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LUA DE PAPEL
⭐⭐⭐⭐
Diário de filmes 2023: 134
Onde ver (em 26/10/2023) – Mídia física: DVD (da Paramount). Streaming: Looke, NetMovies. Aluguel ou compra digitais: Apple TV/ iTunes, Amazon. 

Peter Bogdanovich, em sua grande fase no começo dos anos 1970, tinha como característica a busca por revitalizar gêneros e temas clássicos do cinema americano em filmes que absorviam também a modernidade de que a Nova Hollywood vinha bebendo no período. Em Lua de Papel, que completa 50 anos este ano, que se passa nos anos 1930, ele procurou recuperar o clima dos filmes do período. Filmou em preto-e-branco esta história de um possível pai e sua possível filha, que formam uma parceria em aplicar golpes numa viagem em que ele está levando a menina para parentes distantes. Ryan e Tatum O’Neal, pai e filha na vida real, têm uma química inegável, construindo uma relação através das brigas e da adrenalina das trapaças. A fotografia com profundidade de campo e planos longos, além de grandes direção de arte e figurino. colaboram para a beleza visual desse charmoso road movie episódico com muitos momentos de humor, mas que é sobretudo apoiado na relação entre os protagonistas. Tatum O’Neal, inclusive, ganhou um Oscar de atriz coadjuvante e é até hoje a mais jovem pessoa a ganhar um Oscar competitivo pela atuação.

Paper Moon. Estados Unidos, 1973. Direção: Peter Bogdanovich. Elenco: Ryan O’Neal, Tatum O’Neal, Madeline Kahn, John Hillerman, P.J. Johnson, Randy Quaid.

LOUCURAS DE VERÃO
⭐⭐⭐⭐
Diário de filmes 2023: 138
Onde ver (em 25/10/2023) – Mídia física: DVD e blu-ray (solo na Coleção American Graffiti), da Universal. Streaming: Não disponível no Brasil. Aluguel ou compra digitais: Claro Vídeo, Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, Amazon.

Loucuras de Verão, que completa 50 anos este ano, é um filme geracional? No momento em que foi lançado, a única “não ficção científica” dirigida por George Lucas, praticamente inaugurou uma onda de nostalgia de anos 1950/ começo dos 1960 no cinema. “Onde você estava em 62?”, perguntava o slogan do cartaz. O mundo havia mudado muito naqueles 11 anos, e aquele reencontro com o passado talvez tenha sido até surpreendente, o filme despertou muitas lembranças em muita gente. Lucas situou a trama em sua cidade natal, Modesto, na California, e os personagens representam fases diferentes de sua própria juventude. Não há uma história central: trata-se de uma noite agitada na vida de um grupo de amigos – dois deles vão para a universidade na manhã seguinte. A balada na cidade envolve a paquera a bordo dos carros que zanzam pelas ruas sem destino específico, a lanchonete drive-in, fliperama, o apresentador preferido onipresente nos rádios tocando os rocks do momento. Música (não há trilha original, só canções da época e da década de 1950), visual, comportamento dos personagens e incertezas sobre o futuro, tudo construiu um ambiente que calou fundo na audiência e transformou o filme em um sucesso inesperado. Depois dele, vieram, entre outros, Grease, Febre de Juventude, Porky’s e, mais tarde, De Volta para o Futuro. Alguns mais leves, outros mais picantes, mas Loucuras de Verão é o quintessencial, o que resume essa dose de nostalgia com melancolia.

American Graffiti. Estados Unidos, 1973. Direção: George Lucas. Elenco: Richard Dreyfuss, Ron Howard, Paul Le Mat, Charles Martin Smith, Cindy Williams, Candy Clark, Mackenzie Phillips, Wolfman Jack, Harrison Ford, Kathleen Quinlan.

NOSSO AMOR DE ONTEM
⭐⭐⭐⭐
Diário de filmes 2023: 141
Onde ver (em 24/10/2023) – Mídia física: DVD, blu-ray (da Sony). Streaming: Não disponível no Brasil.

Na eleição “100 Years… !00 Passions” em 2002, organizada pelo American Film Institute, Nosso Amor de Ontem ficou em sexto lugar. Mostra o poderio dessa trama que completa 50 anos este ano, com dois astros de altíssimo calibre naquele momento: Barbra Streisand e Robert Redford. O obstáculo principal para o amor do casal não é uma fatalidade (como em “Love Story”) ou a resistência de outras pessoas (como em “Romeu e Julieta” ou “Titanic”). É o próprio casal, ou, para ser preciso, suas visões de mundo completamente antagônicas. O amor existe, a atração física é quase irresistível, mas ela vive a política de forma intensa, enquanto ele é alheio a isso. Embora tentem se ajustar ou ceder aqui e ali, suas formas de viver a vida e de postura perante o mundo se chocam sempre. A história começa com um prólogo em que ela, Katie, reencontra Hubbell nos dias pós-II Guerra. É uma cena bonita, em que ele cochila bêbado num balcão de bar de uma boate agitada e ela o contempla, enquanto surgem as memórias do passado de ambos da universidade, quando ela o desprezava pela vida de playboy até baixar a guarda quando ele mostra talento como escritor. É interessante que, durante a guerra fria e com a Guerra do Vietnã ainda acontecendo, o filme mostre Katie abertamente comunista, com fotos de Lenin e Stalin na parede e defendendo abertamente a União Soviética em discursos. Parte do filme mostra, inclusive, a execrável caça às bruxas, quando o macartismo perseguiu pessoas de espuerda em Hollywood. A música de Marvin Hamlisch é um trunfo e o filme venceu os Oscars de trilha sonora e canção original.

The Way We Were. Estados Unidos, 1973. Direção: Sydney Pollack. Elenco: Barbra Streisand, Robert Redford, Bradford Dillman, Lois Chiles, James Woods, Patrick O’Neal, Viveca Lindfors, Sally Kirkland, George Gaynes.

GRITOS E SUSSURROS
⭐⭐⭐⭐½
Diário de filmes 2023: 18
Mídia física: DVD. Streaming: Não disponível no Brasil. YouTube: legendado

Poucos filmes assumiram tão diretamente uma cor para transmitir seu estado de espírito. O vermelho é forte na decoração dos ambientes, em objetos e mesmo nos fades, onde a cena mergulha nesta cor (e não no preto, como é usual). Bergman retrata com perícia os dias de quatro mulheres em uma casa de campo: a proprietária, morrendo de câncer, suas duas irmãs e a fiel empregada. Cada qual com suas memórias doloridas, sofrimentos, dramas pessoais, repressões que vêm à tona e assombrações.

Os 20 melhores filmes de 1972

Viskningar och Rop. Suécia, 1972. Direção: Ingmar Bergman. Elenco: Harriet Andersson, Kari Sylwan, Ingrid Thulin, Liv Ullman, Anders Ek, Erland Josephson.

O MUNDO MÁGICO DOS MUPPETS ou MUPPETS – O FILME ou THE MUPPET MOVIE
⭐⭐⭐⭐
Diário de filmes 2023: 17
Mídia física: DVD. Streaming: Disney Plus.

Depois de fazerem sucesso na TV com o programa de variedades The Muppet Show, as criações de Jim Hanson chegaram ao cinema em um filme que contava como o grupo se reuniu: um road movie até Hollywood. Todo o charme e carisma dos Muppets está presente, com humor absurdo, um trabalho impressionante na manipulação dos bonecos (Caco, o sapo, chega a andar de bicicleta e toca banjo e canta no meio de um lago, e o urso Fozzie dirige um Studebaker) e o apoio de ótimas canções e uma multidão de participações especiais.

The Muppet Movie. Estados Unidos, 1979. Direção: James Frawley. Elenco: Jim Henson (voz e manipulação de bonecos), Frank Oz (voz e manipulação de bonecos), David Goelz (voz e manipulação de bonecos), Charles Durning, Austin Pendleton, Mel Brooks, Madeline Kahn, Steve Martin, Orson Welles, Milton Berle, Dom DeLuise, Cloris Leachman, Richard Pryor, Telly Savallas, Bob Hope, James Coburn, Carol Kane, Edgar Bergen, Elliott Gould, Paul Williams.

AMARGO PESADELO
⭐⭐⭐⭐
Diário de filmes 2023: 15
Mídia física: DVD. Streaming: HBO Max, Now, Looke, NetMovies. Aluguel ou compra digitais: Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, Amazon, Microsoft Store.

John Boorman conta a história de quatro homens urbanos muito cheios de si que embarcam de canoa para o inferno ao descer um rio marcado para desaparecer e encontrar moradores locais com péssimas intenções. A ação e o suspense exigiu muito do elenco e o diretor consegue mostrar a natureza tão bonita quanto ameaçadora, fazendo com que os grandes homens se sintam muito pequenos. Imitar um porco nunca mais será a mesma coisa para o espectador que passa por essa correnteza.

Deliverance. Estados Unidos, 1972. Direção: John Boorman. Elenco: Jon Voight, Burt Reynolds, Ned Beatty, Ronny Cox.

AS LÁGRIMAS AMARGAS DE PETRA VON KANT
⭐⭐⭐⭐
Diário de filmes 2023: 13
Mídia física: DVD. Streaming: Não disponível no Brasil. YouTube: legendado.

Fassbinder adaptou sua própria peça e não escondeu nem por um segundo o DNA teatral do material: tudo se passa dentro do apartamento e é basicamente uma sucessão de diálogos. Além disso, há o componente de dramalhão na estilista que inicia uma relação amorosa com uma jovem moça e depois sofre o diabo quando é abandonada. Mas cada uma das personagens (todas mulheres) dá margem para muito debate – como a empregada/ assistente/ aluna/ ex-amante masoquista que não diz uma palavra.

Die Bitteren Tränen der Petra von Kant. Alemanha Ocidental, 1972. Direção: Rainer Werner Fassbinder. Elenco: Margit Carstensen, Hanna Schygulla, Irm Herrmann, Katrin Schaake.

O VOO DO DRAGÃO
⭐⭐½
Diário de filmes 2023: 12
Mídia física: DVD, blu-ray. Streaming: Amazon Prime Video, Oldflix. Aluguel ou compra digitais: Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes.

Bruce Lee também dirige e escreve o filme, seu terceiro como protagonista, levando sua arte marcial para Roma. A história é a mesma de sempre: ele é o lutador que vem de longe para ajudar um grupo indefeso contra uma organização criminosa. O destaque para a posteridade é o duelo final contra um iniciante (e sem barba) Chuck Norris, no Coliseu.

Meng Long Guo Jiang. Hong Kong, 1972. Direção: Bruce Lee. Elenco: Bruce Lee, Nora Miao, Chuck Norris.

A FÚRIA DO DRAGÃO
⭐⭐⭐
Diário de filmes 2023: 10
Mídia física: DVD, blu-ray. Streaming: Amazon Prime Video, Oldflix, Vix. Aluguel ou compra digitais: Google Play/ YouTubeFilmes, Apple TV/ iTunes.

O segundo filme de Bruce Lee como protagonista possui um orçamento melhorzinho e parte de uma história real do começo do século XX: Lee é o lutador que volta à sua escola e investiga obsessivamente o assassinato de seu mestre. Por trás, está uma escola rival de lutadores japoneses, remetendo às animosidades entre os dois países no período. Como sempre, a história não é essas coisas, mas Lee tem presença.

