dois vagabundos cheios de pose. Um número de palco cheio de graça, nos dois sentidos, mostrando mais uma vez o talento para o humor desses dois astros gigantescos do canto e da dança.

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93. ‘THE BABBITT AND THE BROMIDE’, de Ziegfeld Follies (1945)
Com Fred Astaire e Gene Kelly. Direção: Vincente Minnelli. Direção de dança: Robert Alton. Canção de George Gershwin e Ira Gershwin.

Momento antológico, para começar, por ser a única vez em que Fred Astaire e Gene Kelly aparecem dançando juntos num filme valendo pontos (31 anos depois, eles voltaram a trocar uns passos no documentário Isto Também Era Hollywood). Como dois cavalheiros que se provocam, eles estrelam um dos segmentos de Ziegfeld Follies, filme que é uma colagem de números (o número foi encenados originalmente nos palcos por Fred e sua irmã Adele, em 1927). Astaire eram então, um astro consagrado: já fazia seis anos que havia encerrado sua icônica série de filmes com Ginger Rogers na RKO e 15 anos de sua primeira aparição num filme. Kelly era, em comparação, um iniciante: havia estreado no cinema apenas três anos antes. Visto hoje, é o momento encantado de dois monstros sagrados juntos, que a Metro decidiu não reunir de novo nos filmes que fariam no estúdio dali para a frente.

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92. ‘RUNNIN’ WILD’, de Quanto Mais Quente Melhor (1959)
Com Marilyn Monroe, Jack Lemmon, Tony Curtis. Direção: Billy Wilder. Coreografia: Jack Cole. Canção de A.H. Gibbs, Joe Grey e Leo Wood.

É um pouquinho mais de um minuto. Joe e Jerry – ou melhor, Josephine e Daphne – estão atacando no sax e no contrabaixo no ensaio da banda feminina ao bordo do trem que segue para Miami. Aí entra Marilyn como a vocalista Sugar Kane e seu ukelele (tocado, na verdade, por Al Hendrickson) e o mundo para.

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91. ‘LE RENCONTRES’, de Duas Garotas Românticas (1967)
Com Françoise Dorléac (com voz de Claude Parent), Jacques Perrin (com voz de Jacques Revaux), Gene Kelly (com voz de Donald Burke) e Catherine Deneuve (com voz de Anne Germain). Direção: Jacques Demy. Coreografia: Norman Maen. Canção de Michel Legrand.

Este é o momento em que Duas Garotas Românticas mais se parece com Os Guarda-Chuvas do Amor (1964), musical anterior de Demy e Legrand. A canção é formada por diálogos cantados, com personagens que vão se cruzando pelo caminho, mas os casais que estão uns à procura dos outros ainda não se esbarram. A diferença para o filme anterior é que aqui há alto astral e muito mais humor.

https://www.dailymotion.com/video/x2wbdc7

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La La Land - Cantando Estações - 09

Emma Stone, Jessica Rothenberg, Sonoya Mizuno e Callie Hernandez, em “Somewhere in the crowd”, de “La La Land – Cantando Estações” (2017)

110. ‘PART OF YOUR WORLD’, de A Pequena Sereia (1989)
Com Jodi Benson. Direção: John Musker e Ron Clements. Canção de Alan Menken e Howard Ashman.

A melhor das canções “eu quero” das animações da Disney: em uma belíssima animação à mão, Ariel mostra seu refúgio secreto com sua coleção de objetos da superfície que atiçam sua curiosidade por esse lugar onde “os pais não repreendem as filhas”.

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109. ‘TICO-TICO NO FUBÁ’, de Alô, Amigos! (1942)
Com José Oliveira. Direção: Wilfred Jackson, Jack Kinney, Hamilton Luske e Bill Roberts. Canção de Zequinha de Abreu.

No Brasil, Zé Carioca apresenta o samba ao Pato Donald, numa combinação magistral do clássico “Tico-tico no fubá” e uma inspirada animação dos estúdios Disney, em que o cenário do Rio de Janeiro vai se desenhando à frente dos personagens.

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108. ‘I’M THRU WITH LOVE’, de Quanto Mais Quente Melhor (1959)
Com Marilyn Monroe. Direção: Billy Wilder. Canção de Matt Malneck, Fud Livingston e Gus Kahn.

