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Excessos demais

Amor entre estereótipos

Amor entre estereótipos

Se depender de Austrália (Australia, Australia/ Estados Unidos, 2008 ), o filme que melhor representa o país dos cangurus vai continuar sendo Crocodilo Dundee (1985). Baz Luhrmann nunca foi exatamente despretensioso, mas finalmente deu um passo maior que a perna, o que já se anunciava há alguns filmes. Tentou criar uma obra fundamental sobre sua terra natal, chamou dois atores identificados com ela (Nicole Kidman cresceu lá e Hugh Jackman também é australiano), inspirou-se visivelmente em …E o Vento Levou (1939), mas sua tendência ao exagero é quem acaba falando mais alto (de novo).

Na história, Nicole é uma mulher inglesa aristocrata que deve aprender a ser durona para tocar sua fazenda no interior da Austrália, depois que descobre que o marido foi assassinado. Faz isso com a ajuda de um homem chamado apenas de Sr. Capataz (Jackman), que comanda a travessia de gado da fazenda para uma cidade portuária na primeira metade do filme. Pouco mais que dois estereótipos, os personagens dão muito poucos elementos para os dois astros mostrarem serviço.

Para Nicole, é pior, porque faz um bom tempo em que não acerta um bom papel em um filme de longo alcance. Nem as cenas cômicas nem as dramáticas funcionam a contento em Austrália, prejudicadas pelos excessos de Luhrmann, que ajudaram em Romeu & Julieta (1996), atrapalharam em Moulin Rouge – Amor em Vermelho (2001) e não desapareceram nem agora, quando o diretor optou por um tom mais histórico.

Ele, porém, tentou criar um clima de terra encantada, justificada pela insistente referência a O Mágico de Oz (1939), assim como a silhueta de uma grande árvore remete imediatamente a …E o Vento Levou. Mas Austrália foca na pretensão. Na primeira metade, a travessia de gado sofre com as comparações a Rio Vermelho (1948), mas ainda se sustenta. Tudo o que vem depois parece um apêndice, incluindo a luta pela fazenda e o ataque sofrido na II Guerra Mundial.

Além do mais, a temática pró-aborígene não consegue contar com sutileza os aspectos místicos envolvidos: tudo é atirado na cara do espectador, como se ele não fosse capaz de intuir nada. Como curiosidade, há uma seqüência de baile em que “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso, é a trilha sonora. No mais, o filme é bem produzido e vistoso, mas há pouca emoção de verdade.

Austrália. (Australia). Austrália/ Estados Unidos, 2008. Direção: Baz Luhrmann. Elenco: Nicole Kidman, Hugh Jackman, Brandon Walters, David Wenham, Bryan Brown, David Ngoombujarra, Bill Hunter. Em cartaz em João Pessoa.