Jing Wu Men. Hong Kong, 1972. Direção: Wei Lo. Elenco: Bruce Lee, Nora Miao, James Tien.

20 – A MORAL DE RUTH HALBFASS (Die Moral der Ruth Halbfass)
Mídia física: Não disponível no Brasil. Streaming: Não disponível no Brasil.

Uma ciranda de amores, traições e crimes a partir de uma esposa infeliz que tem um caso com um professor (também casado) que, por sua vez, passa a planejar a morte do marido dela (que também tem uma amante). Uma lindíssima Senta Berger em um filme sobre a hipocrisia da sociedade.
Alemanha Ocidental. Direção: Volker Schlöndorff. Roteiro: Peter Hamm e Volker Schlöndorff. Elenco: Senta Berger, Peter Ehrlich, Helmut Griem, Margarethe von Trotta.

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19 – QUÊ? (Che?)
Mídia física: DVD. Streaming: Não disponível no Brasil.

Comédia maluca e sensual de Polanski, onde Sydne Rome é uma turista americana que vai parar numa villa italiana, cheia de gente estranha. Sydne fica com pouca ou nenhuma roupa boa parte do tempo e a estranheza do filme justifica seu título auto-surpreendido.
Itália/ França/ Alemanha Ocidental. Direção: Roman Polanski. Roteiro: Gérard Brach e Roman Polanski. Elenco: Sydne Rome, Marcello Mastroianni, Hugh Griffith, Romolo Valli, Roman Polanski.

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18 – O GATO FRITZ (Fritz the Cat)
Mídia física: DVD. Streaming: Não disponível no Brasil.

O primeiro filme de animação oficialmente proibido para menores é uma adaptação dos quadrinhos de Robert Crumb e fez fama com drogas e sexo numa sátira aos anos 1960. Bakshi resistiu à vontade de executivos para suavizar as cenas.
Estados Unidos. Direção: Ralph Bakshi. Roteiro: Ralph Bakshi, baseado em personagens de Robert Crumb. Vozes na dublagem original: Skip Hinnant, Rosetta LeNoire, John McCurry.

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17 – VOLTE PARA CASA, SNOOPY ou SNOOPY, VOLTE AO LAR (Snoopy, Come Home)
Mídia física: DVD. Streaming: Não disponível no Brasil.

Segundo longa baseado nos personagens de Charles M. Schulz, a ideia foi ser um pouco diferente do tom dos especiais para a TV. Sai a trilha jazz de Vince Guaraldi e entram canções dos irmãos Richard e Robert Sherman, compositores de Mary Poppins (1964) e outras produções da Disney. A trama mostra Snoopy deixando Charlie Brown para reencontrar sua antiga dona, que está no hospital.
Estados Unidos. Direção: Bill Melendez. Roteiro: Charles M. Schulz. Vozes na dublagem original: Chad Webber, Robin Kohn, Stephen Shea, Johanna Baer.

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16 – OS IMPLACÁVEIS (The Getaway)
Mídia física: DVD. Streaming: HBO Max. YouTube: som original sem legendas, dublado.

O vigor do cinema de Sam Peckinpah está bem presente neste filme sobre um casal em fuga alucinada após um assalto que não saiu como planejado. Veloz e brutal.
Estados Unidos. Direção: Sam Peckinpah. Roteiro: Walter Hill, baseado no romance de Jim Thompson. Elenco: Steve McQueen, Ali MacGraw, Ben Johnson, Sally Struthers.

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15 – ÚLTIMO TANGO EM PARIS (Last Tango in Paris)
Mídia física: DVD, blu-ray. Streaming: Não disponível no Brasil. Aluguel ou compra digitais: Amazon.

A grande polêmica do ano trazia Marlon Brando em um filme erótico com forte carga existencial, na história do americano de meia-idade que tem encontros com uma jovem parisiense em um apartamento vazio para um relacionamento puramente sexual, sobreposto aos traumas e expectativas dos dois desconhecidos. O filme foi proibido por anos em vários países e, muitos anos depois, a atriz Maria Schneider acusou Brando e Bertolucci improvisaram sem dizer a ela a famosa cena de estupro com a manteiga. O cineasta e o diretor de fotografia Vittorio Storaro responderam que a cena estava no roteiro e só o detalhe da manteiga foi improvisado.
Itália/ França. Direção: Bernardo Bertolucci. Roteiro: Bernardo Bertolucci e Franco Arcalli, a partir de argumento de Bertolucci, com colaboração nos diálogos de Jean-Louis Trintignant, adaptação de diálogos para francês por Agnès Varda. Elenco: Marlon Brando, Maria Schneider, Maria Michi, Giovanna Galletti, Catherine Breillat, Jean-Pierre Léaud.

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14 – AS LÁGRIMAS AMARGAS DE PETRA VON KANT (Die Bitteren Tränen der Petra von Kant)
Mídia física: DVD. Streaming: Não disponível no Brasil. YouTube: legendado.

Fassbinder adaptou sua própria peça e não escondeu nem por um segundo o DNA teatral do material: tudo se passa dentro do apartamento e é basicamente uma sucessão de diálogos. Além disso, há o componente de dramalhão na estilista que inicia uma relação amorosa com uma jovem moça e depois sofre o diabo quando é abandonada. Mas cada uma das personagens (todas mulheres) dá margem para muito debate – como a empregada/ assistente/ aluna/ ex-amante masoquista que não diz uma palavra.
Alemanha Ocidental. Direção: Rainer Werner Fassbinder. Roteiro: Rainer Werner Fassbinder, baseado em sua peça. Elenco: Margit Carstensen, Hanna Schygulla, Irm Herrmann, Katrin Schaake..

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13 – TUDO O QUE VOCÊ SEMPRE QUIS SABER SOBRE SEXO, MAS TINHA MEDO DE PERGUNTAR (Everything You Always Wanted to Know About Sex, but Were Afraid to Ask)
Mídia física: DVD. Streaming: Não disponível no Brasil. Aluguel ou compra digitais: Apple TV/ iTunes, Amazon.

O conceito do filme já é uma piada: inspirado no best seller de autoajuda, Woody Allen adquiriu os direitos e só usou o título e o formato de capítulos em perguntas. São sete segmentos como “Afrodisíacos funcionam?” e “O que acontece na ejaculação?” em que há sátiras ao cinema italiano e a filmes B de terror (com os personagens ameaçados por um seio gigante) e todo tipo de piada sexual em que Allen pôde pensar (como os “trabalhadores dos órgãos” fazendo o corpo funcionar durante o sexo e a ansiedade dos espermatozóides ao serem chamados para a ação – um deles interpretado por Allen).
Estados Unidos. Direção: Woody Allen. Roteiro: Woody Allen, baseado no livro de David Reuben. Elenco: Woody Allen, John Carradine, Lou Jacobi, Louise Lasser, Tony Randall, Lynn Redgrave, Burt Reynolds, Gene Wilder.

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12 – O DESTINO DO POSEIDON (The Poseidon Adventure)
Mídia física: DVD. Streaming: Não disponível no Brasil.

Um grande exemplar dos filmes-catástrofe. A fórmula era um elenco numeroso e cheio de nomes importantes para viver a aventura. No caso, um navio que emborca em alto mar, fica de cabeça para baixo, e a tentativa de passageiros de subir até seu fundo (agora o topo) para escapar. Com efeitos visuais e grande esforço físico dos atores, o resultado foi este ótimo suspense.
Estados Unidos. Direção: Ronald Neame. Roteiro: Stirling Silliphant e Wendell Mayes, baseado no romance de Paul Gallico. Elenco: Gene Hackman, Ernest Borgnine, Red Buttons, Carol Lynley, Roddy McDowall, Stella Stevens, Shelley Winters, Leslie Nielsen.

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11 – TRAMA DIABÓLICA ou JOGO MORTAL (Sleuth)
Mídia física: DVD. Streaming: Não disponível no Brasil. YouTube: som original sem legendas.

O grande diretor da Hollywood clássica Joseph L. Mankiewicz coloca basicamente dois atores em cena nesse suspense. Laurence Olivier é o ricaço que ama jogos e teatro e convida o amante de sua mulher (vivido por Michael Caine) para sua mansão, para daí começar um jogo de gato e rato. Os dois atores foram indicados ao Oscar de ator principal, uma das únicas nove vezes em que isso aconteceu.
Reino Unido/ Estados Unidos. Direção: Joseph L. Mankiewicz. Roteiro: Anthony Shaffer, baseado em sua peça. Elenco: Laurence Olivier, Michael Caine.

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10 – SOLARIS (Solyaris)
Mídia física: DVD, blu-ray. Streaming: Belas Artes a la Carte, Filmbox Plus. YouTube: legendado em inglês.

Na história de um psicólogo enviado a uma estação espacial para descobrir porque a tripulação enlouqueceu e encontra lá a esposa que morreu dez anos antes, Tarkovsky leva ao espaço seu cinema filosófico e contemplativo.
União Soviética. Direção: Andrei Tarkovsky. Roteiro: Fridrikh Gorenshteyn e Andrei Tarkovsky, baseado no romance de Stanislaw Lem. Elenco: Donatas Banionis, Natalya Bondarchuk, Jüri Järvet, Olga Barnet.

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9 – AGUIRRE, A CÓLERA DOS DEUSES (Aguirre, der Zorn Gottes)
Mídia física: DVD. Streaming: Não disponível no Brasil. YouTube: legendado.

A saga alucinada de um militar espanhol do século XVI que lidera uma expedição Amazônia adentro em busca da mítica cidade de El Dorado para, lá, fundar seu próprio reino. Foi o primeiro filme que Herzog fez com Klaus Kinski, uma relação tempestuosa, mas duradoura e que voltou à Amazônia dez anos mais tarde, com Fitzcarraldo. Com baixo orçamento e um tanto improvisado, com o elenco passando mesmo boa parte dos apertos de seus personagens, o filme é reflexo preciso do seu protagonista.
Alemanha Ocidental. Direção: Werner Herzog. Roteiro: Oa. Elenco: Klaus Kinski, Helena Rojo, Del Negro, Ruy Guerra, Peter Berling.

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8 – SONHOS DE UM SEDUTOR (Play it Again, Sam)
Mídia física: DVD. Streaming: Não disponível no Brasil. Aluguel ou compra digitais: Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, Amazon.

Woody Allen não dirige, mas estrela, é autor do roteiro e da peça original. O resultado, portanto, é a sua cara: um crítico de cinema inapto para lidar com as mulheres recebe dicas do fantasma de seu ídolo, Humphrey Bogart. Allen, Diane Keaton, Tony Roberts e Jerry Lacy reprisaram no filme os papéis que interpretaram com sucesso nos palcos.
Estados Unidos. Direção: Herbert Ross. Roteiro: Woody Allen, baseado em sua própria peça. Elenco: Woody Allen, Diane Keaton, Tony Roberts, Jerry Lacy, Susan Anspach, Jennifer Salt.

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7 – AMARGO PESADELO (Deliverance)
Mídia física: DVD. Streaming: HBO Max, Now, Looke, NetMovies. Aluguel ou compra digitais: Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, Amazon, Microsoft Store.