“Estou cansada do amor”, canta Marilyn num momento baixo astral de sua personagem. A canção dos anos 1930 está conectada à época em que o filme se passa. A interpretação de Sugar Kane comove Joe, o personagem de Tony Curtis, que acaba revelando seu disfarce de Josephine — de uma maneira e tanto.

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107. ‘MOVIN’ RIGHT ALONG’, de O Mundo Mágico dos Muppets (1979)
Com Jim Henson e Frank Oz. Direção: James Frawley. Canção de Paul Williams e Kenny Archer.

Dois muppets cruzando a América a bordo de um Studebaker: Caco, o Sapo (nada de Kermit aqui) e o urso Fozzy viajam para Los Angeles para trabalhar no mundo do entretenimento. Carisma não falta, de jeito nenhum. O filme era um prólogo do The Muppet Show, da TV, mostrando como os personagens se conheceram.

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106. ‘SOMEONE IN THE CROWD’, de La La Land — Cantando Estações (2016)
Com Callie Hernandez, Sonoya Mizuno, Jessica Rothenberg e Emma Stone. Direção: Damien Chazelle. Coreografia: Mandy Moore. Canção de Justin Hurwitz, Benj Pasek e Justin Paul.

A primeira metade desse número é uma obra-prima: sem cortes, freneticamente através dos cômodos da casa, cada um com uma cor dominante, assim como os vestidos das moças. Um show de direção e coreografia parta ver e rever sempre.

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105. ‘CHIM-CHIM CHEREE’, de Mary Poppins (1964)
Com Dick van Dyke, Julie Andrews, Karen Dotrice e Matthew Garber. Direção: Robert Stevenson. Coreografia: Marc Breaux e Dee Dee Wood. Canção de Richard M. Sherman e Robert B. Sherman.

Para tranquilizar os irmãos assustados e perdidos, o agora limpador de chaminés Bert os leva para casa e mostra, na companhia de Mary Poppins, a beleza de Londres à noite vista dos telhados. A canção ganhou o Oscar daquele ano.

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104. ‘TWIST AND SHOUT’, de Curtindo a Vida Adoidado (1986)
Com Matthew Broderick (voz de John Lennon). Direção: John Hughes. Coreografia: Kenny Ortega. Canção de Bert Berns e Phil Medley.

“O que você acha que o Ferris vai fazer agora?”. É a pergunta a ser feita durante todo o Curtindo a Vida Adoidado. Neste momento do filme, ele já está sobre um carro alegórico da Von Steuben Day Parade (que, aliás, existe mesmo: é realizada anualmente em Chicago em homenagem a um barão da Prússia que deu uma força aos americanos na guerra pela independência). Sua dublagem da canção dos Beatles é tão contagiosa que faz dançar todo mundo em volta. Até quem não era ator ou figurante contratado, como os trabalhadores nos andaimes e o lavador de janelas, que se deixaram embalar pela música e foram filmados pela câmera de John Hughes.

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103. ‘THE SPANISH INQUISITION’, de A História do Mundo – Parte I (1981)
Com Mel Brooks, Jackie Mason e Ronny Graham. Direção: Mel Brooks. Coreografia: Alan Johnson. Canção de Mel Brooks e Ronny Graham.

Usar o musical como forma de demolir uma instituição é um talento particular de Mel Brooks. Aqui, o alvo é a inquisição espanhola, onde as maiores atrocidades são narradas sob o ponto de vista de saltitantes religiosos liderados por Mel em pessoa, que tentam converter judeus com citações a O Poderoso Chefão e Busby Berkeley, frades com joelhos à mostra, freiras nadadoras. Antológico.

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102. ‘SOBBIN’ WOMEN’, de Sete Noivas para Sete Irmãos (1954)
Com Howard Keel, Jeff Richards, Russ Tamblyn, Tommy Rall, Marc Platt, Matt Mattox e Jacques d’Amboise. Direção: Stanley Donen. Coreografia: Michael Kidd. Canção de Gene de Paul e Johnny Mercer.

