Nos anos 1960, Batman, Super-Homem e outros heróis dos gibis tinham um concorrente e tanto em Campina Grande: o Flama. Criação de Deodato Borges, ele vivia suas aventuras primeiro em um seriado radiofônico, e depois nas histórias em quadrinhos escritas e desenhadas pelo próprio criador. O filho de Deodato, rebatizado como Mike Deodato, hoje é ilustrador exclusivo da Marvel Comics, nos Estados Unidos (mesmo produzindo o trabalho desde sua casa, no Bessa, em João Pessoa). Agora, o filho retoma a obra do pai: com roteiro do jornalista Rodrigo Salem, ele começa a preparar uma nova versão do personagem.
Tudo começou quando Mike Deodato enviou para Salem, de qem é amigo há muitos anos, um episódio do programa de rádio do Flama para publicar no blog de Salem, Shuffle. Salem, atualmente editor de cinema e internacional da revista Contigo! e ex-editor da Set, entrou com a ideia de um reboot do personagem. “Não imaginava que Deodato fosse topar, porque sei que a agenda dele é insana no trabalho para a Marvel, mas ele respondeu: ‘Pelo Flama, trabalho até de madrugada’. Foi quando vi que o projeto poderia vingar”, conta, por e-mail, de São Paulo.
Ele já conhecia o personagem. “Era mais uma lembrança de quando estudava jornalismo em João Pessoa e frequentava a Gibiteca do Espaço Cultural”, lembra. “Tive a ideia de incorporar elementos políticos dos anos 1960 ao texto e vi a importância da obra de Deodato Borges na criação de um personagem universal no interior do Nordeste, há 50 anos”.
“O Rodrigo é meu amigo há muitos anos, mas me surpreendeu com o roteiro”, diz Mike Deodato, que atualmente desenha a série Vingadores Sombrios. “É o primeiro cara que vejo no Brasil capaz de escrever como um Mark Millar”. A trama vai situar o Flama no contexto da história do Brasil, em plena ditadura mlitar. Mas vai começar com o herói já velho e passando o bastão para o filho, nos tempos atuais. “A história é crua, com elementos políticos e com muita ação. tem toques de Miracleman, de Alan Moore, O Cavaleiro das Trevas, Tropa de Elite…”, completa Salem, que ainda tenta responder a uma pergunta: se o Flama tivesse existido mesmo, por que ninguém lembraria dele?
Os planos são de seis números, de 22 páginas cada, com um arco completo de histórias, mas outras histórias podem vir a público. Como Mike Deodato está se dedicando ao projeto nas (poucas) horas vagas, não há pressa – a previsão é de o trabalho levar um ano ou dois.
Deodato Borges acompanha tudo de perto. Deu liberdade para a remaginação de seu personagem e é consultado pela dupla sobre as mudanças. “Eu acho que isso devia acontecer com todos os antigos heróis”, diz. “E não ficar como muitos personagens do passado que caíram no esquecimento”.
O Flama foi criado primeiro para o rádio, em Campina. “Precisávamos de um seriado de aventura para concorrer no horário das 13 horas com Jerônimo, o Herói do Sertão, que era transmitido pela Rádio Jornal do Comércio. O seriado surgiu em 1961. Em 1963, como Jerônimo já tinha o seu gibi, Deodato também produziu o do Flama. “Os quatro mil exemplares do primeiro número nem chegaram às bancas”, lembra ele. “Quando anunciei no rádio, a garotada foi toda para a escadaria da rádio. Se não tivesse guardado dois ou três exemplares…”.
* Publicado no Jornal da Paraíba, em 27/8/2010.
3 comentários
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31/08/2010 às 01:23
michelle
Êeeeeee!!!!! Estava mais do que na hora desta dupla dinâmica se unir… :DD
Falta, agora, o Boulevard publicar ao menos um trechinho do tal episódio radiofônico pra saciar os curiosos de plantão…. 😉
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26/08/2014 às 10:40
Faleceu Deodato Borges, o Flama - aCalopsia
[…] Em 2010 foi anúnciado que o filho, Mike Deodato Jr., estava a trabalhar numa nova versão da personagem, com argumento de Ricardo Salem. […]
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15/01/2015 às 12:40
A Hora do Flama |
[…] começa a preparar uma nova versão do personagem. Em matéria publicada no Jornal da Paraíba, 27/8/2010, é relatado que o processo começou quando Mike Deodato enviou para Rodrigo um episodio do […]
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