Perigo interno
Qualquer toque na herança do nazismo na sociedade alemã abre uma ferida. E é um assunto que não se vê muito em filmes fora da Alemanha (O Leitor, 2008, foi uma exceção) e nem muitos filmes alemães costumam estrear por aqui. Já por esse aspecto, A Onda (Die Welle, Alemanha, 2008) é imperdível. Mas trata-se, sobretudo, de um filme excelente, que não tem medo de mexer no vespeiro e o faz bem e com estilo.
A trama começa justamente com alunos do ensino médio na Alemanha reclamando de carregar o peso da culpa pelo nazismo e afirmando que uma coisa assim nunca mais poderá acontecer. O professor, roqueiro e rebelde, propõe uma experiência: viver na sala de aula como uma autocracia, para que eles aprendam as características das ditaduras.
Os alunos embarcam na experiência – fundo demais. Logo, criam regras de disciplina, códigos próprios, um símbolo, um nome (“A Onda”) e excluem os jovens que não querem participar. O professor (Jürgen Vogel), também afetado, perde o controle em uma semana.
Ágil e vibrante, A Onda prende o espectador até o fim dando apenas algumas pistas sobre como tudo vai terminar. É também assustador, em uma observação mais cuidadosa, por mostrar didaticamente que o fantasma do fascismo continua por aí e, nas condições ideais, pode ressurgir, sim.
Por outro lado, o filme de Dennis Gansel se torna um pouco simplista ao acelerar o desenrolar dos fatos e amarrar tudo de maneira um tanto brusca na conclusão. Mas esse dado deveria ser encarado menos de maneira realista e mais como um recurso narrativo de uma fábula sombria. E que já aconteceu de verdade, não só em verdadeiras autocracias (Hitler e Mussolini à frente), mas nos fatos reais em que o filme é baseado (e que aconteceram na Califórnia dos anos 1960).
A Onda. (Die Welle). Alemanha, 2008. Direção: Dennis Gansel. Elenco: Jürgen Vogel, Frederick Lau, Max Riemelt, Jennifer Ulrich, Cristiane Paul.
4 comentários
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22/01/2010 às 12:00
Os melhores filmes de 2009 « Boulevard do Crepúsculo
[…] em cartaz por aqui. A Alemanha debatendo sua herança nazista, com uma história hipnotizante. Crítica no Boulevard 7 – "Bastardos Inglórios", de Quentin […]
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29/01/2010 às 09:44
Líllian
Renato,
me surpreendi ao ler seu artigo sobre o filme. Na verdade, não sabia de ninguém além de mim que tivesse visto e, sinceramente, não gostei, não. Fiquei o filme inteiro esperando que ‘alguma coisa acontecesse’… foi essa a sensação que tive. Acho que vale mais pelo tema, cmo vc falou, do que pela ação do filme. O final era meio óbvio, talvez, por isso tb não me prendeu tanto.
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29/01/2010 às 09:49
Líllian
Ah, agora Bastardos Inglórios eh maravilhoso!!! Vi duas vezes e eh realmente hipnotizante, irônico e incrível! Ótimas atuações e uma narrativa bem ‘amarradinha’. Além do mais, adorei a fotografia do filme. Fantástico!
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31/03/2010 às 18:55
renatofelix
Você acha mesmo que nada acontece em A Onda?? Pra mim, acontece muita coisa. Bastardos é ótimo mesmo, mas, pra mim, tem derrapadas que poderiam ser evitadas.
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