Ao ver seus seis irmãos de baixo astral porque a paquera com seis garotas da cidade acabou numa monumental briga com outros seis caras, o irmão mais velho Adam ajuda como pode: contando a história que aprendeu num livro, a dos romanos que simplesmente raptaram mulheres sabinas e que, com o tempo, elas acabaram gostando dos raptores (ele confunde “sabine women” com “sobbin’ women”, “chorosas”). Logo, se está na história, basta fazer o mesmo, não é? Um conselho errado, claro, defendido com vigor e talento.

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101. ‘ISN’T THIS A LOVELY DAY (TO BE CAUGHT IN THE RAIN)?’, de O Picolino (1935)
Com Fred Astaire e Ginger Rogers. Direção: Mark Sandrich. Coreografia: Hermes Pan e Fred Astaire. Direção de dança: William Hetzler. Canção de Irving Berlin.

Uma vez Ginger disse: “Eu fazia tudo o que ele fazia, só que de salto alto”. Aqui, ela não está de salto alto, mas a piada nunca foi tão verdadeira. A brincadeira da cena, depois que Fred tenta quebrar o gelo cantando, é que ela aceita dançar com ele, porém imitando-o. De calças, Ginger faz quase um espelho de Fred, é uma dança de casal que não é de casal. Só no final ele a toma nos braços — mas ela também não deixa de conduzir em um momento.

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A última impressão é a que fica? Aqui está uma lista de meus 50 finais preferidos de filmes. 

Noivo Neurotico Noiva Nervosa - 41

50. NOIVO NEURÓTICO, NOIVA NERVOSA. Woody Allen, 1977

ALVY: “Eu, eu pensei naquela velha piada, sabe, um, um cara vai a um psiquiatra e diz: ‘Doutor, hã, meu irmão está louco. Ele pensa que é uma galinha’. E, hã, o doutor diz: ‘Bem, por que você não o interna?’. E o cara diz: ‘Eu ia, mas eu preciso dos ovos’. Bem, acho que isso é muito como eu me sinto sobre relacionamentos. Você sabe, eles são totalmente irracionais e loucos e absurdos e… mas, hã, acho que continuamos com eles porque, hã, a maioria de nós precisa dos ovos”.

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Bebe de Rosemary - 14

49. O BEBÊ DE ROSEMARY. Roman Polanski, 1968

ROSEMARY: “Você está balançando muito rápido”.

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Doce Vida - 15

48. A DOCE VIDA. Federico Fellini, 1960

MARCELLO: “Não consigo escutar!”.

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Setimo Selo-03

47. O SÉTIMO SELO. Ingmar Bergman, 1957

JOF: “E a Morte, a mestre severa, os convida para dançar”.

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Intocaveis - 1987 - 10

46. OS INTOCÁVEIS. The Untouchables. Brian de Palma, 1987

REPÓRTER: “Estão dizendo que vão revogar a Lei Seca. O que o senhor vai fazer?”
ELLIOT NESS: “Acho que vou tomar um drinque”.

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Chinatown - 26

45. CHINATOWN. Chinatown. Roman Polanski, 1974

WALSH: “Esqueça, Jake. É Chinatown”.

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Bonequinha de Luxo-15

44. BONEQUINHA DE LUXO. Breakfast at Tiffany’s. Blake Edwards, 1961

HOLLY: “O Gato… Onde está o Gato?…”

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Separacao - 09

43. A SEPARAÇÃO. Jodaeiye Nader az Simin. Asghar Farhadi, 2011

JUIZ: “Você quer que eles esperem lá fora, se for difícil para você?
TERMEH: “Eles podem?”

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Vida de Brian - 12

42. A VIDA DE BRIAN. Life of Brian. Terry Jones, 1979

SR. FRISBEE: “Olhe sempre o lado bom da vida”.

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Clube dos Cinco-29

41. CLUBE DOS CINCO. The Breakfast Club. John Hughes, 1985

BRIAN: “Mas o que descobrimos é que cada um de nós é um CDF…”
ANDREW: “…e um atleta…”
ALLISON: “…e uma inútil…”
CLAIRE: “…e uma princesa…”
BENDER: “…e um marginal.”