John Boorman conta a história de quatro homens urbanos muito cheios de si que embarcam de canoa para o inferno ao descer um rio marcado para desaparecer e encontrar moradores locais com péssimas intenções. A ação e o suspense exigiu muito do elenco e o diretor consegue mostrar a natureza tão bonita quanto ameaçadora, fazendo com que os grandes homens se sintam muito pequenos. Imitar um porco nunca mais será a mesma coisa para o espectador que passa por essa correnteza.
Estados Unidos. Direção: John Boorman. Roteiro: James Dickey, com diálogos adicionais de John Boorman, baseado em romance de Dickey. Elenco: Jon Voight, Burt Reynolds, Ned Beatty, Ronny Cox.

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6 – O DISCRETO CHARME DA BURGUESIA (Le Charme Discret de la Bourgeoisie)
Mídia física: DVD. Streaming: Oldflix, Mubi.

Seis pessoas tentam jantar, mas nunca conseguem: cada vez que sentam à mesa são constantemente interrompidos. O que os impede são alguns desastres – sejam reais, sejam sonhos. O veterano Buñuel usa o surrealismo a serviço da comédia, em um de seus principais filmes, quase um O Anjo Exterminador ao contrário (como apontou Roger Ebert).
França/ Itália/ Espanha. Direção: Luís Buñuel. Roteiro: Luís Buñuel, com a colaboração de Jean-Claude Carrière. Elenco: Fernando Rey, Paul Frankeur, Delphine Seyrig, Bulle Ogier, Stéphane Audran, Jean-Pierre Cassel.

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5 – FRENESI (Frenzy)
Mídia física: DVD, blu-ray. Streaming: Oldflix. Aluguel ou compra digitais: Claro Vídeo, Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, Amazon.

De volta à Inglaterra para filmar após 16 anos, Hitchcock dirigiu seu filme mais violento e sexual. Após um período de baixa, este é um grande filme do mestre do suspense, usando alguns de seus temas preferidos, a obsessão e o “homem errado”, perseguido injustamente por um crime que não cometeu.
Reino Unido. Direção: Alfred Hitchcock. Roteiro: Anthony Shaffer, baseado no romance de Arthur La Bern. Elenco: Jon Finch, Barry Foster, Barbara Leigh-Hunt, Anna Massey, Alec McCowen.

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4 – ESSA PEQUENA É UMA PARADA (What’s Up, Doc?)
Mídia física: DVD. Streaming: Looke, NetMovies.

Peter Bogdanovich praticamente refilma Levada da Breca (1938). A partir da troca de quatro bolsas com conteúdos bem diferentes em um hotel (diamantes, pedras pré-históricas, documentos secretos e lingerie), uma garota maluquinha se apaixona por um musicólogo caxias e vira a vida dele de cabeça para baixo. É tecida então uma comédia maluca à moda dos anos 1930 e que homenageia de maneira indisfarçável Howard Hawks, um dos mestres desse estilo. Além de Barbra Streisand e Ryan O’Neal terem ótima química, o filme é a estreia da excelente Madeline Kahn.
Estados Unidos. Direção: Peter Bogdanovich. Roteiro: Buck Henry, David Newman e Robert Benton, a partir de argumento de Peter Bogdanovich. Elenco: Barbra Streisand, Ryan O’Neal, Madeline Kahn, Kenneth Mars, Austin Pendleton, Randy Quaid, M. Emmet Walsh, Patricia O’Neal.

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3 – GRITOS E SUSSURROS (Viskningar och Rop)
Mídia física: DVD. Streaming: Não disponível no Brasil. YouTube: legendado.

Poucos filmes assumiram tão diretamente uma cor para transmitir seu estado de espírito. O vermelho é forte na decoração dos ambientes, em objetos e mesmo nos fades, onde a cena mergulha nesta cor (e não no preto, como é usual). Bergman retrata com perícia os dias de quatro mulheres em uma casa de campo: a proprietária, morrendo de câncer, suas duas irmãs e a fiel empregada. Cada qual com suas memórias doloridas, sofrimentos, dramas pessoais, repressões que vêm à tona e assombrações..
Suécia. Direção e roteiro: Ingmar Bergman. Elenco: Harriet Andersson, Kari Sylwan, Ingrid Thulin, Liv Ullman, Anders Ek, Erland Josephson.

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2 – CABARET (Cabaret)
Mídia física: DVD, blu-ray. Streaming: Now.

A ascensão do nazismo como pano de fundo para a história de uma cantora de cabaré entre dois homens na Berlim do começo dos anos 1930. Liza Minelli faz de “Mein herr” e “Cabaret” números inesquecíveis e Joel Grey é um antológico mestre de cerimônias em números que nem estão integrados à narrativa, nem são totalmente à parte: eles comentam a história. Com oito Oscars (incluindo direção e atriz), é o filme mais premiado a não levar o prêmio de melhor filme e é o melhor exemplo da obra de Bob Fosse como diretor e coreógrafo.
Estados Unidos. Direção: Bob Fosse. Roteiro: Jay Presson Allen, baseado no libreto do musical escrito por Joe Masteroff, por sua vez baseado na peça de John Van Druten, por sua vez baseada em contos de Christopher Isherwood. Elenco: Liza Minnelli, Michael York, Joel Grey, Helmut Griem, Fritz Wepper, Marisa Berenson.

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1 – O PODEROSO CHEFÃO (The Godfather)
Mídia física: DVD, blu-ray. Streaming: Netflix, Star Plus, Globoplay/ Telecine, Paramount Plus, Oldflix, Oi Play. Aluguel ou compra digitais: Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, Amazon, Microsoft Store.

Do primeiro segundo (“Eu acredito na América” sendo falado sobre a tela preta) até o último (a porta se fechando sobre o rosto preocupado de Diane Keaton), o filme de Francis Ford Coppola é um sucessão quase ininterrupta de grandes momentos. Combina imagens espetaculares (direção de fotografia de Gordon Willis) com diálogos repetidos até hoje (do roteiro de Coppola e Mario Puzo, autor do best seller). A festa de casamento da filha do mafioso, “Ele vai receber uma oferta que não poderá recusar”, “Mantenha seus amigos perto e seus inimigos ainda mais perto”, a surra no marido espancador, “Nunca deixe que ninguém fora da família saiba o que você está pensando”, o assassinato brutal no pedágio, “Não é pessoal, são negócios”, a cena do batismo… É uma história de crime e uma história do amor entre pai e filhos.
Estados Unidos. Direção: Francis Ford Coppola. Roteiro: Francis Ford Coppola e Mario Puzo, baseado em romance de Puzo. Elenco: Marlon Brando, Al Pacino, James Caan, Diane Keaton, Robert Duvall, Talia Shire, John Cazale, Richard S. Castellano, Sterling Hayden, John Marley, Richard Conte, Al Lettieri, Abe Vigoda.

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OUTRAS LISTAS DE MELHORES:

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NOTA: A percepção sobre os filmes mudam com o tempo. Esta é a minha percepção agora, limitada ao que vi, naturalmente — esta lista pode mudar à medida em que for revisitando alguns filmes ou assistir a outros que ainda não conheço deste ano específico.

GOLPE DE MESTRE
⭐⭐⭐⭐⭐
Diário de filmes 2023: 1
Mídia física: DVD, blu-ray. Streaming: Looke, NetMovies, Oi Play. Aluguel ou compra digitais: Claro Vídeo, Apple TV/ iTunes, Amazon.

Golpe de Mestre, 50 anos este ano, continua saborosíssimo. Reuniu o diretor e a dupla de atores de Butch Cassidy (George Roy Hill, Paul Newman e Robert Redford) e a magia se repetiu, em nova mistura perfeita de crime e comédia. Além disso, há a trilha incrível de ragtimes de Scott Joplin e as referências narrativas ao cinema dos anos 1930.

The Sting. Estados Unidos, 1973.
Direção: George Roy Hill. Elenco: Paul Newman, Robert Redford, Robert Shaw, Eileen Brennan.

GOLPE DE MESTRE
⭐⭐⭐⭐⭐
Diário de filmes 2023: 1
Mídia física: DVD, blu-ray. Streaming: Looke, NetMovies, Oi Play. Aluguel ou compra digitais: Claro Vídeo, Apple TV/ iTunes, Amazon.

Truque de cartas cinematográfico

Paul Newman e Robert Redford, dirigidos por George Roy Hill, já tinham funcionado muito bem em Butch Cassidy (1969). Quatro anos depois, eles estavam juntos de novo para Golpe de Mestre (1973) e a magia se repetiu e foi ainda mais longe. Premiado com sete Oscars, incluindo o de melhor filme, essa comédia de trapaceiros que se passa nos anos 1930 se estabeleceu como um modelo muito copiado e, assim, pode já não enganar tanto o espectador já escolado, mas chega aos 50 anos mantendo seu charme intacto.

Para começar, é sempre notável quando uma comédia consegue o feito de levar o Oscar de melhor filme. É bem sabido que filmes do gênero costumam ser menosprezados em prêmios ou listas de melhores dos críticos. Este, ainda por cima, está encravado entre O Poderoso Chefão (1972) e O Poderoso Chefão – Parte II (1974), dois épicos dramáticos. Golpe de Mestre se passa em época parecida ao primeiro Chefão (que é nos anos 1940) e também tem o crime como componente crucial de sua trama. Mas, sobretudo se comparado aos filmes de Coppola, é absolutamente faceiro.

Não discute nada “importante”, não é cínico, não é revisionista nem baixo astral. Contraria tudo o que a Nova Hollywood vinha fazendo naqueles anos. Sua trama parte de dois trambiqueiros de rua que aplicam um golpe que dá certo demais. Arrancam uma bolada de um sujeito, mas não sabem que a grana estava endereçada a um sujeito poderoso e perigoso, Doyle Lonnegan (Robert Shaw). Como resultado, o mentor Luther (Robert Earl Jones) é morto e o mais jovem, Johnny Hooker (Redford), pode ser o próximo.

Então, ele procura outro veterano, Henry Gondorff (Newman), e, com a ajuda de uma rede de trambiqueiros, um grande golpe começa a ser armado para vingar a morte do amigo assassinado. Hooker ajuda Gondorff a recuperar a perícia de outros tempos e sair do buraco e Gondorff ajuda Hooker a ser mais profissional e cuidadoso com a própria vida. É um par de ases que pode valer por uma quadra.

Mas boa parte do que assistimos é o planejamento e a preparação detalhada do golpe, o que já era um clássico dos filmes de roubo como Rififi (1955), O Grande Golpe (1956) e o primeiro Onze Homens e um Segredo (1960), mas aqui não se trata de um roubo a algum lugar, como um banco, uma joalheira ou um cassino. É fundamental uma encenação elaboradíssima, consagrando um tipo de trama a que o cinema voltaria muitas vezes desde então.

Essa preparação é dividida em duas saborosas partes. Numa, Gondorff e Hooker vão tentando fisgar Lonnegan partindo de um jogo de poquer em um trem onde a trapaça é uma das cartas. Na outra, a locação é escolhida, o cenário é erguido e elenco é selecionado como numa peça de teatro. “Minha especialidade é ser um inglês”, diz um candidato, a quem é oferecido um figurino. “Pode deixar, eu trago meu material comigo”. Simpático e profissional, em uma espécie de cultura própria dos golpistas, com suas regras, código de honra, linguajar e procedimentos.

Um complicador é que Hooker está sendo perseguido não só pelos matadores profissionais de Lonnegan quanto por um policial corrupto que ele também enganou. E não conta isso ao novo parceiro. Isso é importante porque deixa no ar segredos entre eles que ajuda a convencer nas reviravoltas do enredo. O par de ases pode não ser o suficiente, se a mão vier desfavorável.

