OS 7 DE CHICAGO
⭐⭐⭐½
Diário de Filmes 2021: 52

Justiça tumultuada

Filmes de tribunal enfrentam sempre um dilema. O drama está sempre na palavra, o que há de imagem para mostrar além de pessoas falando? Aaron Sorkin, aqui diretor e roteirista, tenta resolver a questão basicamente com a montagem em Os 7 de Chicago.

O filme começa em alta voltagem, entrelaçando cenas reais de arquivo com outras com o elenco, cujos personagens vão sendo identificados por créditos na tela (alguns vão reclamar que o recurso é muito “televisivo”, mas não tem nada demais, Scorsese também já fez).

O tumulto que levou oito líderes diferentes de ativistas contra a guerra do Vietnã a serem julgados por incitarem a violência em Chicago durante a convenção do Partido Democrata não é mostrado no começo. Começamos a acompanhar a trama pelo julgamento e voltamos aos acontecimentos pelos depoimentos. Um recurso que também não é nenhuma novidade.

“Oito líderes”, você disse? Sim, oito estão sendo julgados. Sete representados pelo mesmo advogado e também Bobby Seale, dos Panteras Negras, que insiste que tem um advogado próprio. Ele não está presente, mas o juiz segue com o julgamento mesmo sem ele estar sendo legalmente defendido.

Esse caso é um dos mais emblemáticos julgamentos parciais e manipulados da história americana. O juiz ignora provas e depoimentos, pré-julga os réus desde o início, a procuradoria manipula a formação do júri. Sergio Moro ficaria orgulhoso.

Sorkin segue fazendo o que pode para que o filme não fique apenas no embate verbal. Ele ressalta as diferenças entre os réus (principalmente entre o certinho Tom Hayden vivido por Eddie Redmayne e o porralouca Abbie Hoffman, papel de Sacha Baron Cohen). A narração dos acontecimentos passa a misturar freneticamente o interrogatório no tribunal, uma apresentação stand up de Abbie Hoffman, discussões privadas.

Esse vai e vem no tempo quase que é um reflexo narrativo dos ânimos exaltados e do tumulto nas ruas de que o filme trata. Às vezes é confuso em excesso, não consegue passar direito todas as informações. Mas é uma tentativa de sair da mesmice em que os filmes desse subgênero podem cair.

Esse quebra-cabeças sobre uma trama que parece mais simples do que como é mostrada tem, como trunfo, um poderoso elenco. Frank Langella, como um dos mais odiosos juízes do cinema; Joseph Gordon-Levitt, como o promotor que faz seu trabalho, mas tem sua ética; Mark Rylance, como o advogado de defesa; Michael Keaton, como um ex-procurador geral dos EUA. Atores sólidos, que mantêm o filme no prumo, nessas idas e vindas narrativas.

Onde ver: Netflix

The Trial of Chicago 7, 2020.
Direção: Aaron Sorkin. Elenco: Eddie Redmayne, Sacha Baron Cohen, Mark Rylance, Joseph Gordon Levitt, Frank Langella, John Carroll Lynch, Yahya Abdul-Mateen II, Michael Keaton, Caitlin Fitzgerald.