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Pacto de Sangue - 02

41. PACTO DE SANGUE. Double Indemnity. Billy Wilder, 1944

KEYES: “Você nunca vai chegar na fronteira”
WALTER: “Isso é o que você pensa”
KEYES: “Você não vai chegar nem ao elevador”.

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Butch Cassidy - 06

40. BUTCH CASSIDY. Butch Cassidy and the Sundance Kid. George Roy Hill, 1969

BUTCH: “Tenho uma grande ideia de para onde deveríamos ir depois daqui”.

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Montanha dos Sete Abutres - 09

39. A MONTANHA DOS SETE ABUTRES. Ace in the Hole/ The Big Carnival. Billy Wilder, 1951

CHUCK: “Gostaria de ganhar mil dólares por dia, Sr. Boot? Sou um jornalista que vale mil dólares por dia. Pode ficar comigo por nada”.

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Deus e o Diabo na Terra do Sol - 12

38. DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL. Glauber Rocha, 1964

CORISCO: “Mais fortes são os poderes do povo!”.

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Bons Companheiros - 06

37. OS BONS COMPANHEIROS. Goodfellas. Martin Scorsese, 1990

HENRY: “Sou um ninguém. Vou viver o resto da minha vida como um merda”.

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Toy Story 3 - 09

36. TOY STORY 3. Toy Story 3. Lee Unkrich, 2010

WOODY: “Até mais, parceiro”.

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Cavadoras de Ouro - 07

35. CAVADORAS DE OURO. Gold Diggers of 1933. Mervyn LeRoy, 1933

CAROL: “Lembre-se do meu homem esquecido”.

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Homem de Ferro - 34

34. HOMEM DE FERRO. Iron Man. Jon Favreau, 2008

TONY STARK: “Eu sou o Homem de Ferro”.

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Dona Flor e Seus Dois Maridos - 21

33. DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS. Bruno Barreto, 1976

TRILHA SONORA: “O que será, que será, que andam suspirando pelas alcovas?”

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Sociedade dos Poetas Mortos - 03

32. SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS. Dead Poets Society. Peter Weir, 1989

ANDERSON: “Oh, capitão, meu capitão!”.

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Ouro e Maldicao - 02

31. OURO E MALDIÇÃO. Greed. Erich von Stroheim, 1924

MARCUS: “Não há água em uma centena de milhas daqui. Nós… somos… homens… mortos”.

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Princesa e o Plebeu - 15

29. A PRINCESA E O PLEBEU. Roman Holiday. William Wyler, 1953

ANN: “Muito feliz, Sr. Bradley”.

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Malvada - 09

28. A MALVADA. All about Eve. Joseph L. Mankiewicz, 1950

ADDISON: “Você deve perguntar à Srta. Harrington como conseguir um. A Srta. Harrington sabe tudo sobre isso”.

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8½

27. 8 ½. 8 ½. Federico Fellini, 1963

GUIDO: “Esta confusão… sou eu”.

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Inimigo Publico - 03

26. INIMIGO PÚBLICO. The Public Enemy. 1931

MIKE: “Mãe, estão trazendo Tom para casa!”.

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Incompreendidos - 05

25. OS INCOMPREENDIDOS. Les 400 Coups. François Truffaut, 1959

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Thelma e Louise-08

24. THELMA & LOUISE. Thelma & Louise. Ridley Scott, 1991

THELMA: “Apenas vamos em frente”.

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Tempos Modernos - 05

23. TEMPOS MODERNOS. Modern Times. Charles Chaplin, 1936

CARLITOS: “Sorria!”

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Suspeitos - 1995 - 02

22. OS SUSPEITOS. The Usual Suspects. Bryan Singer, 1995

VERBAL: “O maior truque do diabo foi convencer o mundo de que ele não existe”.

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Cinema Paradiso - 20

21. CINEMA PARADISO. Nuovo Cinema Paradiso. Giuseppe Tornatore, 1988

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E o Vento Levou-13

20. …E O VENTO LEVOU. Gone with the Wind. Victor Fleming, 1939

RHETT: “Francamente, minha querida, estou cagando pra isso”.

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Passaros - 34

19. OS PÁSSAROS. The Birds. Alfred Hitchcock, 1963

CATHY: “Posso levar os periquitos, Mitch? Eles não machucaram ninguém”.