É claro que, cinco décadas depois, os truques de Golpe de Mestre já foram revisitados muitas vezes por outros filmes e talvez sua prestidigitação não surpreenda tanto quanto na época de seu lançamento. Mas o fato é que o filme não depende disso. Há muito mais o que saborear. O diretor George Roy Hill não se contentou com a ambientação nos anos 1930 e aproximou como pôde o filme do estilo de narrativa da época.

Há o visual com uma reconstituição de época caprichada e figurinos de Edith Head (o ícone máximo nessa função em Hollywood, muito identificada com o cinema clássico). Há sacadas de edição como o efeito de cortina ou íris para passar de uma cena a outra. Há as cartelas que introduzem os capítulos, com ilustrações de Jaroslav Gebr que parecem saídas de revistas da época (com o efeito de página virando, inclusive). Há os créditos iniciais, que começa com o logo antigo da Universal e desfila o elenco com suas cenas vindouras no filme, depois de apresentados com uma solenidade irônica, “The players” (que a dublagem brasileira e a legenda no DVD chamam “Os jogadores”).

Sem falar na trilha sonora antológica que resgatou obras do pianista Scott Joplin, rearranjadas para o filme por Marvin Hamlisch. O ragtime de Joplin é, na verdade, de uns 20 anos antes do tempo da trama do filme, lá dos anos 1910, mas o fato é que a música dá o clima exato do filme, o que se provou bem mais importante que essa precisão histórica.

A obra de Joplin passava então por um processo de redescoberta após décadas meio esquecida. Em Golpe de Mestre, ela tem status de protagonista: não aparece sob os diálogos, mas entra em cena em sequências onde ela é absoluta. Somando o imenso sucesso popular do filme, que ainda hoje figura entre as 100 maiores bilheterias americanas (corrigida a inflação), o relativo desconhecimento geral das músicas e sua importância no filme, composições como “The entertainer” ficaram para sempre ligadas ao filme.

Tudo isso ajuda o filme a fazer truques de cartas na nossa frente, enquanto bate nossas carteiras: quando deu por si, a plateia já está conquistada.

GOLPE DE MESTRE. The Sting. Estados Unidos, 1973.
Direção: George Roy Hill. Elenco: Paul Newman, Robert Redford, Robert Shaw, Charles Durning, Eileen Brennan, Ray Walston, Harold Gould, Dana Elcar, Dimitra Arliss, Jack Kehoe, Robert Earl Jones, Sally Kirkland, Kathleen Freeman.

M.A.S.H.
⭐⭐⭐⭐⭐
Mídia física: DVD. Streaming: Star Plus.

Ser maluco para não enlouquecer
(Publicado no Facebook, em 18/06/2020)

50 anos este ano de M.A.S.H.! Num ano que teve também os pomposos Patton e Tora! Tora! Tora!, o cinema de guerra teve também um exemplar que foi o contrário disso.

M.A.S.H. é irreverente e iconoclasta sobre o exército e as guerras, numa época em que a Guerra do Vietnã estava comendo no centro. Não tinha uma “história”, mas uma série de episódios envolvendo três cirurgiões (Donald Sutherland, Elliott Gould e Tom Skerritt) de um hospital de campanha que usava o humor para lidar com os horrores do conflito. Bancavam os malucos para não enlouquecerem.

Robert Altman dizia que M.A.S.H. não foi lançado, ele ‘escapou’. Enquanto a Fox estava com as atenções voltadas para Patton (que efetivamente acabaria ganhando o Oscar), o diretor foi contrabandeando suas ideias para seu filme.

Por exemplo: o filme se passa na guerra da Coreia, mas isso quase não é mencionado. A intenção era fazer o público associar mesmo com o Vietnã. O estúdio acabou impondo um letreiro inicial para explicitar que era mesmo a Coreia.

O roteiro (de Ring Lardner Jr., que adapta livro de Richard Hooker) foi jogado para o ar em prol de muita improvisação. Tom Skerritt disse que cerca de 80% dos diálogos foram improvisados (o roteirista não gostou nada dessa decisão, e ironicamente ganhou o Oscar).

Outra: um memorando proibiu fotos de mulheres peladas nas salas de edição. Altman gravou uma leitura do documento e usou numa das cenas de aviso dos alto-falantes que pontuam a narrativa.

Essas coisas fazem com que a alma do filme e a alma de seus personagens combinem muito, inclusive no contraste com as cenas mais duras na sala de cirurgia. Mesmo em sua comédia, M.A.S.H. é um filme único entre outros de piadas de caserna.

M.A.S.H. Estados Unidos, 1970.
Direção: Robert Altman. Elenco: Donald Sutherland, Elliott Gould, Tom Skerritt, Sally Kellerman, Robert Duvall.

20 – “PRETA PRETINHA”, Novos Baianos
(Moraes Moreira/ Galvão)
DiscoAcabou Chorare.

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19 – “EVERYTHING I OWN”, Bread
(David Gates)
DiscoBaby, I’m-a Want You.

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18 – “ALONE AGAIN (NATURALLY)”, Gilbert O’Sullivan
(Gilbert O’Sullivan)
Disco: single.

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17 – “BAIOQUE”, Maria Bethânia
(Chico Buarque)
DiscoQuando o Carnaval Chegar (trilha sonora)

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16 – “BALADA DO LOUCO”, Os Mutantes
(Arnaldo Baptista/ Rita Lee)
DiscoMutantes e Seus Cometas no País dos Baurets.

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15 – “CROCODILE ROCK”, Elton John
(Elton John/ Bernie Taupin)
Disco: single.

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14 – “BURNING LOVE”, Elvis Presley
(Dennis Linde)
Disco: single.

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13 – “NADA SERÁ COMO ANTES”, Milton Nascimento e Beto Guedes
(Milton Nascimento/ Ronaldo Bastos)
DiscoClube da Esquina

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12 – “CASA NO CAMPO”, Elis Regina
(Zé Rodrix/ Tavito)
DiscoElis.

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11 – “YOU ARE THE SUNSHINE OF MY LIFE”, Stevie Wonder
(Stevie Wonder)
DiscoTalking Book.

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10 – “PARTIDO ALTO”, MPB-4
(Chico Buarque)
DiscoQuando o Carnaval Chegar (trilha sonora).

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9 – “I CAN SEE CLEARLY NOW”, Johnny Nash
(Johnny Nash)
DiscoI Can See Clearly Now.

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8 – “EXPRESSO 2222”, Gilberto Gil
(Gilberto Gil)
DiscoExpresso 2222.

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7 – “LET’S STAY TOGETHER”, Al Green
(Al Green / Al Jackson, Jr. / Willie Mitchell)
DiscoLet’s Stay Together.

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6 – “BRASIL PANDEIRO”, Novos Baianos
(Assis Valente)
DiscoAcabou Chorare.

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5 – “ROCKET MAN”, Elton John
(Elton John/ Bernie Taupin)
DiscoHonky Chatêau.

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4 – “DANÇA DA SOLIDÃO”, Paulinho da Viola
(Paulinho da Viola)
DiscoA Dança da Solidão.

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3 – “STARMAN”, David Bowie
(David Bowie)
DiscoThe Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars.

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2 – “YOU’RE SO VAIN”, Carly Simon
(Carly Simon)
DiscoNo Secrets.

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1 – “ÁGUAS DE MARÇO”, Antônio Carlos Jobim
(Antônio Carlos Jobim)
DiscoDisco de Bolso – O Tom de Antônio Carlos Jobim e o Tal de João Bosco (EP).

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ERA UMA VEZ EM HOLLYWOOD
⭐⭐⭐⭐
Diário de Filmes 2022: 1
Onde ver: DVD (na coleção Era uma Vez em Hollywood – A Coleção Completa)

Pérolas da Metro

Em 1974, não havia home video. Para ver os antigos musicais da Metro, só numa reprise nos cinemas ou na TV. Por isso, o documentário autocelebratório Era uma Vez em Hollywood foi a oportunidade de rever Gene Kelly cantando na chuva, Fred Astaire dançando nas paredes e tetos do quarto, Judy Garland cantando “Over the rainbow” e outros momentos antológicos. “Eu te digo: você nunca mais verá algo assim de novo”, diz Frank Sinatra na apresentação. E ele tinha razão.

LEIA MAIS:
Era uma Vez em Hollywood: DVD sofre com péssimas legendas

Veteranos astros voltam à Metro para contar essa história em segmentos históricos ou dedicados a um talento, que abrangem musicais do estúdio, lançados entre 1929 a 1958. Há boas sacadas como Fred Astaire apresentando as cenas de Gene Kelly e Kelly as de Astaire. Ou Liza Minnelli apresentando as da mãe, Judy Garland, que morreu cinco anos antes.

Hoje é muito mais fácil garimpar essas cenas, mas o trabalho de curadoria e edição é um desfile de maravilhas irresistível. Só poder assistir de novo (ou pela primeira vez) Fred Astaire e Eleanor Powell dançando “Begin the beguine”, de Cole Porter, já vale um filme desses.

That’s Entertainment!. Estados Unidos, 1974.
Direção e roteiro: Jack Haley Jr. Elenco: Fred Astaire, Gene Kelly, Frank Sinatra, Bing Crosby, Elizabeth Taylor, Donald O’Connor, Mickey Rooney, Liza Minnelli, James Stewart, Peter Lawford.

20 – LUXÚRIA DE VAMPIROS (Lust for a Vampire)
Onde ver: DVD.

Segundo exemplar da trilogia de Karnstein, com a voluptuosa vampira vivida pela dinamarquesa Yutte Stengaard se infiltrando numa escola para moças para pescar novas vítimas. Terror gótico e mulher bonita, a receita da Hammer naqueles tempos.
Reino Unido. Direção: Jimmy Sangster. Roteiro: Tudor Gates, baseado em personagens criados por Sheridan Le Fanu. Elenco: Yutte Stensgaard, Barbara Jefford, Ralph Bates, Suzanna Leigh.

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19 – MORTE EM VENEZA (Morte a Venecia)
Onde ver: DVD, blu-ray (na coleção Visconti Essencial), Belas Artes a la Carte, Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes.

Visconti adapta Thomas Mann na história do compositor que fica obcecado por um adolescente. Com trilha usando obras de Mahler, é muito admirado pelos fãs do cineasta.
Itália/ França. Direção: Luchino Visconti. Roteiro: Luchino Visconti e Nicola Badalucco, baseado no romance de Thomas Mann. Elenco: Dirk Bogarde, Bjorn Andrésen, Marisa Berenson, Silvana Mangano.

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18 – O DRAGÃO CHINÊS (Tang Shan Da Xiong ou The Big Boss)
Onde ver: DVD, blu-ray, Amazon Prime Video, Oldflix, Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, YouTube (dublado).

O primeiro da série de filmes estrelados por Bruce Lee, um Fred Astaire das artes marciais. Aqui, ele é o jovem que vai trabalhar numa fábrica de gelo com a família, a qual os chefes usam para traficar drogas. Ele tinha prometido ao tio não se envolver em brigas, mas a coisa muda quando seus parentes começam a ser mortos. É primário em várias coisas, mas, depois de anos de Lee em pequenos papéis em Hong Kong e Hollywood, aqui temos o começo de uma verdadeira lenda.
Hong Kong. Direção: Wei Lo, Chia-Hsiang Wu (não creditado). Roteiro: Wei Lo. Elenco: Bruce Lee, Maria Yi, James Tien.

