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“Doze”.

Naquele momento, ela ainda não tinha ganhado nenhuma prova. E esta era a última prova do líder. Era o último momento dela nessa prova do líder. Seus dois adversários também não tinham errado nenhum número. 33,3% de chance de ganhar, 66,6% de perder. Tudo ou nada.

“Doze… Doze… Doze…”

Sentados no sofá, repetíamos o número, naquela tentativa incerta de fazer o pensamento chegar lá. Vai que. Nem pensávamos que tanta gente no Brasil estivesse repetindo a mesma palavra, ao mesmo tempo.

“Doze”, disse Juliette Freire.

Vibração no nosso sofá, vibração na vizinhança. Baggio chutou pra fora. É tetra! É tetra!

Depois vimos que foi assim em tantas vizinhanças pelo Brasil.

Ruy Castro escreveu em “O Vermelho e o Negro – Pequena Grande História do Flamengo” que o clube “inspira um rubro-negro do Guaporé a reagir como um rubro-negro do Leblon(com os mesmos gestos e expletivos, e ao mesmo tempo).

Juliette fez a mesma coisa.

Em tantas casas, em tantas regiões diferentes, brasileiros reagiram da mesma forma e no mesmo instante. Antes do BBB 20, fazia muitos anos que não assistia ao programa. Mas me dou o direito de duvidar que tenha acontecido algo semelhante.

Juliette é uma representante admirável da Paraíba e do Nordeste. Não só porque fala sobre as coisas boas daqui o tempo todo, mas por ser o que é. Todo mundo conhece aqui conhece algumas juliettes. Que falam daquele jeito, que têm um pouco ou muito dessa presença. Eu conheço quem já morou pelo mundo todo, mas sempre manteve sua identidade, seu jeito de falar, suas referências presentes, sua cidade natal consigo. E de um jeito muito natural, sem nada de forçado.

Mas Juliette derrubou divisas e se tornou um fenômeno do Brasil.

Conquistou empatia no começo, quando foi covardemente excluída, menosprezada, ridicularizada por uma galera liderada por alguém que se dizia educada “por ser de Curitiba”. Sofreu uma xenofobia braba.

Mas se reorganizou, enfrentou os agressores, se uniu a uma resistência e ajudou a escorraçar os vilões. Depois, sempre com uma leitura inteligente do ambiente onde estava, detectou a mudança em seu grupo, quando começou a ser excluída de novo.

Amassou moralmente Gilberto na academia. E quando foi perguntada sobre de quem gostaria de saber o voto, marcou um golaço: “Sarah”, desmascarando a ex-aliada.

Quando foi ao paredão, marcou outro golaço ao chamar a agora rival para o confronto direto. E venceu.

Com tagarelice e resiliência, foi arrumando confusões e resolvendo, virando alvo e se safando. Tentava tanto resolver os problemas que às vezes isso mesmo virava um problema. Teve que enfrentar a má vontade até da Folha de S. Paulo.

Mas enfrentou e fez isso, sobretudo, com muito carisma. E carisma não se ensina, nem se aprende. Quem tem, tem.

Então, ela disse “doze”. E vibramos todos, ligados na mesma emoção de uma narrativa especial a esse ponto: da única liderança vir no último momento possível, com todas as probabilidades contra.

Vencedora. Protagonista. Campeã.

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