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Ladroes de Bicicleta - 12

18. LADRÕES DE BICICLETA. Ladri di Biciclette. Vittorio de Sica, 1948

BRUNO: “Papai! Papai!”

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Se Meu Apartamento Falasse - 06

17. SE MEU APARTAMENTO FALASSE. The Apartment. Billy Wilder, 1960

FRAN KUBELIK: “Cale a boca e dê as cartas”.

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Casablanca - 40

16. CASABLANCA. Casablanca. Michael Curtiz, 1942

RICK: “Louis, acho que este é o início de uma bela amizade”.

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Planeta dos Macacos - 1968 - 10

15. O PLANETA DOS MACACOS. Planet of the Apes. Franklin J. Schaffner, 1968

GEORGE TAYLOR: “Seus maníacos! Vocês estragaram tudo! Malditos sejam!”.

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14. A PRIMEIRA NOITE DE UM HOMEM. Mike Nichols, 1967

TRILHA SONORA: “Olá, escuridão, velha amiga”.

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De Volta para o Futuro - 31

13. DE VOLTA PARA O FUTURO. Back to the Future. Robert Zemeckis, 1985

DOUTOR BROWN: “Ruas? Para onde vamos não precisamos… de ruas”.

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2001 - Uma Odisseia no Espaco - 25

12. 2001 – UMA ODISSEIA NO ESPAÇO. 2001 – A Space Odyssey. Stanley Kubrick, 1968

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Bonnie e Clyde - 35

11. BONNIE AND CLYDE – UMA RAJADA DE BALAS. Bonnie and Clyde. Arthur Penn, 1967

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Rastros de Ódio - 01

10. RASTROS DE ÓDIO. The Searchers. John Ford, 1956

TRILHA SONORA: “Um homem vai procurar seu coração e sua alma”

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Cidadao Kane - 38

9. CIDADÃO KANE. Citizen Kane. Orson Welles, 1941

JERRY THOMPSON: “Talvez ‘Rosebud’ seja alguma coisa que ele não conseguiu. Ou alguma coisa que ele perdeu”.

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Psicose - 1960 - 20

8. PSICOSE. Psycho. Alfred Hitchcock, 1960

NORMA BATES: “Ele vão dizer: ‘Ela não mataria uma mosca’…”.

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Quanto Mais Quente Melhor - 22

7. QUANTO MAIS QUENTE MELHOR. Billy Wilder, 1959

OSGOOD: “Ninguém é perfeito”.

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Noites de Cabiria - 04

6. NOITES DE CABÍRIA. Le Notti di Cabiria. Federico Fellini, 1957

GAROTA: “Boa noite”.

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Manhattan - 03

5. MANHATTAN. Woody Allen, 1979

TRACY: “Nem todo mundo se corrompe. Você tem que ter um pouco de fé nas pessoas”.

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Felicidade Nao Se Compra - 18

4. A FELICIDADE NÃO SE COMPRA. It’s a Wonderful Life. Frank Capra, 1946

HARRY: “Ao meu irmão mais velho George: o homem mais rico da cidade”.

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Poderoso Chefao - 08

3. O PODEROSO CHEFÃO. The Godfather. Francis Ford Coppola, 1972

KAY: “É verdade? É?”
MICHAEL: “Não”.

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Crepusculo dos Deuses-12

2. CREPÚSCULO DOS DEUSES. Sunset Boulevard. Billy Wilder, 1950

NORMA DESMOND: “Está bem, Sr. DeMille, estou pronta para o meu close-up”.

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Luzes da Cidade - 03

1. LUZES DA CIDADE. City Lights. Charles Chaplin, 1931

CARLITOS: “Você consegue ver agora?”
FLORISTA: “Sim, eu consigo ver agora”.

Marilyn Monroe-02

Marilyn Monroe estaria completando hoje 90 anos. Sempre apontada como o maior sex symbol do cinema, ela também tinha um talento natural para a comédia (foi premiada no Globo de Ouro por Quanto Mais Quente Melhor, 1959) e foi se tornando também uma boa atriz dramática (como mostrou em filmes como Nunca Fui Santa, 1956, e Os Desajustados, 1961). Era insegura, autodestrutiva, esquecia as falas, enlouquecia os diretores com quem trabalhava. Billy Wilder dizia que filmar com ela era um inferno, mas tudo compensava quando se via o resultado na tela. Sua morte trágica aos 36 anos a transformou em um mito eterno.