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17 – AS AVENTURAS DE M. HULOT NO TRÁFEGO LOUCO (Trafic)
Onde ver: DVD (na coleção A Obra Completa de Jacques Tati).

Depois do prejuízo financeiro com Playtime (1967), Jacques Tati rodou um filme mais modesto, a convite da Holanda, com a ideia divertida de uma viagem de Paris a Amsterdã para mostrar o veículo que projetou em uma exposição de automóveis. Como sempre, nas muitas situações inesperadas que a viagem proporciona, é a pantomima de Hulot e dos outros personagens a principal fonte de risos ou sorrisos.
França/ Itália. Direção: Jacques Tati. Roteiro: Jacques Tati, com colaboração artística de Jacques Lagrange e participação de Bert Haanstra. Elenco: Jacques Tati, Maria Kimberly, Honoré Bostel.

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16 – 007 – OS DIAMANTES SÃO ETERNOS (Diamonds Are Forever)
Onde ver: DVD, blu-ray, Telecine Play, Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, Microsoft Store.

Com George Lazenby recusando voltar, então Sean Connery voltou ao papel de James Bond. A abertura reflete o acontecimento, com Bond espancando bandidos, mas sem a câmera mostrá-lo, entre outras piadas internas. Connery e a franquia em boa forma.
Reino Unido. Direção: Guy Hamilton. Roteiro: Richard Malbaum e Tom Mankiewicz, baseado em romance de Ian Fleming. Elenco: Sean Connery, Jill St. John, Charles Gray, Lana Wood, Bernard Lee, Desmond Llewelyn, Lois Maxwell, Putter Smith, Bruce Glover.

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15 – BANANAS (Bananas)
Onde ver: DVD.

O segundo filme dirigido para valer por Woody Allen mistura comédia rasgada com sátira política, com seu personagem típico se envolvendo com uma revolução em um país latino-americano. Muita improvisação nas cenas, realçando o grande quociente de absurdo no filme (como músicos que tocam instrumentos inexistentes numa cena, que Allen decidiu fazer assim porque os instrumentos alugados não chegaram).
Estados Unidos. Direção: Woody Allen. Roteiro: Woody Allen e Mickey Rose. Elenco: Woody Allen, Louise Lasser, Carlos Montalbán, Nati Abascal.

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14 – ENSINA-ME A VIVER (Harold and Maude)
Onde ver: DVD, blu-ray, Microsoft Store.

Original comédia romântica entre um jovem rapaz e uma senhora beirando os 80 anos. Ele, um obcecado pela morte, que simula suicídios para atormentar a mãe. Ela, uma apaixonada pela vida e por novas experiências. Caiu como uma luva para o roteirista Higgins e o diretor Ashby, grandes autores de comédia que entregaram um filme para cima e que não se esquece.
Estados Unidos. Direção: Hal Ashby. Roteiro: Colin Higgins. Elenco: Bud Cort, Ruth Gordon, Vivian Pickles, Cyril Cusack, Tom Skerritt.

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13 – ONDE OS HOMENS SÃO HOMENS ou JOGOS E TRAPAÇAS – QUANDO OS HOMENS SÃO HOMENS (McCabe and Mrs. Miller)
Onde ver: DVD (na coleção O Cinema de Faroeste – Vol. 8), YouTube (legendado em espanhol).

Um faroeste de Robert Altman nunca vai ser um faroeste como os outros. Aqui, seu protagonista é um sujeito que se acha muito esperto, abrindo um bordel numa cidadezinha, mas que só vai mesmo para a frente quando uma prostituta entra como sócia para organizar o lugar. Depois, dá um passo em falso numa negociação, o que deixa um pistoleiro no seu encalço. O clímax, com o herói se escondendo, é na neve. Não é à toa que Altman o chamou de “anti-western”. Mas, com tons de comédia dramática e muito de patético, tem o toque indiscutível do diretor.
Estados Unidos. Direção: Robert Altman. Roteiro: Robert Altman, Brian McKay, Robert Towne (não creditado), Joseph Calvelli (não creditado), baseado em romance de Edmund Naughton. Elenco: Warren Beatty, Julie Christie, Rene Auberjonois, Shelley Duvall, Keith Carradine.

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12 – ÂNSIA DE AMAR (Carnal Knowledge)
Onde ver: DVD.

Mike Nichols, na direção, e Jules Feiffer, no roteiro, examinam a encruzilhada masculina diante da revolução sexual. Jack Nicholson e Art Garfunkel navegam por belas mulheres sem saber muito bem o que estão fazendo. Ann-Margret aparece sexy, como sempre, nua e comovente como nunca.
Estados Unidos. Direção: Mike Nichols. Roteiro: Jules Feiffer. Elenco: Jack Nicholson, Art Garfunkel, Candice Bergen, Ann-Magret, Rita Moreno, Cynthia O’Neal, Carol Kane.

Crítica de Ânsia de Amar:
Labirinto do sexo

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11 – E AGORA, PARA ALGO COMPLETAMENTE DIFERENTE (And Now for Something Completely Different)
Onde ver: YouTube (som original, sem legendas).

O Monty Python revolucionou a comédia na TV com seu nonsense e levou a magia para o cinema em um filme que era simplesmente a refilmagem com mais recursos de seus melhores esquetes. Não há a menor história, nem o menor sentido, apenas sandices clássicas como “a piada mais engraçada do mundo”, “o papagaio morto”, “a canção do lenhador”, ou uma explanação sobre “como não ser visto”.
Reino Unido. Direção: Ian MacNaughton. Roteiro: Graham Chapman, John Cleese, Terry Gilliam, Eric Idle, Terry Jones e Michael Palin. Elenco: Graham Chapman, John Cleese, Terry Gilliam, Eric Idle, Terry Jones, Michael Palin, Carol Cleveland.

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10 – KLUTE – O PASSADO CONDENA (Klute)
Onde ver: DVD, Oldflix, Apple TV/ iTunes.

Jane Fonda ganhou o Oscar de melhor atriz como a prostituta envolvida no desaparecimento de um homem, caso investigado por um detetive. Mas é Jane e sua personagem a razão de ser do filme, como a profissional perspicaz que precisa atender as diversas necessidades de seus clientes (embora Klute seja o nome do detetive). 
Estados Unidos. Direção: Alan J. Pakula. Roteiro: Andy Lewis e David E. Lewis. Elenco: Jane Fonda, Donald Sutherland, Charles Cioffi, Roy Scheider.

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9 – SOB O DOMÍNIO DO MEDO (Straw Dogs)
Onde ver: DVD, YouTube (dublado).

O mestre da violência Sam Peckinpah leva um casal ao inferno: um matemático e sua esposa isolados em uma cabana, atacados por vizinhos brutamontes. Ainda hoje pode ter passagens fortes demais. Hoffman, Susan George e Peter Vaughan estão perfeitamente escalados. 
Reino Unido/ Estados Unidos. Direção: Sam Peckinpah. Roteiro: David Zelag Goodman e Sam Peckinpah, baseado no romance de Gordon Williams. Elenco: Dustin Hoffman, Susan George, Peter Vaughan, T.P. McKenna.

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8 – SHAFT (Shaft)
Onde ver: DVD (no digipack Shaft – A Trilogia Clássica, da Versátil). Aluguel ou compra digitais: Amazon.

Um detetive particular é contratado por um chefão do submundo para encontrar a filha dele, sequestrada. Mas, diferente do que se via tradicionalmente nos filmes, John Shaft é negro e a ação se passa quase toda no bairro do Harlem. Shaft é durão, pegador, cheio de bossa, seguro de si e seu sucesso como herói negro protagonista impulsionou a onda dos filmes blaxpoitation no cinema americano. 
Estados Unidos. Direção: Gordon Parks. Roteiro: Ernest Tidyman e John D. F. Black, baseado no romance de Tidyman. Elenco: Richard Roundtree, Moses Gunn, Charles Cioffi, Christopher St. John, Gwenn Mitchell.

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7 – O ENIGMA DE ANDRÔMEDA (The Andromeda Strain)
Onde ver: DVD.

Quando uma cidade inteira morre por causa de uma possível contaminação alienígena, um grupo de cientistas corre contra o tempo para descobrir como evitar que isso se alastre pelo mundo. Um thriller com uma investigação científica como protagonista, enfrentando inclusive o pouco caso do governo.
Estados Unidos. Direção: Robert Wise. Roteiro: Nelson Gidding, baseado no romance de Michael Crichton. Elenco: Arthur Hill, David Wayne, James Olson, Kate Reid, Paula Kelly.

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6 – PERSEGUIDOR IMPLACÁVEL (Dirty Harry)
Onde ver: DVD, HBO Max, Now, Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes).

Dirty Harry, o protótipo do policial durão, implacável, que toma as leis nas próprias mãos e sai do regulamento para conseguir o que quer, virou um personagem recorrente de Clint Eastwood, aparecendo em cinco filmes. este é o primeiro e o melhor, com cenas memoráveis como Harry apontando a arma para a cara de um bandido desarmado, dizendo que não lembra se as balas acabaram e perguntando: “Então, você está com sorte?”. 
Estados Unidos. Direção: Don Siegel. Roteiro: Harry Julian Fink, Rita M. Fink, Dean Riesner, Terrence Malick (não creditado), John Milius (não creditado), com argumento de Julian Fink, M. Fink e Jo Heims. Elenco: Clint Eastwood, Harry Guardino, Reni Santoni, John Vernon.

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5 – HOUVE UMA VEZ UM VERÃO ou VERÃO DE 42 (Summer of ’42)
Onde ver: DVD.

Um modelo dos filmes nostálgicos sobre adolescentes e seu amadurecimento. Aqui, numa ilha de veraneio em 1942, um garoto de 15 anos se apaixona platonicamente por uma mulher mais velha e casada (a lindíssima Jennifer O’Neill). Os filmes são com Bette Davis, a primeira vez era um objetivo de vida, a II Guerra era distante, mas nem tanto. A música de Michel Legrand embala as lembranças do protagonista.
Estados Unidos. Direção: Robert Mulligan. Roteiro: Herman Raucher. Elenco: Jennifer O’Neill, Gary Grimes, Jerry Houser, Oliver Conant. Voz: Maureen Stapleton.

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4 – OPERAÇÃO FRANÇA (The French Connection)
Onde ver: DVD, blu-ray.

O vencedor do Oscar de melhor filme é mais um com um tira capaz de tudo para pegar seu bandido. Popeye Doyle não tem problema em atirar pelas costas ou destruir um carro durante uma perseguição alucinada pelas ruas de Nova York a um trem elevado que leva um criminoso. A perigosa perseguição foi filmada no banco de trás do carro pelo próprio diretor Friedkin operando a câmera. Eletrizante, com o diretor em sua melhor forma.
Estados Unidos. Direção: William Friedkin. Roteiro: Ernest Tidyman, baseado no livro de Robin Moore. Elenco: Gene Hackman, Fernando Rey, Roy Scheider, Tony Lo Bianco.

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3 – A ÚLTIMA SESSÃO DE CINEMA (The Last Picture Show)
Onde ver: DVD, YouTube (dublado).

