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O Irã, em tons de cinza

O passado em preto-e-branco, o presente a cores

O passado em preto-e-branco, o presente a cores

A HQ Persépolis é uma autobiografia: Marjane Satrapi escreveu e desenhou sua própria história – e, por tabela, a história de seu país, o Irã, a partir do fim dos anos 1970. Vieram os prêmios, o sucesso e a adaptação para o cinema, em uma animação igualmente celebrada: Persépolis (Persepolis, França/ Estados Unidos, 2007).

Marjane dirige o filme ao lado do francês Vincent Paronnaud, também quadrinhista. A trama é transposta com compreensível abreviação de algumas passagens (a série original é composta de quatro livros), mas muita fidelidade e, principalmente, o clima que mistura o tom de fábula, o bom humor alternando com o tom de reportagem da vida no Irã e a combinação de um visual simples, mas muito elaborado.

O traço de Marjane, que nas HQs lembram xilogravuras, foi sensivelmente “amaciado” para a animação, sem prejuízo algum. O filme continua batendo duro na opressão da mulher na sociedade iraniana pós-Revolução Islâmica e é eficiente ao mostrar o antes e o depois do país na infância de Marjane, sua criação em uma família de classe média progressista, a guerra vista de dentro de casa e a inadequação da jovem mulher na Europa, depois de crescida – ponto em que o filme se torna a história de uma iraniana em busca de sua identidade e da relação com seu país.

A maior parte do tempo em preto e branco, Persépolis é visualmente deslumbrante, com grandes resultados nos efeitos – o uso de silhuetas ou de imagens oníricas. E consegue passar um sentimento complexo de amor e angústia pelo país que, ainda por cima, nos ajuda a minimizar estereótipos.

Persépolis (Persépolis, França/ Estados Unidos, 2007). Direção: Marjane Satrapi, Vincent Paronnaud. Vozes na dublagem original: Chiara Mastroianni, Catherine Deneuve, Danielle Darrieux, Simon Abkarian, Gabrielle Lopes Benites. Disponível em DVD no Brasil.