 

Marilyn Monroe, Tony Curtis e Jack Lemmon

Marilyn Monroe, Tony Curtis e Jack Lemmon

Estrelas-05 juntas-site

Sexo e tiros, graças ao deus Billy

Em preto-e-branco, um carro funerário antigo vem pela rua. Logo, é perseguido pela polícia. Tiros são trocados, uma perseguição acontece, o carro escapa, mas o caixão foi atingido. Dos furos, jorra um líquido. Não é sangue: quando o caixão é aberto, nos é revelado que está cheio de garrafas de birita. E só aí Quanto Mais Quente Melhor nos localiza (para quem ainda não percebeu por si só): estamos em Chicago, 1929. Época da Lei Seca.

O filme de Billy Wilder, escrito por ele e o parceiro I.A.L. Diamond, mostra de saída uma de suas maiores qualidades (entre tantas e tantas): o ritmo. Não há pressa: o filme começa com uma trama que ainda não envolve seus personagens principais: essa fuga, a batida da polícia em uma funerária de fachada que na verdade é um nightclub. Joe (Tony Curtis) e Jerry (Jack Lemmon), músicos que tocam na banda do lugar, só aparecem aí, aos 7 minutos de filme. A outra protagonista do filme, Sugar Kane (Marilyn Monroe), só aos 25. E essa cadência é tão precisa quanto o rebolado de Marilyn em sua primeira aparição, na estação de trem. “Olha como ela se mexe! É como gelatina com molas”, diz o personagem de Lemmon. “Deve ter algum tipo de motor interno. Vou te dizer, é um sexo totalmente diferente!”.

Nesta cena, Joe e Jerry já estão vestidos de mulher. Eles – com uma dinâmica meio Dean Martin e Jerry Lewis – testemunharam o acerto de contas entre gangsters que ficou conhecido como o massacre do Dia de São Valentim (que aconteceu mesmo) e, para não serem mortos também, precisam fugir da cidade. Conseguem emprego em uma banda que está indo para Miami – só que é uma banda só de mulheres. Então, Joe vira Josephine e Jerry, Geraldine. Até sua antológica apresentação ao pessoal da banda: “Sou Daphne”. Mais um exemplo do ritmo do roteiro: há todo um diálogo depois disso até que Joe possa finalmente colocar Jerry na parede e perguntar: “Daphne??”.

O desafio da dupla é se tornar esse “sexo totalmente diferente”. É claro que não vai ser fácil. Joe parece mais desconfortável, mas mais concentrado. Jerry fica saltitante ao se ver entre as mulheres da banda, mas curiosamente rapidamente cria uma expansiva persona feminina. Além disso, há Sugar, a cantora da banda. Que homem resiste a Marilyn em seu máximo? Em um segundo, os dois se interessam por ela e vão arriscar seus disfarces e pescoços.

No hotel e Miami, ainda há os milionários em busca de aventuras amorosas. Joe se aproveita disso e cria um novo personagem para conquistar Sugar, em uma impagável imitação de Cary Grant (“Que sotaque é esse? Ninguém fala assim!”, diz Jerry). Já Daphne atrai a atenções de um ricaço de verdade, Osgood Fielding (Joe E. Brown).

As correrias e o entra-e-sai são orquestrados na medida, emoldurando (e várias vezes desviando a atenção) todas as piadas com o homossexualismo que não podiam ser feitas naquela época em que o Código de Produção ainda ditava normas em Hollywood. A cena em que Daphne conta que foi pedida em casamento – um dos melhores diálogos da história do cinema (Joe: “Por que um cara se casaria com outro cara?”; Daphne: “Segurança!”) – é cheia de subentendidos, desmentidos, coisas que ficam no ar e é tão engraçada que Billy Wilder entregou duas maracas para Jack Lemmon e o instruiu a sacudi-las entre os diálogos – para dar ao público tempo de rir sem perder nada.