Outro filme memorialista, sobre adolescentes amadurecendo, mas em uma cidade do interior que caminha para o ostracismo, nos anos 1950. Peter Bogdanovich filmou em preto-e-branco, uniu jovens talentos a veteranos de Hollywood, e uniu também uma pegada moderna a um estilo clássico hollywoodiano, cheio de referências – começando pelos filmes em cartaz no cinema local. 
Estados Unidos. Direção: Peter Bogdanovich. Roteiro: Larry McMurtry e Peter Bogdanovich, baseado em romance de McMurtry. Elenco: Timothy Bottoms, Jeff Bridges, Cybill Shepherd, Ben Johnson, Cloris Leachman, Ellen Burstyn, Eileen Brennan, Sam Bottoms, Randy Quaid.

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2 – ENCURRALADO (Duel)
Onde ver: DVD, blu-ray, Now, Telecine Play, Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, YouTube (legendado; dublado).

A espetacular estreia de Steven Spielberg na direção de longas é, na origem, um filme para televisão. Mas a Universal chamou o jovem diretor para filmar novas cenas e aumentar a produção para um lançamento nos cinemas, em outros países. A história de um cidadão absolutamente comum caçado implacavelmente na estrada por um caminhoneiro assassino misterioso merecia isso. O caminhoneiro nunca aparece completamente, parece que o gigantesco caminhão, em si, é o perseguidor. Spielberg já mostra seu grande talento narrativo. 
Estados Unidos. Direção: Steven Spielberg. Roteiro: Richard Matheson, baseado em seu conto. Elenco: Dennis Weaver, Jacqueline Scott, Eddie Firestone.

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1 – LARANJA MECÂNICA (A Clockwork Orange)
Onde ver: DVD, blu-ray, HBO Max, Looke, Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes, Microsoft Store.

Em um ano no qual a violência foi protagonista, Stanley Kubrick lançou uma ficção científica que aborda o assunto. Um jovem que pratica a ultraviolência com sua gangue e depois seu processo de reprogramação por parte do governo. Tão chocante na violência quanto caricato e cômico, tem um visual exagerado (incluindo um bar de leite com mesas na forma de mulheres nuas), Beethoven e Rossini na trilha sonora, além de Malcolm McDowell agredindo um homem enquanto canta e dança “Singin’ in the rain”. Irônico, iconoclasta, meio pateta, uma obra como poucas. 
Reino Unido/ Estados Unidos. Direção: Stanley Kubrick. Roteiro: Stanley Kubrick, baseado em romance de Anthony Burgess. Elenco: Malcolm McDowell, Patrick Magee, Michael Bates, Warren Clarke, Adrienne Corri.

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Atualização (em 5/11/2023): Entrou Shaft (em 8º), saiu A Fantástica Fábrica de Chocolate.

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OUTRAS LISTAS DE MELHORES:

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NOTA: A percepção sobre os filmes mudam com o tempo. Esta é a minha percepção agora, limitada ao que vi, naturalmente — esta lista pode mudar à medida em que for revisitando alguns filmes ou assistir a outros que ainda não conheço deste ano específico

O APOCALIPSE DE UM CINEASTA
⭐⭐⭐⭐
Diário de Filmes 2021: 48

Assistindo Francis sofrer

Orson Welles quis adaptar O Coração das Trevas, de Joseph Conrad, para sua estreia no cinema. Não conseguiu (fez Cidadão Kane em vez disso). Quem levou o livro aos cinemas foi Francis Ford Coppola, transpondo a ação da selva africana para a guerra do Vietnã. A história é uma odisseia, mas as filmagens também foram, registradas por Eleanor, esposa do cineasta, e que 12 anos depois do lançamento de Apocalypse Now (1979) viraram esse documentário, que está completando 30 anos este ano.

Coppola ficou meses a fio filmando nas Filipinas (mais de um ano), teve cenários destruídos por calamidades climáticas, problemas com o governo local que emprestava e depois tirava os equipamentos militares que o filme mostraria, teve o ator principal (Martin Sheen) sofrendo um ataque cardíaco, Marlon Brando apareceu gordo e sem ter lido o livro ou o roteiro. Coppola enfiou dinheiro do próprio bolso na produção, e pensou em se matar. Disse que o documentário poderia se chamar “Assista ao Francis sofrendo”.

Apocalypse Now estreou em Cannes como um “trabalho em progresso” e ainda assim ganhou a Palma de Ouro. Se consolidou como uma das obras seminais de Coppola e um dos maiores filmes de guerra de todos os tempos. Teve versões reeditadas que fizeram barulho a cada vez que foram lançadas (a Redux, com 53 minutos a mais, em 2001, e a Final Cut, com 36 a mais que a original).

O documentário não aborda, claro, essas novas versões. Ele tem o material de Eleanor (algumas vezes registrando as lamentações de Francis sem que ele soubesse que estava sendo gravado) combinado com novas entrevistas realizadas com os outros dois diretores. É um filme com status de lenda e sua filmagem também.

Onde ver: Belas Artes a la Carte.

Hearts of Darkness — A Filmmaker’s Apocalypse, 1991.
Direção: Fax Bahr, George Hickenlooper, Eleanor Coppola. 

20 – O GAROTO SELVAGEM (L’Enfant Sauvage)
Onde ver: DVD.

Truffaut partiu de uma história real do seculo XVIII: um garoto há anos sem contato com a civilização, sem falar ou ler, que é praticamente adotado por um médico que se esforça em civilizá-lo. O filme parece seguir mais o ponto de vista da curiosidade científica que da emoção, mas é bem contado.
França. Direção: François Truffaut. Roteiro: François Truffaut e Jean Gruault, baseado nas memórias de Jean Itard. Elenco: François Truffaut, Jean-Pierre Cargol, Françoise Seigner.

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19 – LOVE STORYUMA HISTÓRIA DE AMOR (Love Story)
Onde ver: DVD, blu-ray, Telecine Play, Google Play/ YouTube Filmes, Apple TV/ iTunes.

“Amar é nunca ter que pedir perdão”. Virou ícone cultural esse melodrama jovem que, ainda por cima, envolve classes sociais e doença grave.
Estados Unidos. Direção: Arthur Hiller. Roteiro: Erich Segal. Elenco: Ryan O’Neal, Ali MacGraw, Ray Milland, Tommy Lee Jones.

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18 – A VIDA ÍNTIMA DE SHERLOCK HOLMES (The Private Life of Sherlock Holmes)
Onde ver: DVD, Apple TV/ iTunes.

Billy Wilder desenvolveu um filme de mais de três horas e episódico que foi severamente cortado pela United Artists. Ainda assim é um curioso olhar que ele queria muito fazer sobre Sherlock Holmes, levando-o até o monstro de Loch Ness.
Reino Unido/ Estados Unidos. Direção: Billy Wilder. Roteiro: Billy Wilder e I.A.L. Diamond. Elenco: Robert Stephens, Colin Blakely, Geneviève Page, Christopher Lee.

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17 – GIMME SHELTER (Gimme Shelter)
Onde ver: DVD, blu-ray, Looke, NetMovies, YouTube.

Seria mais um documentário sobre rock, mas o show dos Rolling Stones em uma rodovia terminou em tragédia. O filme começa já fazendo os Stones encararem as filmagens da confusão na plateia, após a ideia infeliz de colocar os Hell’s Angels como seguranças.
Estados Unidos. Direção: Albert Maysles, David Maysles e Charlotte Zwerin.

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16 — MATOU A FAMÍLIA E FOI AO CINEMA
Onde ver: YouTube.

Exemplar do cinema marginal brasileiro, terceiro longa de Bressane. Parte da premissa literal do título, um rapaz que mata os pais e vai ao cinema, para outros contos curtos de violência, como o das meninas que se apaixonam e matam a mãe de uma delas. Teve uma refilmagem muito ruim em 1991, com Cláudia Raia.
Brasil. Direção e roteiro: Júlio Bressane. Elenco: Márcia Rodrigues, Renata Sorrah, Vanda Lacerda, Antero de Oliveira.

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15 – CADA UM VIVE COMO QUER (Five Easy Pieces)
Onde ver: DVD, Looke, Claro Vídeo, Apple TV/ iTunes, YouTube Filmes, YouTube (dublado).

Jack Nicholson é o operário que gosta de tocar piano e tem um relacionamento que não o anima muito, e que volta às raízes: a família rica e musicista. Esse contraste de modos de vida leva a tensões. Nicholson na sua aurora como grande ator, que se consolidaria nos anos 1970.
Estados Unidos. Direção: Bob Rafelson. Roteiro: Carole Eastman, baseado em argumento de Eastman e Bob Rafelson. Elenco: Jack Nicholson, Karen Black, Susan Anspach.

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14 – A MULHER DE TODOS
Onde ver: YouTube.

Helena Ignez é a mulher imparável nessa comédia do cinema marginal (o que parece funcionar melhor), libertária, cafajeste, chegada à linguagem dos quadrinhos e com um Jô Soares inspirado.
Brasil. Direção: Rogério Sganzerla. Roteiro: Rogério Sganzerla, baseado em argumento de Egídio Eccio. Elenco: Helena Ignez, Jô Soares, Stênio Garcia, Paulo Villaça, Antônio Pitanga. Narração: Renato Machado.

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13 – DEIXA ESTAR ou LET IT BE (Let it Be)
Onde ver: não disponível em home vídeo ou streaming.

É tido como um registro dos Beatles a caminho do fim, com os turbulentos ensaios e gravações do que viria a ser o álbum Let it Be. Tem lá a célebre discussão entre Paul e George (“Eu toco do jeito que você quiser. Se não quiser, também não toco”), mas não há depoimentos ou narração. Não há George abandonando o grupo por alguns dias. A mudança do Twickenham Studios para o prédio da Apple aparece, mas sem qualquer explicação. Boa parte da crise fica mesmo nas entrelinhas pra quem conhece a história da banda. Mas são os Beatles, experimentando e cantando e culminando no show do telhado, que é uma imagem (e som) eterna.
Reino Unido. Direção: Michael Lindsay-Hogg.

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12 – A FILHA DE RYAN (Ryan’s Daughter)
Onde ver: DVD.

David Lean ficou quase 15 anos sem dirigir um filme depois que esse não foi bem recebido. Realmente parece agigantado sem muita razão de ser. É uma história de amor e adultério simples, embora com paisagens embasbacantes e um fundo histórico – como havia sido, cinco anos antes, Doutor Jivago, na Rússia dos tempos da Revolução. Esse ultimo quesito, porém (revoltas na Irlanda contra a Inglaterra em 1916), é bem menos presente na trama. Mas é bonito, Lean não precisava ter passado esse tempo todo longe.
Reino Unido. Direção: David Lean. Roteiro: Robert Bolt. Elenco: Sarah Miles, Robert Mitchum, Christopher Jones, Trevor Howard, John Mills, Leo McKern.

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11 – INVESTIGAÇÃO SOBRE UM CIDADÃO ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA (Indagine su un Cittadino al di Sopra di Ogni Sospetto)
Onde ver: DVD, YouTube.

Chefe da divisão de homicídios da polícia mata a amante e vai deixando pistas pelo caminho, parecendo querer ver se a polícia consegue passar por cima dos pré-julgamentos e pegá-lo. Um clássico dos filmes políticos, uma bofetada na hipocrisia das instituições, retratando uma ambiente de opressão italiana a tudo que não era reacionário.
Itália. Direção: Elio Petri. Roteiro: Elio Petri e Ugo Pirro. Elenco: Gian Maria Volontè, Florinda Bolkan, Gianni Santuccio.

