Sem sangue e sem sexo

Kristen Stewart e Robert Pattinson: bonitos, desinteressantes e num romance que nunca pega fogo

Os fãs que me perdoem, mas muito pouco se aproveita em Lua Nova (The Twilight Saga – New Moon, Estados Unidos, 2009). Mudou o diretor (saiu Catherine Hardwicke e entrou Chris Weitz), mas nada foi alterado no tom modorrento, de emoções sempre mornas, que já dominava Crepúsculo. Também continuam as releituras estapafúrdias e, portanto, sempre para pior dos mitos do vampiro – e agora, também, do lobisomem. É um começo bastante ruim para qualquer filme.

Não dá para fugir disso na saga Crepúsculo, porque os livros de Stephanie Meyer já criam cercas dentro das quais a adaptação para o cinema tem que se virar (aqui, o roteiro é de Melissa Rosenberg, que também escreveu o primeiro filme). Para quem não leu os livros, pouco importa se, neles, os vampiros brilham ao sol como purpurina – é uma péssima ideia, de qualquer jeito. Assim como também lobisomens que independem da lua cheia – e se transformam quando ficam irritadinhos.

Antes de ser uma nova proposta para essa categoria de personagens, parece muito mais uma covardia narrativa, uma facilidade para quem não consegue criar uma história dentro das regras já estabelecidas. Personagens que tinham como ponto primordial aparecer apenas à noite, na saga Crepúsculo estão por aí em plena luz do dia,m senão a autora não consegue conduzir a história. O filme tem outras bobagens, como os tais lobisomens usarem o mesmo uniforme: bermuda jeans sem camisa, para deixar os bíceps e barrigas tanquinho bem à mostra. Mas a maior delas é justamente o pilar da série: o andamento incrivelmente sem graça do romance principal.

Bella (Kristen Stewart) e Edward (Robert Pattinson) são bonitos e desinteressantes. Estão cercados o tempo todo por frases clichês, enquanto sofrem porque se amam e ela quer ser mordida por ele, que é vampiro, e ele não quer mordê-la. Mesmo com seus personagens vivendo um turbilhão interno, o casal protagonista parece ter apenas uma expressão – Pattinson, então, olha para baixo o tempo todo e parece estarmais entediado que apaixonado ou sofrendo – parece estar até pior do que em Crepúsculo.

Enfim, um acidente faz a família de vampiros temer ferir a mocinha, e Edward e e sua família se mudam. Isso a faz sofrer mais e, quando descobre que Edward aparece como um fantasminha toda vez que ela está em perigo, começa a buscar os riscos. Como o vampiro diz que quer que ela o esqueça, ficar aparecendo para ela é, no mínimo, contraproducente. Mas os problemas de narrativa vão além disso, com outras cenas difíceis de engolir – a não ser pela completa falta de senso da protagonista. Mas aí, vá lá, é a construção da personagem.

O uso de Romeu & Julieta como efeito comparativo é absolutamente nulo e chega a ser constrangedor quando Pattinsoin recita um trecho da peça em sala de aula.  Mais contrangedor ainda é contrapor diálogos de Shakespeare ness apassagem aos “Você é a razão para eu estar vivo” e similares enunciados à exaustão – e, ainda por cima, sem vida alguma – filme afora.

E tem o lobisomem. Quando Edward se vai, Bella começa a se interessar por outro rapaz (Taylor Lautner – o interesse vai crescendo à medida em que ela vai descobrindo que ele também é uma criatura sobrenatural e potencialmente assassina, no que se configura um padrão (na terceira parte, ela descobre os encantos da criatura de Frankenstein?). O resultado é que o filme perde um tempo fenomenal tratando de um quase triângulo que está na cara que não vai a lugar nenhum e remoendo a separação do casal central ao invés de fazer a história andar. O que parece só acontecer na reta final, quando os vampiros italianos entram na trama. Nem mesmo o bom pretexto inicial de Bella se preocupando em fazer 18 anos e começar a parecer mais velha que Edward – que, apesar de ter 109 anos, parecerá sempre ter 17 – é bem aproveitado – mesmo absolutamente despropositado nesse ponto da vida da protagonista.

E para quem duvidava da metáfora da mordida no pescoço e do sexo, lá vai Bella salvar o amado na Europa a bordo de um avião cuja companhia, em letras garrafais, chama-se Virgin. Pelo jeito, é preciso deixar tudo muito, muito claro para o público alvo de Lua Nova.

Lua Nova. (The Twilight Saga – New Moon). Estados Unidos, 2009. Direção: Chris Weitz. Elenco: Kristen Stewart, Robert Pattinson, Taylor Lautner, Billy Burke, Ashley Greene, Anna Kendrick, Michael Sheen, Dakota Fanning. Atualmente em cartaz nos cinemas.