A interação entre Curtis e Lemmon é perfeita, mas o filme tem em Marilyn uma arma que não desperdiça. Billy Wilder pagou seus pecados com a atriz e sua dificuldade em decorar as falas. Em uma cena, ela só tinha que entrar no quarto e perguntar “Cadê aquele bourbon?”, mas não acertava. Billy, então, escreveu a fala num papel e colocou dentro de uma gaveta que ela deveria abrir. E ela não conseguia abrir a gaveta certa. Então, o diretor pôs a fala dentro de todas a gavetas. Foram 49 takes e não foi a única cena a ser repetida tantas vezes.

Billy já tinha dirigido Marilyn em O Pecado Mora ao Lado e sabia que valia a insistência. E valeu mesmo. Marilyn está luminosa no seu tipo de ser a mulher mais sensual do mundo sem ter consciência de que é. E seus números musicais (“Runnin’ wild”, “I wanna be loved by you” e “I’m through with love”) são todos ótimos.

São todas músicas do período em que o filme se passa, o final dos anos 1920. E Marilyn (que ganhou o Globo de Ouro de atriz/ comédia ou musical; Jack Lemmon ganhou melhor ator e ainda teve o de melhor filme) está fascinante de maneiras diferentes em cada um deles (estava com uns quilinhos a mais porque estava grávida, mas quem liga?). No segundo ainda há aquele jogo de luz, que brinca, ficando acima do já generoso decote de Sugar, evocando a nudez da personagem. O sexo está por todo lado no filme.

Às vezes, em dois lugares ao mesmo tempo e com sentidos diferentes, como na cena em que Sugar se esforça para seduzir o suposto milionário supostamente impotente que Joe finge ser enquanto Jerry, como Daphne, precisa lidar com o apaixonado Osgood em um baile (“Daphne, está conduzindo de novo”).

E tem o final, claro. Billy Wilder (com seus parceiros) era brilhante em seus finais. E o de Quanto Mais Quente Melhor, eleito pelo American Film Institute como a melhor comédia do cinema american, é lendário. A solução de resolver com um atrevido nonsense a questão entre Osgood e Daphne causou dúvidas até no próprio Wilder (I.A.L. Diamond criou a fala). É tão surpreendente, absurdo e anticlimático que a plateia só pensa nas possíveis implicações dela depois. Pode ser que ninguém seja perfeito, mas esse final é.

Quanto Mais Quente Melhor. Some Like it Hot. Estados Unidos, 1959. Direção: Billy Wilder. Roteiro: Billy Wilder e I.A.L. Diamond, a partir de história de Robert Thoeren e Michael Logan, inspirado no filme alemão Ritmos de Amor (1951). Elenco: Marilyn Monroe, Tony Curtis, Jack Lemmon, George Raft, Pat O’Brien, Joe E. Brown.

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A serpente na gaveta

Frases de um Billy Wilder afiado e Kirk Douglas dominando o filme todo em "A Montanha dos Sete Abutres"

Frases de um Billy Wilder afiado e Kirk Douglas dominando o filme todo em “A Montanha dos Sete Abutres”

Se 50 serpentes estão soltas em uma pequena cidade, causando o pânico à população, e 49 são encontradas, onde está a última? Ela pode estar em qualquer lugar, pronta para dar o bote, mas ninguém consegue encontrá-la. Onde ela estará? “Na minha gaveta”, diz o jornalista Charles Tatum (Kirk Douglas), ensinando o jovem fotógrafo que o acompanha como esticar o interesse por uma reportagem. E Billy Wilder dá uma lição do que é jornalismo à América. Ou, ao menos, do que é um certo jornalismo, escancarado sem dó nem piedade no clássico A Montanha dos Sete Abutres (Ace in the HoleThe Big Carnival, Estados Unidos, 1951).

Não que o jornalismo gozasse de reputação intocável no cinema. Desde a peça The Front Page, de Ben Hecht, que, até ali, havia gerado dois filmes (A Última Hora, 1931; e Jejum de Amor, 1940), já se sabia que um jornalista decidido a fisgar um furo de reportagem podia não ser flor que se cheirasse. Para não deixar dúvidas, o próprio Wilder viria a fazer uma terceira adaptação da peça, em 1974: A Primeira PáginaThe Front Page era centrado em repórteres mais interessados em suas matérias do que no fato que estavam cobrindo, mas não mostrava a manipulação do público como A Montanha dos Sete Abutres viria a fazer – e muito menos com o cinismo e a virulência de Wilder.