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10 – TRISTANA, UMA PAIXÃO MÓRBIDA (Tristana)
Onde ver: DVD, Telecine Play, Oi Play.

Buñuel deixa o surrealismo um pouco de lado e vai para um registro meio seco para mostrar um caso de obsessão amorosa de um homem rico por uma bela e pobre jovem. Uma tragédia muda, no entanto, o jogo de forças. Deneuve linda, mesmo quando não é para ser.
Espanha/ Itália/ França. Direção: Luís Buñuel. Roteiro: Luís Buñuel e Julio Alessandro, do romance de Benito Pérez Galdós. Elenco: Catherine Deneuve, Fernando Rey, Franco Nero.

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9 – BANZÉ NA RÚSSIA (The Twelve Chairs)
Onde ver: DVD (em A Arte de Mel Brooks).

O humor maluco de Mel Brooks servindo-se de uma história clássica já adaptada até pela Atlântida no Brasil. É antes de se concentrar nas sátiras ao próprio cinema, que viria logo a seguir. Aqui, os alvos são a ganância inerente aos homens e as contradições da União Soviética pós-Revolução Russa. Como na placa da Rua Marx, Engels, Lenin & Trotsky, em que o nome de Trostky aparece riscado.
Estados Unidos. Direção e roteiro: Mel Brooks, baseado no romance de Ilya Ilf e Yevgeni Petrov. Elenco: Ron Moody, Frank Langella, Dom DeLuise, Mel Brooks.

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8 – DOMICÍLIO CONJUGAL (Domicile Conjugal)
Onde ver: DVd, Mubi, Oldflix.

Interessante como Truffaut estreou o personagem Antoine Doinel como seu alter-ego em um drama tão tocante como Os Incompreendidos (1959) e depois retornou a ele em comédias românticas leves como esta. Este é o quarto filme com Doinel, que arruma problemas para seu casamento ao se envolver com outra mulher.
França. Direção: François Truffaut. Roteiro: François Truffaut, Claude de Givray e Bernard Revon. Elenco: Jean-Pierre Léaud, Claude Jade, Hiroko Berghauer.

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7 – A ESTRATÉGIA DA ARANHA (Strategia del Ragno)
Onde ver: YouTube (legendas em espanhol).

O filho volta à sua cidadezinha natal para se envolver na história misteriosa do pai, herói local, líder da resistência contra os fascistas, morto há muitos anos. Grande fotografia de Vittorio Storaro e Franco Di Giacomo, cujo ponto alto é aquele plano sequência soberbo no começo, em que o filho está parado na praça e, quando anda, vemos que ele encobria o busto do pai. E, enquanto caminha, acaba sendo coberto por ele.
Itália. Direção: Bernardo Bertolucci. Roteiro: Bernardo Bertolucci, Marilù Parolini e Eduardo de Gregorio, baseado em conto de Jorge Luis Borges. Elenco: Giulio Brogi, Alida Valli, Pippo Campanini.

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6 – WOODSTOCK – 3 DIAS DE PAZ, AMOR E MÚSICA (Woodstock)
Onde ver: DVD, blu-ray, Apple TV/ iTunes.

Mais do que registrar os três dias de um festival de rock que se tornou mítico, o documentário teve a sagacidade de traduzir o estado de espírito de quem estava no palco, nos bastidores, na plateia e nos arredores. O uso da câmera dividida só reforça a sensação de que estava acontecendo muito mais do que todo mundo estava percebendo.
Estados Unidos. Direção: Michael Wadleigh.

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5 – PEQUENO GRANDE HOMEM (Little Big Man)
Onde ver: DVD, Oldflix, Looke, NetMovies.

Em uma época de revisionismo do western e de reavaliação da figura do nativo norte-americano na tela, o herói é uma figura nada heroica que aprende a ser um índio, se torna um pistoleiro de araque e acaba integrando a tropa do General Custer rumo à batalha de Little Big Horn. O filme tem humor e senso de grandeza.
Estados Unidos. Direção: Arthur Penn. Roteiro: Calder Willingham, baseado no romance de Thomas Berger. Elenco: Dustin Hoffman, Faye Dunaway, Chief Dan George, Martin Balsam.

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4 – PATTON – REBELDE OU HERÓI? (Patton)
Onde ver: DVD, Star Plus.

É praticamente um Lawrence da Arábia americano, no sentido de ser a grandiosa cinebiografia de um militar que ama o que faz. Politicamente incorreto, irascível, visceral e um gênio do teatro de guerra, Patton é um grande personagem. A abertura, com o general discursando para as tropas na frente de uma imensa bandeira americana, é icônica. Tanto quanto a cena em que ele esbofeteia um soldado traumatizado porque não admite tal fraqueza (depois é obrigado a se desculpar).
Estados Unidos. Direção: Franklin J. Schaffner. Roteiro: Francis Ford Coppola e Edmund H. North, baseado nos livros de Ladislas Farago e Omar N. Bradley. Elenco: George C. Scott, Karl Malden, Stephen Young.

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3 – M.A.S.H. (M.A.S.H.)
Onde ver: DVD, blu-ray, Star Plus.

Um trio de cirurgiões em um hospital de campanha se defende da violência da guerra com atitudes irreverentes e iconoclastas. A guerra é a da Coreia, nos anos 1950, mas Robert Altman quase não menciona: ele queria que o público associasse ao Vietnã. Também incentivou o elenco a improvisar bastante. O espírito do filme é tão irreverente quanto seus personagens.
Estados Unidos. Direção: Robert Altman. Roteiro: Ring Lardner Jr., baseado em romance de Richard Hooker. Elenco: Donald Sutherland, Elliot Gould, Tom Skerritt, Sally Kellerman, Robert Duvall.

Crítica de M.A.S.H.:
Ser maluco para não enlouquecer

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2 – O CONFORMISTA (Il Conformista)
Onde ver: DVD, Oldflix, YouTube (legendas em espanhol).

O filme acompanha um fascista italiano que precisa cumprir a missão de assassinato de um antigo professor, na França. Apesar de sua dedicação ao fascismo, memórias de infância e as relações tanto com sua recém-esposa quanto com a mulher do professor, ambas extremamente atraentes e que se tornam ligadas uma à outra, complicam tudo. Um belíssimo filme político de Bertolucci, embalado numa fotografia descomunal de Vittorio Storaro.
Itália/ França/ Alemanha Ocidental. Direção e roteiro: Bernardo Bertolucci, baseado em romance de Alberto Moravia. Elenco: Jean-Louis Trintignant, Stefania Sandrelli, Dominique Sanda.

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1 – O JARDIM DOS FINZI CONTINI (Il Giardino dei Finzi Contini)
Onde ver: DVD, YouTube (legendas em inglês).

De Sica mostra o fascínio de um jovem por uma família rica judia, enquanto o fascismo avança na Itália. É o registro de um idílio que vai se desfazendo, de uma ilha de beleza no meio de um mar de horror que a vai engolindo. O fascínio não é só pela família, mas pela bela mulher que, encastelada, não parece ver o que está acontecendo até ser tarde demais. Como a sociedade, aliás.
Itália/ Alemanha Ocidental. Direção: Vittorio de Sica. Roteiro: Ugo Pirro e Vittorio Bonicelli, além de, não creditados, Vittorio de Sica, Cesare Zavattini, Franco Brusati, Alain Katz, Tullio Pinelli e Valerio Zurlini, baseado no livro de Giorgio Bassani. Elenco: Lino Capolichio, Dominique Sanda, Fabio Teste, Helmut Berger.

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OUTRAS LISTAS DE MELHORES:

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NOTA: A percepção sobre os filmes mudam com o tempo. Esta é a minha percepção agora, limitada ao que vi, naturalmente — esta lista pode mudar à medida em que for revisitando alguns filmes ou assistir a outros que ainda não conheço deste ano específico

Em novembro de 2013, eu tive a alegria de entrevistar o Daniel Azulay para o Correio da Paraíba. Ele estava lançando um curso de desenho on line e se preparava para comemorar os 40 anos da sua Turma do Lambe-Lambe. Ele morreu na sexta passada, após uma luta contra a leucemia de ter contraído o coronavírus.

Segue aqui o resultado daquele nosso papo, onde ele fala de sua trajetória e de como desenhar pode ajudar na formação das crianças. “A coisa mais fascinante da vida é a imaginação. A criança não pode ficar presa a uma coisa só, como um animal amestrado“.

Daniel Azulay

Desenhando uma vida

Daniel Azulay há décadas se dedica a incentivar crianças a desenhar; agora, lança um curso virtual e se prepara para comemorar os 40 anos da Turma do Lambe-Lambe

Ele está há muito tempo afastado da televisão, mas sua figura ainda é sinônimo de desenhar para muita gente que assistia ao programa A Turma do Lambe-Lambe nos anos 1970 e 1980, na TVE e na Bandeirantes. Ao telefone, conversando com o CORREIO, Daniel Azulay logo lembra que esteve em Campina Grande nos anos 1980 com o show de seus personagens.

Ele nunca esteve parado, na verdade: manteve oficinas de desenho, um projeto social e, agora, lança um curso de desenhos com vídeos pela internet justamente o que era uma das grandes atrações de seu programa. “A televisão foi uma semente que germinou e deu frutos”, conta.

O Diboo (www.diboo.com.br) está sendo anunciado como o primeiro curso online de desenho voltado para o público infantil lançado no Brasil, aproveitando a metodologia que Azulay aperfeiçoou em mais de 30 anos de trabalho, nos quais ele sempre tentou desmistificar a ideia de que, para desenhar, é preciso essa coisa indefinível chamada talento.

“É como dizer que, para ler e escrever, a criança precisa ser intelectual”, diz. “Desde que o mundo é mundo, o homem se comunica pela imagem”.

Além disso, ele tenta promover o desenho e, por tabela, o estímulo da imaginação – como forma de sociabilizar a criança.

“Hoje, se os pais não cuidarem, a criança vai ficar sem relacionamento social, rapaz!”, afirma. “Num aeroporto, vi uma mãe e três filhos e ninguém conversava com ninguém. O desenho aproxima e liberta a pessoa, rapaz”.

E fala dos games eletrônicos: “Não pode ficar escravo de coisa nenhuma, muito menos de um equipamento. É preciso estimular a imaginação, fazer esportes e desfrutar de tudo – inclusive da tecnologia. É só os pais terem vontade e dedicação. Não pode abandonar ou terceirizar o garoto. O tempo dele é precioso”.

TEMPLATE_IMPAR.inddA turma do Lambe-Lambe – com personagens como a galinha Xicória, a vaca Gilda, a coruja Professor Pirajá, o elefante Bufunfa, os garotos Piparote, Ritinha, Damiana e Pita, nomes familiares para muita gente – vai completar 40 anos em 2014 e Daniel Azulay prepara a comemoração. Os personagens surgiram em tiras de jornal, o que os levou à TV. Chegou a ter mais de 100 produtos licenciados, lembra o desenhista. No programa, Azulay contracenava com suas criações e ensinava a desenhar e a montar brinquedos com objetos de casa, a sucata doméstica. O sucesso na TV rendeu uma revista em quadrinhos pela Editora Abril.

