½

Antes, os personagens

Gina (Bonnie Wright) e Harry (Daniel Radcliffe): personalidades fazem diferença no final do segundo filme da série

Alguém já disse uma vez que adaptar é trair. O nome já diz: levar uma obra de arte de um meio para outro é adaptá-la a esse novo meio – mudá-la onde necessário para que renda melhor nos novos códigos narrativos a que ela deve responder. Fidelidade é necessária, claro, mas demais também passa a ser um problema. E é esse o problema em Harry Potter e a Câmara Secreta (Harryu Potter and the Chamber of Secrets, EUA/ Reino Unido, 2002).

Lançado pontualmente um ano depois do primeiro filme, este – novamente dirigido por Chris Columbus – sente principalmente a duração excessiva (bate nas 2h40 de duração, e os livros seguintes da série são maiores do que este, o significaria filmes ainda mais longos pela frente). O respeito excessivo à obra de J.K. Rowling levou a isso. É um problema, mas não fatal. O filme ainda cumpre muito bem sua missão de entreter e dar seqüência à saga de Harry.

O filme mantém o bom equilíbrio entre o encanto do mundo mágico da escola de Hogwarts e aspectos sombrios que rondam os personagens, mas só se revelam pontualmente. Já há um degrau acima nesse quesito, em Câmara Secreta: uma voz ameaçadora em uma língua estranha entra na mente de Harry, personagens são petrificados, mensagens são escritas com sangue nas paredes, páginas de um diário onde não há nada escrito responde perguntas de maneira fantasmagórica.

Tudo isso é mais assustador que as aranhas gigantes e o próprio desenlace a respeito da tal câmara secreta, uma lenda de onde um monstro pode ter saído e estar petrificando os alunos, o que remete a um descendente de Salazar Sonserina, o mais sombrio dos quarto co-fundadores de Hogwarts (e Harry passa a desconfiar que ele pode ser um descendente de Sonserina). A coisa toda leva a uma memória do passado, de quando a câmara secreta foi aberta outrta vez, envolvendo um estranho aluno: Tom Riddle.

Há momentos de humor, também. O carro voador, no começo da história, exagera nos efeitos visuais e não funciona muito bem. Os melhores momentos estão mesmo a cargo do fanfarrão professor Lockhart, vivido por um ótimo Kenneth Branagh. Assumindo a cadeira de Defesa contra a Arte das Trevas, ele é um astro pop do mundo dos bruxos, mas rapidamente revela que é só tem a fachada (sua autobiografia, que ele autografa arrancando suspiros das mulheres e mocinhas, chama-se Magical Me).

Outro personagem interessante é o elfo Dobby. Um dos primeiros personagens importantes gerados totalmente por computador no cinema (depois de, bem, Jar Jar Binks em Star Wars – A Ameaça Fantasma, 1999, e do Gollum de O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel, 2001), ele começa como um personagem de alívio cômico, mas logo se revela uma questão social que o envolve – tornando o mundo dos bruxos um pouco mais complexo, menos encantador e mais realista para o espectador.

Assim, embora longo Harry Potter e a Câmara Secreta consegue desenvolver bem seu mistério e levar a um final muito bom. Que chega a incomodar com um Deus ex-machina que não parece muito bem colocado, mas isso é logo esquecido porque o fim (e o filme inteiro, diga-se) e pródigo em tirar sua força da personalidade de seus personagens.

E aí, mais uma vez, o acerto do trio principal – Daniel Radcliffe, como Harry, Emma Watson como Hermione, e Rupert Grint como Rony) – é fundamental para o filme. O entrosamento entre eles envolve o espectador sem dificuldades e nos mantém acesos até o epílogo.

Harry Potter e a Câmara Secreta (Harry Potter and the Chamber of Secrets, EUA/ Reino Unido, 2002). Direção: Chris Columbus. Elenco: Daniel Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint, Richard Harris, Kenneth Branagh, Robbie Coltrane, Alan Rickman, Maggie Smith, Jason Isaacs, Tom Felton, Julie Walters, Bonnie Wright, Mark Williams, Miriam Margolyes, Fiona Shaw, James Phelps, Oliver Phelps, Matthew Lewis, Richard Griffiths, John Cleese, Warwick Davis, Gemma Jones, Geraldine Sommerville. Vozes na dublagem original: Toby Jones, Julian Glover.

Leia mais:

Precedido por:
– Crítica de Harry Potter e a Pedra Filosofal

Seqüências:
– Crítica de Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban
– Crítica de Harry Potter e o Cálice de Fogo
– Crítica de Harry Potter e a Ordem da Fênix
– Crítica de Harry Potter e o Enigma do Príncipe
– Crítica de Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1
– Crítica de Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2