A história começa com Tatum procurando um emprego num jornaleco de Albuquerque – ele foi parar lá depois de ser despedido de vários grandes jornais, por variadas razões. É um ambiente estranho para ele: na parede, bordado, um quadro com os dizeres “Diga a verdade”. É para ele que Tatum está olhando quando diz ao editor Boot (Porter Hall) que já mentiu para homens que usavam cinto e homens que usavam suspensórios – mas nunca foi idiota para mentir para um que usasse cintos e suspensórios ao mesmo tempo. E o convence parodiando uma máxima das redações: “Eu posso cuidar de grandes notícias ou pequenas notícias. E se não houver notícias, eu saio e mordo um cachorro”.

Aqui, como sempre, Wilder é diretor e co-roteirista (com Walter Newman e Lesser Samuels) e – como se vê – seu talento para diálogos antológicos já está afiado desde o começo do filme. Virão outros quando Tatum e o fotógrafo Herbie (Robert Arthur) saem para uma reportagem corriqueira e dão de cara com outra: um homem, Leo Minosa (Richard Benedict), que está soterrado em ruínas indígenas na Montanha dos Sete Abutres. O jornalista vê aí sua chance de ter uma grande matéria – aquela que o levará de volta à primeira divisão, a um grande jornal nova-iorquino.

Ele começa a armar uma teia para extrair o máximo que pode desse drama humano. Manipula o xerife para que o salvamento seja feito pelo meio mais difícil e, assim, ter mais tempo para explorar a história – e o xerife, para bancar o herói e garantir a reeleição. Outro exercício de sensacionalismo é a tristeza da esposa Lorraine (Jan Sterling), que, na verdade, parece mais interessada no jornalista que no marido preso embaixo da montanha. Quem é pior em A Montanha dos Sete Abutres? Difícil dizer, já que, como escreveu Ruy Castro, Billy Wilder não faz o melhor dos juízos do ser humano.

Se petardos são disparados para todo lado, alguns deles têm o povo americano bem na mira. Uma família de caipiras, passando por perto, resolve dar uma olhada rápida no que está acontecendo, antes de seguir viagem. Logo, estão com acampamento montado. Não demora, diante das centenas de pessoas que transformaram o salvamento no grande parque de diversões de um dos títulos originais, já estão se gabando para a imprensa de terem sidos os primeiros a chegar. O recado foi dado, porque nem a imprensa e nem o público gostaram de como Billy Wilder os via. Resultado: o filme naufragou na bilheteria. A Paramount tentou reverter a situação mudando o título do filme – de Ace in the Hole para The Big Carnival –, mas não adiantou.

Se a carapuça serviu, para ambos os lados, não foi à toa. O diretor sabia do que estava falando: foi jornalista até 1926, ainda na sua Áustria natal. Não só isso, mas a história de A Montanha dos Sete Abutres é baseada em um caso real, a de Floyd Collins, que ficou soterrado por 18 dias, em 1925, sendo material para uma festa da imprensa e do público. A versão de A Montanha dos Sete Abutres explora o pior de quase todos os personagens (“Eu não rezo. Desfia as minhas meias”, diz Lorraine) – até que o próprio Tatum é obrigado a ficar frente a frente com sua ética, e a partir daí começa a ser construído mais um dos finais inesquecíveis do velho Billy.

Mas até lá, predominam a arrogância, na interpretação de um Kirk Douglas que domina o filme todo. Como na cena em que Tatum, controlando as informações, ouve o pedido dos outros jornalistas que passam a pão e água: “Estamos no mesmo barco”. “Eu estou no barco. Vocês estão na água”.

A Montanha dos Sete Abutres. (Ace in the HoleThe Big Carnival). Estados Unidos, 1951. Direção: Billy Wilder. Elenco: Kirk Douglas, Jan Sterling, Robert Arthur, Porter Hall, Frank Cady, Richard Benedict. 

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