“Vai sair um almanaque de 100 páginas pela Ediouro”, adianta. “E estamos com o projeto de um livro, um musical e um filme”. Com a TV a cabo em busca de programação nacional e canais inteiros dedicados à criança, poderia pintar o regresso da Turma do Lambe-Lambe à TV, mas Azulay garante que não planeja isso. “A produção de TV é muito trabalhosa. Eu tenho mil atividades”, conta. “E as emissoras hoje buscam uma audiência fácil e rápida. A TV aberta, então, tem uma programação muito pouco criativa. Falta aparecer a cara da criança na TV”.

Turma do Lambe-LambeEle esteve de volta à TV em 1996, com a Oficina de Desenho Daniel Azulay, que fez sucesso por quatro anos na Band-Rio e depois passou a ser transmitido em cadeia nacional. Na TV paga, ele ainda desenvolveu um programa para o canal pago Futura em 2004 e 2005, Azuela do Azulay, que foi premiado no Japão. E a Turma do Lambe-Lambe ainda voltou na TV Rá-Tim-Bum em 2006 e 2007.

Daniel Azulay também desenvolveu nestes anos um trabalho com arte contemporânea premiado: chegou a receber uma carta do presidente do MoMA, de Nova York. “Tem muito elemento da infância, do inconsciente. ‘Funny faces'”, diz. Esse trabalho também pode ser visto no site oficial do desenhista.

O que continua impressionando em Daniel Azulay, mesmo por telefone, é que suas mil atividades parecem ser um reflexo de uma hiperatividade que sempre o deixou parecido com seus próprios desenhos. “Adoraria fazer um show aí. Você não me dá os contatos de alguns produtores para a gente conversar?”, emenda.

“A coisa mais fascinante da vida é a imaginação”, filosofa. “A criança não pode ficar presa a uma coisa só, como um animal amestrado”.

Através de seus personagens e seus cursos, Daniel Azulay fez parte da vida de inúmeras crianças, ajudando a ampliar sua sensibilidade e a fazer a imaginação de cada uma sair de suas mentes e ganharem traços no papel. E continua fazendo.

* Matéria publicada no Correio da Paraíba, em 22 de novembro de 2013.

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Cantando na Chuva - 33

Donald O’Connor, Debbie Reynolds e Gene Kelly, em “Cantando na Chuva”

30. ‘JE CHERCHE APRÈS TITINE’, de Tempos Modernos (1936)
Com Charles Chaplin. Direção: Charles Chaplin. Canção de Léo Daniderff, Marcel Bertal e Louis Maubon.

Como todo mundo sabe, Charles Chaplin resistiu o quanto pôde ao cinema falado. Quando Tempos Modernos estreou, já fazia nove anos da estreia de O Cantor de Jazz. E o filme, genial, continua praticamente sem diálogos. Há duas exceções. Uma são as ordens ásperas do chefe da fábrica. A outra é o único momento em que Carlitos fala. Contratado para cantar em um restaurante, ele esquece em cena a letra da canção. “Cante! Deixe as palavras pra lá!”, orienta, em socorro, a personagem de Paulette Goddard. O que vem a seguir só podia ser obra de um gênio como Chaplin: ouve-se a voz de Carlitos, mas as palavras são inventadas, não fazem sentido. O sentido da música, o que ela conta, está na coreografia que ele faz, na pantomima, como Carlitos se comunicava desde que surgiu no cinema, em 1914.

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29. ‘MEIN HERR’, de Cabaret (1972)
Com Liza Minnelli. Direção e coreografia: Bob Fosse. Coreografia: Twyla Tharp. Canção de John Kander e Fred Ebb.

“Mein herr” é a primeira aparição de Liza Minnelli em Cabaret, e que introdução! Sexy, ela mostra logo que esse não é um musical como os que sua mãe, Judy Garland, fazia. A canção foi feita para o filme – não estava na versão original para os palcos.

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28. ‘GET HAPPY’, de Casa, Comida e Carinho (1950)
Com Judy Garland. Direção e coreografia: Charles Walters. Canção de Harold Arlen e Ted Koehler.

O inferno de Judy Garland com o vício em remédios já afetavam seu trabalho na Metro, e o estúdio a demitiu após esse filme. Nas filmagens, Judy passou por alterações de peso, de humor, incapacidade de trabalhar. Este número foi rodado três meses depois do resto do trabalho do filme ter sido concluído. É um verdadeiro canto do cisne de sua obra na Metro. Judy perdeu peso e está absolutamente espetacular. Seu figurino virou uma assinatura (a ideia foi resgatada de um número de Desfile de Páscoa que acabou cortado). A canção (escolhida por Judy) parece dizer mais do que todo mundo ali sabia no momento (ela morreria muito jovem, apenas 19 anos depois). Judy passou dois dias aprendendo e ensaiando a coreografia, gravou a canção num take só e perfeito e a sequência levou outros dois dias para ser filmada. Foi seu último número na Metro. E foi uma obra-prima.

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27. ‘EVERY SPERM IS SACRED’, de O Sentido da Vida (1983)
Com Michael Palin, Terry Jones, Andrew MacLachlan, Jennifer Franks, Graham Chapman e Eric Idle. Direção: Terry Jones. Coreografia: Arlene Phillips. Canção de Michael Palin, Terry Jones, André Jacquemin e Dave Howman.

Uma família católica fervorosa tem uma multidão de filhos porque não pode usar métodos contraceptivos. Dessa proposta aloprada, surge um dos números musicais mais inacreditáveis do cinema: “Todo esperma é sagrado/ Se o esperma é desperdiçado/ Deus fica muito irado”. As crianças não tinham ideia sobre o que estavam cantando (algumas palavras sujas foram mudadas na filmagem e dubladas depois). Um número alto astral, embora as crianças estejam para ser vendidas para experimentos científicos! Terry Jones gastou a maior parte do orçamento do filme neste número implacável e demolidor, que diz animadamente sobre ser católico: “Você não precisa ter um grande cérebro/ você é católico desde que o papai gozou”.

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26. ‘SILK STOCKINGS’, de Meias de Seda (1957)
Com Cyd Charisse. Direção: Rouben Mamoulien. Coreografia: Eugene Loring. Música de Cole Porter.

Uma magnífica Cyd Charisse interpreta uma espiã russa durona que acaba seduzida pelo luxo de Paris (o musical é uma refilmagem de Ninotchka, com Greta Garbo). Seu momento de virada é aqui: um número solo antológico onde sua roupas sisudas de comunista dão lugar às meias de seda do título e ao vestido suntuoso. Cyd (com suas pernas lendárias) é tão sublime que a gente quase não percebe estar assistindo a um strip-tease de uma belíssima mulher (mentira).

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25. ‘SHAKIN’ THE BLUES AWAY’, de Ama-me ou Esquece-me (1955)
Com Doris Day. Direção: Charles Vidor. Coreografia: Alex Romero. Canção de Irving Berlin.

Doris Day fazia musicais na Warner, com resultados oscilantes. Dois anos antes, tinha conseguido um gol com Ardida como Pimenta (1953), no qual cantou a vencedora do Oscar “Secret love”. Ama-me ou Esquece-me, no entanto, foi na Metro — e aí era “ôto patamá”. Ela interpreta Ruth Etting, cantora dos anos 1920 que, para chegar ao sucesso, se envolve com um gangster (James Cagney). Marcada por papéis virtuosos que renderam a ela o apelido de “virgem profissional de Hollywood”, Doris nunca esteve tão sensual como neste filme. E neste número, a bordo de uma produção de primeira e uma canção otimista toda-vida de Irving Berlin, ela seduz cantando e dançando.

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24. ‘UNDER THE SEA’, de A Pequena Sereia (1989)
Com Samuel E. Wright. Direção: Jon Musker e Ron Clements. Canção de Alan Menken e Howard Ashman.

Ariel quer se meter com os humanos na superfície e o caranguejo Sebastião tenta convencê-la que é muito melhor no fundo do mar. É difícil não concordar com ele, nesta maravilhosa canção vencedora do Oscar que inspirou esse número colorido e movimentado que diz que, lá, peixe termina no aquário — e este tem até sorte, porque se o chefe fica com fome… “Lá eles tem um monte de areia, aqui temos uma banda de crustáceos da pesada”. Não adianta: a sereia já se mandou no meio da música. Mas o espectador fica.

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23. ‘WELL DID YOU EVAH?’, de Alta Sociedade (1956)
Com Bing Crosby e Frank Sinatra. Direção: Charles Walters. Canção de Cole Porter.

Esses dois monstros sagrados da música popular americana nunca tinham aparecido juntos num longa-metragem. Nesta refilmagem de Núpcias de Escândalo (1940), eles dão uma escapada de uma festa chique para beber mais do que a elegância permite. Sinatra é o jornalista que está lá para cobrir o casório para sua revista de celebridades e ricaços. Crosby é o ex-marido da tempestuosa noiva, que ainda gosta dela. Juntos, os dois homens desfilam más notícias de brincadeira, ironias, bebem mais, falam besteira e resumem suas impressões sobre aquilo tudo: “Bem, quem diria? Que festa legal essa é!”. O número, originalmente do musical de palco Du Barry Was a Lady, foi acrescentado ao filme para dar a Crosby e Sinatra um momento em que pudessem cantar junto. Decisão mais que acertada: um número divertidíssimo com dois caras com grandes vozes e carismas ainda maiores.

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22. ‘REMEMBER MY FORGOTTEN MAN’, de Cavadoras de Ouro (1933)
Com Joan Blondell, Etta Moten e côro. Direção: Mervyn LeRoy. Direção de dança: Busby Berkeley. Canção de Harry Warren e Al Dubin.

O musical geralmente é um gênero indentificado com o escapismo, o romance, o sonho, o humor. O que dizer de “Remember my forgotten man”, então? Em 1933, o número que encerra grandiosamente Cavadoras de Ouro dá um tapa na cara da sociedade americana, falando dos desvalidos que foram mandados à guerra como soldados e voltam esfolados e sem encontrar seu lugar. E que terminam marginalizados pelo mesmo país que foram defender. Busby Berkerley em estado de graça: um momento mostra uma fila de garbosos soldados parte para o conflito e outra ao lado, com os homens retornando feridos. Mas o final é que é brilhante: com o desfile militar de silhuetas ao fundo, Joan Blondell quase fazendo uma oração cercada pelos “forgotten men” e o incrível plano sequência final, que começa no rosto da atriz e termina com a cena inteira. Sensacional.

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21. ‘GOOD MORNING’, de Cantando na Chuva (1952)
Com Gene Kelly, Debbie Reynolds e Donald O’Connor. Direção: Gene Kelly e Stanley Donen. Coreografia: Gene Kelly. Canção de Nacio Herb Brown e Arthur Freed.

Depois de muito baixo astral, um boa ideia reanima os ânimos do trio. E como! Don Lockwood, Kathy Selden e Cosmo Brown fazem da casa um palco: dançam na cozinha, pelas escadas, com capas de chuva, no bar, viram sofás, em uma das maiores exibições de sapateado do cinema. E, nisso, um grande destaque para Debbie Reynolds, que, aos 19 aninhos, não era dançarina, teve que dançar com dois monstros do ofício e deu conta do recado olimpicamente. “Cantando na Chuva e dar à luz foram as duas coisas mais difíceis que já fiz”, disse ela em suas memórias, em 2013. Este número levou 15 horas no dia para ser filmado. São três minutos e apenas nove cortes. No fim, Debbie estava com os pés sangrando. Mas ela conseguiu: entregou o momento mais formidável de sua carreira.

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